Fala de Lula ligando Trump a nazismo chega ao presidente eleito dos EUA

Lula chamou Trump de nazista? O que presidente já falou

Lula deu entrevista à TV francesa anarquizando Trump

Paulo Cappelli e Augusto Tenório
Metrópoles

Após a confirmação da vitória de Donald Trump, o assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Celso Amorim, declarou que o apoio de Lula à candidata Kamala Harris foi “discreto”. E disse, ainda, que o petista não chegou a falar mal do presidente eleito dos Estados Unidos.

Assessores de Trump, contudo, tomaram conhecimento de uma fala de Lula que vai no sentido oposto. Dias antes da eleição, o petista colocou o retorno do norte-americano à Casa Branca num contexto do “fascismo e o nazismo voltando a funcionar com outra cara”. Durante entrevista internacional, o presidente brasileiro manifestou apoio a Kamala Harris por ser um “amante da democracia”.

DISSE LULA – “Nós vimos o que foi o presidente Trump no final do seu mandato, fazendo aquele ataque ao Capitólio. Uma coisa que era impensável de acontecer nos EUA, pois o país se apresentava ao mundo como um modelo de democracia. E esse modelo ruiu. Então, nós, agora, temos o ódio destilado todo santo dia, as mentiras, não apenas nos EUA, na Europa, na América Latina, vários países”, disse Lula, acrescentando:

“É o fascismo e o nazismo voltando a funcionar com outra cara. Como sou amante da democracia, acho a coisa mais sagrada que nós humanos conseguimos construir pra bem governar o nosso país, obviamente estou torcendo para a Kamala ganhar as eleições”, disse Lula.

Durante um encontro na Flórida, a equipe de Trump assistiu às declarações do presidente, exibidas por políticos brasileiros que fazem oposição ao petista.

RELAÇÃO NORMAL? – Após a eleição de Donald Trump, Celso Amorim afirmou que o governo Lula tentará manter uma relação normal com o republicano. “Acho que a expressão usada por Lula de simpatia por Kamala foi discreta e não falou mal de Trump”, disse.

O ex-chanceler completou: “Vamos procurar manter uma relação normal. O exemplo que dou a todos é o que aconteceu com o presidente Bush. Na ocasião, o Brasil condenou a guerra do Iraque, o que foi muito forte. O presidente Lula fez questão de falar condenando a guerra e, mesmo assim, nós tivemos uma relação normal. Ele mesmo visitou o Brasil duas ocasiões”.

SEM AFRONTA – Interlocutores do presidente argumentam que a fala de Lula não foi uma afronta direta a Donald Trump. De acordo com o Planalto, o comentário do presidente aborda um contexto generalista do que considera “crescimento do ódio” não somente nos EUA, mas também na Europa e na América Latina, sem citar nomes específicos.

Líder do governo no Congresso Nacional, o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) afirmou que a vitória de Donald Trump nos EUA não mudará a relação política e comercial do Brasil com país.

“Brasil e Estados Unidos têm mais de 200 anos de relação sempre estabelecida da melhor forma possível. Não tem razão para a alteração da relação política e da relação comercial. Não terá da parte do Brasil. Vamos partir em frente. Obviamente, nós tínhamos nossas preferências, mas é o resultado das eleições”, disse o senador.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Enquanto não colocarem uma mordaça em Lula, ele continuará a falar uma besteira atrás da outra. Para aguentar o tranco da Presidência, os médicos do Planalto receitam energéticos para Lula, e o resultado é apavorante, pois Lula acaba se comportando como se fosse presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes). É lamentável! (C.N.)

Contra a direita, o PT quer política que traz inflação e elegeu Trump

amo Direito - ⚖️😔🙏 Frase super atual de Platão. Vale compartilhar. 👍  Curta: fb.com/amoDireito | FacebookVinicius Torres Freire
Folha

A primeira vez que este jornalista ouviu de uma autoridade de governo uma ideia prática de criar um teto de gastos foi em fins de 2015. A autoridade era Nelson Barbosa, ministro da Fazenda de Dilma Rousseff, recém-nomeado. O nome da coisa era esse mesmo, “teto”. Barbosa ora é diretor do BNDES.

Fiz as perguntas óbvias de qualquer incrédulo. O programa petista não era aquele, a ação dos governos petistas de 2007 a 2014 não fora aquela (e Barbosa havia sido importante no governo). A esquerda pedira nas ruas a cabeça de Joaquim Levy (o “mãos de tesoura”, ministro que antecedeu Barbosa); dizia que era preciso enfrentar a direita com mais gastos.

SABOTAGEM – A campanha de deposição de Dilma estava à toda, assim como a sabotagem legislativa tocada pelo PSDB liderado por Aécio Neves, com o apoio do MDB e cia.

Era óbvio que a limitação da despesa total apenas funcionaria se houvesse também contenção do gasto com Previdência e do impacto dos aumentos do mínimo nos benefícios do INSS.

Barbosa disse que iria propor reforma previdenciária, que haveria “gatilhos” de contenção de gastos em geral caso a despesa avançasse além da conta, inclusive com a suspensão do reajuste do mínimo ou com a criação de regra de reajustes reais menores. Dizia ainda que era preciso rever desonerações (reduções de impostos para setores).

ERA UM TETO – Faz quase nove anos. Não era o teto de Michel Temer, que Barbosa criticaria, por constitucionalizar o limite por 20 anos, entre outros problemas. Mas era um teto.

A ideia foi ao Congresso em março de 2016 e lá morreu. Dilma 2 era então quase pó. A reforma previdenciária nem respirou, por oposição petista. O PT fritou Barbosa, por ação e omissão, pois era contra o teto. O ministro saiu em maio de 2016. Era o meio da Grande Recessão. O governo Temer apresentou seu teto logo depois.

Novembro de 2024. Faz quase dois anos, Fernando Haddad tenta conter o ritmo de aumento de despesas (não é corte), sem o que o teto móvel de Lula 3, o arcabouço fiscal, desabará. A nova ofensiva do ministro da Fazenda vai sendo desidratada, nas internas. E externas.

DIZ GLEISI – A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, diz que a vitória de Trump é um alerta para o “campo da democracia”, que deve se preparar para o “enfrentamento”, “dar respostas concretas às necessidades e expectativas do povo, que não cabem na agenda neoliberal que o mercado quer impor ao governo e ao país”. Um manifesto recente de intelectuais e companheiros de viagem à esquerda do PT vai na mesma linha: mais gasto.

Donos do dinheiro grosso em geral cobram mais caro para emprestar ao governo (as taxas de juros no atacado subiram loucamente), pois acreditam que o arcabouço vai para o vinagre até 2027. Em parte, não querem deixar seus ativos em reais – o dólar se desvaloriza loucamente também por isso. É inflação estocada; carestia é facada no prestígio político. A inflação anual de alimentos já corre a 7%, por outros motivos. Pode ir além, com dólar e, talvez, com superaquecimento da economia. Ou cairá com juros amargos.

Um plano fiscal amplo exige redução de desonerações e aumentos diretos de impostos, sobre ricos em especial. Mas também contenção no INSS, desvinculações (de saúde e educação) etc. Lula 3 não o fez no início de mandato; ficou difícil de aumentar mais imposto depois da crise de janeiro a maio.

Agora, está entre a cruz e a caldeirinha.

