Depoimento de Elon Musk será usado para pedir o impeachment de Moraes

Elon Musk x Alexandre de Moraes: entenda em detalhes esse embate -  Hardware.com.br

Faltam muitos votos para possibilitar impeachment de Moraes

Paulo Cappelli
Metrópoles

O depoimento de Elon Musk à Comissão de Segurança da Câmara dos Deputados será usado, pela oposição, para tentar arregimentar votos para o impeachment de Alexandre de Moraes. Parlamentares críticos do ministro admitem, hoje, não ter os 54 votos necessários no Senado para aprovar um pedido de afastamento. Mas acreditam que o fator Musk vai alterar o cenário.

A oposição prevê que novas decisões sigilosas do magistrado do STF serão tornadas públicas até a oitiva do empresário, mas que o material divulgado no caso conhecido como “Twitter files” já é forte o suficiente para turbinar uma campanha pelo afastamento do magistrado.

IRREGULARIDADES – Segundo o deputado federal Marcel Van Hattem (Novo), Moraes teria cometido duas irregularidades no exercício da função, de acordo com os documentos vazados.

“O afastamento de garantias individuais foi um argumento usado por Alexandre de Moraes em decisões que miraram críticos dele e opositores do governo. Se é uma garantia individual, não pode ser afastada com a frequência que tem sido afastada pelo ministro. Está configurada, também, a prática de censura ao suspender as contas de agentes políticos nas redes sociais”, opinou Van Hattem.

O afastamento de garantias individuais foi citado por Moraes, por exemplo, ao bloquear a conta da filha do blogueiro Oswaldo Eustáquio. Ao ordenar o bloqueio na conta bancária de M., que tem 15 anos, Moraes disse ter “afastado, excepcionalmente, garantias individuais” para que não fossem usadas “como verdadeiro escudo protetivo para a prática de atividades ilícitas”.

PAI FORAGIDO – Na ocasião, o ministro assinalou que os valores na conta da adolescente estavam sendo usados pelo pai, que é considerado foragido pelo STF. A jovem, por sua vez, afirma que o bloqueio atrapalha seus gastos com necessidades básicas.

Em suas decisões, Moraes costuma afirmar que medidas mais duras, como prisões preventivas e operações de busca e apreensão, são necessárias para a manutenção do Estado Democrático de Direito.

A atuação de Alexandre tem sido respaldada pelo presidente da Corte, o ministro Luís Roberto Barroso, que já manifestou publicamente apoio ao magistrado. O depoimento de Elon Musk deverá ocorrer por videoconferência, em data ainda a ser definida.

FALTAM VOTOS – Para o impeachment de um ministro do STF são necessários 54 votos no Senado, o que representa dois terços da Casa. Atualmente, a oposição contabiliza ter entre 30 e 35 votos a favor do afastamento.

Nos 133 anos do Supremo Tribunal Federal, nunca um magistrado foi afastado da cadeira em decorrência de um processo de impeachment.

Casos TikTok e Musk incrementam o debate sobre as redes e soberania 

TikTok vs. – Find Out What Suits Your Needs - Blog: Latest Video Marketing Tips & News, tictok - cepedoca.org.br

Americanos querem se livrar da plataforma dos chineses

Renata Galf e Angela Pinho
Folha

Nos Estados Unidos, uma lei aprovada pelo Congresso pode resultar no banimento do TikTok no país. Já no Brasil, as ameaças do dono do X, o empresário Elon Musk, de descumprir decisões judiciais levaram ao debate público a especulação sobre um eventual bloqueio da plataforma. Ambos os casos, em alguma medida, mobilizam a discussão sobre soberania digital dos países para fazer cumprir suas ordens, leis ou decisões sobre empresas de tecnologia que operam em todo o mundo sem barreira física.

Há diferenças sobre o que está em jogo. No caso brasileiro, o respeito ao Judiciário, enquanto nos Estados Unidos, a segurança nacional.

