Luiz Felipe Pondé
Folha
São os homens e mulheres de poder psicopatas? Não há pesquisas que verifiquem essa suspeita, mas temo que sim. Trump fez uma proposta para Gaza que soa pura zoação de mau gosto. Vale salientar que, tão de mau gosto quanto isso, é o tesão que inteligentinhos sentem pelo Hamas, levando muitos a suspeitar que, no fundo do coração, gostariam de transar com terroristas.
Os políticos zoam com a nossa cara? Temo que sim, e não só os políticos eleitos, mas muitos que detêm o poder na república. Passar a vida mentindo 24 horas por dia já seria um indício de psicopatia —uso o termo aqui no sentido comum, não pretendo “roubar” o mercado dos especialistas.
TOMATE AO ALVO – Fácil xingar Trump e sua ideia absurda sobre Gaza. Suponho que, no jardim da infância nas escolas brasileiras, os amantes do bem colocam fotos do Trump na parede para as crianças treinarem a tomate ao alvo —como formação de consciência crítica.
Mas muitos dos poderosos zoam com a nossa cara. Quer ver exemplos? Lula. Ele afirma com a cara limpa que todos terão picanha no prato. Nega frontalmente que haja inflação na comida, e, se houver, a culpa é do mercado, da má comunicação do governo, que agora iniciou uma nova era de inteligência de marketing com os “bonés dos brasileiros”. Ou culpa do Elon Musk, do Zuckerberg, dos “golpistas”. Enfim, ele faz tudo certo, o mundo é que torce contra.
O PT é uma grande zoação. Uma gangue em vias de inviabilizar o país por cem anos, desfila com ares de amante da democracia.
NEGACIONISMO – Nada de controle fiscal. Cadê a claque que chama todo mundo de que não gosta de negacionista? Lula é um negacionista fiscal, cara de pau, mas tudo bem, porque a inteligência pública o aprecia.
Mas seria uma injustiça vincular apenas o Lula à zoação geral com a nossa cara. O Legislativo é uma vergonha. Desvia verbas, cuspindo na cara de quem tem, pelo menos, dois neurônios. Emendas Pix, ou seja lá o nome que derem, são um roubo e uma zoação clara com a nossa cara.
O Legislativo sequestra o poder que tem dentro da estrutura da república para negociar, chantagear, inviabilizar qualquer iniciativa do executivo —que, como vemos, tampouco presta para muita coisa.
PURA ZOAÇÃO – Os discursos são pura zoação. Retórica vazia, cheia de clichês. Ver sessões do Legislativo é como ver um espetáculo de circo barato. Só falta a mulher de barba, o selvagem que come frango com os dentes, engolindo as penas, a cobra que fala, o trapezista que morre quebrando o pescoço.
Sei, sei. Há exceções, todos sabemos, mas a máquina é podre. Tentar posar do contrário é parte da zoação.
O poder Judiciário não fica atrás, mas a zoação com a nossa cara é mais sofisticada. Além do claro alinhamento de setores do Judiciário com o governo federal, empenando o jogo político e ideológico na república das bananas que se transformou o Brasil, o tema “salários e afins” é claramente um abuso.
Não importa a justificativa, do ponto de vista “técnico”, é pura zoação. Intocáveis como são, todos morremos de medo do seu poder absoluto.
RUMO À TIRANIA – Aqui vale um aparte conceitual. Muitos grandes filósofos já apontaram a vocação natural do Estado se transformar —mesmo na democracia— em um tirano. Tocqueville no século 19, Robert Nisbet e Bertrand de Jouvenel no século 20 —este vale uma discussão à parte, para não o deixar cair sob as críticas de inteligentinhos ignorantes que se acham sábios e cultos— sempre apontaram que, sem corpos intermediários fortes e relacionados, o Estado sempre revelaria sua face de Leviatã.
Portanto, discursos pomposos sobre como “a corte” se preserva de paixões políticas —porque não é eleita via voto— só colam para quem não tem olhos para ver: o STF é pura paixão política.
A tendência natural do Estado é se fazer poder absoluto, mesmo com a separação dos poderes —que podem convergir num happy hour facilmente ou numa troca de amantes.
TUDO DOMINADO – Corpos intermediários —justamente o que encantava Tocqueville na jovem democracia americana em 1831— são uma rede poderosa de igrejas autônomas, a própria Igreja Católica, sindicatos, conselhos de bairros e municípios, escolas e universidades, organizações de comerciantes; enfim, associações da sociedade que podiam fazer frente ao Estado. As frentes ideológicas destruíram tudo isso porque submeteram os corpos intermediários às militâncias partidárias.
E a oposição? Meu Deus, que catástrofe. Bolsonaro e seus idiotas de plantão são a zoação encarnada. Destruíram qualquer reação racional à gangue de sempre.
A cacofonia da direita hoje é uma humilhação à inteligência. Temo que o Brasil esteja perdido por cem anos. Jovens, fujam
Como é fácil criticar. O difícil é sugerir algo.
Pondé e sua verborragia prolixa. Serve para quê? Pro lixo l.
‘O poder Judiciário não fica atrás (…). Além do claro alinhamento de setores do Judiciário com o governo Lula, deformando o jogo político e ideológico na república das bananas que se transformou o Brasil, o tema “salários e afins” é claramente um abuso (de poder).’
Cem anos é pouco, está sendo otimista. Com nossos políticos vai ser difícil erguer esse País
Fuga?
Paulo Francis era comunista aqui no Brasil, foi para os Estados Unidos e virou capitalista, e lá de Nova Iorque dava as notícias sem subterfúgios ideológicos embutidos na fala.
Ele arrastava a palavra Maaarrgaareet Tahhtcherr, a Daammaa de Feerro quando essa dava uma ripada no partido trabalhista inglês.
Um jornalista ou um cidadão comum pode adotar a ideologia que quiser, é um direito, mas ao dar a notícia não pode mostrar que o ranço ideológico é mais importante que a própria noticia.
Quem procura saber as novidades do universo político não quer saber do viés ideológico do escriba. Quer os fatos, simples assim.