Bolsonaro pode ficar inelegível, porque existe um obstáculo intransponível

Bolsonaro: se não quer ser líder da direita, que vá jogar bocha!

Bolsonaro está confiante no apoio dos parlamentares na Hora H

Wálter Maierovitch
do UOL

O ex-presidente Jair Bolsonaro agarra-se, como alguém que está se afogando, a uma tábua de salvação. No caso, ao instituto da anistia, definida no mundo jurídico como “perpétuo silêncio”.

Um “perpétuo silêncio” à tentativa de golpe de Estado, aos abusos e ilícitos perpetrados e consumados durante o seu mandato de presidente da República. Deseja, sem arrependimento algum, a clemência, com total extinção da sua responsabilidade criminal.

NÃO SERÁ ELEGÍVEL – Não percebe, entretanto, que a “tábua da lei” não sustentará o seu peso antidemocrático. Assim, a sua pretensão de voltar a ser elegível irá afundar, ou melhor, não apagará a condição de inelegível.

O ex-presidente Bolsonaro terá, na Justiça brasileira, um obstáculo intransponível, porque ela deve atuar como guardiã do Estado de Direito.

Por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em ação de investigação judicial eleitoral, Bolsonaro está inelegível por abuso de poder político, em sentido amplo. A condenação eleitoral decorreu da abusiva convocação de embaixadores e adidos estrangeiros para um jogo de cena, de campanha eleitoral.

FRAUDE ELEITORAL – No abusivo encontro, Bolsonaro esperneou e sustentou, sem provas, a iminência de fraude eleitoral. A fraude, segundo colocou, ocorreria mediante o emprego de urnas eletrônicas viciadas que levariam à sua derrota na disputa à reeleição presidencial.

A “mise-em-scène”, frise-se, fez parte da propaganda eleitoral. Assim perceberam as autoridades estrangeiras convocadas, e os seus países mantiveram-se em silêncio sepulcral.

Em outras palavras, a convocação dos diplomatas e adidos nada teve a ver com o 8 de Janeiro, materializado pelo emprego de golpistas, trazidos de vários cantos e utilizados como massa de manobra.

OUTROS ATOS – Atenção: o projeto de lei de anistia diz respeito aos atos de tentativa frustrada de golpe de Estado —atos pós-eleição, com Bolsonaro já derrotado e o novo presidente eleito empossado, no exercício da função de chefe do Executivo.

Mesmo que o projeto de anistia seja aprovado e sancionado pelo presidente Lula, nenhuma conexão poderá ser estabelecida entre um ato isolado de campanha política e outro, pós-eleição, de tentativa de golpe de Estado.

Não dá para se admitir, juridicamente, a conexão. Impossível colocar-se tudo no mesmo saco da anistia. A doutrina penal-constitucional ensina que a anistia ampla é aplicável a ilicitudes conexas exige conexões reais, concretas.

SEM CORRELAÇÃO – Isso não acontece no caso Bolsonaro, pois não há correlação entre esperneio de campanha perante embaixadores e adidos internacionais e o golpismo pós-eleitoral, com oposição firme e em observância à Constituição dos comandos do Exército e da Aeronáutica. Apenas o comandante da Marinha apoiou o golpe engendrado.

Pode-se até cogitar que a reunião com os convocados embaixadores e adidos internacionais fosse um embrião de golpe, na hipótese de derrota. Isso, no campo do direito criminal, não guarda relevância por referir-se a mera cogitação.

CARONA E BOQUINHA – Antes das eleições municipais, Bolsonaro, em entrevista, avisou, que iria tratar do projeto de anistia, pois ele seria o candidato à presidência em 2026.

Para tanto, já contava com o parecer favorável à anistia dado pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara. Como se sabe, uma comissão de maioria bolsonarista, presidida por Carolina de Toni (PL-SC), uma aliada raiz do ex-presidente.

Bolsonaro não contava com a manobra do presidente Arthur Lira e o jato de água fria por ele usado para baixar a pressão. Lira criou uma comissão especial para apreciação do projeto de anistia, camuflada como sendo restrita, a fim de perdoar os processados e condenados pela tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro.

NA CÂMARA -Para não demostrar abatimento em face da manobra procrastinatória de Lira, Bolsonaro esteve na Câmara no dia 29 de outubro e fingiu concordar com a ideia de Lira.

A visita, na verdade, foi para reivindicar a anistia para ele próprio. Usou, para enganar, a falsa postura de estar solidário à anistia aos processados e condenados pelo 8 de Janeiro.

Como sabe que a anistia é aplicada a fatos, e não a indivíduos, Bolsonaro quer entrar de carona. Na verdade, deseja uma “boquinha”, como se diz no popular.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Com todo o respeito ao jurista Wálter Maierovitch, a anistia pode ser aprovada por se tratar de Brasil. Basta um artigo adicional, dizendo que “esta anistia inclui tentativas de denunciar fraudes eleitorais inexistentes, dentro ou fora do período eleitoral de 2022”. Apenas isso, e Bolsonaro continua ficha limpa igual a Lula. (C.N.)

Bolsonarismo teve reveses, mas segue forte com empurrão de Trump

Charge do JCaesar | VEJA

Charge do JCaesar | VEJA

Ana Luiza Albuquerque
Folha

As eleições municipais deixaram um saldo positivo para o bolsonarismo, que encarou reveses e teve dificuldades de eleger prefeitos, mas ainda assim garantiu votações expressivas de norte a sul. A vitória do norte-americano Donald Trump, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), também dá fôlego ao movimento, avaliam especialistas ouvidos pela Folha.

Mas o centrão se consagrou como o grande vencedor do pleito de 2024, que teve a maior taxa de reeleição desde a redemocratização.

NADA DE NOVO – O sucesso do bloco, composto por partidos em geral alinhados a um conservadorismo mais tradicional, não indica, porém, que os eleitores tenham se afastado da plataforma de direita radical, como a representada por Bolsonaro.

“[A eleição municipal] É um voto muito mais da máquina, do fundo eleitoral, do que o prefeito conseguiu entregar”, afirma Daniela Costanzo, pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e doutora em ciência política pela USP (Universidade de São Paulo).

“Quando essa discussão vai para o plano federal, fica muito mais radicalizada. As pessoas vão para os grandes temas da política”, completa.

ULTRADIREITA – Também não é suficiente olhar apenas para os candidatos vitoriosos, diz Jorge Chaloub, professor de ciência política na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). “Nas principais capitais não foi a ultradireita que ganhou, mas ela demonstrou ter voto”, diz.

Ele também ressalta que candidatos alinhados à centro-direita tradicional, como o prefeito Ricardo Nunes (MDB), precisaram fazer acenos a pautas radicalizadas para ganhar eleitores. “A necessidade de fazer esses movimentos já me coloca um pé atrás sobre achar que foi uma vitória da moderação.”

Candidatos do bolsonarismo ou identificados com pautas da direita radical alcançaram largas votações. Foi o caso de Pablo Marçal (PRTB) em São Paulo, de André Fernandes (PL) em Fortaleza, de Bruno Engler (PL) em Belo Horizonte, de Cristina Graeml (PMB) em Curitiba e de Fred Rodrigues (PL) em Goiânia.