MUSK AMEAÇA – No Brasil, Musk prometeu “derrubar restrições” no X (o antigo Twitter) impostas por decisões judiciais do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Além disso, uma comissão do Congresso dos EUA divulgou relatório com uma série de decisões e ofícios sob segredo de Justiça emitidos pelo magistrado. Os ofícios foram entregues pela rede social a pedido do órgão, que é presidido por um aliado de Donald Trump.

Não há evidências de que o X tenha desbloqueado perfis. Ainda assim, o tema da soberania acabou sendo mobilizado diante da ameaça de descumprimento –que foi comemorada entre os bolsonaristas. Um ponto ainda a ser esclarecido é como contas suspensas conseguiram fazer transmissões online pela plataforma, como apontou a Polícia Federal.

Já a lei sancionada nesta quarta-feira (24) pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, proíbe o TikTok no país se a ByteDance, empresa chinesa dona do aplicativo, não se desfizer dele em nove meses.

SEGURANÇA NACIONAL -A justificativa para o apoio à medida é o que o app seria uma ameaça à segurança nacional enquanto for de propriedade da ByteDance. Entre as preocupações está a de a empresa fornecer dados ao governo chinês –apesar de não haver evidências de que isso tenha ocorrido.

No Brasil, a ofensiva de Musk contra Moraes teve consequências políticas e têm sido mobilizada de modos diferentes pela direita e esquerda.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus filhos, que manifestaram enfático apoio a Musk, não se pronunciaram nesta quarta sobre a decisão do Congresso dos EUA a respeito do TikTok, que está alinhada à posição do aliado Trump. Já a esquerda viu a investida de Musk contra Moraes como um ataque à soberania nacional, como disse o ministro Paulo Pimenta (Comunicação Social), e como um argumento pela regulação das redes – o PL das Fake News, no entanto, acabou enterrado neste meio tempo.

SOBERANIA? – A posição foi reforçada nesta quarta com a iniciativa do Legislativo dos EUA em relação ao TikTok. “Interessante como o Congresso deles trata as plataformas como questão de soberania nacional, mas para o resto do mundo querem a falsa liberdade do neoliberalismo”, declarou Ivan Valente (PSOL-SP).

Francisco Brito Cruz, que é diretor executivo do InternetLab, centro de pesquisa sobre direito e tecnologia, avalia que a lei dos EUA é um precedente que alimenta um discurso de que Estados devem sair banindo e suspendendo plataformas, a despeito das consequências que esse tipo de medida possa ter em como a internet funciona.

“Lógico que os Estados têm que exercer algum nível de controle, mas desprezar o que pode significar essa fragmentação é não olhar para a forma como a internet foi construída até hoje e o que ela ainda pode agregar nesse sentido”, diz. “O mundo seria muito diferente se existisse uma internet só brasileira, uma internet só americana, uma internet só iraniana.”

AÇÕES PENDENTES – O bloqueio de aplicativos de mensagem é tema de ações pendentes de julgamento no STF. Clara Iglesias Keller, líder de pesquisa em tecnologia, poder e dominação no Weizenbaum Institute de Berlim, não vê como comparar a gravidade das medidas de bloqueio que já foram tomadas no Brasil e o que prevê a lei aprovada contra o TikTok.

Ela argumenta que enquanto esta última pode implicar em uma proibição definitiva, os casos brasileiros tratavam, ainda que se possa discutir quanto à proporcionalidade das medidas, de bloqueios frente a casos concretos e específicos no Judiciário.

Keller adiciona que a iniciativa dos EUA pode acabar reverberando no cenário brasileiro. “Reforça os debates sobre até onde um país pode e deve ir para exercer sua soberania online, tão antigos quanto a expansão da internet para o uso civil”, diz.

QUESTÃO MUNDIAL – É um problema comum no mundo digital, diz o advogado Renato Opice Blum. Embora a lei possa ser clara, diz, é difícil fazê-la valer em casos como esse ou mesmo em situações em que a empresa nem sequer tem uma filial no país. Em sua avaliação, esse problema só poderá ser solucionado com convenções internacionais. Elas permitiriam a execução mais céleres de ordens judiciais sobre o tema de um país em outro.

