Extrema direita utiliza a democracia para avançar sua agenda reacionária

A mobilização nas ruas não muda a situação de Bolsonaro – Opinião –  CartaCapital

Uma pergunta: Até que ponto Bolsonaro é um democrata?

Maria Hermínia Tavares
Folha

O entusiasmo da multidão que Jair Bolsonaro levou à avenida Paulista, no domingo (25), não foi suficiente para esconder que ali se saudava um derrotado: nas urnas e no intento de permanecer no poder por meio de um golpe. Este só não se consumou porque as instituições democráticas e as lideranças que as animam, no Estado e na sociedade, barraram-lhe os passos.

Não foi por outra razão que, vencido, o ex-presidente abandonou a retórica incendiária – sua marca desde sempre – pela moderação, loas à democracia e apelos autointeressados de pacificação e anistia para os conspiradores – de gravata ou farda – e para os descerebrados que invadiram a praça dos Três Poderes.

DIREITA AMEAÇADORA – Suas juras de lealdade ao sistema representativo valem tanto quanto a negação de que tramou contra ela antes, durante e depois da disputa presidencial. Mas, como a extrema direita não é fenômeno episódico – está aí para ficar na nossa vida política –, cabe perguntar até que ponto ela pode constituir ameaça existencial à ordem democrática.

A resposta não está no campo da teoria ou dos princípios, mas na solidez das instituições públicas e sociais em que se arrima o edifício democrático.

Velho conhecido dos latino-americanos, o populismo – agora da direita radical –, desde a segunda década do século, ganhou espaço político nos países onde o sistema representativo liberal existia de há muito, onde era mais jovem e naqueles que pareciam caminhar em sua direção, depois da Guerra Fria.

RETROCESSOS – Neste último caso, a livre competição eleitoral, o controle recíproco dos Poderes e as liberdades públicas vêm sendo limitados, em maior ou menor grau, por setores que, alçados ao governo, se dedicam a solapá-lo. É o que ocorre na Rússia pós-soviética e nos países que outrora figuravam no mapa do socialismo real. E ainda, por outros caminhos, na Venezuela e na Nicarágua, onde o populismo autoritário foi gerado na esquerda.

Nas democracias mais antigas, o rumo das coisas pode ser outro. Bem ou mal, a extrema direita, incorporada ao livre jogo eleitoral, parece adaptar-se às regras do regime de liberdades. O caso da Itália, onde o populismo transitou várias vezes entre governo e oposição, é talvez o mais ilustrativo.

Não se exclui que, também no Brasil, a extrema direita, derrotada, se adapte às regras democráticas e delas se valha para avançar sua agenda, que será insanavelmente reacionária.

###
P.S. –
A discussão dos dilemas de nossa democracia perdeu uma voz ímpar, com a morte do sociólogo Luiz Werneck Vianna. Foi pensador original, intelectual público, democrata raiz, interlocutor instigante e amigo querido. (M.H.T.)

Bolsonaro é uma questão democrática, que jamais pode ter solução ditatorial

Não faz sentido que Bolsonaro, capaz de levar mais de meio milhão de pessoas para a rua, seja um perigo, e que não possa ser uma opção para quando os cidadãos

Para desbancar Bolsonaro, esquerda convoca manifestação

J.R. Guzzo
Estadão

As manifestações de massa do último domingo na Avenida Paulista deixaram perfeitamente óbvio, mais uma vez, que já está mais do que na hora do Brasil resolver a questão de Jair Bolsonaro. O ex-presidente, queira-se ou não, é uma força política de primeiro grau – uma dessas realidades a que todas as democracias estão sujeitas, e que têm de ser tratadas unicamente com soluções democráticas. É um risco inseparável da existência de qualquer democracia.

Na política, surgem, por razões múltiplas, lideranças que muita gente julga indesejáveis para o bem comum. Se não há esse risco, não há democracia. A única resposta real é mostrar racionalmente para a maioria que essa pessoa é nociva – e, em seguida, derrotá-la em eleições livres.

SOLUÇÃO DITATORIAL – O verdadeiro perigo representado hoje por Bolsonaro é servir de justificativa, ou de desculpa, para se trocar a solução democrática e custosa pela solução ditatorial e fácil. Para o PT e a esquerda radical, isso não é problema nenhum. Nunca, nem uma vez, aceitaram uma derrota eleitoral.

Repetem, há quase 40 anos, exatamente a mesma coisa: “fora Collor”, “fora FHC”, “fora Temer”. Agora estão no “fora Bolsonaro”. Como ele está proibido pelo TSE de disputar eleições até 2030, o próximo “fora” vai ser para quem aparecer na sua frente, seja lá quem for.

Mas para os brasileiros que defendem a democracia como a melhor forma de se viver em sociedade, e não querem submeter-se à política da gritaria, admitir que Bolsonaro seja ilegalmente eliminado da vida pública brasileira é aceitar um copo de veneno. Não é uma exceção para se salvar o bem comum. É um incentivo ao mal comum.

UM FALSO PERIGO – Não pode haver democracia se um grupo de burocratas que nunca recebeu um voto na vida decreta, alegando a lei eleitoral e truques judiciários, quem está autorizado a participar da disputa política.

Não faz sentido, em nenhuma democracia séria, que o único político do país capaz de levar mais de meio milhão de pessoas para a rua seja um perigo – e que não possa ser uma opção para quando os cidadãos escolhem seus governantes.

A anomalia fica especialmente grosseira quando se considera que o presidente da República, o principal inimigo e acusador de Bolsonaro, não consegue reunir público nem para uma mísera “live”; sair à rua, então, está fora de qualquer cogitação há anos.

QUEREM PRENDÊ-LO – Lula e o seu sistema dizem que estão fazendo o melhor governo que o Brasil já teve – e Bolsonaro, segundo garantem, foi e será sempre o pior governante do mundo. Qual o problema, então? É só fazer uma eleição; o povo mandaria o ex-presidente para o espaço e tudo estaria resolvido.

Mas a livre competição política está abolida no Brasil de hoje. Não querem derrotar Bolsonaro no voto. Querem se livrar do problema jogando o concorrente na cadeia – com acusações patentemente ineptas e que seriam recebidas com uma gargalhada em qualquer tribunal do mundo democrático.

É um erro. Bolsonaro não vai desaparecer da realidade nacional com atos administrativos do ministro Alexandre de Moraes, e muito menos com os desejos do governo.

Moraes pode ter cometido um grave erro ao prender assessor de Bolsonaro

Moraes volta a defender regulamentação das redes sociais

Moraes recebeu uma informação errada sobre o suspeito

Marcelo Godoy
Estadão

A virtude e o direito eram para Cícero premissas, o núcleo fundador de seu tratado sobre a República. Não é por outra razão que Francesca Nenci, ao analisar a obra De Re Publica do pensador romano, afirma que, por meio de uma concepção da virtude (virtus) estritamente ligada ao direito, o diálogo de Cícero se sustenta em um sistema de valores próximos à tradição ocidental do chamado republicanismo.

A teoria ciceroniana tem como base a ideia de que o homem tem por fim natural a vida em sociedade onde possa realizar a parte melhor de si mesmo justamente no âmbito do Estado, como cidadão, em sua vita activa. O ministro Alexandre de Moraes conhece bem essas páginas. Poucos em Brasília sabem como ele a importância da virtù para um homem público. Sua trajetória é testemunha disso.

DOCUMENTOS – Na quinta-feira passada, a Polícia Federal recebeu das mãos dos advogados de Filipe Martins, ex-assessor da Presidência, uma série de documentos. São passagens aéreas em nome dele e de sua mulher, datadas do dia 31 de dezembro de 2022, no voo 3860 da Latam, que saiu às 16h50 de Brasília e pousou às 18h36 em Curitiba. As poltronas 11E e 11F foram ocupadas, segundo a defesa, por Martins e pela mulher.

Os comprovantes do despacho da bagagem também foram exibidos aos doutores da PF, bem como e-mails da companhia aérea mostrando que o casal esteve no voo, fato, aliás, que as imagens das câmeras dos dois aeroportos podem confirmar, bem como o deslocamento dos telefones celulares do casal, segundo os dados das estações rádio-base. Ou seja, se os documentos fossem falsos, isso seria facilmente verificado pela PF.

Martins teve a prisão preventiva decretada por Moraes porque a PF achou seu nome em uma lista de passageiros que embarcou para a Flórida com o chefe, Jair Bolsonaro, em 29 de dezembro, sem que houvesse registro da saída do assessor na alfândega.

DÚVIDA RAZOÁVEL – Isso faria dele alguém que pudesse sair do Brasil sem precisar do passaporte, daí porque a entrega do documento não bastaria para impedir sua fuga, a exemplo do que Moraes decidiu a respeito de Bolsonaro e de Braga Netto.

O problema é que os dados da defesa, em tese, levantam uma dúvida razoável de que Martins não tenha deixado o País, informação que fundamentou a prisão. E, se há erro, ele deve ser solto.

