![As brechas na Lei da Ficha Limpa Folha1 - BlogdoBastos](https://www.folha1.com.br/_midias/wp/blogs3/bastos/wp-content/uploads/sites/2/2012/09/ficha-suja-lavando_lute1.jpg)
Charge do Lute (Arquivo Google)
Marcus André Melo
Folha
Há uma dinâmica curiosa em relação à corrupção e abuso de poder. Quando um grupo político é hegemônico e está no poder, e sua hegemonia é avassaladora, não há registro de denúncias por duas razões. Esse grupo tipicamente controlará meios de comunicação e instituições de controle, aqui incluídas as congressuais; a oposição legislativa terá assim baixa capacidade de incidir sobre a corrupção.
As denúncias, portanto, terão pouca visibilidade. Ações individuais e coletivas da sociedade civil terão a mesma sorte: há poucos incentivos para as denúncias. Afinal, por que agir se as chances dessas ações prosperarem são baixas?
DISPUTA IDEOLÓGICA – Quando não há grupo hegemônico, mas dois competitivos, os incentivos são outros. Quanto mais competitivo o sistema, mais incentivos para a criação de um escândalo que afete o incumbente.
Quando se alternam no poder, surge um conflito que leva à mudança institucional: arranjos e legislação anteriores passam a ser atacados. A dinâmica é fundamentalmente incumbente-oposição, mas se traveste de disputa ideológica direita-esquerda.
É o que estamos assistindo no momento em relação aos ataques de Bolsonaro e outros em relação à Lei de Ficha Limpa.
LEI POPULAR – A lei foi aprovada em 2010 na esteira do Mensalão. Produto de uma aliança do Conselho Nacional dos Bispos do Brasil e do TSE, ela foi a segunda lei de iniciativa popular do país.
Na campanha da fraternidade daquele ano as dioceses mobilizaram-se para a obtenção de 1,6 milhão de assinaturas e para a aprovação pelo Congresso por unanimidade. As 1.500 audiências públicas sobre a lei foram realizadas em todo o Brasil pelo TSE.
Mas o mesmo vale para outros atores e instituições. O STF, a Polícia Federal, e o Ministério Público, que eram vilipendiados pelo PT, quando era incumbente, passaram a ser defendidos pelo partido.
UDN DE MACACÃO – Por ter defendido no passado a bandeira anticorrupção, para Brizola, “o PT era a UDN de macacão”. Sim, a UDN que era o partido que denunciava a corrupção e o abuso getulista. E vice versa, em relação ao bolsonarismo.
Há dois cenários hipotéticos que podem resultar de uma nova configuração política competitiva. O primeiro é um ciclo virtuoso que é marcado por um certo aprendizado coletivo, em que desaparecem supostos monopólios da virtude.
O eleitorado aprende a distinguir entre retórica e realidade. Os atores internalizam a mudança. Excessos são mitigados. Arranjos institucionais e legislação são aperfeiçoados.
CONLUIO GENERALIZADO – O segundo cenário é vicioso: uma combinação de brutal retrocesso e conluio generalizado. O equilíbrio resultante é perverso: “Você não denuncia minha emenda e eu não denuncio a sua”. Ele produz malaise institucional e cinismo cívico generalizado: “são todos farinha do mesmo saco”. Mas o equilíbrio só quebra por ações disruptivas, antissistema. Cria-se assim incentivos a outsiders.
O primeiro cenário representa a trajetória histórica das democracias avançadas (que analisei aqui). O segundo é a armadilha da democracia de baixa qualidade que mantem dinâmicas predatórias.
Na nossa trajetória recente há dinâmicas virtuosas mas elas se inviabilizam em contextos de alta polarização. É uma explosiva combinação de ultra reação ao combate à corrupção (como vimos em relação à Lava Jato) e persistência de um equilíbrio predatório.
Mais vale uma imagem.
https://www.youtube.com/watch?v=jDN1tt_0wcY
Há quem esteja entusiamado que os ventos trumpianos sopre por aqui. Pode ser, mas o consenso pró-patrimonialismo ainda está presente.
https://gazetabrasil.com.br/ciencia-e-tecnologia/2025/02/09/elon-musk-defende-o-fechamento-de-emissoras-de-midia-financiadas-pelo-governo-dos-eua/
Em 2010, após o Mensalão, ainda existia uns laivos de indignação cidadã, bom senso, honestidade e esperança que apoiaram e incentivaram a criação da Lei da Ficha Limpa.
Esperemos que após a debacle que se avizinha, ressurjam de seus escombros cívicos necessidades que promovam impreterivelmente uma nova estrutura constitucional e moral que, finalmente, redima este sofrido país de sua herança pós colonialista e o projete como força econômica, intelectual e moral para o lugar que por lógica natural lhe corresponde dentro do universo.
Com esses políticos que mandam e desmandam no país? Só em sonho.
Mudando de assunto.
Creio que nunca foi feita uma auditoria tão profunda como a que Trump está fazendo no aparelho estatal norte-americano.
Puxa-se um caso e vem dezenas.
A burocracia dos memorandos caiu frente às tecnologias de ponta.
https://www.mediapart.fr/en/journal/international/021224/hidden-links-between-giant-investigative-journalism-and-us-government
Está levantando um volume gigantesco de informações.
O que está havendo com a cobertura de nossa imprensa?
https://www.google.com/search?q=usaid&lr=lang_pt&client=firefox-b-d&sca_esv=9219933314578648&tbs=lr:lang_1pt&tbm=nws&sxsrf=AHTn8zo-rX_GP1cMhEQZaOCu1ZLqAbKqrg:1739201122502&ei=YhqqZ-erHtP41sQPjLCX4AE&start=10&sa=N&ved=2ahUKEwjn5OWItbmLAxVTvJUCHQzYBRwQ8tMDegQIBBAE&biw=1366&bih=643&dpr=1
E vejam que a USAID representa só 1% do orçamento.
Só as reportagens ocupam terabytes de informação.
https://www.opindia.com/2025/02/ravish-kumar-pratik-sinha-prashant-bhushan-internews-usaid-expose-wikileaks-anti-india-propaganda/
Já está polarizado. A metade não aceita o Lula de jeito nenhum e a outra metade (?) que conseguiu eleger 749 prefeitos num total de 5570 municípios no país quer manter o Lula no poder.
Como não estar polarizado?
Eu vou votar num candidato da direita que a mídia cretina e fundamentalista chama de extrema direita e fascista.
A esquerda vocacionada em expurgos tem se dedicado a inviabilizar tudo que não seja a seu favor.
Tirar Loola da cadeia e tentar colocar Bolsonaro na cadeia é o quê?
Democracia?