Loucura das bets ilustra o presente desesperado de um país sem futuro

Imagem ilustrativa de apostas esportivas bets - Metrópoles

O governo atendeu aos lobistas do jogo e está se dando mal

Mario Sabino
Metrópoles

Diante do desvario causado pelas bets, a imprensa está como aquele policial corrupto do filme Casablanca que vai fechar o cassino do personagem de Humphrey Bogart. “Estou chocado — chocado — por descobrir que há jogo acontecendo aqui!”, diz ele, impassível. Em seguida, um crupiê lhe estende um maço de dinheiro, informando: “Os seus ganhos, senhor”. Ao que o policial responde: “Ah, obrigado”.

A verdade é que, não fosse a história policial envolvendo a influencer e o cantor sertanejo famosos, grandes veículos de comunicação continuariam a fazer vista grossa para o descalabro que lhes rende dinheiro em publicidade, recurso cada vez mais escasso. Há até emissoras que querem aderir ao novo negócio de engabelar gente pobre, transformando-se, elas próprias, em casas de apostas eletrônicas.

VIGARICE – A liberação dessa vigarice foi a título de aumentar a arrecadação de impostos. Conversa mole: em 2025, de acordo com economistas ouvidos pelo Estadão, a regulação das bets renderá entre R$ 2 e R$ 10 bilhões, uma bagatela se comparada à receita primária de R$ 2,7 trilhões, prevista no Orçamento da União. Quem tem a comemorar são os lavadores de dinheiro.

A aprovação do projeto das bets abriu “as portas do inferno”, como disse a deputada Gleisi Hoffmann, agora fazendo mea-culpa. O inferno é tão grande, veja só, que estou concordando com Gleisi Hoffmann.

“Subestimamos os efeitos nocivos e devastadores sobre o que isso causa à população brasileira. É como se a gente tivesse aberto as portas do inferno, não tínhamos noção do que isso poderia causar. Principalmente essa ação muito ofensiva das casas de jogos e o uso de publicidade extrema”, disse a deputada petista.

BOLSA APOSTA – O resultado da selvageria é que beneficiários do Bolsa Família gastaram, apenas em agosto, R$ 3 bilhões de reais com apostas eletrônicas. O Bolsa Família virou programa de transferência de renda para cassinos virtuais. É o Bolsa Bet. Para completar a roleta russa, uma pesquisa feita por uma fintech revela que 30% dos brasileiros que têm conta em banco contraem empréstimos para fazer apostas.

Marcos Troyjo, ex-presidente do Banco dos Brics, desenhou para esta coluna o tamanho do desastre para o país: “O PIB nominal do Brasil é de cerca de R$ 11 trilhões. Historicamente, o país investe cerca de 1% do PIB em PD&I (Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação.  PD&I é antessala de aumentos de produtividade, que são antessala de aumentos de renda, que são antessala da prosperidade. Este 1% de R$ 11 trilhões é R$ 110 bilhões. Estes R$ 110 bilhões são todo o investimento que o Brasil (governo, estatais, autarquias, universidades, centros de pesquisa, empresas privadas) faz em PD&I. Um estudo recente do Banco Central mostra que, em agosto de 2024, algo como R$ 20 bilhões foram transferidos a empresas de apostas e jogos de azar, as bets. R$ 20 bilhões por mês são R$ 240 bilhões por ano”.

CONCLUSÃO – Hoje, o Brasil está direcionando mais do dobro de recursos a bets do que à construção do futuro mediante o investimento em PD&I.

A loucura das bets ilustra o presente desesperado de um país sem futuro. Não se está falando de vício, apenas, mas da ilusão infantil de milhões de brasileiros que enxergam nas apostas eletrônicas um meio de completar o mês, de ir um pouco além da sobrevivência.

É trágico, doloroso e deprimente.

5 thoughts on “Loucura das bets ilustra o presente desesperado de um país sem futuro

  1. A jogatina é uma tremenda negociata no brasil.

    Desde o centenário jogo do bicho, bingo, até as recentes “apostas cibernéticas”.

    Tudo envolve falcatrua!

    As loterias da Caixa econômica, também são uma tremenda caixa preta.

    Este é o único país do mundo que não é revelado o nome do ganhador.

    E desse jeito, temos sempre notícias de um gatuno(a) pego por acaso pela polícia federal e descobre que o distinto ou a distinta, ganhou 70 vezes, outro que ganhou 40 vezes e por aí vai…

    Lembram desse ladrão, que o capiroto já o levou?

    “João Alves justificou o crescimento de seu patrimônio a uma série de mais de 200 bilhetes premiados na loteria. Embora houvesse outro deputado igualmente chamado João e com o patronímico “de Deus”, envolvido no escândalo, João Alves também ficou conhecido como João de Deus.”

    A caixa preta da mega sena tem que ser aberta.
    IMEDIATAMENTE!

    Alegam que é por questões de segurança do ganhador… rsrs…

    Ora, que segurança, se o indivíduo que estava mais duro que um côco, aparece no dia seguinte de Mercedes Benz?

    Qualquer idiota percebe que o pobretão ganhou na loteria.

    Também tem o seguinte, todos vivemos perigosamente no brasil, os pobres, remediados e ricos.

    Então, é melhor ser um milionário conhecido que um duro desconhecido.
    Os prêmios são tão gigantesco que dá pro nouveau riche contratar um ou vários seguranças.
    E olhar bem quem se aproxima dele, porque não está a salvo nem da namorada que fez parceria e (muito amor) com o segurança e mataram o “sortudo” cadeirante.

    A falta de transparência da Caixa Econômica Federal, respaldada por todos os governos, deixa muito a desejar.

    Que tem falcatrua, tem!

    90 porcento dos bilhetes premiados já estão vendidos para o lavador de dinheiro de plantão ou a Caixa some com a grana do prêmio, tipo: ninguém sabe, ninguém, viu.

    O próprio funcionário da Caixa é o corretor do bilhete premiado, e logicamente, ganha uma bela comissão.

    O negócio é cabuloso!

    CPI JÁ!

    José Luis

  2. Senhor Carlos Newton , não seria mais ” lógico e sensato ” , revogar a tal lei das ” BETS ” , uma vez que os congressistas a elaboraram e promulgaram sem nenhum critério , além da má fé , canalhice e banditismo ?

  3. É impressionante a cegueira da maioria dos brasileiros!
    Tudo que é feito errado e causa prejuízos é apoiado pelo povão!!!
    Então, facilmente, encontramos os culpados pelos nossos erros: nós mesmos!!!
    O jogo é obrigatórios para os cidadãos? Se é vigarice, por que jogam?
    Tudo, repito, tudo que acontece errado em nosso país nasce do povo!
    A democracia é ruim; as instituições são decantes e ruins; os governos e os legislativos, são runs. E quem produz tudo isto?
    Ah, alguns “pseudos inteligentes” defendem que o povo é coitadinho; que é enganado; que é ignorante…
    Quem sabe estudamos possibilidade de não obrigar o voto e, só fornecer título de eleitor para quem tiver conhecimentos suficientes para não fazer mais bobagens!!!
    Voto sem qualidade = democracia de brinquedo!

    Fallavena

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