Não há dúvida que o mais grave crime em uma República é o atentado contra o Estado Democrático de Direito. Esta também definha se o governo não visa ao bem comum. E sem o justo não há virtude. A mera consciência teórica desta não basta. É preciso exercitá-la. É este o desafio que se coloca diante do ministro Moraes. Se Martins cometeu crime, que seja processado, mas segundo as leis aplicáveis a todos. Nem mais nem menos.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGComo Moraes e os outros ministros do Supremo jamais erram, são mortais imunes a erros, ele vai alegar que Martins foi preso por causa da minuta, embora seja exagero prender alguém por entregar um papel a outrem. (C.N.)

Xingatório e bazófias não ajudam a estancar sangria na Faixa de  Gaza

Guerra: Brasil desloca diplomatas para dar suporte a brasileiros em Gaza -  Internacional - Estado de Minas

Em breve, restarão apenas escombros na Faixa de Gaza

Mario Sergio Conti
Folha

O francês Edgar Nahoun era um adolescente de família judaica quando, na Guerra Civil Espanhola, integrou uma organização antifascista que dava ajuda material aos republicanos. Com 20 anos, engajou-se na resistência armada à ocupação da França pelos nazistas.

Organizador de atentados e judeu, seria executado se fosse pego. Adotou então o pseudônimo que continuou a usar quando a guerra acabou: Edgar Morin. É o nome que está na capa das dezenas de livros de sociologia que publicou.

DIZ O SOCIÓLOGO – Morin tem 102 anos. Foi com clareza e gravidade que falou de Gaza a uma plateia emudecida, O vídeo, impressionante, está na internet. Eis o que disse.

“Estou chocado e indignado pelo fato de que aqueles que representam os descendentes de um povo perseguido durante séculos, por razões religiosas ou raciais, que os descendentes desse povo, os que hoje tomam decisões do Estado de Israel, possam não só colonizar um povo inteiro mas expulsá-lo de suas terras, tentar expulsá-lo para sempre.”

O 7 de Outubro, disse, foi um “massacre”. Desde então, o governo israelense vem promovendo uma “carnificina” que atinge “civis, mulheres e crianças”. Lamentou “o silêncio dos Estados Unidos, protetor de Israel, o silêncio dos Estados árabes, o silêncio dos Estados europeus, que se pretendem defensores da cultura, da humanidade e dos direitos humanos”.

VER AS COISAS – Morin preferiu substantivos a adjetivos. Não atribuiu intenções, vituperou ou foi divisivo. Tampouco escudou-se na condição de judeu e resistente. A certa altura, usou a expressão “ver as coisas de frente”.

Foi isso o que Lula não fez ao comparar a guerra de Israel contra os palestinos à de Hitler contra os judeus. A comparação é imprópria porque o führer nazista matou mais de 70 milhões de pessoas.

Entre outros, foram 25 milhões de soviéticos, 15 milhões de chineses, 410 mil norte-americanos, 2.000 brasileiros e 6 milhões de judeus — estes assassinados numa ação industrial de extermínio. Política, moral, fornos crematórios e o número de vítimas fizeram do nazismo o ápice da barbárie.

LULA XINGA – O que Lula fez foi xingar. Biden também xingou na quarta-feira, ao dizer que Putin é “um FDP maluco”. Como quem xinga é xingado, o Kremlin retrucou que Biden é um “caubói de Hollywood”. Xingatório é uma coisa; política, outra. Ou melhor: a política deveria ter consequências.

Se Netanyahu é um Hitler, a consequência é enfrentá-lo logo para evitar que o mal se alastre. É urgente fazer como Morin, empunhar armas contra o nazismo. Tirar o pijaminha do general Augusto Heleno, botar-lhe uma fardinha e mandá-lo invadir Tel Aviv com sua garrucha. Aguardemos.

A guerra em Gaza não se presta a bazófias. É briga de cachorro grande, de países ricos, com apoio popular e armas aniquiladoras. É palpável o risco de um incêndio que engolfaria o Oriente Médio. Um ministro israelense chegou a sugerir um ataque nuclear a Gaza.

MILHÕES FAMÉLICOS – O horror dá náuseas. São milhões os expulsos de suas casas, famélicos que disputam em andrajos um naco de pão. Diuturnas, as imagens do abuso reiteram a intimação do verso de Neruda na Guerra Civil Espanhola: “Vinde ver o sangue pelas ruas”.

A injustiça do assalto a Gaza leva muitos a se perguntarem se dá para, num canto do planeta, ajudar a estancar a sangria. Sozinho ninguém detém mísseis. Mas a opinião pública mundial pode muito. Quem agiu com contundência foi um país mais fraco que o Brasil, a África do Sul. Ela encaminhou um documento de 80 páginas ao Tribunal de Haia. Sustenta que Israel está passando do massacre ao genocídio —acusação feita com base em fatos.

Com a palavra, ministros de Israel: no futuro “haverá 100 mil ou 200 mil árabes em Gaza, e não 2 milhões”; “vamos lutar até quebrar-lhes a espinha dorsal”; “a destruição do norte de Gaza é um prazer para os olhos”; os palestinos “são uns animais”. Não poderiam ser mais claros.

NÃO É DEMOCRACIA – A peça sul-africana ajuda a sepultar dois mitos. Reza o primeiro que Israel é uma democracia. Não é. Há 475 mil colonos israelenses na Cisjordânia e no Golan ao arrepio de leis internacionais. Os palestinos não têm ali liberdade de expressão, acesso à Justiça, direito de ir e vir. É apartheid e pau neles.

O segundo mito diz que a guerra é iniciativa de Netanyahu e da extrema direita. Em termos. A guerra é conduzida por um gabinete de união nacional, integrado pela oposição.

Para acabar com o tormento em Gaza será preciso vencer o silêncio de que falou Edgar Morin. E calar a barulheira de xingatórios e bazófias.

Sentimentos de ajuda aos carentes às vezes redundam em péssimas políticas

A Sutil Arte De Ligar O Foda-se

O sucesso de Mark Manson tem explicação

João Pereira Coutinho
Folha

É uma das mais antigas memórias de infância: eu, com nove anos, cantando “we are the world, we are the children” na festa da escola. O auditório, com pais embevecidos e lacrimejantes, bebia as palavras como se fossem as tábuas da lei que Moisés trouxe do Sinai.

Eu, antecipando uma carreira futura como rezinga profissional, murmurava apenas palavras soltas, contando os segundos para fugir do palco.

DE BRAÇOS ABERTOS – Foi um sucesso. De tal forma que, para mal dos meus pecados, a turma fez turnês por outras escolas, casas de repouso —e, se a memória não me falha, o hospital psiquiátrico da cidade, onde fomos recebidos de braços abertos.

Lembrei tudo isso enquanto assistia ao documentário “A Noite que Mudou o Pop”, na Netflix, sobre a noite em que Los Angeles reuniu em estúdio o maior número de estrelas para gravar “We Are the World”.

Apesar do meu estresse pós-traumático, gostei. Para começar, o solo de Bob Dylan era o único momento da canção que verdadeiramente me encantava. Mas quem diria que foi Stevie Wonder, mimetizando o estilo de Dylan, quem ensinou ao próprio Dylan como cantar os versos?

VELHAS CERTEZAS – De resto, confirmei velhas certezas: a beleza irreal de Diana Ross, a força vulcânica de Bruce Springsteen e o talento ofensivo de Michael Jackson. Tudo era fácil, gracioso e luminoso naquele corpo frágil.

Claro que, no filme, falta o essencial: o destino do dinheiro. Na década de 1980, a fome na África, sobretudo na Etiópia, levou figuras como Bob Geldof ou Harry Belafonte a mobilizarem esforços homéricos para salvarem os famintos.

Canções foram gravadas. Concertos foram organizados. Milhões de dólares foram enviados para o continente. Mas fenômenos como a Band Aid ou a USA for Africa nunca perderam o seu tempo para questionar as origens políticas da fome que combatiam.

GUERRA CIVIL – No caso da Etiópia, a catástrofe humanitária era, em grande medida, responsabilidade do regime de Mengistu Haile Mariam e da guerra civil em que ele mergulhou o país.

Se juntarmos à guerra a coletivização forçada da agricultura promovida por Mengistu, com o deslocamento forçado de meio milhão de pessoas — uma estimativa conservadora —, entenderemos melhor as imagens obscenas das crianças esqueléticas que horrorizaram o Ocidente.

Os milhões de dólares teriam aliviado as condições infernais de muitas delas. Mas persiste hoje — nos trabalhos notáveis de Dambisa Moyo e de David Rieff — a acusação de que esse dinheiro, nem sempre usado para fins humanitários, serviu sobretudo para prolongar a guerra e, por consequência, a fome.

MORAL DA HISTÓRIA? – Os bons sentimentos, às vezes, redundam em péssima política. Mas quantos poderiam imaginar isso naquela noite de 1985, quando os melhores dos melhores pensavam que estavam salvando o mundo?

