Paulo Peres
Poemas & Canções
O publicitário, bibliotecário, humorista, jornalista, compositor e poeta pernambucano Manoel Bastos Tigre (1882-1957) no soneto “Argumento de Defesa” ao ser acusado de caluniar uma senhora, apresenta o seu melhor argumento de defesa, embora preconceituoso, ou seja, ele sempre achou-a feia demais para não ser honesta.
ARGUMENTO DE DEFESA
Bastos Tigre
Disse alguém, por maldade ou por intriga,
que eu de Vossa Excelência mal dissera:
que tinha amantes, que era “fácil”, que era
da virtude doméstica, inimiga.
Maldito seja o cérebro que gera
infâmias tais que, em cólera, maldigo!
Se eu disser tal, que tenha por castigo
o beijo de uma sogra ou de outra fera!
Ponho a mão espalmada na consciência
e ela, senhora, impávida, protesta
contra essa intriga da maledicência!
Indague a amigos meus: qualquer atesta
que eu acho e sempre achei Vossa Excelência
feia demais para não ser honesta…
Feio era Ricardo III para quem até os cachorros latiam, conforme Shakespeare.
A donzela, talvez, não fosse feia, mas apenas um horrível
Contra-senso
Somos concientes do presente
Imaginamos um futuro inexistente
Relembramos o passado ausente
Nutrimos amor, temos saudade
Sendo assim bons e inteligentes
Por que então o ódio e a maldade?
(Sapo de Toga)
Sapo de Toga 15 de dezembro de 2020 at 10:31
Profissão de fé
Ao nascer de um novo dia,
Sopre fraco ou forte o vento,
Saúdo a vida com alegria,
Pois estar vivo é um alento.
Deixo sempre para trás o passado,
E nunca antecipo o incerto amanhã;
Do pouco que tenho, nada me foi dado,
E não luto por coisas que são fúteis e vãs.
Não faço preces para pedir benesses,
Mas faço amigos a toda parte que vou;
Levo a vida feliz, como se tudo tivesse,
E, àquele que pede, não meço o que dou.
E assim vou vivendo, é assim que eu sou.