
Decisão ocorre quando bolsonarismo tentava respirar
Igor Gielow
Folha
Numa dessas ironias da política, coube ao ídolo do clã Bolsonaro assentar o último prego no caixão da tática encontrada pelo grupo para tentar salvar o patriarca da cadeia e punir seus adversários por meio de pressão externa.
Quando ficou claro que Jair Bolsonaro (PL) iria ser condenado pela trama golpista de 2022 no Supremo Tribunal Federal, a família enviou o filho deputado Eduardo (PL-SP) para os Estados Unidos para também engendrar uma maquinação.
ANALOGIA – Apoiado pelas franjas extremistas encarnadas por Steve Bannon e outros, Eduardo conseguiu ser ouvido na Casa Branca. Apresentou o caso de seu pai como análogo aos processos a que Trump foi submetido na Justiça americana, tendo sido eleito presidente com uma condenação criminal.
Na teoria, pressionar o Brasil com a guerra comercial seria uma forma de colocar na conta de Lula (PT) a suposta caça às bruxas contra o seu antecessor —na fantasia comprada por Trump, Executivo e Judiciário são a mesma coisa nos trópicos, um ente dedicado a perseguir a direita.
Na salva econômica, o impacto da ação dos Bolsonaros foi enorme. Eles tentaram um duplo carpado retórico dizendo que os EUA estavam punindo o antiamericanismo de Lula, mas as digitais ficaram expostas na carta com que Trump anunciava as sanções: ele queria Bolsonaro solto.
CASSAÇÕES – Depois, vieram cassações de vistos de ministros do governo e do Supremo e, cereja do bolo, a inclusão da nêmesis do bolsonarismo, Alexandre de Moraes, na draconiana Lei Magnitsky.
Desenhada para punir violadores de direitos humanos, ela tem alcance amplo na vida financeira de seus alvos: mesmo bancos brasileiros que operam bandeiras de cartões de crédito americanas ficaram sujeitos a sanções secundárias.
O bolsonarismo ficou em delírio nas suas redes, mas de curta duração e míope observação política. Primeiro, o trabalho do vice-presidente Geraldo Alckmin, empresários e do Itamaraty para reabrir canais com o governo Trump deu resultado. Do melhor clima e do caráter mercurial do americano saíram o esbarrão na ONU com Lula e a subsequente reunião entre ambos na Malásia.
CRISE – Mais algumas conversas e as sanções econômicas começaram a ser amainadas, um processo que deverá continuar salvo reviravoltas —como a crise entre Trump e a ditadura da Venezuela, que pode acabar em guerra.
A suspensão da Magnitsky nesta sexta-feira (12), também para a mulher de Moraes, mata o lado político da “Operação Eduardo”, que já havia fracassado no objetivo principal. Todo o trabalho do diligente deputado e seus associados nos EUA poderá ao fim apenas resultar a eles condenações judiciais por coação e talvez, no caso do filho presidencial, uma hoje improvável cassação de mandato.
Para Moraes, é um alívio que ocorre no momento em que as relações do escritório de advocacia de sua família com o malfadado Banco Master o colocaram na berlinda.
TIMING – Do lado do clã, o “timing” é péssimo: pressionado com Bolsonaro preso, o lançamento da candidatura presidencial do filho Flávio bagunçou o jogo de uma direita que trabalhava para migrar para um Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), original ou genérico, em 2026.
Agora, mais um pedaço da propaganda eleitoral de uma eventual campanha do senador pelo PL-RJ foi jogado ao mar, justamente pelo homem que inspirou todo o movimento que assumiu o poder em 2019.
VITÓRIA DE LULA – O corolário de tudo isso seria uma vitória política de Lula, ainda que, por óbvio, Executivo e Judiciário sejam independentes. Afinal, qualquer derrota de Bolsonaro cai no crédito do petista, mas o problema é que as pesquisas mostram que esse efeito já se diluiu.
Na mais recente rodada de avaliação de governo do Datafolha, o gás que o combo “Brasil Soberano” e condenação de Bolsonaro havia dado a Lula se mostrou exaurido. Além disso, a eleição está a séculos de distância no tempo da política.
Isso dito, ao fim o ônus do fracasso está com os Bolsonaros: ganharam a pecha de traidores da pátria, desfraldando bandeiras americanas no 7 de Setembro, e nem a vingança pessoal contra Moraes conseguiram sustentar.
Fim de sanções contra Moraes desmoralizou Bananinha, avaliam aliados
A decisão do Laranjão de derrubar as sanções da Lei Magnitsky contra Xande e sua esposa, foi a desmoralização do Dudu Bananinha.
Essa é a avaliação reservada de parlamentares do PL e outros integrantes da tropa de choque bolsonarista.
“A direita só perdeu com essa história e o Lula saiu gigante”, disse um senador.
(…)
Fonte: O Globo, Opinião, 13/12/2025 00h00 Por Malu Gaspar / Rafael Moraes Moura – Brasília
Só pode eventualmente ser desmoralizado quem tiver moral, o que não parece ser o caso.
O gigantismo desse anão de jardim é a coisa mais medonha que já vi em minhas peregrinações por esse vale de lágrimas.
Absolveu o Montesquieu de Hospício de quebra reabilitou todos o Varões de Plutarco do STF.
Só por ter sepultado com desonra a família Bolsonaro já merece uma estátua equestre no panteão dos heróis do patriotismo.
Era evidente que as ameaças ao nosso país não passavam de lorotas. Ele foi confiar no Hitlezinho do gabinete do Trump (Stephen Miller) e deu com os burros nagua.