Ao tratar desse tema, o aspecto econômico é fundamental, afirma Luca Belli, professor da FGV Direito Rio. Ele aponta a importância de investimento no desenvolvimento de tecnologia própria para garantir a soberania digital, o que valeria tanto para redes sociais como, por exemplo, para inteligência artificial.

É isso que impediria que um país fosse impactado por uma decisão unilateral de uma empresa digital ou do país que a abriga. “Fora os Estados Unidos e a China, todos os outros países são basicamente consumidores de tecnologia digital”, diz.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Os dois casos nada têm a ver um com o outro. Aqui no Brasil o que interesse é resolver o caso de Musk, muito mais político e delicado. China e Estados Unidos que resolvam o problema do Tik Tok. (C.N.)

São ingênuos ou simulam otimismo os que enxergam “paz” na crise entre Lira e Lula

A verdadeira sorte de Lula é a biografia de Arthur Lira | Jornalistas Livres

Charge do Miguel Paiva (Brasil 247)

Dora Kramer
Folha

O desacerto entre Executivo e Legislativo está de tal maneira intenso que o presidente Luiz Inácio da Silva se viu obrigado a fazer o que imaginou não ser preciso depois de dois mandatos bem-sucedidos na relação com o Congresso: entrar com seu peso no varejo da articulação político/partidária.

Para isso, Lula teve de dar um tempo na execução do projeto de se firmar como liderança internacional. A razão, sabemos, é a mudança da realidade anteriormente vivida pelo presidente tanto quanto aos posicionamentos dele no âmbito mundial como a alteração da correlação de forças na sociedade, no Parlamento e na configuração da equipe presidencial, hoje bem mais fraca.

ALGO INIMAGINÁVEL – Lá atrás, na primeira década do novo milênio, seria inimaginável a hipótese de um presidente da Câmara se referir a José Dirceu — ou a qualquer outro de semelhante estatura na hierarquia petista — como incompetentes e mais, dado a eles a condição de desafetos pessoais.

Agora vimos o deputado Arthur Lira (PP-AL) partir para o confronto com o Planalto e ainda ser agraciado com um pedido de trégua por parte do presidente, cujos auxiliares disseminam a versão de que a proximidade do fim do mandato do presidente da Câmara resulta na morte prematura de poder. Fosse verdade, Lula ficaria na dele aguardando o desgaste natural do adversário.

FALSO OTIMISMO  – Portanto, simulam ingenuidade ao exalar otimismo o líder do governo na Câmara e o ministro da articulação política. quando um (o deputado José Guimarães) diz que basta um pequeno conserto para tudo se resolver; e outro (o ministro Alexandre Padilha) fala que está tudo bem e a crise superada.

Temporariamente pode até ser, como foi quando Lula promoveu uma série de encontros amigáveis no Palácio da Alvorada, que distenderam, mas não resolveram a situação, que é mais estruturalmente complicada do que possam supor a vã filosofia cândida do ministro otimista e do líder apaziguador.

Ação da Petrobras já tinha voltado a valer mais do que na crise dos dividendos

Petrobras deixa o cidadão brasileiro de lado e visa o lucro • DOL

Charge do Emerson Coe (Arquivo Google)

Vinicius Torres Freire
Folha

A ação da Petrobras está valendo mais do que em 7 de março, um dia antes do colapso do “dividends day”, quando custava R$ 40,39 (ações preferenciais, PETR4). Na noite daquela quinta-feira, o público saberia que a petrolífera não distribuiria o lucro remanescente de 2023.

No 8 de março, o preço da ação baixaria a R$ 36,12. Na segunda-feira, 11 de março, a R$ 35,65. Na sexta-feira passada, 19 de abril, a PETR4 chegou a R$ 40,53. Tem flutuado na casa dos R$ 41 desde então.

DIVIDENDOS – Os motivos básicos da alta são óbvios. De mais importante, é provável que a assembleia-geral ordinária da empresa, nesta quinta (25), aprove a distribuição de 50% do lucro líquido remanescente (perto de R$ 22 bilhões). O preço do barril de petróleo Brent subiu um tanto (de US$ 82 para US$ 88). Diminuiu um pouco a especulação de que o governo interviria com mais força na empresa.

A baderna serviu apenas para mostrar que o governo muita vez toma decisões baseadas em voluntarismo, ignorância e politicalha.

No “dividends day”, começaria um mês de salseiro no governo, tumulto que ficaria mais quente a partir de 3 de abril, quando o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, espezinhou Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, em entrevista a esta Folha.

BASTIDORES – Nos dias seguintes de intriga vulgar, “bastidores”, gente do governo vazava que Prates havia sido decapitado, que Aloizio Mercadante presidiria a empresa etc.; as turmas da briga vazavam podres sobre os adversários. Depois do leite derramado, tentaram passar um pano no chão.

Fernando Haddad procurou racionalizar a conversa, cavou uma vaga no conselho e sugeriu que a Petrobras distribuísse parte do lucro remanescente, se por mais não fosse porque precisa de uns dinheiros para cobrir o buraco do Tesouro.

No dia 9 de abril, Silveira diria: “Tenho carinho e profundo respeito pelo ser humano que ele [Prates] é” (rir, rir, rir).

PAÍS DAS AMERICANAS – Ainda haveria fofoca e vazamento de informação sigilosa. Em reuniões ministeriais, com assessores, se discutia o pagamento dos dividendos.

A Comissão de Valores Mobiliários disse que investigaria isso que é um escândalo —não é assim que se lida com empresa aberta. Mas muito é possível no país das Americanas.

No 19 de abril, a Petrobras soltou nota dizendo que o pagamento “…não comprometeria a sustentabilidade financeira da companhia…”. No governo, passou a aparecer a conversa de que petróleo e dólar mais caros melhorariam o caixa da empresa, por isso a decisão de pagar dividendos extraordinários (pfui).

SEM CRISE – Nesta semana, Lula, Silveira e Prates disseram que não houve crise na Petrobras. É. Pode ser. Pelo menos até fins de 2023, a empresa teve um resultado excelente. A crise é do governo.

Vem desde o início de 2023, com Silveira querendo mandar mais na Petrobras; com o desejo vago de Lula de fazer com que a empresa invista mais em refinaria, em compra de navio nacionalizado, em fertilizantes.

Silveira surfou na impaciência de Lula e fritou Prates. Os tiros de Silveira feriram, mas não mataram, e um até saiu pela culatra. Mas o ministro ainda canta vitória. Diz agora que “…estamos tendo uma correção de rumo fundamental para o desenvolvimento nacional…”.

MUITAS DÚVIDAS – A dúvida que vem desde o início de Lula 3 permanece. Ainda não sabemos se a petrolífera colocará mais dinheiro em refinaria.

Se vai satisfazer a vontade de Lula de estimular a indústria naval, o “PAC do Mar”, exigindo mais nacionalização das duas centenas de embarcações que prevê comprar, sob o risco de pagar mais caro. Se vai investir em fábrica de fertilizante que dá prejuízo.

A direção da empresa não pode violar leis, estatuto e a saúde financeira da Petrobras, até porque corre risco de processo —em tese. O receio de crise futura continua.

Não há chances de consenso sobre como combater o crime organizado

Entre a caneta e o fuzil - Blog do Ari Cunha

Charge do Dum (Arquivo Google)

William Waack
Estadão

Os profissionais que lidam com a questão do crime organizado são unânimes em afirmar que o problema é muito pior do que se imagina. Essa constatação é comum no mundo acadêmico, empresarial, no ambiente dos investigadores, nas polícias e nos executivos estaduais.

O crime organizado é descrito como problema muito maior do que a já preocupante percepção de violência – aquela diretamente atrelada às taxas de criminalidade como assaltos, estupros e furtos. Seu impacto na economia é estimado em torno de R$ 600 bilhões por ano, mais de R$ 1 bilhão por dia.

DIZ CAMPOS NETO – Nas palavras do presidente do Banco Central, em recente evento sobre segurança pública, o crime organizado tem efeitos na economia que podem ser medidos até no spread bancário (leia-se juros ao consumidor).

