Alcolumbre se tornou um dos nomes mais influentes da República
Julia Duailibi
O Globo
A semana não acabou, mas já tem um vencedor: o presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Num mesmo dia, o senador pelo Amapá venceu uma queda de braço de anos com o Ibama sobre a autorização para pesquisa de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas e colaborou com o passo atrás do presidente Lula na então iminente nomeação de Jorge Messias para ministro do STF.
A aprovação do Ibama para pesquisa de petróleo na Margem Equatorial, área próxima à costa do seu estado, o Amapá, foi sua principal missão ao assumir a presidência do Senado. É verdade que Alcolumbre já contava com a simpatia de Lula na matéria, mas, ao lado do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, com quem rompeu depois, deu peso político ao tema.
TROCA DE FIGURINHAS – Foi bater perna na Petrobras, se aproximou de Magda Chambriard e, quando a licença saiu, trocou figurinhas pelo celular com ela. Se for mesmo encontrado petróleo — como disse Chambriard a Miriam Leitão, isso “só a broca vai dizer”—, serão bilhões de dólares injetados em seu estado. Bilhões que estão mudando a cara de países vizinhos, como Guiana e Suriname. Os políticos estão de olho nesses investimentos.
O presidente do Senado também colheu vitória, ao menos momentânea, na corrida pela definição do novo ministro do STF. A indicação do advogado-geral da União deveria ter saído antes da viagem de Lula ao Sudeste Asiático. Era essa a aposta dos ministros no Planalto.
Na segunda-feira, no entanto, o presidente almoçou com os líderes governistas e pediu a eles um panorama realista dos votos “dos nossos” para aprovar o nome de Messias no plenário do Senado. O pessoal saiu a fazer contas pela mesa. Os líderes perceberam que a vida não estava tão fácil assim. Excluindo os senadores que estão na órbita de Alcolumbre, sobrava pouca coisa para aprovar o nome do favorito de Lula. Sinal amarelo.
CONSTRUÇÃO DE ELEITORADO – O sinal vermelho veio pouco depois. Em encontro no Alvorada, de pouco mais de uma hora, Lula ouviu de Alcolumbre o mesmo diagnóstico. Diferentemente de Rodrigo Pacheco, que já foi presidente do Senado e tem entrada em setores do governo, do centro e da oposição na Casa, Messias precisa construir um eleitorado, e não é Alcolumbre quem fará isso para ele.
O presidente do Senado deixou claro a Lula que a escolha dele é Pacheco. Lula percebeu que terá de colocar a mão na massa por Messias e pretende fazer isso quando voltar da Malásia.
INFLUÊNCIA – As vitórias da semana são um exemplo de como Alcolumbre se tornou um dos nomes mais influentes da República no governo Lula 3. Num cenário em que o Planalto não pode contar com a Câmara, claudicante sob Hugo Motta, a mão pesada de Alcolumbre, que dominou os caminhos das emendas entre seus pares, se tornou garantia de segurança para o Planalto.
O presidente do Senado tem hoje ministros na Esplanada, cargos no segundo escalão e sinalização de que terá caminho fácil em temas de seu interesse, como licenciamento ambiental ou petróleo na Margem Equatorial. Ele sabe até onde pode esticar a corda para emplacar Pacheco no STF. E esticará até o ponto em que for conveniente para não corroer sua influência do outro lado da Praça dos Três Poderes.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – É o fim da picada esse prestígio que Lula dá a Alcolumbre, mostrando que falam a mesma língua. Criminoso por criminoso, um pelo outro e eu não quero troco, como se dizia antigamente. São dois políticos que demonstram o apodrecimento da República. (C.N.)