Trump implode multilateralismo e instaura um salve-se-quem-puder 

Infografía | Así es como Trump tiene a México entre la espada y la pared •  Nuestra Revista • Forbes México

Trump procura destruir as instituições internacionais

Eliane Cantanhêde
Estadão

Com sua postura imperial e a determinação de usar o poder dos EUA para impor suas vontades, crenças e certezas pessoais, Donald Trump está criando fissuras drásticas não apenas na sociedade americana, mas também nos organismos internacionais e as alianças regionais.

O multilateralismo, que também favoreceu os países do porte do Brasil, está em desuso, com suas instituições fracas, desacreditadas, cada vez mais inoperantes. O mundo não é mais o mesmo. Prevalece a Lei da Selva, o que equivale a dizer: salve-se quem puder!

Ao recorrer ao seu poder de veto e impedir o cessar-fogo em Gaza com um único voto, os EUA, ainda na era Biden, mostraram ao mundo o quanto a antes poderosa ONU se tornou irrelevante, inclusive diante das duas guerras da década, Gaza e Ucrânia.

TUDO PIORANDO – Com Trump, o que já estava ruim só piora e se soma ao crescente anseio de hegemonia da China, ao voluntarismo da Rússia, ao descaso de Israel com a comunidade internacional, ao tudo ou nada do Oriente Médio e ao declínio da Alemanha, maior economia da Europa.

A diplomacia tem de se reinventar ou, ao menos, se ajustar aos movimentos do mundo, aos novos líderes e ao imenso impacto das redes sociais nos países e no planeta. Se a ONU está ladeira abaixo, vai levando junto toda sua estrutura.

Trump, que fala até em anexar o Canadá (!), já retirou os EUA da OMS (Saúde) e ameaça inclusive os aliados americanos de taxações, não dá a menor bola para as regras da OMC (Comércio), que já vinha tropeçando em campo.

ÓRGÃOS MUNDIAIS – O desmonte dos organismos internacionais decanta para os regionais, inclusive, claro, os da nossa região. A Celac (América Latina e Caribe), por falta de consenso e por estar perdida, não consegue sequer se reunir para discutir uma questão comum a todos os países, a da deportação de “milhões e milhões” nos EUA.

A OEA (Américas, incluindo EUA) há muito não se entende em questões até razoavelmente simples. E qual será o futuro do Mercosul, com o trumpista Javier Milei ameaçando retirar a Argentina do bloco e criar muros nas fronteiras?

Voltando ao primeiro parágrafo: é a Lei da Selva, o salve-se quem puder. O que significa que a diplomacia é cada vez menos exercitada em bloco e em torno de amplos consensos e se transformando num difícil e desgastante desafio bilateral. As articulações de Brasil, Colômbia e México não funcionaram nem para o indescritível Nicolás Maduro, da Venezuela, como poderiam dar em algo contra o mais indescritível ainda Donald Trump?

NOVA DIPLOMACIA – Há uma diferença de escala: bastou uma cara feia e duas ameaças e Trump reduziu a valentia do colombiano Gustavo Petro a pó.

A “nova diplomacia”, portanto, tem de pisar em ovos, medir ainda mais as palavras e os gestos, mirar os alvos certos e identificar com clareza os riscos. Enfrentar Maduro já foi um vexame. Enfrentar Trump seria devastador. Mas simplesmente jogar a toalha, fechar olhos, ouvidos e bocas para absurdos e ataques também não dá.

Há que calibrar ações, reações e riscos e usar a velha técnica do “olho a olho”, “homem a homem”. É assim que o Brasil está recuando da articulação com Colômbia e México e privilegiando a negociação direta com Washington. Vem daí a criação de um grupo de trabalho bilateral para acertar os ponteiros nas deportações.

ITAMARATY DE VOLTA – Para sorte do Brasil, a megalomania de Celso Amorim e a política externa petista e inconsequente parecem ter ficado para trás, no primeiro ano do terceiro mandato, soterradas por erros crassos com a Venezuela, Rússia, China, guerras, manifestações fora de tempo e lugar do próprio presidente Lula. A partir de 2024, o time que está em campo é o profissional, é o Itamaraty.

O resultado é visível. Lula está às voltas com graves problemas e uma avalanche de críticas na economia, na relação com estatais, na comunicação, nas negociações com um Congresso hostil, num custoso equilíbrio com as Forças Armadas em ano de julgamento do golpe e vai por aí afora.

A política externa, porém, saiu da mira, está fora da lista de crises e da mira da oposição. Pensando bem, bom para o Itamaraty, bom para Lula que, cá pra nós, já tem muita guerra doméstica para se ocupar.

3 thoughts on “Trump implode multilateralismo e instaura um salve-se-quem-puder 

  1. “Com apoio do PT e do PL, Hugo Motta é eleito presidente da Câmara”

    O Antagonista, 01.02.2025 18:51

    “Hugo Motta é eleito presidente da Câmara com apoio de governistas e opositores”.

    Estadão, 01/02/2025 | 18h51

    “Hugo Motta é eleito presidente da Câmara e consolida domínio do Centrão”

    O Globo, 01/02/2025 18h51

    Em torno do Orçamento Secreto se unem todos, bolsonaristas, lulistas e outros istas.

    • Excelente análise de Eliane Cantanhede.
      O Itamaraty está fazendo um bom trabalho, sob a orientação do Chanceler, Mauro Vieira.

      Qualquer palavra mal dita, pode desencadear uma crise e alimentar o troco de Trump contra o Brasil, taxando nossas exportações, como o ogro americano impôs ao Canadá e o México.
      Vejam, o Brasil foi muito criticado pelo mercado, anos atrás, quando recusou a participar do Nafta, um bloco geopolítico e econômico criado pelos EUA com as participações do México e do Canadá. Ao taxar esses dois países, Trump praticamente implodiu o bloco economico do Norte do continente.

      Milei, o presidente milongueiro da Argentina, apaixonado pelo Trump, dá indicações que está costeando o alambrado, doidinho para pular a cerca do Mercosul e ainda por cima, já fala em construir um muro na fronteira com a Bolívia e com o Brasil. Não me assustaria, se Milei exigir do Brasil, que construa esse Muro de Berlim em Foz do Iguaçu e nas Missões, seria cômico se não fosse trágico.
      O que diria o tri presidente e Senhor Diretas, o saudoso Ulisses Guimarães, sobre esse mundo louco no Brasil e na América,?
      Tá de arrepiar, de vaca não reconhecer bezerro.

  2. “Quem briga com familiares, amigos, colegas, por políticos (não por política) é muito bobo. Ontem no jantar na casa do presidente da Câmara estavam todos se abraçando, sorrindo, bebendo juntos, seja de direita, esquerda, centro, PT, PL, PSDB, etc. Até deputado que foi investigado no STF em roda de conversa com parlamentar de esquerda.”
    Renato Souza

    https://x.com/reporterenato/status/1885734442418790567?t=h_DdhckpNXPtdA2H8_sKng&s=08

    É um verdadeiro clube de milionários.
    É nós pagamos a conta.

    José Luis

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