Excesso de empatia pode ter os seus abismos. Falta de empatia também, embora essa seja a principal ambição do homem na modernidade. Tempos atrás, na casa de um familiar, encontrei os famosos livros de Mark Manson, com os títulos sonantes “A Sutil Arte de Ligar o F*da-se” e “F*deu Geral”. “Milhões de exemplares vendidos”, lia-se na capa!

A mensagem, resumidamente, era só uma: seja mais sociopata. Que interessam os outros? A vida livre, a vida feliz, é feita de misantropia e narcisismo. Remorsos ou vergonhas só atrapalham. No fundo, milhões de leitores gostavam de ter uma patologia mental. Ou, para usar os termos científicos, uma “perturbação de personalidade antissocial”, tal como descrita por Patric Gagne, psicoterapeuta e sociopata, com livro de memórias no mercado.

CONTROLAR OS IMPULSOS – O título é “Sociopath” e, em entrevista ao New York Times, Gagne nos fala da sua vida convivendo com o distúrbio. A apatia emocional, a ausência de consciência moral, a indiferença perante a dor dos outros — tudo começou bem cedo. A que se seguiu a criminalidade — nada de horripilante, apenas furtos e vandalismo.

Hoje, consciente de sua condição, Gagne consegue controlar os seus impulsos. Mas o momento revelador da entrevista acontece quando ela afirma que os “neurotípicos” —gente sem perturbação— sentem uma curiosidade invejosa pela sociopatia. Por quê?

Porque imaginam que é um estado gostoso, onde a culpa, essa invenção pequeno-burguesa, deixa de fazer sentido. Alguns chegam a confessar ideações homicidas, esperando encontrar compreensão. Se calhar, está aqui o próximo best-seller, “A Sutil Arte de Matar o Próximo”. Alguma editora estaria interessada?

Empresários presos são “bolsonaristas radicais”. justifica o relatório da Polícia

Atacadistas do DF são alvo de mandado de prisão por financiar | Notícias - Jornal Extra de Alagoas

Os dois sócios foram presos por determinação de Moraes

Mirelle Pinheiro e Carlos Carone
Metrópoles

Relatório da Polícia Civil do Distrito Federal apontou que os empresários Adauto Lucio de Mesquita e Joveci Xavier de Andrade, presos pela Polícia Federal (PF) na manhã desta quinta-feira (29/2), na nova fase da Operação Lesa Pátria, estavam entre os financiadores do acampamento golpista montado em frente ao Quartel-General (QG) do Exército em Brasília.

O documento da Polícia detalha que os sócios do Melhor Atacadista seriam patrocinadores de vários outdoors colocados no Distrito Federal em apoio ao ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL). Além disso, Adauto Lucio de Mesquita teria criado um grupo de WhatsApp para arrecadar dinheiro para aluguel de lonas aos acampados em frente ao QG do Exército.

FINANCIADORES – Segundo o apurado, Adauto Lucio e sócios forneciam, semanalmente, alimentos e água para manifestantes golpistas acampados em frente ao quartel-general local e também bancavam parte do pagamento pelos banheiros químicos instalados na Praça dos Cristais, no Setor Militar Urbano (SMU), em Brasília.

Denúncia oferecida pela Polícia Civil  dá conta de que os empresários são radicais bolsonaristas. No relatório, consta que Adauto figura como dono de 21 propriedades rurais, distribuídas entre as cidades de Planaltina (GO), Niquelândia (GO) e Luziânia (GO).

Apesar de não ser filiado a partidos políticos, o empresário doou R$ 10 mil para a campanha do então candidato Jair Bolsonaro, nas eleições de 2022.

INDÍCIOS SUFICIENTES –  Segundo o relatório, “existem indícios suficientes que Adauto Lucio de Mesquita tenha realmente, junto a seu sócio Joveci Xavier de Andrade, financiado as manifestações antidemocráticas que ocorreram nesta capital, a partir do dia 31 de outubro de 2022”

Ainda segundo o documento, as manifestações na porta do quartel “culminaram com atentados ocorridos no dia 12 de dezembro de 2022, dia da diplomação do candidato eleito Luiz Inácio da Lula da Silva; o atentado a bomba ocorrido nos arredores do Aeroporto de Brasília, no dia 24 de dezembro de 2022; e, por último, o lamentável e triste episódio ocorrido no dia 8 de janeiro de 2023”.

À época, autoridades já haviam constatado que o deslocamento dos manifestantes e a manutenção do acampamento em frente ao QG do Exército exigiram a mobilização de vultosa quantia de recursos financeiros.

DISSE O COMANDANTE – Em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos na Câmara Legislativa (CLDF), o então comandante do Departamento de Operações da PMDF, coronel Jorge Eduardo Naime Barreto, afirmou que “teve a informação de que as pessoas do acampamento eram pagas e quem orquestrava era quem estava hospedado nos hotéis na área central de Brasília”.

“Estamos recrutando pessoas que tenham disponibilidade para ir a Brasília de ônibus que sairá no domingo e volta na quinta feira. Tudo pago.” Anúncios como esse circularam em grupos com milhares de integrantes em redes sociais como o Telegram, Facebook e WhatsApp nos dias que antecederam a invasão das sedes dos três poderes em Brasília, no domingo (8/1), indicando a possibilidade de financiamento para os atos. A existência de uma rede financiando a ida de manifestantes é uma das principais linhas de investigação da Polícia Federal.

TUDO DE GRAÇA – De acordo com investigadores, um dos pontos que chamou atenção nas mensagens foi a aparente gratuidade do transporte e a promessa de que os militantes teriam abrigo e alimentação bancados assim que chegassem a Brasília. A indicação é de que, assim que chegassem em Brasília, os manifestantes recrutados seriam alocados no acampamento que se formou em frente ao Quartel General do Exército.

Em nota, a defesa de Adauto Lúcio Mesquita e Joveci Andrade afirma não ter tido acesso à decisão que levou às prisões. “Ressalta-se que, desde o início, houve esforços para esclarecer todos os fatos, compromisso que será mantido perante o Supremo Tribunal Federal”, acrescentou.

“A realização de apurações pelo Estado é considerada válida, e os investigados veem agora a oportunidade de elucidar completamente as questões em aberto. Eles reiteram seu compromisso com a democracia, o Estado de Direito, o respeito às Instituições, ao processo eleitoral, ao Ministério Público e ao Judiciário, com especial ênfase na sua instância máxima, o Supremo Tribunal Federal”, disse a defesa.

CONTRA VANDALISMO – O comunicado acrescenta, ainda, que o grupo ao qual Joveci e Adauto são acionistas “é contra o vandalismo e a intolerância política, e acredita que a democracia é feita com pensamentos diferentes, mas jamais com violência. A diretoria do Grupo respeita as Instituições brasileiras, a democracia e o Estado de Direito”.

A PF deflagrou, nesta quinta-feira (29/2), a 25ª fase da Operação Lesa Pátria, com o objetivo de identificar pessoas que financiaram e fomentaram os atos antidemocráticos do 8 de Janeiro, em Brasília.

Ao todo, foram cumpridos 34 mandados judiciais, sendo 24 de busca e apreensão, três de prisão preventiva e sete de monitoramento eletrônico, todos expedidos pelo Supremo Tribunal Federal. As ações ocorrem nas seguintes unidades da Federação: Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Tocantins, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Espírito Santo e Distrito Federal.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Financiar ato público com dinheiro limpo não é crime. No entanto, Moraes vai alegar que eles sabiam que iria haver vandalismo e golpe militar. E ainda chamam isso de Justiça… (C.N.)

Ato mostrou a força de Bolsonaro, num Brasil cada vez mais dividido

Politica na Paraíba • Ato na Avenida Paulista, Bolsonaro reúne mais de um  milhão de pessoas.

Não há dúvida de que Bolsonaro saiu fortalecido

Christopher Garman
Valor Econômico

Sob qualquer métrica, o ex-presidente Jair Bolsonaro atingiu seus objetivos com a manifestação realizada na Avenida Paulista no último domingo. Acuado diante de investigações contra ele e membros de seu círculo pessoal, Bolsonaro deu uma demonstração de força política.

Dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo apontam que entre 600 mil e 750 mil pessoas compareceram ao ato. Ainda que esses números não sejam precisos – ou sejam até mesmo inflados – as imagens deixam claro que a manifestação teve um tamanho considerável.

Por sua vez, o pedido do ex-presidente para que os participantes evitassem cartazes criticando diretamente o Judiciário foi atendido – o que atenua o risco (relevante) de dar mais munição a ações judiciais contra ele. Finalmente, grandes lideranças nacionais de direita compareceram ao evento.

DUAS ÓTICAS – A manifestação pode ser examinada sob duas óticas: suas repercussões de curto prazo e o que ela indica sobre o futuro da política brasileira. A segunda é bem mais relevante que a primeira.

No curto prazo, pouco de fato muda. A situação jurídica do ex-presidente segue a mesma: embora o ato tenha evidenciado sua força política, o Supremo Tribunal Federal (STF) já deu vários indícios de que vê parte do movimento bolsonarista como uma ameaça ao estado democrático de direito.