MANTER A BASE –  “Para Bolsonaro é muito importante manter a base dele”, afirma Costanzo. “Só o fato de irem para o segundo turno já significa muito. O Valdemar [Costa Neto, presidente do PL] ganhou mais que o Bolsonaro, mas isso não significa que o bolsonarismo esteja fraco.”

Por outro lado, afirma Chaloub, Bolsonaro falhou como estrategista político. “São Paulo marca isso. Não soube escolher brigas, ampliar alianças. Foi uma derrota na estratégia, mas ele mostrou capacidade de influenciar o eleitor.”

A maior novidade destas eleições, que ameaça Bolsonaro como referência da direita radical, foi a onda provocada por Marçal, diz David Magalhães, coordenador do Observatório da Extrema Direita e professor de relações internacionais na PUC-SP.

UM FENÔMENO – O influenciador teve um crescimento vertiginoso nas eleições em São Paulo, se vendendo como o único político antissistema no pleito e desbancando Nunes, candidato oficial de Bolsonaro, entre eleitores do ex-presidente. Quando Bolsonaro finalmente tentou conter o crescimento de Marçal, seus próprios seguidores inundaram suas redes com críticas.

“Marçal mostrou uma alternativa em termos de liderança para a direita radical, e fez questão de estabelecer esse contraste colocando Bolsonaro ao lado das forças da política profissional”, afirma Magalhães.

Para Chaloub, o influenciador é um sintoma dos movimentos atrapalhados do ex-presidente, e a inelegibilidade de Bolsonaro também abre caminho para que outras figuras contestem sua liderança.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Não se pode dizer que Bolsonaro saiu-se bem na eleição municipal. Porém, com toda certeza ficou muito fortalecido com a vitória de Trump. Portanto, a conjunção dos astros foi melhor para ele do que para Lula, sem a menor dúvida. (C.N.)

“Com ou sem Bolsonaro, direita tem de definir candidato já em 2025″ 

Ciro: “Com ou sem Bolsonaro, direita precisa definir nome já em 2025” |  Metrópoles

Ciro não quer ficar esperando eternamente por Bolsonaro

Paulo Cappelli
Metrópoles

Presidente nacional do PP, o senador Ciro Nogueira (PI) defende que o campo conservador consolide um nome ao Planalto, já em 2025, para substituir Bolsonaro caso o ex-presidente permaneça inelegível. Considerado um dos maiores articuladores políticos de Brasília, o parlamentar atua para que Bolsonaro seja anistiado, mas pondera haver um prazo para que a direita tome uma definição.

“Luto para que Bolsonaro possa disputar a Presidência em 2026. E vou apoiá-lo caso ele concorra. Mas, se a inelegibilidade permanecer, a direita tem de escolher outro nome já no ano que vem. Não dá para deixar para 2026”, disse Ciro Nogueira à coluna.

EXEMPLO DE LULA – O dirigente lembra a situação de Lula em 2018. Na ocasião, o líder petista estava inelegível e aguardou até o último momento para declarar apoio a Fernando Haddad (PT).

Como consequência, avalia Ciro, o atual ministro da Fazenda teve pouco tempo para se viabilizar eleitoralmente.

Dessa forma, Ciro Nogueira sustenta que a direita tem de se reunir em torno de uma alternativa a Bolsonaro já no segundo semestre de 2025. O dirigente, contudo, evitou falar em preferências.

VÁRIOS PRETENDENTES – Os nomes do campo conservador cotados para disputar a Presidência são Ratinho Júnior (PSD), Ronaldo Caiado (União Brasil), Romeu Zema (Novo) e Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Bolsonaro acredita que a eleição de Donald Trump lhe dará fôlego na tentativa de reverter a inelegibilidade.

Ciro Nogueira diz que em 2026 disputará a reeleição ao Senado e que não está nos planos ser vice em alguma chapa presidencial.

Trump não deve ajudar Bolsonaro a recuperar elegibilidade no Brasil

Os riscos da reeleição de Trump para o esporte norte-americano - Matinal

Trump sabe que existem limites para sua atuação

Elio Gaspari
O Globo/Folha

A vitória de Donald Trump foi coisa nunca vista. Eleitoralmente, os republicanos fizeram barba, cabelo e bigode. Além disso, Trump voltará à Casa Branca com um mandato popular só comparável ao de Ronald Reagan em 1981. Reagan chacoalhou os Estados Unidos e o mundo.

Desde 1952, todos os outros republicanos eleitos tinham pés fincados na tradição. Dwight Eisenhower havia comandado as tropas aliadas na Segunda Guerra. Richard Nixon tinha o pé descalço na pobreza da infância e o outro, calçado, na plutocracia. Os dois Bush, pai e filho, vinham da elite.

PASSAPORTE – O ex-presidente Jair Bolsonaro pretende pedir a liberação de seu passaporte para ir à posse de Donald Trump. Ele poderá receber inúmeros convites para celebrações do dia, mas convite para um dos cercadinhos da cerimônia em si, ele não deverá receber.

Na sua primeira posse, Trump não convidou estrangeiros. Para os americanos, a posse de um presidente é uma coisa doméstica.

Em Brasília, 37 deputados da oposição ao governo informaram que viajarão a Washington para a posse de Trump. Na realidade, irão aos Estados Unidos e, com sorte, passarão uns dias em Nova York.

ESTÁ DIFÍCIL – Quem ainda acredita na possibilidade de um socorro de Donald Trump a Bolsonaro para reverter sua inelegibilidade, finge que não conhece o poder do Departamento de Estado.

Mesmo quando a Casa Branca ajudava a ditadura brasileira no que podia, os governos norte-americanos não se metiam em encrencas desse tipo.

O presidente eleito Trump já deu e voltará a dar sinais de simpatia pelo ex-capitão. Mais, ele não pode.

O boneco Chucky passa a ser a nova logomarca de Trump

Por que ator original de Chucky ficou surpreso com sucesso de Brinquedo Assassino?

A imagem de Chucky já se associou a Donalg Trump

Muniz Sodré
Folha

É plausível imaginar um reality show com Chucky concorrendo ao lado de humanos. Em filme de terror americano, Chucky é o boneco que ganha vida, assassinando a faca os incautos. Mas entre nós, esse é o apelido popular de Trump, recém-eleito presidente. Não só o alaranjado do boneco enseja a analogia, também o comum de traços assustadores como violência, misoginia, xenofobia.

Em termos das promessas reais: usar força militar contra inimigos, conter o livre arbítrio feminino e deportar os milhões de imigrantes chegados depois de 2020.

ANDAR DE BAIXO – Reality show é o tipo de espetáculo que mimetiza a democracia na forma mais abrangente, aquela que contempla o andar de baixo. No caso americano, operários e rurais desesperançados sob o globalismo. O mesmo com latinos descrentes do progressismo neoliberal. Transporte-se uma base dessas para o Brasil, e o resultado apontará para consciências periféricas numa série amorfa, distinta de classe social, povo e comunidade. Serialidade em vez de socialidade.

Isso é propriamente a massa, que surge quando os mecanismos sociais de identificação se enfraquecem. Pode-se pensar em fim de democracia liberal, mas o reality show sugere que a radicalidade democrática está na contemplação do homem sem qualidade nenhuma, ou seja, na possibilidade de escolha coletiva do pior.

