Jair Bolsonaro transforma sua prisão domiciliar em bunker político

Charge do Izânio (Instagram)

Luísa Marzullo
O Globo

Confinado em sua casa em um bairro de classe média alta de Brasília, o ex-presidente Jair Bolsonaro tem dividido a rotina entre encontros políticos, consultas médicas e momentos de lazer diante da televisão, assistindo a jogos de futebol. No sábado, o ex-presidente completou dois meses em prisão domiciliar, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Nos último 60 dias, recebeu mais de trinta visitas de políticos e aliados próximos — como do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. As conversas têm girado em torno do cenário eleitoral de 2026 e de seus planos para reorganizar a direita. Entre remédios espalhados pela casa e crises de soluço recorrentes, Bolsonaro tem enviado recados sobre possíveis candidaturas para o ano que vem e reforçado um tema recorrente: o pedido de anistia.

SEM NEGOCIAÇÕES – Antes de o Congresso aprovar a urgência do texto Bolsonaro já havia deixado claro a quem o procura que não aceita negociações que não resultem em perdão amplo e irrestrito. Tentativas de parte da bancada do PL ligada ao Centrão de construir uma saída intermediária — com redução da pena para dois ou três anos e manutenção em regime domiciliar — não foram bem recebidas pelo próprio ex-presidente.

A articulação já encontrava dificuldades no Congresso e esfriou nesta semana quando o projeto de dosimetria relatado por Paulinho da Força (Solidariedade-SP) perdeu tração. Após a derrota da PEC da Blindagem, até mesmo o PL da dosimetria, como foi renomeado, não encontra consenso.

CANDIDATA AO SENADO – Nas conversas, Bolsonaro também tem dito que Michelle será candidata ao Senado pelo Distrito Federal; Eduardo disputará uma cadeira no Senado; e Tarcísio de Freitas está liberado para se articular nacionalmente.

A rotina do ex-presidente tem sido intensa também nos cuidados médicos. Em outubro, Bolsonaro precisou ser internado por dois dias em um hospital particular de Brasília. As crises de soluço e refluxo, que já vinham se intensificando, o levaram a fazer uma bateria de exames.

CONDIÇÃO CLÍNICA – Desde a leitura da sentença condenatória no STF, o receio de ser transferido para o Complexo da Papuda virou preocupação constante no entorno do ex-presidente. A expectativa é que a condição clínica dele, porém, seja usada como argumento para manutenção do regime domiciliar.

Nesta semana, o ex-mandatário quase precisou retornar ao hospital. Segundo seu médico, Cláudio Birolini, os soluços se intensificam quando ele fala por longos períodos. Sua última crise ocorreu logo após a visita do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que passou pouco mais de duas horas em sua residência.

Na casa, a cena política acontece em um ambiente típico de enfermaria. A sala que já serviu de palco para transmissões ao vivo e encontros com pastores agora tem receitas médicas e caixas de medicamentos sobre a mesa. Entre chás e comprimidos para controlar o refluxo, Bolsonaro recebe aliados para conversar sobre palanques regionais e a disputa de 2026.  O tom, no entanto, é mais contido: quem o visita nota a dificuldade em manter longas conversas sem que sejam interrompidas pelas crises de soluço.

ROTINA DOMÉSTICA – Além das conversas políticas, Bolsonaro tem se agarrado a uma rotina doméstica. Passa boa parte do tempo diante da televisão, alternando transmissões de futebol e noticiários — momento em que, segundo aliados, reage com comentários sobre sua condenação e o futuro da direita.

A rotina de TV se mistura a pausas para remédios e chá, quase sempre preparados por Michelle. Ela é quem dita o ritmo da casa: controla entradas e saídas, organiza refeições simples e, muitas vezes, interrompe encontros para lembrar o marido da hora dos medicamentos.

Em paralelo, o senador Flávio Bolsonaro assumiu o papel de intermediário com líderes do Congresso, transmitindo recados e monitorando negociações. Carlos aparece menos, mas tem se intercalado entre Brasília e Santa Catarina, onde deve concorrer ao Senado. Jair Renan também tem passado períodos junto ao pai.

PEREGRINAÇÃO – O portão preto da casa virou símbolo de uma peregrinação constante. Deputados, senadores, governadores e líderes partidários já passaram pelo endereço, sempre com autorização do ministro Alexandre de Moraes.  Michelle organiza as recepções.