As evidências coletadas nas últimas rodadas de investigações reforçaram essa percepção, e os tribunais dificilmente serão influenciados pelas ruas. Na margem, por sinal, o discurso de Bolsonaro no protesto de domingo pode ter piorado sua situação jurídica, já que ele insinuou que teria conhecimento da minuta propondo suspender o resultado das eleições.

SEGUE O JOGO – O protesto também não altera o jogo político no Congresso ou a capacidade do governo de Luiz Inácio Lula da Silva encaminhar sua agenda legislativa.

Parlamentares são influenciados pela perspectiva futura de poder, orientações ideológicas e acesso a benefícios. Embora o poder de barganha do Executivo tenha caído estruturalmente na última década, um presidente razoavelmente popular e com cargos e verbas para distribuir sempre pode construir maiorias parlamentares, mesmo que pontuais.

Lula tem aprovação ainda acima de 50%, e a economia vai razoavelmente bem – assim, lideranças de centro dificilmente queimarão suas pontes com o Planalto.

SEM ESPAÇO VAZIO – Disputa de 2026 passa por Bolsonaro, já que não há “espaço vazio” a ser ocupado por moderado de centro-direita. Mas é sob a lente do que ele indica sobre o futuro do país que o protesto de domingo tem mais relevância.

O ato mostra que o país segue profundamente dividido, e que Bolsonaro mantém sua força política, mesmo inelegível (e possivelmente preso). Essa realidade contraria análises que previam uma pacificação do país após a eleição de 2022 e um declínio na relevância política do ex-presidente.

Dados de opinião pública reforçam o diagnóstico de que nada mudou desde as eleições. Em janeiro de 2024, 38% dos eleitores acreditavam que o ex-presidente recebeu mais votos que Lula, segundo levantamento da AtlasIntel. Um ano antes, eram 40%. Ao mesmo tempo, 43% dos eleitores continuam apoiando o ex-presidente – um patamar quase idêntico ao registrado pela pesquisa na data da eleição.

IMPACTO ZERO – Um ano de investigações, denúncias sobre a venda ilegal de presentes recebidos no exercício do cargo de presidente e suspeitas de tentativa de golpe de estado tiveram impacto nulo sobre o apoio popular a Bolsonaro.

Esse resultado se alinha a dados da IPSOS Public Affairs, que mensura anualmente a percepção de que o “sistema está quebrado” entre eleitores de 25 países. A pesquisa mostra que esse índice tende a cair após uma eleição, conforme os eleitores do vencedor se sentem mais representados.

O que chama a atenção, no entanto, é o grau de estabilidade em respostas que sugerem uma profunda falta de confiança em instituições como a mídia, o Judiciário e a classe política.

POLARIZAÇÃO – Em países profundamente divididos como o Brasil e os EUA, a política nacional tem períodos de calma na superfície: logo após uma eleição, o presidente goza de uma aprovação um pouco maior, a oposição recua e seus apoiadores se recolhem um pouco mais. Esse fenômeno foi visto no Brasil – exacerbado, claro, pelas repercussões de 8 de janeiro – e nos primeiros anos do governo do presidente Joe Biden nos Estados Unidos.

Mas lá, como aqui, quase 40% da população se opõem estruturalmente ao governo atual, e são leais a uma liderança que se posiciona como “contra o sistema”. É uma questão de tempo até que esse eleitorado volte a se manifestar.

Em outras palavras: a aparente calmaria não deve ser confundida com um sinal de ausência de divisão profunda na sociedade. Um “racha” que, no Brasil, está se aprofundando conforme as investigações conduzidas pelo STF reforçam a visão do eleitorado conservador de que os tribunais estão coibindo direitos individuais e a liberdade de expressão.

VAI INFLUIR –  O que isso significa na prática? Primeiro, a candidatura de oposição na disputa presidencial de 2026 passa pelo ex-presidente. Não há um “espaço vazio” deixado por Bolsonaro que possa ser ocupado por uma liderança moderada de centro-direita. Quem quer que tenha o apoio do ex-presidente deverá entrar na disputa em vantagem no campo da oposição ao governo atual – uma realidade já compreendida no campo oposicionista.

Chama a atenção que quase todas as principais lideranças da oposição – incluindo as mais moderadas – participaram do ato na Avenida Paulista. Essa lista incluiu os governadores de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e Goiás, assim como o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes. Todos reconhecem que o custo eleitoral de ser visto como “traidor” do ex-presidente tende a ser alto.

Segundo, o custo do apoio de Bolsonaro tende a subir ao longo do tempo. Antes do ato, algumas lideranças mais moderadas deram sinais de dúvida sobre se estariam presentes – ao final do dia, a maioria dessas lideranças compareceu.

COBRAR APOIO – Mas, à medida que as dificuldades jurídicas e criminais do ex-presidente crescem e ele enfrenta o risco de ser preso, Bolsonaro deve cobrar declarações mais públicas em sua defesa. Assim, o ex-presidente certamente escolherá alguém que lhe seja muito fiel – diminuindo a possibilidade de vir a apoiar lideranças mais moderadas para 2026.

Finalmente, com quase 40% do eleitorado conservador acreditando que a eleição de 2022 foi “roubada”, e certamente enxergando ações do STF como um cerceamento de direitos individuais, propostas no Congresso para limitar os poderes dos tribunais não vão desaparecer tão cedo.

Embora não haja condições políticas para que elas sejam aprovadas este ano, esse ambiente de opinião pública garante que essas propostas sempre terão chances de avançar no Congresso.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Análise importante, enviada por Mário Assis Causanilhas. O autor, Christopher Garman, é diretor executivo para as Américas do Eurasia Group, uma das mais importantes consultorias internacionais, que acompanham atentamente a evolução da política brasileira. (C.N.)

Polícia Federal procura prender quem financiou acampamentos bolsonaristas

URGENTE! Polícia Federal propõe novo concurso com 2 mil vagas

As equipes da PF tentam cumprir três mandatos de prisão

Eduardo Gonçalves e Bernardo Lima
O Globo

A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira a 25ª fase da Operação Lesa Pátria com foco nos financiadores dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Os agentes cumprem ao todo três mandados de prisão preventiva e 24 de busca e apreensão em oito Estados – Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Tocantins, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Espírito Santo e Distrito Federal.

Os principais alvos de hoje são os empresários Joveci de Andrade e Adauto de Mesquita, donos de uma rede atacadista do Distrito Federal. Eles foram indiciados pela CPI do 8 de janeiro como integrantes do grupo de financiadores dos atos antidemocráticos. A PF suspeita que a dupla tenha contratado um trio elétrico e fornecido alimentos ao acampamento golpista montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.

CRIMES DE MONTÃO – As ações foram autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. E os alvos são suspeitos dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.

São suspeitos de patrocinarem o grupo de bolsonaristas que invadiu e depredou as sedes do Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal. Segundo a PF, os gastos pelos danos ao patrimônio público giram em torno de R$ 30 milhões. Parte dos vândalos havia se deslocado a Brasília em caravanas de outras cidades e estava acampada em frente ao QG do Exército, no Setor Militar Urbano.

A PF investiga os empresários que patrocinaram essas viagens e o acampamento, que foi montado logo após o segundo turno das eleições de 2022. Os participantes dos atos não aceitavam a derrota eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro e pediam uma “intervenção militar” para derrubar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Judeus eram considerados “perseguidos” e agora são classificados como “opressores”

Conflito Israel-Hamas: 5 conclusões após 4 semanas de guerra - BBC News  Brasil

Em Gaza, é um povo destruindo outro povo, propositadamente

Hélio Schwartsman
Folha

Algumas semanas atrás, perguntei aqui como, nas mentes dos autoproclamados progressistas, os judeus passaram num intervalo de poucas décadas, de protótipo da minoria perseguida a odioso grupo opressor. Em seguida, confessei minha ignorância, mas “Israelophobia”, de Jake Wallis Simons, oferece respostas.

A tese central de Simons é a de que o ódio a Israel, a “entidade sionista”, é uma nova mutação do velho antissemitismo. Nos primeiros séculos da era cristã, judeus eram odiados por causa de sua religião; no século 19 e início do 20, o eram por causa da raça; e, agora, por causa de Israel. O autor esmiúça essas transformações.

DESDE O NAZISMO – Simons faz uma espécie de arqueologia da israelofobia. Mostra que, no mundo árabe, ela veio através da militância de Amin al Husseini, o mufti de Jerusalém, que foi colaborador próximo dos nazistas. Al Husseini, que defendia a eliminação física dos judeus, venceu a competição com outros grupos, como o moderado clã Nashashibi, para tornar-se a representação dos palestinos nos anos 1940.

É muito por causa de sua ação que os árabes não aceitaram a partilha da ONU de 1947. Ele também influenciou a Irmandade Muçulmana egípcia e sua cria, o Hamas.

Na esquerda, a hostilidade a Israel teve um forte empurrão da URSS. Até 1967, Moscou tinha relações próximas com Tel Aviv, mas foi se afastando. A partir de 1973, a hostilidade tornou-se aberta.