TOCQUEVILLE – No clássico “A Democracia na América”, Alexis de Tocqueville descreve com entusiasmo o regime americano, assinalando a supremacia da organização moral, mais do que política, da sociedade. Jean Baudrillard observa em “América” que Tocqueville descreve com a mesma lucidez o extermínio dos indígenas e a escravidão, sem jamais confrontar as duas realidades, “como se o bem e o mal fossem desenvolvidos em separado”.

Haveria então um paradoxo no enigma insolúvel da relação “entre os fundamentos negativos da grandeza e a própria grandeza”. Conclui-se que “a América é potente e original, tanto quanto é violenta e abominável”.

Daí o fascínio americano pela simulação, que encobre o paradoxo por meio do espetáculo, do país inteiro como um reality show. Simular não é mentir, mas tornar verossímil o que não existe.

PUBLICIDADE – Tudo se exterioriza na publicidade, que há um século faz apologia do modo de vida americano junto com cinema, televisão e show business. A palavra “show” conota desde uma exposição de pintura ao mais banal noticiário de tevê.

Esse show verdadeiramente epidêmico inclui a eleição presidencial, que hoje funciona mais por contágio psíquico do que por influência política. O medo é centro-motor dos sentimentos e comportamentos sociais, existe até mesmo o voto envergonhado (“shy voter”). E epidemia não se limita a doença física.

Quando a viralização se torna categoria mental por efeito das redes sociais, o medo viral contagia o corpo social contra a proximidade dos imigrantes, a autonomia das mulheres, a suposta excelência intelectual.

Ilusão à toa! Maioria a favor não indica que Fernando Collor venha a ser preso

Collor

Defesa retarda o processo para evitar a prisão de Collor

Cézar Feitoza
Folha

O STF (Supremo Tribunal Federal) formou maioria nesta sexta-feira (8) para rejeitar um recurso da defesa do ex-presidente Fernando Collor, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O julgamento ocorre no plenário virtual do Supremo, com término previsto para segunda-feira (11). O placar está em 6 a 2 contra o pedido de Collor para reduzir a pena.

O ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, votou contra o recurso de Collor. Ele foi seguido por Edson Fachin, Flávio Dino, Cármen Lúcia, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux.

 Os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli votaram pela redução da pena do ex-presidente. Cristiano Zanin se declarou impedido de julgar o caso porque atuou em processos da Lava Jato. Faltam os votos de Kassio Nunes Marques e André Mendonça.

PRIMEIRO RECURSO – Esse foi o primeiro recurso apresentado por Collor no processo. A defesa do ex-presidente pode entrar com novos embargos de declaração para pedir a redução da pena. A jurisprudência do Supremo, porém, considera que recursos de temas já rejeitados são protelatórios —o que poderia encerrar a ação e levar Collor à prisão.

O ex-presidente foi condenado pelo Supremo em maio de 2023 pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A pena foi fixada na ocasião em oito anos e dez meses de prisão.

A defesa de Collor informou que não vai se manifestar. Ela tenta, com o recurso, mudar a dosimetria da pena e evitar que ele, mesmo condenado, vá à prisão.

PRESCRIÇÃO – Isso porque, no entendimento da defesa de Collor, a redução da pena por corrupção passiva para quatro anos faria o crime prescrever. Nesse cenário, o ex-presidente teria de cumprir somente a condenação por lavagem de dinheiro, estipulada em quatro anos e seis meses.

A eventual redução da pena final —de oito anos e dez meses para quatro anos e seis meses— pode ainda alterar o cumprimento da sentença, deixando de ser regime fechado para semiaberto. Collor é réu primário, o que pode converter a prisão em prestação de serviços comunitários.

Ainda não é possível saber quando Collor poderia ser detido, já que a jurisprudência do Supremo prevê que os condenados só devem começar a cumprir a pena após esgotados todos os recursos (trânsito em julgado).

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A defesa de Collor sabe jogar o jogo. No caso, está apresentando embargos de declaração antes mesmo de o julgamento ter sido concluído. Com isso, vai atrasando o feito, porque o primeiro recurso para valer só será apresentado depois que Nunes Marques a André Mendonça apresentarem seus votos. Aí vem o recesso do judiciário, com Natal, Ano Novo, Carnaval e Semana Santa, e o processo fica para as calendas, como se dizia antigamente.  (C.N.)

Decisão de Dino sobre obras jurídicas por preconceito é censura de verdade

STF decide manter por unanimidade a suspensão de emendas de Flávio Dino sobre emendas parlamentares | Jovem Pan

Ex-comunista, Flávio Dino exibe forte vocação para exercer a censura

Hélio Schwartsman
Folha 

Não escrevo hoje sobre a eleição americana porque qualquer coisa que eu dissesse ficaria irrecuperavelmente velha num ritmo ainda mais acelerado do que o do já efêmero jornalismo diário. Volto, portanto, minhas baterias contra Flávio Dino.

O ministro do STF determinou a retirada de circulação de quatro obras jurídicas com conteúdo discriminatório contra mulheres e homossexuais. Os quatro títulos são todos da mesma dupla de autores, os gêmeos Luciano e Fernando Dalvi, que, junto com a editora, também foram condenados a pagar indenização de R$ 150 mil por danos morais coletivos.

DINO ERROU – As passagens citadas no relatório são de fato constrangedoras na carga de preconceito que desfilam. Ainda assim, acho que Dino errou. Quando a liberdade de expressão se choca com direitos constitucionais mais abstratos, como a autoimagem de grupos, é a primeira que deve prevalecer.

Há até um argumento aritmético. O único comando constitucional que aparece duas vezes no texto da Carta é justamente aquele que proíbe a censura, que figura no art. 5º, IX e no 220. Não há muita dúvida, portanto, sobre qual princípio o constituinte privilegiou.

Embora eu defenda versões bem robustas da liberdade de expressão, não veria escândalo maior se a Justiça tivesse se limitado a impor o pagamento de uma indenização. Mas Dino foi muito mais longe, pois determinou que as obras tenham sua circulação suspensa, sejam recolhidas e destruídas, inclusive exemplares de bibliotecas públicas. É aí que mora o perigo.

PRECONCEITOS – A história da humanidade é um catálogo de preconceitos, do qual não se excluem algumas das melhores criações literárias e filosóficas.

Eurípides e Schopenhauer têm passagens francamente misóginas; Aristóteles defende a escravidão; Shakespeare e o doutor da Igreja João Crisóstomo não escondem seu antissemitismo. A Bíblia manda apedrejar homossexuais masculinos.

Não resisto a uma “reductio ad absurdum”. Se casos semelhantes envolvendo obras desses autores chegarem à mesa de Dino, ele mandará picotar Aristóteles e Shakespeare? E as Escrituras?

Eduardo Bolsonaro acha que os EUA pretende proibir ingresso de Moraes

Vereadores rejeitam título de cidadão de São José dos Campos (SP) a Eduardo  Bolsonaro

Eduardo Bolsonaro espera a ajuda de Trump nos EUA

Julia Chaib
Folha

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) avalia que a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos vai influenciar a correlação de forças políticas no Brasil, favorecendo o seu pai, Jair Bolsonaro (PL).

Em entrevista à Folha, o filho do ex-mandatário afirma que a vitória do republicano, que obteve maioria no Senado e pode ampliar sua ascendência sobre a Justiça americana, pode pressionar o STF (Supremo Tribunal Federal) e outras autoridades brasileiras a reverter a inelegibilidade do ex-presidente, um cenário hoje improvável. “Certamente a Suprema Corte ficará menos confortável para fazer perseguições.”

