Cenários desafiadores trazem pressão máxima ao governo Lula em 2025

Ricardo Corrêa
Estadão

Para onde quer que se olhe se enxerga evidências de que 2025 será um ano extremamente difícil para o Brasil e, em especial, para o governo Lula. Cenários interno e externo desafiadores colocam em perspectiva a necessidade de responsabilidade e de alguma dose de harmonia política e institucional que faltou na primeira metade do mandato do presidente.

No âmbito externo, a perspectiva nunca foi tão áspera. Dois dos maiores parceiros comerciais do Brasil, os Estados Unidos e a Argentina, têm hoje governos que não apenas não têm afinidade com o presidente brasileiro como nem sequer querem dirigir a palavra a ele.

EFEITO TRUMP – O estreitamento de laços entre Donald Trump e Javier Milei é um entrave e a própria incerteza sobre os rumos que o norte-americano dará a sua política de declarado protecionismo devem preocupar bastante o governo brasileiro.

Após comemorar um acordo entre Mercosul e União Europeia, que perseguiu por anos, o Brasil vê a tensão no continente europeu tornar ainda mais penoso que as novas etapas do processo avancem.

Há crises políticas e turbulências na França e na Alemanha, principais motores da UE, com reflexos não apenas na evolução do acordo mas nos humores do mercado pelo mundo. Enquanto isso, as até aqui persistentes guerras na Ucrânia e no Oriente Médio continuam pressionando preços internacionais.

CORTE DE GASTOS – O dólar está nas alturas mundo afora e, em especial, no Brasil, em meio a desacordo entre a política fiscal do governo e as expectativas do mercado. E, ainda que quisesse cortar mais do que quis até agora, o governo enfrentaria enormes dificuldades em um Congresso que nem o mínimo aceitou fazer.

O foco de uma das legislaturas mais sedentas por dinheiro público na história são as emendas parlamentares alvo de disputa no Judiciário. A correta decisão de Flávio Dino de enquadrar o orçamento secreto em todas as suas formas em regras que exijam o mínimo de transparência ampliou em 2025 um problema que o governo Lula terá que enfrentar.

Acostumado a colocar a faca no pescoço de presidentes nos últimos mandatos, o Parlamento deve começar o ano em ebulição e com sede de vingança. Aprovou o tímido pacote fiscal – desidratado, é verdade – em troca da liberação por Lula de emendas que, em parte, o Supremo Tribunal Federal (STF) bloqueou.

VINGANÇA ESPERADA – Mas como foi um ex-ministro do governo Lula e o último indicado por ele quem deu o veredicto, a vingança tende a vir sobre o Executivo, com ameaças de inviabilizar a segunda metade do governo petista.

De um lado, há incerteza se Hugo Motta, que teve no apoio do governo ponto fundamental para conseguir consolidar sua candidatura virtualmente eleita ao comando da Câmara, vai impor tantas dificuldades quanto o truculento Arthur Lira. A decisão de Flávio Dino no STF é um teste para ver onde ele pode chegar no enfrentamento com os demais Poderes.

De outro, porém, ninguém no governo tem qualquer esperança de que Davi Alcolumbre será uma sombra do que foi o parceiro Rodrigo Pacheco no comando do Senado. Na Casa Alta, certamente as faturas ficarão mais altas para o governo federal que enfrenta situação de fragilidade política na Câmara.

TEMPERATURA MÁXIMA – Por mais que seja parceiro de bastidores de figuras do Judiciário, Alcolumbre tende a jogar mais duro no duelo entre Poderes, o que pode fazer com que a temperatura política no Brasil se eleve, o que é sempre pior para o governo de plantão.

Já haveria necessariamente uma elevação das tensões com o necessário julgamento da turma que tentou dar um golpe de Estado entre o final de 2022 e o início de 2023. Em especial, aquele que pode levar o ex-presidente Jair Bolsonaro à prisão.

Pouco importarão as fartas evidências ou provas nas tramas que levaram ao 8 de janeiro, à fraude dos cartões de vacinas, ao desvio e tentativa de venda de joias do acervo presidencial ou ao esquema da Abin paralela, este o último ainda na fase de inquérito.

POLARIZAÇÃO TOTAL – Em um País que se acostumou com a polarização política levada às últimas consequências, julgar aquele que mobiliza pelo menos um terço do eleitorado nunca será tarefa trivial. Colocá-lo na cadeia e mantê-lo detido certamente custará bastante tranquilidade no País.

Enquanto isso, o Palácio do Planalto também terá que enfrentar negociações com legendas mais ao centro e à direita que, ao contrário do início do mandato, agora começam a olhar muito mais para os recados que o eleitorado deu em 2024 e que balizarão suas decisões em 2026.

Manter União Brasil, Republicanos e PSD em cargos no governo até será possível, dado o apetite dessas siglas, mas fazê-los ainda mais fieis no Congresso e colocá-los oficialmente na chapa de 2026 é tarefa bem mais complexa. Todos eles ensaiam candidaturas ou apoios a figuras de oposição à atual gestão.

Iotti | GZH - Página 59

Charge do Iotti compara Lula a um santo de barro

4 thoughts on “Cenários desafiadores trazem pressão máxima ao governo Lula em 2025

  1. Hábito de separar tampinhas para projetos sociais se alastra pelo Brasil

    Por cada quilo de tampinha de garrafa plástica, a indústria da reciclagem paga em média R$ 2,50. Apenas no estado do Rio, o dinheiro arrecadado por ONGs ligadas ao bem-estar animal permitiu a compra de 6 toneladas de ração e assistência veterinária para 5 mil bichos.

    • “…O tampinha da Inclusão é um projeto social que tem como finalidade a coleta de tampinhas plásticas que serão recicladas e ajudarão na aquisição de cadeira de rodas e de banho para doação ás pessoas com deficiência, idosos ou com mobilidade reduzida.

      *Cada cadeira equivale a cerca de 200kg de tampinhas coletadas….””

      • Sr. Newton

        Enquanto o Ladrão e o Ratão dizem que vão “cuidar dos pobres”, a verdade verdadeira dos fatos é que o povo povo quem cuida dos pobres…..

        o resto é aquele papo furado…

        aquele abraço…

        Ontem foi um sol de rachar mamonas como se dizia antigamente…

        e hoje o calor já começou a bater nas canelas….

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