CAMPANHA RUSSA – Os soviéticos lançaram operações de propaganda anti-Israel. Uma delas foi comandada por Iuri Andropov. Eles reciclavam clássicos do antissemitismo, como “Protocolos do Sábios de Sião”, só substituindo a palavra “judeus” por “sionistas”. Às vezes, até os erros ortográficos do original eram reproduzidos.

Dá para discordar de várias das asserções de Simons, que, a meu ver, é tolerante demais para com graves violações a direitos humanos cometidas por Israel.

Mas é uma obra calcada em fatos e muito, muito informativa. Vale a leitura.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Sinceramente, desta vez, não está difícil defender os judeus – está simplesmente impossível. Deveria partir de Israel o acordo dos dois Estados, mas sabemos que isso jamais acontecerá. Os israelenses precisam aprender que o maior desafio da vida é ser justo. (C.N.)

PT prefere cultivar a empáfia e não aceita se retratar quando é necessário

Lula defende a paz, diz Alckmin após comparação de Israel com Hitler Por  Poder360

Lula tem uma enorme capacidade de produztr asneiras

Dora Kramer
Folha

O PT é muito bom em exigir desculpas do alheio. Cobra retratações com a maior facilidade, mas tem muita dificuldade em se retratar quando a necessidade se impõe.

Fez o que fez com a cumplicidade de partidos aliados no mensalão e, no máximo, reconheceu a existência de “erros” sem nunca ter admitido o crime, a despeito das condenações impostas a petistas de alto escalão.

ATITUDES ABSURDAS – A presidente Dilma Rousseff fez o que fez com a economia do país e o que faz o presidente Luiz Inácio da Silva? Tenta reescrever a história ao lhe dar de presente um posto de relevância no setor, o comando do banco do Brics.

Executor da desastrosa “nova matriz”, Guido Mantega só não foi recompensado com a gestão da Vale porque há gestores responsáveis na companhia.

Sobre o que se viu na Operação Lava Jato, então, nem se fala. Houve o que houve, desvios de procedimentos levaram a anulações judiciais sem declaração de inocência aos envolvidos, mas a roubalheira, de novo com a parceria de partidos aliados, ficou demonstrada. Lula, no entanto, se sente no direito de retaliar e exigir que joelhos prestem reverência ao milho.

GAFES HOMÉRICAS – Há mais exemplos nesse histórico, incluindo gafes homéricas, que de algum modo explicam a razão pela qual Lula se recusa a consertar a barbaridade cometida na comparação da ação israelense em Gaza à operação genocida de Hitler na Segunda Guerra Mundial.

Nem precisaria pedir desculpas no molde exigido por Israel em sua oportunista reação à qual o presidente deu margem. Há grandeza em certos recuos e pequenez em determinadas ocasiões.

Lula poderia modular a declaração, teria evitado que Binyamin Netanyahu se aproveitasse da situação, mas prefere se aferrar à empáfia agora potencializada pela ausência de conselheiros influentes e, sobretudo, sensatos. Gente do calibre do falecido Márcio Thomaz Bastos. Como ministro da Justiça, salvou o chefe de várias enrascadas e faz uma falta danada.

Ainda são mínimas as chances de ser aprovada uma anistia no Congresso

40 anos de Anistia: Brasil, o país que não quer olhar para o passado

Charge do Lattuff (Arquivo Google)

Vera Magalhães
O Globo

Era óbvio que Jair Bolsonaro pretendia dar uma demonstração de apoio popular e político que, de alguma forma, intimidasse a Polícia Federal e o Judiciário a prosseguirem com as investigações que chegam cada vez mais perto dele. Mas foi só no próprio ato deste domingo que ele explicitou o segundo e mais concreto objetivo da convocação dos seus apoiadores para a avenida Paulista: articular um ou mais projetos de lei propondo anistia para quem praticou alguma ação golpista nos últimos anos.

Para disfarçar a carapuça, ele disse falar em nome daqueles que estão presos pelo 8 de Janeiro, mas fica evidente o alcance maior da sua ideia de uma anistia “por parte do parlamento brasileiro”: abranger também a si próprio e aos demais aliados políticos que venham a ser tornados réus e posteriormente condenados e presos por algum dos vários momentos em que ações golpistas foram colocadas em marcha.

VÁRIOS INQUÉRITOS – Sim, porque não é só o 8 de Janeiro que está sendo investigado e ensejando punições. Os diversos momentos anteriores a ele também têm inquéritos próprios, diversas graduações de participação e crimes diferentes que foram cometidos.

Bolsonaro sabe disso, e joga a isca para ver se consegue mobilizar sua tropa no Congresso para começar a agir imediatamente. Uma eventual anistia aos “pobres coitados” que já estão presos seria apenas o embrião para outra mais ampla.

Mas qual a chance de qualquer iniciativa nesse sentido prosperar no Legislativo? Por ora, praticamente nenhuma. Nem Arthur Lira nem Rodrigo Pacheco nutrem simpatia pela ideia, e a discussão desse tipo de iniciativa paralisaria qualquer agenda do país e desviaria o foco para isso.

DIFICULDADES – Ademais, a cúpula de outros partidos, que não o PL, que foram do governo Bolsonaro, como PP e Republicanos, hoje está dividida entre o governo e a oposição, o que dificulta arregimentar apoio para pressionar os presidentes da Câmara e do Senado.

Assim, por mais que tenha tido êxito em levar à Paulista tanto apoio popular (nesse sentido o número de quem foi é uma coisa de menor relevância) quanto apoio político (num sinal de que seguirá relevante como cabo eleitoral e catalisador da oposição), Bolsonaro não teve sucesso no objetivo que traçou de pressionar o Judiciário e o Legislativo.

Pelo contrário: ao admitir a existência de uma ou mais minutas falando em golpe, estado de sítio ou outras medidas de exceção, corroborou provas já à disposição da PF e do STF.

Lula e o PT tentam menosprezar o impressionante ato público de domingo

Apoiadores de Bolsonaro se reúnem em ato na Av. Paulista | Exame

Lula proibiu que fizessem perguntas sobre o ato público

Mario Sabino
Metrópoles

É fato que não deixa de ser curioso o que ocorre com Jair Bolsonaro, chefão de partido nenhum, e Lula, chefão do PT. Depois de 4 anos de tentativas de autodestruição política, locatário de uma agremiação, derrotado na eleição presidencial e agora sob fogo cerrado do STF, da PF e da imprensa, o primeiro consegue colocar uma multidão na avenida Paulista.

Com as condenações criminais anuladas, um partido grande e organizado, eleito presidente da República e apoiado pelo STF e pela imprensa, o segundo não pode sair livremente às ruas e as suas entrevistas são, no mais das vezes, controladas e concedidas apenas a jornalistas ainda mais amigos do que a média geral.

SEM COMENTÁRIOS – Entro no assunto porque Lula evitou falar da manifestação de domingo na avenida Paulista, durante uma entrevista coletiva para o lançamento de um programa governamental.

O presidente apresentou o negócio — um programa social para dar uso a imóveis abandonados da União —, mas as perguntas só podiam ser feitas a ministros presentes.

Um jornalista até tentou sair do roteiro e perguntou ao presidente sobre o ato convocado por Jair Bolsonaro. A resposta foram vaias dos militantes presentes.

PREGAÇÃO DO ÓDIO – Quem respondeu brevemente foram os seus áulicos, depois do evento. Associaram os líderes religiosos que apoiam Jair Bolsonaro à pregação de “ódio” e menosprezaram o que se viu na Avenida Paulista ontem, como se tivessem vencido a eleição presidencial por uma larga margem de votos e Lula não tivesse sido destronado como o maior político popular do Brasil.

Esse menosprezo explica também por que o apesar virou por causa. Mostra a distância entre um partido que se quer popular e o país no qual metade dos cidadãos que votaram em 2022 tem ojeriza ao petismo e a tudo a ele associado.

O povo passou na janela e só o PT não viu.

Em revide, a esquerda convoca atos para pedir a prisão de Jair Bolsonaro

Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se reúnem em manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, em 25 de fevereiro de 2024

As esquerdas também querem encher a Avenida Paulista

Gabriel de Sousa
Estadão

Frentes de esquerda que abrigam sindicatos e movimentos sociais anunciaram que vão realizar, no dia 23 de março, manifestações nas 27 capitais para defender a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O anúncio ocorreu nesta terça-feira, 27, dois dias após o ex-presidente reunir centenas de milhares de pessoas na Avenida Paulista e defender uma anistia para golpistas presos pelos atos de 8 de Janeiro.

As manifestações serão organizadas pelos movimentos de esquerda Frente Povo Sem Medo (FPSM) e Frente Brasil Popular. Nesta terça-feira, os coletivos se reuniram com representantes do PT, do PCdoB e do PSOL e líderes de movimentos sociais para definir a data do ato.