VISTO NOS EUA – O deputado ainda avalia que o fato de Trump ter conseguido maioria no Senado facilita a aprovação de um projeto de lei que impede a entrada nos Estados Unidos de quem tenha violado a liberdade de expressão de cidadãos americanos, apresentado em setembro, por dois congressistas republicanos.

A proposta poderia atingir o ministro Alexandre de Moraes, do STF. Por trás da projeto está a ideia de que o magistrado violou a Constituição americana ao suspender o X e bloquear perfis de usuários.  deputado afirma que a esquerda “se distanciou da realidade e ficou muito conectada com esses metacapitalistas, que têm um discurso perfumado, mas que não se conectam com as massas”.

“Então, por exemplo, você vai falar de emissão de carbono, de aquecimento global, de agenda woke [forma como é chamado o discurso de pautas identitárias nos Estados Unidos]. Isso é distante para o cara que está vivendo o problema dele de alta criminalidade em algumas cidades, problemas de saúde, geração de emprego e inflação. A inflação foi o tema determinante.”

TOTAL IMPACTO – Eduardo afirma que a vitória de Trump “tem total impacto” no país. Ele afirma que, além de ter ganhado a eleição, Trump conseguiu maioria no Senado, deve obter maioria na Câmara dos Representantes e tem maioria conservadora na Suprema Corte.

“Eu diria que o impacto está muito mais no poder que terá agora os Estados Unidos contra os abusos de autoridades patrocinados por um ministro do STF [referindo-se a Moraes, sem mencioná-lo].”

Segundo ele, a nova configuração do cenário político americano, com o controle republicano do Senado, “torna totalmente factível a aprovação do projeto que tem como objetivo retirar o visto de autoridades estrangeiras que não respeitem a liberdade de expressão de americanos”.

CASO DO X – “Isso se enquadra perfeitamente no recente caso do X, em que houve uma briga entre o Elon Musk e certas instituições brasileiras.”

O ex-presidente Bolsonaro está inelegível até 2030 após ter sido condenado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por abuso de poder político e econômico e uso indevido dos meios de comunicação após difundir mentiras sobre o processo eleitoral em reunião com embaixadores e utilizar eleitoralmente o evento do Bicentenário da Independência.

Sobre a hipótese de essas condenações serem revertidas, Eduardo disse: “Impossível foi tirar o Lula da cadeia, limpar ele, tornar ele elegível. Isso, sim, que foi impossível”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Bolsonaro está jogando todas as fichas na anistia. Até lá, o candidato é ele, e estamos conversados. E haja paciência. (C.N.)

Bolsonaro está assanhado, mas nem sempre o que ocorre lá se repete aqui

Bolsonaro critica Marçal: “Há distância muito grande" entre facada e cadeirada

Vitória de Donald Trump foi tão fácil que surpreendeu Bolsonaro

Eliane Cantanhêde
Estadão

O principal impacto da vitória de Donald Trump no Brasil não é o que ele poderá fazer contra o governo Lula, mas o que tentará fazer a favor da volta do ex-presidente Jair Bolsonaro, que, aliás, acaba de dizer que quase tudo o que acontece nos Estados Unidos costuma se repetir aqui. Fica implícito: se Trump perdeu a reeleição e acaba de se eleger para novo mandato, por que o mesmo não pode ocorrer com ele em 2026?

Esse risco derruba, ou enfraquece, a tese de que o Supremo e o ministro Alexandre de Moraes, decisivos para evitar um golpe no primeiro mandato e após a derrota de Bolsonaro, erram ao não recolher as armas, porque a ameaça passou, mas eles continuam agindo com excepcionalidade após a volta à normalidade.

FANTASMA DO GOLPE – Será que a ameaça passou mesmo? As vitórias da direita nas eleições municipais no Brasil e de Trump nos EUA estimulam o bolsonarismo e trazem o fantasma do golpe de volta.

Trump não dá bola para a indignação de estrelas e intelectuais que defendem inclusão social, causas identitárias, direitos humanos, e capta com perfeição a insatisfação do “americano comum” que não quer saber do mundo e de princípios, só do que lhe diz direito diretamente: emprego, renda, preços baixos, escola de graça, comida na mesa.

 Incluem-se aí mulheres, negros, o grupo LGBTQIA+ e até os imigrantes – que Trump capturou dos democratas.

NÃO SE ILUDAM – Como na primeira eleição, Trump foi tosco e agressivo durante a campanha, mas suavizou o discurso e o personagem após a vitória.

Não se iludam: ele vai dobrar a aposta contra imigrantes pobres e o multilateralismo, mas a favor da violência na segurança pública, dos combustíveis fósseis, da aproximação com a Rússia e da aliança carnal com Israel. Dane-se a Ucrânia! Adeus, Gaza!

Seu lema é “America first”, mas seu objetivo maior é levar a sua pauta para o mundo e alimentar parcerias em países relevantes em cada continente. Na América do Sul, não lhe basta Javier Milei na Argentina, ele vai investir na volta de Bolsonaro e engordar o bolsonarismo.

MUSK É PRODUTOR – Elon Musk não é um simples espectador ou coadjuvante, é o produtor desse filme.

É por isso que o Supremo e Alexandre de Moraes são alvos centrais de Musk, bolsonaristas e uma enorme fatia da classe média vulnerável ao poder da internet. Afinal, Bolsonaro está inelegível e é alvo de diferentes processos.

Assim como o primeiro chanceler de Bolsonaro, Ernesto Araújo, pregava que “só Trump pode salvar o Ocidente da China”, só STF e Xandão podem manter Bolsonaro inelegível e impedir uma nova investida contra a democracia no Brasil – dessa vez, menos amadora.

Lula não sabe calcular se perde ou ganha fazendo cortes nas despesas

Tribuna da Internet | Principal responsável pelo juro alto não é o BC, mas  a elevação do gasto federal

Charge do Junião (Arquivo Google)

William Waack
CNN

Como se previa, os efeitos do furacão Trump nos Estados Unidos bateram aqui no hemisfério sul. E deram ao governo Lula a sensação de que tem de fazer alguma coisa do lado das despesas ao cuidar das contas públicas.

Visto apenas pela perspectiva doméstica, já faz bastante tempo que se espera que o governo equilibre as contas cuidando também de reduzir despesas. Na verdade, espera-se desde que o governo começou.

TUDO ERRADO – Na metade do mandato, os cálculos aparentemente não deram certo — e trata-se dos cálculos sobretudo políticos.

A expansão dos gastos sociais não garantiu a popularidade que o governo esperava colher neste momento. E os resultados das eleições municipais indicam dificuldades para as presidenciais de 2026.

No meio disso tudo, vem a vitória de Trump nos Estados Unidos. Que aperta a situação de Lula e não é por conta de ideologia. É a pressão por uma economia brasileira mais protegida da inflação americana, que se espera que suba com Trump. Com dólar mais caro e protecionismo comercial.

LULA NÃO CEDE – Ministros têm se utilizado desse argumento para tentar convencer o presidente da necessidade de corte de despesas. Mas Lula até aqui não parece convencido. E as razões são políticas.