E é visto por investidores externos como uma espécie de imposto a ser calculado, que torna mais caro ainda o custo de capital no Brasil. Já influi na direção e intensidade do investimento estrangeiro direto (FDI), com o México sofrendo ainda mais.

A questão da atribuição fundamental de combate ao crime foi levantada pelo próprio Ministro da Justiça. A discussão se popularizou em torno da expressão “SUS da segurança pública”, derivada de uma figura de linguagem criada por Raul Jungmann, que já foi ministro nessa pasta. “Imagine um SUS sem Ministério da Saúde, essa é a situação da segurança pública”, alertou.

PACTO FEDERATIVO – Em outras palavras, o que propõe o Ministro da Justiça é uma mexida no pacto federativo para conceder à União um papel definido constitucionalmente de coordenação de políticas no setor. Foi imediatamente combatido por governadores, entre eles possíveis presidenciáveis.

“Não venham dizer aos governadores o que tem de fazer, eles sabem muito melhor”, declarou Ronaldo Caiado, de Goiás.

Foi apoiado por veteranos especialistas como o coronel reformado da PM paulista José Vicente Filho, para o qual a questão não é apenas de verbas mas de capacidade de gestão e criação de serviços de inteligência integrados, e treinamento de polícias estaduais de acordo a padrões mínimos. Que a União poderia fazer sem tirar qualquer autonomia dos Estados.

QUESTÃO POLÍTICA – Ocorre que a questão deixou há muito tempo de ser “técnica” e hoje é exclusivamente política e precisa ser equacionada.

No ambiente atual, há escassa possibilidade de se estabelecer qualquer tipo de consenso sobre causas e possíveis formas de combate ao crime organizado, que já é um tema eleitoral no topo de todas as campanhas.

Em outras palavras, o que já é ruim tende apenas a piorar.

Verba eleitoral do PL pagou invasão e falsificação de papéis contra Moraes

carla zambelli arma

Carla Zambelli se tornou um problema para seu partido, o PL

José Casado
Veja

Jair Bolsonaro e Valdemar Costa Neto estão diante de um novo problema judicial: Carla Zambelli Salgado de Oliveira, 43 anos, deputada federal paulista pelo Partido Liberal. Ela usou dinheiro público, extraído do caixa do PL e destinado à campanha de um grupo de doze candidatos do partido, para custear um assessor na invasão do sistema de computação do Conselho Nacional de Justiça — acusa a Procuradoria-Geral da República.

O objetivo: falsificar pedidos de prisão e de bloqueio de bens do juiz Alexandre de Moraes, que no STF conduz inquéritos em que se destacam, entre os investigados, Bolsonaro e Costa Neto, além da própria Zambelli e o Partido Liberal.

ACUSAÇÃO PESADA – A procuradoria-geral denunciou a deputada ao Supremo, nesta terça-feira. Nas 45 páginas de acusação, lista relatórios de perícia, testemunhos e a confissão do assessor contratado para invasão do sistema do CNJ, Walter Delgatti — personagem na operação de clonagem de mensagens de procuradores e juízes da Lava Jato.

Pela descrição do caso, a deputada usou recursos do PL de forma dissimulada — “por interpostas pessoas” — para financiar o assessor na invasão do CNJ e na falsificação de mandados judiciais contra o ministro Moraes.

Entre eles a expedição de ordem para bloqueio de bens no valor da multa (21 milhões de reais) aplicada ao Partido Liberal por contestar, sem provas, o resultado da eleição presidencial de 2022.

OUTROS INQUÉRITOS – Zambelli é acusada, também, em outros inquéritos criminais. Um deles por perseguir de arma em punho um homem nas ruas do Jardim Paulista, em São Paulo, na véspera da votação.

Muitos no partido acham que ela contribuiu para a derrota eleitoral de Bolsonaro.

A denúncia contra a deputada e o assessor foi anexada a um inquérito cujo relator é o ministro Moraes, que, paradoxalmente, é a principal vítima. Em tese, o caso deverá ser transferido a outro juiz.