EM TODAS AS CAPITAIS – As manifestações serão em todas as 27 capitais do País, mas deve ter um esforço de mobilização em São Paulo e em Salvador. Ao Estadão, lideranças de esquerda que participaram da reunião disseram que a capital paulista será privilegiada pelo seu histórico de manifestações e pelo resultado obtido por Bolsonaro no último domingo.

A metrópole baiana, por sua vez, será privilegiada por ser a maior cidade do Nordeste e um dos principais redutos eleitorais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Bolsonaro é investigado pela Polícia Federal (PF) por ter planejado um golpe de Estado após as eleições de 2022, junto com seus aliados e militares de alta patente. Após ser alvo da Operação Tempus Veritatis no último dia 8, o ex-presidente convocou apoiadores para um ato na Avenida Paulista, que aconteceu neste domingo, 25, e reuniu centenas de milhares de pessoas

PEDIDO DE PRISÃO – No ato das esquerdas no próximo dia 23, está prevista a leitura de uma carta onde será defendida a prisão de Bolsonaro e dos seus aliados que também foram alvos da operação da PF. O ato será realizado dois dias após o aniversário de 69 anos de Bolsonaro.

Ao Estadão, o coordenador-geral do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Rud Rafael, que integra a Frente Brasil Sem Medo, disse que os setores da esquerda que vão participar da manifestação consideram que as provas já coletadas pela PF sustentariam a privação de liberdade do ex-chefe do Executivo.

“A prisão de Bolsonaro precisa ser feita em decorrência das investigações. A gente quer que seja concluída o mais rápido possível. As provas já estão colocadas e a gente quer que haja o julgamento para que tenha a punição para ele e para todos que tiveram envolvimento com essa tentativa de golpe”, disse.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
A manifestação é ridícula e vai relembrar os 60 anos do golpe militar de 1964, que ocorreu no dia 31 de março. Mas o ato foi adiantado em uma semana por causa do feriado da Páscoa, informaram os organizadores. Em tradução simultânea, a manifestação pró-Bolsonaro realmente impressionou e assustou as esquerdas. Faltou informar quem vai pagar os ônibus, os sandubas de mortadela, as tubaínas e distribuir R$ 50 a cada manifestante, como é hábito das centrais e sindicatos. (C.N.)

Uma mensagem de pacificação e de justiça iluminou a Avenida Paulista

O principal clamor de Bolsonaro em plena avenida Paulista (veja o vídeo)

Parecia imposssível, mas um único homem lotou a avenida

Alexandre Garcia
Gazeta do Povo

No domingo, dia 25, um único homem encheu a Avenida Paulista, como nunca se viu. Até onde as lentes dos drones e câmeras alcançavam, a avenida estava cheia, lotada. Jamais o mundo inteiro vira tanta gente, à exceção da visita do papa a Seul, na Coreia, há três décadas. Como no caso do papa, vieram por um homem. E ouviram sua fala. Ele pediu para não trazerem faixas, nem insultos a pessoas e instituições, e todos seguiram a fala do líder.

Vieram de longe, muitos bloqueados nas estradas. Bloqueados pelo medo dos que temem o povo, mas querem impor-lhe medo. Bloquearam até quem não é brasileiro. O jornalista português ficou detido por quatro horas. Obra do milagre. Era preciso mostrar ao mundo, por meio dele, a realidade do Brasil.

A FALA DO POVO – A avenida ficou lotada. Eloquente. Não precisaria falar nada para ser ouvida no mundo todo. A presença da cidadania foi forte demais para precisar de alguma fala. Já seria suficiente para dizer tudo.

Ainda assim, houve oradores. Nenhuma voz partidária. Ficou combinado que o partido de todos seria apenas o Brasil. Falou-se de moral e religião, nas vozes de Michelle e Malafaia.

No fim, veio a voz do líder, pregando a conciliação pela anistia, sem vencedores nem vencidos; pregando justiça com isenção, sem esmagar uns e exaltar outros.

JÁ DIZIA TUDO – O pastor havia lembrado antes que um juiz havia dito “nós derrotamos o bolsonarismo”. Depois, olhou a multidão e percebeu que não precisava retrucar o juiz. A multidão estava ali para desmentir. Porque a multidão disse tudo. Não precisaria fala de ninguém.

Ainda assim, o líder insistiu. Anistia para quem não destruiu patrimônio do povo; para quem apenas se manifestou, como a Constituição garante. Já foram anistiados sequestradores, assassinos, assaltantes; por que não anistiar os participantes do desabafo do 8 de janeiro, motivados pelo desconhecimento dos métodos de contagem dos votos?

Pediu aos deputados e senadores que livrassem inocentes da vingança inconstitucional de uns poucos. Jogou nos plenários do Congresso o desafio da paz e da conciliação.

ATO PACÍFICO – Foi uma demonstração de força. Pacífica. Apenas mostrando o que pensa uma parte na nação, a quem o Estado serve. O que a avenida disse é que quer paz, justiça, sem vingança nem perseguições. Mas, pelo tamanho dela, ela não disse que apenas quer. Disse que exige. Fez pensar sobre o seu tamanho.

Não foi um artista popular, um general cheio de canhões, um banqueiro cheio de dinheiro, um demagogo cheio de mentiras que lá foi conversar com tanta gente.

Foi um homem simples, igual aos outros, sem armas, sem dinheiro, sem dotes artísticos, sem mentiras, que foi se apresentar de novo, pedindo união por ideais. pela Pátria, pela família, pelos direitos, pelas liberdades, pela descendência de cada brasileiro. Nos dias de hoje, isso é milagre.

Povo encheu a Avenida Paulista para mostrar aversão ao regime Lula/STF

Ato na Paulista mostra que Bolsonaro “está no jogo” e controla o próprio  legado

Ato na Av. Paulista mostrou que Bolsonaro continua no jogo

J.R. Guzzo
Gazeta do Povo

A única coisa que a esquerda brasileira viu na manifestação de massa deste dia 25 de fevereiro na Avenida Paulista foi Jair Bolsonaro. Havia, segundo as estimativas da polícia de São Paulo, 750 mil pessoas ocupando a maior parte dos quase três quilômetros na avenida e das ruas em sua volta. Não houve nem um incidente – zero.

Não houve insultos ao STF, nem gritos pedindo “intervenção” dos militares, nem discursos em favor do “golpe”; na verdade, não houve uma única faixa ou cartaz pedindo nada, em cumprimento às instruções dadas previamente pelos organizadores.

Não houve frotas de ônibus pagas com dinheiro público para trazer gente, nem a participação de sindicatos, de entidades cheias de dinheiro, das “elites”, ou de seja lá quem fosse.

VONTADE POPULAR – Foi possivelmente a maior exibição de vontade popular genuína que Brasil teve na sua história recente – e o mais indiscutível atestado da aversão de milhões de brasileiros pelo regime Lula-STF. Mas os que mandam no país só viram uma coisa – Bolsonaro.

Milhões de brasileiros são contra a junta de governo, e tanto faz se Bolsonaro é o nome que atrai no momento a rejeição à Lula, ao PT e ao Supremo.

Não ocorreu a ninguém na Junta de Governo, é claro, que eles não têm a mais remota condição de levar para a rua uma multidão parecida. Também não viram que havia, diante dos seus olhos, muito mais que um comício a favor do ex-presidente, ou um protesto contra o processo criminal armado contra ele.

RECADO DIRETO – O que aconteceu na Paulista foi um atestado público de que uma grande parte da população é capaz de sair à rua por sua livre e espontânea vontade, sem um tostão de incentivo oficial e nenhum esforço de propaganda, para dizer que rejeita o governo que está aí e quem lhe dá sustento.

As pessoas estão dizendo: “Não gostamos do que vocês estão fazendo. Não queremos o Brasil que vocês querem. Entendemos os nossos direitos, e não temos medo de ir para rua para exigir que sejam cumpridos”.

Mas o consórcio Lula-STF acha que é tudo “Bolsonaro”. O povo que foi para a rua não existe; é apenas um bando irrelevante de autômatos, e basta o governo se livrar do ex-presidente de uma vez por todas – já está proibido de disputar eleições, agora o projeto é fechá-lo numa prisão – para tudo se resolver.

JUNTA DE GOVERNO – A manifestação de São Paulo, porém, mostra que nada vai se resolver. Milhões de brasileiros são contra a junta de governo, e tanto faz se Bolsonaro é o nome que atrai no momento a rejeição à Lula, ao PT e ao Supremo.

Se não for ele, haverá imediatamente outro, e a rua continuará enchendo. É simples, no fim das contas: ou fazem uma ditadura de verdade, com tudo o que as ditaduras exigem, ou podem não aguentar o tranco.

Lula acha que Alexandre de Moraes, a dupla Pacheco-Lira e os jornalistas são a solução para todos os seus problemas, Assim, para que ter voto, ou fazer um governo que dê algum resultado, se são eles que mandam na máquina do Estado? Estão cegos para a rua; acham-se capazes de governar sem povo. Mas só há uma maneira de deixarem as coisas assim para sempre: com a força bruta.

Militares golpistas procuram colocar general Freire Gomes na mira da PF

Jair Bolsonaro e o ex-comandante do Exército, o general Freire Gomes

Ex-comandante do Exército é o homem que sabia demais

Bela Megale
O Globo

O ex-comandante do Exército Freire Gomes entrou na mira dos militares alinhados a Jair Bolsonaro. Fardados que são investigados por tentativa de um golpe de Estado passaram a defender, nos bastidores, que o general se omitiu ou prevaricou, ao participar da reunião com o ex-presidente, na qual foram discutidos detalhes de uma minuta que abriria possibilidade para uma intervenção.

Militares ligados a Bolsonaro passaram a encampar a tese de que a PF também precisa responsabilizar Freire Gomes. Eles afirmam que, como comandante de Força, o general tinha “responsabilidade institucional” de reportar às autoridades o que ocorria.

COMANDO PROTEGE – A avaliação desse grupo é que a cúpula do Exército protege o ex-comandante e que é preciso “jogar luz” sobre seu papel naquele momento. Para isso, uma das estratégias traçadas é que os militares investigados apontem, em depoimentos para a PF, o papel de Freire Gomes nos temas investigados.

Um deles é a reunião de Bolsonaro com os comandantes das Forças Armadas descrita pelo ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, no seu acordo de delação premiada.

Cid relatou que o único comandante que se prontificou a embarcar na aventura golpista com Bolsonaro foi o então chefe da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos.

ATAQUES ÀS URNAS – Os investigados também querem que a PF questione Freire Gomes sobre o papel que teve diante dos ataques à credibilidade das urnas feitos pelos militares que integraram a Comissão de Transparência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Na ocasião, o ministro da Defesa era o general Paulo Sérgio Nogueira, que também está investigado pela Polícia Federal.

Outro tema abordado pelos militares alinhados a Bolsonaro é que a PF deveria elucidar com Freire Gomes porque ele não determinou a retirada do acampamento golpista da porta do quartel-general do Exército, em Brasília, após a derrota do ex-presidente.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Não mais que de repente, Freire Gomes passa a ser a peça-chave das investigações, um mês depois de a Tribuna da Internet dar essa dica. Como se dizia antigamente, antes tarde do que nunca. (C.N.)

Delirante, Lula diz que manifestação foi em defesa do golpe e contra democracia 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concedeu entrevista à RedeTV

Lula deu mais uma entrevista tipo vôlei para a RedeTV!

Deu na CNN

A manifestação pró-Bolsonaro no último domingo (25) foi “grande”, segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A declaração foi feita em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, da RedeTV, que foi exibida nesta terça-feira (27). Lula foi questionado se havia considerado a manifestação relevante.

Não é possível você negar um fato. Eles fizeram uma manifestação grande em São Paulo. Mesmo quem não quiser acreditar, é só pegar a imagem que tem a manifestação grande. Como as pessoas chegaram lá, é outros quinhentos… O dado concreto é que foi uma manifestação em defesa do golpe.

CONTRA A DEMOCRACIA – Para Lula, o ato realizado no domingo foi contra a democracia “porque tem gente deles presa”. “Eles estão presos como garantia da paz e da ordem. Ainda não se descobriu quem é que mandou, quem financiou… porque houve uma tentativa de golpe”.

Sobre o pedido de anistia de Bolsonaro, Lula disse que “ele nem foi julgado”. “Ele não está em uma fase de ser julgado. Está em uma fase de inquérito”.

Para Lula, “tem que terminar o processo, as pessoas serem ouvidas”, disse, citando que ainda está se “levantando quem é que financiou”. E ironizou: “O cidadão está pedindo anistia antecipada”.

BOLSONARO SE ACOVARDOU – Lula disse também que o então presidente Jair Bolsonaro não teve coragem para dar o golpe que estado que vinha preparando desde antes das eleições presidenciais em 2022.

“Quer apagar a bobagem que fez? A bobagem é que ele se acovardou, pensou o golpe, não teve coragem, foi embora para os Estados Unidos com antecedência, achando que ia acontecer e que a sociedade ia ser todo mundo apavorado e ele ia voltar dos EUA ungido pelas massas

Procurada pela CNN, a assessoria de Bolsonaro ainda não se manifestou a respeito das declarações de Lula.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Nesta matéria, enviada por José Guilherme Schossland, Lula faz uma avaliação errada. A manifestação de domingo foi impressionante demonstração de força política, sem a menor dúvida. O ato público demonstrou muita coisa, como o fato de que o antilulismo aumenta, ao invés de diminuir. Outra evidência clara é que Tarcísio de Freitas é fortíssimo candidato a presidente em 2026, quando Lula estará chegando aos 81 anos e ainda mais destrambelhado do que nos dias de hoje. Quanto à entrevista à CNN, foi do tipo vôlei, em que o repórter levanta a bola para Lula cortar… (C.N.)

Na Avenida Paulista, passaram vários personagens à procura de um autor

Leia a íntegra do discurso de Bolsonaro na avenida Paulista

Jair Bolsonaro era o personagem que não assinou o decreto

Duarte Bertolini

Nos fatos históricos, sem muito esforço, poderemos encontrar perguntas nunca respondidas e que jamais saberemos como se portaram os personagens. Por exemplo: qual a versão de Gregório Fortunato sobre o atentado da Rua Tonelero? E o famoso raio X do pé de Carlos Lacerda mostraria uma bala de 45 ou de 32? O atentado saiu da cabeça de Gregório, de Benjamim Vargas ou de outras sinistras e obscuras figuras?

E o esfaqueador Adélio Bispo? É o crime de maior vulto envolvendo um futuro presidente, e tudo ainda é mistério? Se a morte passional de João Pessoa provocou uma revolução, como é que a tentativa de assassinar um futuro presidente ficou na tese do lobo solitário?

ACIDENTALMENTE… – E as oportuníssimas mortes por acidente aéreo de figuras que incomodavam um sistema azeitado, em diferentes graus e motivos variados, como Ulysses Guimarães, Eduardo Campos, Teori Zavascki, entre outros?  Dizem que o avião é o meio de transporte mais seguro (depois do elevador) mas quem disse isso não conhece o Brasil, certamente.

Como desconfio secularmente de grande parte de nossos militares, sempre fico com um pé atrás com as coisas que os envolvem. Desconfio também dos políticos de sempre, é claro. Se reunirmos os dois numa mesma ação, não consigo aceitar versões oficiais.

Será que não estamos em enredos similares (guardadas as proporções e cenários), mas principalmente aproveitando o título genial da peça de Pirandello, “Seis personagens à procura de um autor”. E se?

ANTIPETISMO – As Forças Armadas não toleram, por razoes históricas e ideológicas, o PT e o próprio Lula. Quando o petista cumpria cadeia, o Supremo subverte a lei para livrá-lo da prisão e torná-lo virtual presidente.

A mídia bate impiedosamente no então presidente eleito Bolsonaro, de formação militar e que toscamente tenta recuperar a imagem e o protagonismo das Forças Armadas na política do país

Mesmo que desmentidas, permanecem as desconfianças sobre as urnas eletrônicas, curiosamente só usadas em amplo aspecto no Brasil. As suspeitas existem, porque a Justiça Eleitoral insiste em descumprir a lei aprovada que prevê alguma forma de controle impresso. O presidente reage e a Justiça o ataca ferozmente, chegando a torná-lo inelegível, por se reunir com embaixadores, depois de o presidente do TSE ter feito exatamente a mesma coisa, não há lógica.

TENTATIVA DE GOLPE – Os militares do núcleo duro do Planalto não queriam sair, sonhavam com o golpe. Em 2022, porém, não havia motivos concretos, como existiram em 1964. Mesmo assim, com o povo clamando incessante em constrangedores e patéticos acampamentos diante dos quartéis, armou-se um clima de golpe.

Mas o presidente derrotado relutou. Sabe que a alma das Forças Armadas é a hierarquia. Se houvesse golpe, logo apareceria um general Costa e Silva para impedir eleições e exigir o poder.

E os generais conspiradores também estavam indecisos. Ocorreu o vandalismo, depois as prisões, e assim o golpe sucumbiu, sem que saibamos quem era o verdadeiro líder.

TUDO ESQUISITO – Foi uma tremenda confusão nos bastidores. Nenhum dos generais golpistas quis assumir o comando. O presidente ainda no poder recusou-se a assinar o decreto do Estado de Defesa. Eram personagens à procura de um autor.

E o mais impressionante é que o clima de golpe continua, o clamor ecoa pelos vales, pelas ruas, pelos discursos, pelas redes sociais, embora não exista a menor possibilidade de se concretizar.

No último domingo, na monumental Avenida Paulista, ouviu-se mais uma vez esse clamor de um golpe de estado que jamais irá ocorrer. Ninguém quer assumir este risco de crucificação histórica. Afinal os tempos são outros.