Ele acha que a demanda por reduzir gastos não passa de conspiração de agentes de mercado para tornar seu governo impopular. Continua agarrado ao dogma — sem qualquer pé na realidade — de que gastos sociais não são gastos, são investimentos. E ainda não terminou de calcular se perde mais politicamente fazendo cortes ou não.

O risco está aumentando. E de fazer pouco, muito tarde.

Musk recupera 134 vezes mais do que gastou na campanha de Trump

Elon Musk pode ter cargo no governo dos EUA com reeleição de Donald Trump -  ISTOÉ Independente

Musk entrou no final da campanha eleitoral de Trump

José Roberto de Toledo
do UOL

Raras vezes na história um ser humano ganhou tanto em tão pouco tempo. Elon Musk ficou US$ 16 bilhões mais rico em menos de 24 horas. Foi do fechamento dos mercados ontem e até a abertura da Bolsa nesta quarta-feira (6). Entre um fato e outro, Donald Trump se elegeu presidente. E as ações do kit Trump de ações dispararam.

Entre elas, as da Tesla Inc. foram das que mais se valorizaram: cerca de 15%. O valor de mercado da fabricante de carros elétricos pulou do dia para a noite de cerca de US$ 800 bilhões para US$ 915 bilhões. Os acionistas da Tesla viram o valor da empresa aumentar US$ 115 bilhões, e Musk – o maior deles, com 13% das ações – ficou com US$ 16 bilhões desse ganho.

É SIMBÓLICO – Claro, isso é mais simbólico do que prático. Musk não vai realizar o lucro vendendo o controle acionário da própria empresa. Afora a euforia do mercado com um resultado que afastou qualquer possibilidade de arruaça, pancadaria e crise institucional nos EUA, nada garante que essa valorização da Tesla vá se sustentar ao longo do mandato de Trump.

O presidente eleito fez campanha prometendo sobretaxar produtos chineses e ameaçando uma guerra comercial com a China. A Tesla de Musk depende de fornecedores chineses para suas baterias.

Independente do que vier a acontecer, fato é que Musk comemorou e com razão a vitória de Trump. Afinal, ele investiu nada menos do que US$ 119 milhões na campanha eleitoral do vencedor. E ganhou US$ 16 bilhões com isso. Talvez tenha sido o investimento mais bem-sucedido – no curtíssimo prazo – de sua carreira de empresário: multiplicou por 134 vezes o valor aplicado.

Bolsonaro posa como “amigo do rei” e demonstra estar superconfiante

Eufóricos, aliados de Bolsonaro dizem que STF não resistirá a "vento  contra" de Trump e deixará ex-presidente disputar as eleições de 2026

Bolsonaro sonha em reencontrar Donald Trump na América

Bruno Boghossian
Folha

Depois do tropeço nas urnas há algumas semanas, Jair Bolsonaro tentou tirar uma casquinha da vitória de Donald Trump. O brasileiro fez propaganda da relação com o republicano, disse que a eleição americana é um “passo importantíssimo” para sua volta ao poder e especulou: “Tenho certeza de que ele gostaria que eu viesse candidato”.

Bolsonaro não explicou o que Trump ganharia. Talvez o americano tenha interesse num governante que, no passado, esteve tão enamorado que ofereceu aos EUA mais benefícios do que receberia. Também é possível que o republicano queira apenas mais um bajulador. “Fui o último chefe de Estado a reconhecer a vitória do Biden, ele não esquece isso”, orgulha-se o brasileiro.

AVALIAÇÃO – Em entrevista à Folha, Bolsonaro fez uma avaliação ambiciosa do impacto da eleição americana sobre sua situação particular.

Deu voz à campanha que conecta a vitória do republicano à reversão de sua inelegibilidade e sugeriu que Alexandre de Moraes deveria liberá-lo para ir à posse de Trump: “Ele vai falar ‘não’ para o cara mais poderoso do mundo?”.

A mensagem tem poucas chances de ressoar no STF, mas o ex-presidente também está interessado em deixar um recado dentro da direita. Nas tensões internas desse campo, Bolsonaro recorre à pose de “amigo do rei” para tentar impressionar colegas e exibir prestígio num momento de questionamentos à sua liderança.

SUPERCONFIANTE – Bolsonaro precisa parecer um político influente e competitivo para que a direita (que inclui o centrão no Congresso) não se acostume com sua saída de cena e trabalhe para reabilitá-lo. Ostentar uma relação direta com o presidente americano passa por aí. Além disso, a vitória de um Trump praticamente sem freios abastece a ideia de que é possível eleger um radical novamente, reduzindo a urgência de fabricação de uma versão moderada.

Exagerando na confiança sobre o retorno às urnas, Bolsonaro chegou a citar a possibilidade de formar uma chapa com Michel Temer.

O emedebista negou os rumores (“achei esquisitíssimo”), disse que a eleição de Trump não muda nada e ainda afirmou que Moraes acertou ao condenar os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro. 

Lula vira comentarista da própria gestão no campeonato de cortes

 

O ex-presidente Lula e o cantor e compositor Chico Buarque… | Flickr

Lula pretende  jogar, treinar o time e até fazer os comentários

Josias de Souza
Do UOL

Lula precisa decidir qual é o seu lugar no estádio em que é disputado o campeonato do ajuste fiscal. Pode ficar na tribuna de honra dando palpites e provocando os jogadores. Também pode escolher o time de sua preferência, vestir a camisa e descer ao gramado para disputar a bola. O que não pode é fazer as duas coisas.

Numa conversa com a Rede TV!, Lula se contrapôs à ideia de colocar nas costas do brasileiro pobre todo o peso do ajuste nas contas nacionais. “Não podemos mais jogar, toda vez que é preciso cortar alguma coisa, em cima do ombro das pessoas mais necessitadas”, declarou.

AS DÚVIDAS – Lula perguntou: “O Congresso vai aceitar reduzir as emendas de deputados e senadores?” Borrifou na atmosfera uma segunda interrogação: “Os empresários que vivem de subsídio do governo vão aceitar abrir mão de um pouco para a gente poder equilibrar a economia brasileira?”

Por enquanto, a tesoura do governo roça o bolso do pobre: abono salarial, seguro desemprego, pensões do BPC, saúde e educação. As dúvidas de Lula são pertinentes. Emendas parlamentares custam R$ 50 bilhões por ano. Mimos tributários a empresários somam mais de R$ 500 bilhões anuais.

O problema é que o Brasil não elegeu Lula para lançar dúvidas em entrevistas. A maioria do eleitorado o escolheu para apresentar soluções. Privilégios de parlamentares e empresários, uma vez obtidos, viram religião no Brasil. Caberia ao Planalto incluir as castas no jogo do ajuste. Do contrário, Lula vira comentarista do seu próprio governo.

Musk e sobrinho de Kennedy devem assumir cargos no governo Trump

Who is Susie Wiles, Donald Trump's new White House chief of staff? - 6abc  Philadelphia

Suzie Wiles será a chefe do Gabinete de Donald Trump

Deu no R7

Ao vivo de Washington, o correspondente José Luiz Filho comentou, nesta sexta-feira (8), sobre os primeiros movimentos de Donald Trump após ser eleito presidente dos Estados Unidos. Segundo José Luiz Filho, Trump já começa a pensar em nomes para compor seu governo a partir de janeiro de 2025 e procura aliados de campanha para assumir os cargos.

