Entre a ficção e a fatura: o orçamento de 2026 e o dilema do governo Lula

Charge do Clayton (Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

O governo Lula entra em um dos momentos mais delicados de sua gestão: a elaboração do orçamento para 2026, ano eleitoral e, portanto, decisivo tanto do ponto de vista político quanto econômico.

No papel, trata-se de um documento técnico, racional, equilibrado; na prática, é um tabuleiro onde se cruzam cálculos eleitorais, promessas sociais e a dura realidade fiscal de um país que convive há décadas com déficits estruturais e um endividamento crescente. O desafio de Lula e de sua equipe econômica é produzir uma peça que agrade ao eleitor e, ao mesmo tempo, mantenha a confiança dos mercados — duas forças que raramente se conciliam.

TRAÇOS DE FICÇÃO – Na essência, o orçamento público brasileiro sempre carregou traços de ficção. Não por má-fé, mas porque a distância entre a previsão e a execução é enorme. As receitas projetadas frequentemente não se confirmam, e as despesas, que deveriam ser controladas, acabam se multiplicando ao sabor das pressões políticas.

Além disso, boa parte do orçamento é engessada: previdência, folha de pagamento, benefícios constitucionais e dívidas judiciais absorvem quase todo o espaço de manobra. O que sobra, os chamados gastos discricionários, é pouco mais do que uma margem simbólica — e, em ano eleitoral, essa margem é disputada como ouro.

A peça orçamentária enviada pelo governo ao Congresso prevê um superávit primário de R$ 34,5 bilhões, o equivalente a 0,25% do PIB, segundo dados da Reuters. À primeira vista, é um número positivo, uma sinalização de compromisso com a responsabilidade fiscal.

EQUILÍBRIO FRÁGIL – Mas basta um olhar mais atento para perceber que o equilíbrio é frágil: o cálculo exclui quase R$ 58 bilhões em despesas obrigatórias, como precatórios, e se essas obrigações forem incluídas, o resultado se transforma em déficit. É um equilíbrio que depende de premissas otimistas e de um ambiente econômico estável — algo pouco garantido no Brasil contemporâneo.

Ao mesmo tempo, paira sobre o orçamento um elemento que raramente é debatido com a devida profundidade: o peso dos juros da dívida pública. O Banco Central estima que o estoque da dívida brasileira já se aproxima dos R$ 9 trilhões, superando de longe o valor total do orçamento.

O pagamento de juros, que não aparece nas contas primárias, consome parcela crescente das receitas e transforma a meta fiscal em uma ilusão parcial. De acordo com o FMI, o Brasil precisa de um ajuste fiscal de cerca de 3% do PIB para estabilizar a trajetória da dívida — algo politicamente árduo, especialmente quando o horizonte é eleitoral.

ROTEIRO CONHECIDO – A tensão é clara: de um lado, a pressão popular por mais investimentos, programas sociais, habitação, infraestrutura e aumento real do salário mínimo; de outro, o receio de que uma guinada populista comprometa a credibilidade do governo junto aos agentes financeiros. O risco é que, na tentativa de equilibrar as duas pontas, o governo acabe reproduzindo um roteiro conhecido: promessas generosas, cortes improvisados e um déficit que se disfarça em números de conveniência.

O próprio conceito de “orçamento” no Brasil tornou-se algo elástico. É um instrumento que orienta as ações do Estado, mas que depende de variáveis políticas e econômicas imprevisíveis. Como já observou o economista Marcos Mendes, ex-consultor do Senado, “o orçamento brasileiro é uma ficção útil: serve para planejar, mas raramente para cumprir”. Essa elasticidade, porém, cobra seu preço. Quanto mais o país posterga a consolidação fiscal, mais caro fica o serviço da dívida, e menos sobra para políticas públicas reais.

DILEMA – Em 2026, o governo enfrentará um dilema inevitável: ou mantém o discurso da responsabilidade fiscal, com superávits modestos e contenção de gastos, correndo o risco de desagradar a base social que o elegeu; ou cede à tentação de ampliar benefícios e investimentos, apostando que o crescimento compense o desequilíbrio. É uma escolha entre o pragmatismo e a popularidade — e ambos custam caro.

No fim das contas, o orçamento é mais do que uma planilha: é um retrato das prioridades políticas de um governo e um termômetro da confiança que ele inspira. Se o texto orçamentário para 2026 conseguir conciliar prudência e sensibilidade social, Lula terá conseguido o raro feito de unir realismo e esperança.

Mas se prevalecer a lógica da ficção — onde as contas fecham apenas na teoria — o país corre o risco de repetir um velho enredo: prometer mais do que pode cumprir e pagar o preço, com juros e desconfiança, nos anos seguintes.

3 thoughts on “Entre a ficção e a fatura: o orçamento de 2026 e o dilema do governo Lula

  1. Caro Sr. Pedro!
    Por se tratar de um Agente Khazariano, o Barba continuará a executar, tal qual Fidel o Castro(outro agente) o desma telamento(FREIO e RETROCESSO) de toda a estrutura jurídica, econômica, administrativa, religiosa e política do Brasil!
    PS. Atentai(Mão Santa) Pedro!
    https://thoth3126.com.br/a-elite-o-grande-jogo-e-a-terceira-guerra-mundial/?fbclid=IwdGRzaANjC65jbGNrA2MLj2V4dG4DYWVtAjExAAEeacDUnXFUgnR4ZhEqpp6Ae3heXy59cpfdn-mg5W7KxoBkahkiP3Rl2tdQ_gg_aem_GihsA1ebL-SP7V3sNM860Q&sfnsn=wiwspwa

      • Do mesmo link!
        “Em seu interessante livro The Secret Team , o coronel Fletcher Prouty, oficial de briefing do presidente dos EUA de 1955-63, narra um incidente notável no qual Winston Churchill fez uma declaração muito reveladora durante a Segunda Guerra Mundial:

        “Nesta noite em particular, houve um ataque pesado em Rotterdam. Sentou-se ali, meditando, e então, como para si mesmo, disse: ‘Guerra submarina irrestrita, bombardeio aéreo irrestrito – isso é guerra total.’ Ele continuou sentado lá, olhando para um grande mapa, e então disse: ‘O tempo e o oceano e alguma estrela guia e a Alta Cabala nos fizeram o que somos’”.

        Prouty afirma ainda: “Esta foi uma cena memorável e uma revelação da realidade que é pouco frequente, na melhor das hipóteses. Se para o grande Winston Churchill existe uma ‘Alta Cabala’ que nos fez o que somos, nossa definição está completa. Quem poderia saber melhor do que o próprio Churchill durante os dias mais sombrios da Segunda Guerra Mundial, que existe, sem dúvida, uma Alta Cabala internacional? Isso era verdade então. É verdade hoje, especialmente nestes tempos da Ordem Mundial Única. Esse grupo todo-poderoso permaneceu superior porque aprendeu o valor do anonimato”. Esta “High Cabal” é a “One World Cabal” de hoje, também chamada de elite por vários escritores.

        A alta cabala e o que eles controlam
        A elite é dona da mídia, dos bancos, da indústria de armamentos e da indústria petrolífera. Em seu livro Quem é Quem da Elite, Robert Gaylon Ross Sr. afirma:

        “É minha opinião que eles são donos das forças armadas dos EUA, da OTAN, do Serviço Secreto, da CIA, da Suprema Corte e de muitos tribunais inferiors. Eles parecem controlar, direta ou indiretamente, a maioria das agências de aplicação da lei estaduais, municipais e locais.”
        PS. Só? E no Brasil, quem são seus infiltrados e apátridas capachos?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *