O dia em que a Otan acabou e a Europa ficou entregue à própria sorte

Trump e Zelensky batem boca em reunião na Casa Branca | Band JornalismoDemétrio Magnoli
Folha

O reality show da humilhação de Zelenski promovido por Trump no Salão Oval, concluiu a ruptura entre EUA e Ucrânia e o alinhamento da Casa Branca à Rússia de Putin. O evento, salpicado por ameaças, insultos e acusações, segue-se às negociações bilaterais EUA/Rússia sobre o futuro da Ucrânia, às declarações de Trump atribuindo aos europeus a responsabilidade por garantias de segurança ao país invadido e ao voto pró-russo dos EUA na ONU. O conjunto da obra assinala o virtual desmoronamento da Otan.

A Aliança Atlântica ainda existe no papel, mas perdeu sua alma, expressa no artigo 5º do tratado fundador que classifica um ataque militar contra qualquer de seus integrantes como agressão a todos.

MARAVILHOSO OCEANO – O artigo anulara, no plano geopolítico, a separação geográfica entre EUA e Europa pela vastidão do Atlântico. De agora em diante, volta a existir, nas palavras de Trump, “um maravilhoso oceano” dissociando a superpotência norte-americana das nações europeias.

Trump realiza um antigo sonho da esquerda “anti-imperialista” que descreve a Otan como ferramenta da hegemonia dos EUA. A história, contudo, ensina que a Otan foi responsável pela estabilização geopolítica da Europa Ocidental no pós-guerra – ou seja, pelo renascimento democrático das nações que escaparam à esfera de influência soviética.

Naqueles países, floresceram a pluralidade política, os sindicatos, as liberdades civis, os direitos individuais. Neles, a esquerda social-democrata teve a oportunidade de governar e expandir as redes de proteção social. Sob o manto da segurança garantida pela Otan, nasceu a União Europeia.

MOLDURA DA SOBERANIA – Mais tarde, paradoxalmente, a Aliança Atlântica tornou-se a única moldura viável para o exercício da soberania nacional no leste europeu, A prova positiva disso encontra-se na insistência das nações libertadas do jugo soviético em 1989 em ingressar na Otan.

A prova negativa encontra-se nas duas invasões imperiais russas da Ucrânia, violando o Memorando de Budapeste (1994) pelo qual os ucranianos cederam seu arsenal nuclear à Rússia em troca do reconhecimento de suas fronteiras.

Putin (e Lula também, por sinal) acusa a Otan de ser a causa de sua guerra – ainda que, em textos e discursos, clame pela incorporação do vizinho à “Grande Rússia”. De fato, a Aliança Atlântica funcionou, desde a implosão da URSS, como garantia da paz no arco que se estende da Estônia à Romênia.

SONHO DA PAZ – Depois de 1990, os europeus deixaram-se embalar pelo idílio de uma paz eterna assegurada pelo artigo 5º e reduziram drasticamente seus investimentos em defesa. Hoje, sob o impacto da abjuração de Trump, a Europa navega em águas desconhecidas – e precisa erguer um edifício de segurança independente.

Jean Monnet, o “pai fundador” da União Europeia, desenhou o esboço de uma Comunidade Europeia de Defesa (EDC), que seria um pilar autônomo no interior da OTAN. A EDC ganhou forma no Tratado de Paris (1952), assinado pela França, RFA (Alemanha Ocidental), Itália e Benelux mas rechaçado pela Assembleia Nacional francesa.

Nesses dias de fúria, os líderes europeus correm a Washington em busca de um aceno benevolente de Trump. Quanto demorarão para correr aos arquivos de Bruxelas em busca de inspiração no tratado rejeitado sete décadas atrás?

12 thoughts on “O dia em que a Otan acabou e a Europa ficou entregue à própria sorte

  1. Dá-lhes Trump, agora sim sentimos firmeza em Tio Sam, o errado é errado mesmo que todos o pratiquem e o certo é o certo mesmo que ninguém o pratique, Trump foi peremptório ao responder a Zelensky que não está alinhado com lado nenhum mas isto sim com a América do Norte, o mundo e a Humanidade, o resto é fake news inventada por interesses contrariados. “PAZ E AMOR, PAZ E AMOR, GUERRA NÃO SENHOR…” Vidas humanas importam, sim senhor,Trump no caso me parece repleto de razão, a Humanidade deve estar acima das nossas vaidades, ambições, interesses e delírios pessoais, basta, muitas vidas humanas já foram desperdiçadas na Ucrânia, inutilmente, por burrice, muito dinheiro jogado fora que poderia ter sido aplicado no bem-estar da região e não na destruição, aliás com riscos altíssimos e gravíssimos para a Humanidade. É forçoso para a patota da globo news apaixonada poro Zelensky e engajada na campanha do Huck admitir, mas o fato é que Zelensky fez besteiras do começo ao fim da sua aventura política pra lá de arriscada, temerária e sem lastro, baseado apenas na sua própria ambição, vaidade, interesse e esperteza e no ódio vingativo de Biden contra Putin, sem medir as consequências das vossas respectivas atitudes, subestimando o poder de reação da Rússia. E agora “Inês é Morta” e o que lhe resta é apenas a rendição em favor da Rússia que como sua irmã e a sua melhor parceira, que nunca deveria ter sido traída pelo mesmo ,ainda lhe será generosa, volte pra casa seu aprendiz, abracem-se entre irmãos e irmãs ao invés de sair mundo afora enganando ou tentando enganar procurando fora da sua região o que vc tem ao seu lado. https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2025/02/28/publicacao-trump-sobre-ucrania-truth.htm?fbclid=IwY2xjawIv_jNleHRuA2FlbQIxMQABHf5HrDKdFMPzIAcKTuJRtOmEU6KH7joxoZWWITc0mmYl21ZTnTj5yOP1Aw_aem_98cTVIl8zJklAGg-SDqWfQ

    • Trump tem razão, Tio Sam não tem obrigação nenhuma de ser muleta da Europa e nem do resto do mundo, não dá mais para sustentar parasitas, muito menos encrenqueiros, custam caro demais para quem os sustentam e não valem nada, muito menos de governantes mitomaníacos, populistas, demagogos…, corruptos, larápios que transformam seus países em fábricas de miseráveis apenas para obter os seus votos e depois das eleições descartá-los nas cracolândias da vida…

  2. “Eu posso afirmar que o avião de Putin e o Boeing da Malaysia passaram pelo mesmo ponto na mesma altura. O jato presidencial esteve lá às 16h21 no horário de Moscou, e a aeronave da Malaysia (MH17) passou por lá às 15h44”, disse uma fonte anônima da agência. “Os contornos das aeronaves são similares, as dimensões também, bem como as cores. A uma boa distância, são praticamente idênticas”, afirmou.

    Putin voltava do Brasil para a Rússia. Ele veio ao Rio de Janeiro assistir à final da Copa do Mundo 2014 e participar de uma reunião sobre a criação do banco dos BRICS.

    Vladimir nunca perdoou a tentativa.

  3. A relação do Trump com o Putin, lembra um ditado antigo que dizia que um valente, não briga com outro valente, convida para compadre.
    Como a corda estoura na parte mais fraca, o Zelensky que volte para o humorismo televisivo, porque como político, só fez cagada.

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