Apoiadores como o empresário Elon Musk e o candidato independente Robert F. Kennedy Jr., que desistiu de sua campanha para declarar apoio ao republicano, são dois dos nomes cogitados para integrar o gabinete de Trump.

CHEFE DE GABINETE – Até o momento, Trump anunciou Susie Wiles, sua gerente de campanha, como chefe de gabinete — cargo semelhante ao de Ministro da Casa Civil. Susie é a primeira mulher a assumir este cargo nos Estados Unidos.

Paulo Velasco, professor de política internacional da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), disse no programa Conexão Record News desta sexta-feira (8) que a escolha de Wiles já era esperada, e que a tendência é que Trump se cerque de “pessoas confiáveis” nesse novo governo.

“Susie Wiles é um desses nomes. Ela teve um papel crucial na vitória eleitoral dele em 2016 e ajudou a blindá-lo, de certa forma, após o episódio do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021”, explicou Velasco.

ESTRATEGISTA – “Além disso, nesta campanha, ela foi fundamental como uma das principais estrategistas. Podemos atribuir em parte a ela a vitória esmagadora de Trump”, assinalou.

Quanto à possibilidade de o presidente Trump, após tomar posse, decidir perdoar os envolvidos no ataque ao Capitólio, isso significará o fortalecimento da impunidade nos EUA, podendo provocar grave crise político-institucional, diz o especialista.

Por fim, destacou que a vitória ampla de Trump deixa evidente a imprecisão das pesquisas eleitorais nos EUA.

Piada do Ano! Lula confirma que aceitará ser candidato em 2026

Lula diz que “justiça divina“ julgará ministros do STF que atuaram contra ele | CNN Brasil

Lula deu entrevista à CNN e confirmou candidatura em 2026

Caio Spechoto
Broadcast

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em entrevista à CNN dos Estados Unidos que poderá disputar a reeleição em 2026 contra um candidato de extrema direita, mas que espera não ser necessário. Ele afirmou que essa deve ser uma decisão dos partidos que o apoiam.

“Se chegar na hora [em 2026] e os partidos entenderem que não tem outro candidato para enfrentar uma pessoa de extrema direita, que seja negacionista, que não acredite na medicina, que não acredite na ciência, obviamente eu estarei pronto para enfrentar. Mas eu espero que não seja necessário. Espero que a gente tenha outros candidatos e que a gente possa fazer uma grande renovação política no País e no mundo”, declarou ele.

COM TRUMP – Lula também afirmou que ele e o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, precisam ter uma convivência “civilizada”. Segundo ele, divergências entre chefes de Estado são superadas pelos interesses de Estado.

Além disso, o petista defendeu a taxação dos super-ricos. Lula afirmou esperar que o bilionário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter) trate os países com respeito.

E também criticou Israel por seus ataques ao território palestino depois dos atentados do Hamas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Está fechada a equação para 2026. Se a direita apresentar um candidato forte, e a esquerda não tiver outro nome, Lula e Janja “aceitam” concorrer. Como a direita tem dois fortes candidatos (Bolsonaro e Tarcísio), Lula e Janja “aceitam” duplamente. E a vaga mais disputada será de vice de Lula. Uma brigalhada mais dura do que o Ultimate Fighter, e o neosocialista Geraldo Alckmin, que já esperou tanto, estará proibido de concorrer. (C.N.)

Trump inspira direita e acende alertas no governo Lula

Como fez com Bolsonaro, | Metrópoles

Congresso impõe pautas e vende caro seu apoio a Lula

Caio Sartori e Renata Agostini
Folha

Guardadas as peculiaridades de cada país, a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos deu recados ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, provável candidato à reeleição em 2026, e animou a extrema direita brasileira, que demonstrou euforia com o triunfo trumpista.

No cerne do alerta a Lula está a necessidade de melhorar a percepção das pessoas sobre a economia, que não acompanha o bom desempenho do governo em indicadores macroeconômicos — assim como ocorreu com a gestão Joe Biden, da qual a derrotada Kamala Harris era vice.

MUITOS COMPONENTES – Em outra frente, especialistas ouvidos pelo Globo acreditam que “não é só a economia, estúpido”, para parafrasear a célebre máxima do estrategista democrata James Carville. Na eleição dos EUA, entraram em cena componentes como migração e aborto.

O caso americano ilustraria, segundo essa visão, uma mudança no comportamento do eleitorado no mundo todo, com novos temas em jogo e convicções mais consolidadas. Lula, então, até poderia melhorar a avaliação entre os que hoje consideram o governo regular, mas dificilmente vai conquistar quem o avalia como negativo.

No campo econômico, criou-se nos Estados Unidos o termo “vibecession” para se referir ao descompasso entre os indicadores e o que a população de fato sente no dia a dia.

EFEITO PANDEMIA – O neologismo junta as palavras “vibe” e “recessão” para indicar que o país estaria em clima de crise econômica, apesar de os números dizerem o contrário. Trata-se sobretudo de um reflexo da pandemia, período em que a inflação disparou — e é sentida até hoje, a despeito de ter estabilizado.

— Os preços estabilizaram, mas lá em cima — observa o cientista político e sociólogo Antonio Lavareda, especialista em pesquisas eleitorais. — Tem que ver o filme completo: houve um aumento de preços lá atrás, a maior inflação de 50 anos (nos EUA), e hoje os preços não crescem, mas também não caem. E a renda não acompanha, apesar do índice de desemprego baixo.

A pressão sobre os preços já vem sendo utilizada pela oposição para atacar o governo Lula. O preço da picanha — em alusão a uma frase do presidente durante a campanha — é constantemente motivo de embates entre bolsonaristas e esquerda nas redes. Na quarta-feira, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) avaliou que a economia será decisiva em 2026, sobretudo inflação e poder de compra.

EXEMPLO DE SARNEY – Analistas como Lavareda costumam colocar a inflação, ou o preço dos produtos de maneira geral, como o componente econômico mais decisivo para o voto. Um exemplo no Brasil, diz, é o do governo José Sarney. Com o país enfrentando a chaga da hiperinflação, que fez do emedebista um presidente impopular, ninguém se lembra do crescimento médio do PIB de mais de 4% ao ano naquele período.

A disputa presidencial americana teria sido um embate entre o “sim” e o “não” para a continuidade de um governo, assim como tende a ser a brasileira em 2026. Lavareda, no entanto, coloca Lula em situação menos problemática que a de Biden. Nas pesquisas, o petista chega a ter mais avaliação positiva do que negativa, ao contrário do americano.

CENÁRIO APERTADO — Mas não está confortável, claro. Continua um cenário apertado no cálculo de aprovação versus desaprovação. Isso porque a eleição de 2022 não terminou. As redes sociais, hoje, fazem as campanhas não terminarem — pondera.

Assim como Biden, Lula não vê a percepção econômica melhorar, mesmo com PIB surpreendendo, inflação controlada e desemprego baixo. Em setembro, cresceu na pesquisa Quaest o percentual dos que acham que a economia vai piorar nos próximos 12 meses: 41%, contra 33% que acreditam que haverá melhora.