Flávio Dino vai ampliar bastante a interlocução de Lula com o STF

Charge do Clayton Rebouças (O Povo/CE)

Charge do Clayton Rebouças (O Povo/CE)

Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense

O ex-governador e ex-senador Flávio Dino, aos 55 anos, novo ministro do Supremo Tribunal, tomou posse, ontem, na vaga de Rosa Weber. Na cerimônia, apenas falou o presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso: “Me limito a fazer uma brevíssima saudação de boas-vindas ao ministro Flávio Dino, que é uma pessoa recebida por todos nós com muita alegria”.

Dino jurou cumprir a Constituição, assinou o termo de posse, depois se retirou para participar de uma missa na Catedral de Brasília. Dispensou a tradicional festa organizada pela Associação dos Magistrados do Brasil (AMB).

MINISTRO POLÍTICO – À posse minimalista, compareceram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e 900 convidados. Dino será o ministro mais político da Casa, com muita capacidade de interlocução com o Executivo e o Legislativo. A experiência na gestão dos problemas da sociedade e suas conexões com o Judiciário devem pautar sua atuação na Corte.

Se não mudar de ideia no meio do caminho, abandonando o Supremo antes dos 75 anos, como muitas vezes acontece, Dino será ministro por 19 anos. No discurso que fez ao se despedir do Senado, não descartou a volta à vida político-partidária: “Não sei se Deus me dará a oportunidade de estar novamente na tribuna do Parlamento, no Senado ou na Câmara”. Talvez tenha sido um gesto afetivo aos colegas parlamentares, mas, também, pode ter um projeto mais ambicioso, se considerarmos a sua trajetória, pois era visto como um potencial candidato à Presidência, na sucessão de Lula.

BELO CURRÍCULO – Flávio Dino de Castro e Costa (São Luís, 30 de abril de 1968) formou-se em direito pela UFMA e concluiu o mestrado na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 2001. Foi auxiliar judiciário do Tribunal Regional do Trabalho da 16ª Região e atuou como advogado. Foi juiz federal da 1ª Região de 1994 até 2006. Pediu exoneração da magistratura para se candidatar ao cargo de deputado federal pelo Maranhão, filiando-se ao PCdoB, mandato que exerceu de 2007 a 2011.

Diretor da Escola de Direito de Brasília do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) e presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), durante o governo de Dilma Rousseff, elegeu-se governador do Maranhão em 2014, no primeiro turno. Com 63,52% dos votos válidos, obteve espetacular vitória contra o grupo político liderado pelo ex-presidente José Sarney.

Reeleito em 2018, também no primeiro turno, com 59,29% dos votos válidos, trocou o PCdoB pelo PSB para se eleger senador em 2022.

INTERLOCUTOR PRIVILEGIADO – Ao escolher Dino, o presidente Lula pôs no Supremo um político com saber jurídico e lealdade comprovada, o que aumenta a interlocução do governo junto à Corte, que já havia sido reforçada pela indicação do seu ex-advogado Cristiano Zanin. Essa interface também foi ampliada pela presença de Ricardo Lewandowski, ex-ministro da Corte, no Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Nos últimos anos, os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli foram os principais interlocutores do Supremo com o mundo político, mas Lula tem, agora, dois ministros de suas relações de confiança. Obviamente, há limites constitucionais e éticos para essa interlocução.

O fato de que Dino era visto como potencial candidato à sucessão de Lula incomodava muito o PT. Mas não a ponto de a cúpula da legenda apostar suas fichas no ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

E O PÓS-LULA? – Uma das preocupações do presidente da República é com a sobrevivência do PT após deixar o poder. A legenda abriga divergências políticas incontornáveis e rivalidades pessoais que podem comprometer seu futuro.

Dino é carismático. À frente do Ministério da Justiça, exerceu um papel destacado na crise de 8 de janeiro de 2023. Tem formação sólida e experiência jurídica para se destacar pela qualidade de suas decisões. E pode assumir um comportamento completamente diferente do estilo “bateu, levou” que havia adotado no Ministério da Justiça. Ou seja, preferir falar pelos autos e se movimentar nos bastidores da política com discrição.

Uma das características dos ministros do Supremo é o perfil de “sujeito iluminista”, o “penso, logo existo”, na qual cada integrante atua como se fosse a própria Corte. Hoje, há forte questionamento no Congresso quanto às decisões monocráticas em relação aos demais Poderes. Dino tem o perfil de “sujeito sociológico”, que plasma decisões no contexto histórico e político.

Supremo está perdendo a confianca do brasileiro e precisa fazer autocrítica

Tribuna da Internet | Ministros do Supremo precisam parar de agir como se  fossem realmente “políticos de toga”

Charge do Duke (O Tempo)

Deu no Estadão

Nos últimos anos, o Supremo Tribunal Federal (STF) prestou inestimáveis serviços: da punição aos corruptos do mensalão à preservação das prerrogativas dos Estados na pandemia e a defesa do processo eleitoral, além da responsabilização dos executores e artífices do atentado do 8 de Janeiro. Em momentos críticos, o STF teve papel crucial na defesa da soberania do povo, encarnada nas instituições republicanas. E, no entanto, o sentimento desse mesmo povo em relação à mais alta instância judicial do País é de desconfiança.

Segundo pesquisa AtlasIntel, mais da metade dos brasileiros diz não confiar no STF. Entre 51% e 56% dos entrevistados consideram “péssima” a atuação dos ministros em questões capitais, como a defesa da democracia, o respeito ao Legislativo, reformas para melhorar o Judiciário, correção de abusos de instâncias inferiores, profissionalismo e competência dos ministros, defesa dos direitos individuais, imparcialidade entre rivais políticos e combate à corrupção.

DETERIORAÇÃO – A trajetória é de deterioração. Em um ano, os que confiam no STF caíram de 45% para 42%, e os que não confiam cresceram de 44% para 51%.

Justificado ou não, esse descrédito é ruim. O bom funcionamento do Estado Democrático de Direito depende de um Judiciário que seja não só autônomo e independente, mas também respeitado. A percepção ideal da Justiça é de um quadro de servidores qualificados, que julgam conflitos sobre os quais não têm parte, aplicando leis que não criaram.

Mas o sentimento predominante sobre o STF é o oposto: de uma Corte incompetente, instável, politizada, conivente com a corrupção e até autoritária.

COMPETÊNCIA AMPLA DEMAIS – Uma das razões estruturais e exógenas para essa desconfiança é uma disfuncionalidade constitutiva. Constituições deveriam ser abstratas e sucintas, consagrando direitos fundamentais e princípios basilares para o funcionamento do Estado, e deixando o resto às composições políticas.

Mas os constituintes pecaram por excesso, confeccionaram uma Carta abrangente e pormenorizada e atribuíram à Corte constitucional competências excessivamente amplas, inclusive sobre matérias penais e administrativas. Obrigado a arbitrar sobre controvérsias que em outras partes do mundo são deixadas a outras instâncias judiciais ou, sobretudo, à política, o STF é sobrecarregado e tragado por paixões partidárias.

Essa disfuncionalidade incentiva o oportunismo político. As esquerdas, com frequência minoritárias nas Casas Legislativas, recorrentemente tentam reverter na Corte políticas que perderam no voto. Populistas à direita, insatisfeitos com prerrogativas das minorias, elegem a Corte como o “inimigo público número um” quando esta não se dobra à “vontade do povo” – nome que eles dão ao alarido dos reacionários.

EXAME DE CONSCIÊNCIA – Nada disso exime os ministros de fazer um exame de consciência. A maior causa da deterioração da autoridade do STF não é a sua atuação em defesa da democracia ou da Constituição, mas os abusos cometidos a pretexto dessa defesa: invasões de competências legislativas, protagonismo midiático, atropelamento do processo legal, relações promíscuas com os poderosos de turno.

Um exemplo cristalino são as arbitrariedades nos inquéritos conduzidos por Alexandre de Moraes contra atos antidemocráticos, as chamadas “milícias digitais” e as fake news.

Outro são as revisões monocráticas de Dias Toffoli de acordos fechados no âmbito da Operação Lava Jato. É fato que, em nome do combate à corrupção, a Lava Jato se permitiu toda sorte de abusos, mas, ao invés de corrigi-los, Toffoli, com a conivência de seus pares, incorre nos mesmos abusos, com o sinal trocado.

ANTILAVAJATISMO – De instância saneadora do lavajatismo, o STF se converteu em antilavajatista, instaurando um neolavajatismo. É o mesmo voluntarismo messiânico. Só que dessa vez a população está escolada: segundo a AtlasIntel, nada menos que 80% discordam da suspensão das multas impostas aos criminosos confessos.

De guardiães do Estado de Direito, alguns ministros se autoatribuíram a missão de vigilantes da política. Mas a população começa a se perguntar quem, afinal, vigia os vigilantes. Outros se mostram impacientes com a ordem jurídica e, ao invés de serem seus operadores, querem ser seus reformadores para curar “injustiças sociais”.

Mas a população parece esperar deles algo mais modesto: que apenas cumpram a lei e respeitem o Estado Democrático de Direito.

(Artigo enviado por José Carlos Werneck)