Em 24 de setembro, a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro protocolou um pedido para suspender a medida de prisão domiciliar, ainda pendente de análise por parte de Moraes. Ao longo dos últimos dois meses, os advogados orientaram Bolsonaro a evitar entrevistas, mesmo após Moraes ter autorizado contato com alguns veículos. Agora, a expectativa gira em torno da publicação do acórdão do julgamento, etapa necessária para que a defesa apresente recursos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGBolsonaro já entendeu que está fora da disputa em 2026. Mesmo se houver anistia, os petistas conseguirão manter sua inelegibilidade através do TSE ou do Supremo. E o pior são os problemas de saúde. Já está a caminho dos 71 anos, e a facada acabou com seu prazo de validade. Chegou a hora do chinelo e de passar o bastão. (C.N.)

8 thoughts on “Jair Bolsonaro transforma sua prisão domiciliar em bunker político

  1. Mesmo se houver anistia, os petistas conseguirão manter sua inelegibilidade através do TSE ou do Supremo

    Isto perdurará enquanto existir a quadrilha.

    • Não creio que a Organização tenha muito tempo de vida pela frente.

      Porque Trump escolheu uma negociação política e não técnica com o Pândego? Rubio e não Bessent?

      Porque este é o lado mais frágil do Governo Lula, embora tenha a questão econômica de ser office-boy da ditadura chinesa.

  2. A estratégia dos Bolsonaros fracassou: A essa altura, Laranjão já percebeu que comprou “gato por lebre”

    A aposta em transformar a política externa em instrumento de chantagem ideológica custou caro – e terminou isolando o ex-mito até de Laranjão

    A conversa telefônica entre Laranjão e Lula na segunda-feira, 6, encerra de vez a estratégia da família Bolsonaro de usar a tensão diplomática com os States como ativo político.

    A tentativa de condicionar o restabelecimento das relações comerciais a uma espécie de “anistia branca” ao ex-mito – naufragou de vez.

    O pragmatismo comercial – que há décadas orienta as relações entre Brasil e States – voltou a prevalecer sobre a ideologia.

    O cálculo de Laranjão, centrado em resultados econômicos e em sua própria reeleição, não comporta mais o risco de se associar a uma liderança tóxica e juridicamente enredada como o ex-mito.

    A essa altura, Laranjão já percebeu que comprou “gato por lebre”: a narrativa de perseguição política vendida pelo bolsonarismo não convenceu o establishment americano, tampouco justificou as barreiras comerciais e as sanções impostas ao Brasil.

    (…)

    Fonte: O Estado de S. Paulo, Política, 08/10/2025 | 14h53 Por Carlos Pereira

    • Laranjão inverte o jogo e isola o ex-mito

      A conversa de segunda-feira (6) entre os presidentes dos States e do Brasil tem um ponto alto a ser destacado:

      FOI O TRUMP QUE TOMOU A INICIATIVA E LIGOU PARA O LULA, e não o contrário.

      E isso não é pouca coisa, considerando-se, sobretudo, que o Brasil vinha sendo aparentemente relegado, mais precisamente até o encontro de ambos na ONU.

      Fonte: Metrópoles, 07/10/2025 08:00 Por Alice Rabello

      Presta atenção, Brasil!

  3. ” A expectativa é que a condição clínica dele, porém, seja usada como argumento para manutenção do regime domiciliar.” – Infelizmente não consigo sentir nenhuma simpatia por esse argumento. O Brasil tem perto de novecentos mil presos, a grande maioria em condições muito piores, e por crimes menores, do que o ex-mito poderia enfrentar na Papuda, e com a situação dos quais não há nenhum registro de que ele se tenha preocupado enquanto político. Ele estaria vivo, não seria fuzilado como propôs que deveriam ter feito com “uns trinta mil da esquerda” ou morto como algumas centenas de milhares de brasileiros que morreram por sua culpa na condução da pandemia. Além disso, se as crises de soluço se intensificam depois de falar por longos período, isso não deveria ser fonte de preocupação numa prisão em que a prudência manda falar pouco.

  4. Senhor Wilson Baptista Junior pois é , mas o editor da TI Carlos Newton não se cansa de tratar o ex-presidente Jair Bolsonaro , como se coitado e vítima fosse dos ” malvados e perversos ” juízes do STF envolvidos em seus processos e julgamentos , como se bandidos e criminosos não envelhecessem .

  5. Por qual carga d’água esse meliante e condenado ex-presidente Jair Bolsonaro , ainda continua livre , leve e solto debochando das instituições do país e se fazendo de coitado , o ex-presidente Jair Bolsonaro já deveria estar preso num presidio a muito tempo e não impune como agora .

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