— O nível de desemprego está muito menor, mas o nível de salários está mais baixo. A inflação está sob controle, mas a inflação dos pobres, do feijão, do arroz, da carne, subiu. Não adianta fazer o discurso de números se as pessoas não acham que a vida está melhorando — diz o jornalista Thomas Traumann, ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social. — Afinal, ninguém come PIB.

Trump eleva tensão na Europa, mas deixa Israel e a Rússia “exultantes”

Donald Trump durante evento de campanha em Nova York em 27 de outubro

Trump silencia e ninguém sabe o que ele realmente vai fazer

Deu no Estadão

Os aliados dos EUA, que haviam sinalizado preferências pela continuidade, mostraram-se resignados, com os líderes europeus dizendo que estavam prontos para trabalhar com Trump. As autoridades russas pareciam satisfeitas com a notícia de uma vitória de Trump, enquanto o presidente da Ucrânia foi um dos primeiros a parabenizar o presidente eleito e manifestou sua esperança de que o apoio dos EUA à Ucrânia em sua guerra contra a Rússia continuasse. A China, por sua vez, não revelou muita coisa.

O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, estava claramente ansioso pelo apoio incondicional de Trump – e pelo fim de sua disputa com o governo Biden sobre as guerras em Gaza e no Líbano.

RÚSSIA FESTEJA – As autoridades russas tentaram fingir indiferença antes das eleições nos EUA, mesmo com acusações de que o Kremlin dirigiu várias campanhas de desinformação contra Kamala Harris. Mas na manhã de quarta-feira, muitos deles não conseguiram conter a alegria, saudando as perspectivas de um reinício nas relações entre os EUA e a Rússia e o fim da guerra na Ucrânia – nos termos de Moscou.

“Kamala Harris estava certa quando citou o Salmo 30:5: ‘O choro pode perdurar à noite, mas a alegria vem pela manhã’”, escreveu a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, no Telegram. “Aleluia, eu acrescentaria”.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, foi mais cauteloso, dizendo que o Kremlin estava aguardando “ações concretas” e que não sabia se o presidente Vladimir Putin ligaria para Trump para parabenizá-lo. Os Estados Unidos, acrescentou, “são um país hostil que, direta e indiretamente, está envolvido em uma guerra contra nosso Estado”.

TRUMP E PUTIN – Trump sempre falou com admiração de Putin, até ficando ao lado do presidente russo em vez de suas próprias agências de inteligência na questão da interferência da Rússia na eleição de 2016. E criticou a assistência dos EUA à Ucrânia, dando esperança ao establishment russo de que, sob a presidência de Trump, a Rússia conseguiria chegar a um acordo em seus termos.

Leonid Slutski, chefe do comitê de relações exteriores do parlamento russo, disse que a vitória de Trump poderia levar ao colapso do governo do presidente ucraniano Volodmir Zelenski e ao fim da ajuda ocidental à Ucrânia.

“A julgar pela retórica pré-eleitoral”, disse ele, ‘a equipe republicana não vai enviar cada vez mais dinheiro do contribuinte americano para a fornalha da guerra por procuração contra a Rússia’.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
De repente, aumentam as esperanças de um posicionamento favorável a um cessar-fogo na Ucrânia, mas Trump não pretende trabalhar em nada por um cessar-fogo no Oriente Médio. O mundo continua em ritmo de guerra e paz, sem novidades no front ocidental. (C.N.)

Com superpoderes, Trump vive ‘profecia’ e testará a democracia americana

Donald Trump se convierte por segunda vez en presidente

Trump é um ameaça ou mais um presidente fora da validade?

Jamil Chade
do UOL

Quando Donald Trump assumir o poder em 2025, ele retornará à Casa Branca não apenas com um mandato reforçado por uma ampla vitória do voto popular. Mas também com o controle do Senado americano e, possivelmente, com uma maioria na Câmara de Deputados.

Sua presidência, portanto, testará a própria democracia e a capacidade das instituições de barrar uma concentração de poder que ameace o Estado de direito e a república. Não por acaso, em seu discurso reconhecendo a derrota, Kamala Harris fez um apelo aos americanos a manter a lealdade à constituição americana, e não a um presidente.

INIMIGO DE DENTRO – Acusado de ser um “fascista” por parte dos democratas, Trump alertou que poderia usar as forças armadas contra manifestantes e que lutaria contra o “inimigo de dentro”, num recado a dissidentes americanos.

Trump ainda avisou: colocaria seus inimigos políticos na cadeia e, se necessário, seria um “ditador por um dia”.

Desde a eclosão de seus resultados, na madrugada entre terça-feira e quarta-feira, os analistas políticos dos EUA constatam que, apesar de suas aberrações, Trump mostrou que não foi um ponto fora da curva na eleição de 2016. Alimentado por um sistema de desinformação, ele ganhou agora com um movimento de massa, não com uma campanha de propostas políticas.

DIAS MELHORES – Usou a situação econômica e prometeu dias melhores para milhões de americanos abandonados pelo país. Para a surpresa das alas progressistas, Trump conseguiu atrair uma parcela dos votos de latinos e afro-americanos, tradicionais eleitores dos democratas.

Para o senador Bernie Sanders, não há motivo para que o partido de Harris se surpreenda com o abandono de seu eleitorado da classe trabalhadora. Para ele, foi o partido que se distanciou de sua base. As urnas foram as consequências disso.

Sanders não foi o único a denunciar que o rei estava nu. Sua declaração reabriu o debate nos EUA sobre o papel dos movimentos políticos e sua relação com os trabalhadores. Movimentos sociais e ativistas também trocaram acusações, enquanto a autópsia da derrota era realizada.

UM ALERTA – Nada, porém, é exatamente novo. No final dos anos 90, Richard Rorty constatou que, “os membros de sindicatos e os trabalhadores não qualificados não organizados perceberão, mais cedo ou mais tarde, que o governo não está nem tentando impedir que os salários afundem ou que os empregos sejam exportados”.

“Na mesma época, eles perceberão que os trabalhadores de colarinho branco dos subúrbios – eles próprios desesperadamente temerosos de serem reduzidos – não permitirão que sejam tributados para fornecer benefícios sociais a ninguém mais”, disse, numa referência à obra do escritor Edward Luttwak.

“Nesse momento, algo vai acontecer”, alertou. “

HOMEM FORTE – O eleitorado não suburbano decidirá que o sistema fracassou e começará a procurar um homem forte em quem votar – alguém disposto a garantir que, uma vez eleito, os burocratas presunçosos, os advogados complicados, os vendedores de títulos superpagos e os professores pós-modernistas não estarão mais dando as ordens”, disse.

Ele lembrou como estudos apontavam para o risco de que democracias industrializadas caminhassem para um período semelhante ao de Weimar, no qual os movimentos populistas provavelmente derrubarão governos constitucionais. O fascismo, assim, poderia ser o futuro americano.

As transformações iriam além. Segundo ele, os ganhos obtidos nos últimos quarenta anos pelos americanos negros e pelos homossexuais seriam eliminados. “O desprezo jocoso pelas mulheres voltará à moda. As palavras “nigger” voltarão a ser ouvidas no local de trabalho. Todo o sadismo que a esquerda acadêmica tentou tornar inaceitável para seus alunos voltará com força total”, disse. “Todo o ressentimento que os americanos mal educados sentem por terem suas maneiras ditadas por graduados universitários encontrará uma saída”, sentenciou. Resta saber se a democracia sobreviverá.