Piada no G-20! Lula pretende “acalmar os ânimos” entre China, EUA e Europa

Brasil-Lula-2009-Charge-G-20-Charge de Mangabeira | Imagens de humor,  Fofura, Humor

Charge do Mangabeira (Arquivo Google)

Roseann Kennedy e Augusto Tenório
Estadão

O governo Lula tenta se colocar como mediador no impasse sobre barreiras comerciais entre países do G-20. Na reunião do grupo desta quinta-feira, 25, em Brasília, a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Tatiana Prazeres, e o Diretor do Departamento e Política Comercial do Itamaraty, Fernando Pimentel, tentarão acalmar os ânimos no imbróglio, que envolve a Europa, os Estados Unidos e dois parceiros do Brasil no Brics, a China e a Índia.

Atualmente, há um impasse entre um grupo de países que reclama de medidas adotadas pelos europeus sob o argumento ambiental e o grupo que defende a necessidade das medidas restritivas.

PROTECIONISMO – A França, por exemplo, resiste a um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul sob o pretexto ambiental, mas foca em proteger seu agronegócio de uma competição com o setor brasileiro. A conversa, avaliam representantes do governo Lula, é difícil, mas necessária.

Como princípios gerais, o Brasil vai defender que ações para a sustentabilidade sejam transparentes, envolvam consultas ao setor privado, baseadas em ciência, não sejam mais restritivas do que o necessário e nem discriminatórias.

Na visão do governo brasileiro, por exemplo, a taxa de carbono da fronteira da União Europeia não atenderia a esses princípios. Mas Tatiana ressalta que a expectativa brasileira não é derrubar a taxa europeia, mas balizar as decisões futuras dos países.

SUSTENTABILIDADE – Em entrevista recente à Coluna do Estadão, Tatiana afirmou que “a agenda da sustentabilidade é uma prioridade para o governo brasileiro. Mas muitos países a usam para, na verdade, promover os seus interesses protecionistas”.

Ela também afirma que o objetivo é “viabilizar um entendimento sobre parâmetros em medidas que afetam o comércio. Essa é a agenda mais ambiciosa, mas é ao mesmo tempo onde nós entendemos haver maior potencial, maior contribuição, maior impacto”, acrescenta.

O ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, vice-presidente Geraldo Alckmin, ordenou que a pasta trabalhe para promover a economia de baixo carbono, ao mesmo tempo em que atua para combater o chamado protecionismo verde.

ENCONTRO DO G-20 – A agenda de reuniões do Grupo de Trabalho de Comércio e Investimento do G-20 começou nessa quarta-feira, 24, para discutir desenvolvimento sustentável e sua relação com o comércio e acordos de investimentos.

Também haverá debate sobre a reforma da Organização Mundial do Comércio, a presença das mulheres e comércio internacional o fortalecimento do Sistema Multilateral de Comércio.

Os países também aproveitam a agenda para reuniões bilaterais. Foram oito esta semana e mais três estão previstas para hoje. Participam: Estados Unidos, China, India, União Europeia, Reino Unido e países latinos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Preparem as pipocas. Vamos assistir a cenas hilariantes, com Lula da Silva a comandar os debates do G-20. É ele mesmo, o único entre os 20 governantes que já cumpriu 580 dias de cadeia por corrupção e lavagem de dinheiro e foi solto sem ser inocentado. E agora, de improviso e seu ler um só livro, ele vai ensinar ao resto do mundo como “acalmar ânimos” entre China, EUA e Europa. Depois, ainda empipocados, você poderão dizer: “Meninos, em vi!”. (C.N.)

Lava Jato se adaptou perfeitamente ao livro clássico “A Arte de Furtar”

Lava Jato: furacão em empresários, brisa em políticos – Blog do Robson Pires

Charge do Alpino (Yahoo Notícias)

Marcus André Melo
Folha

É difícil encontrar um malfeito no monumental “A Arte de Furtar” (1744), de autoria contestada, que não possa ser encontrado na Lava Jato, que completa agora dez anos. Talvez tenha ficado fora apenas o tema da apropriação pela Igreja dos bens dos hereges – no capítulo intitulado “Dos que furtam com unhas bentas”.

A nova fase da Lava Jato é de reação e revanche. Quatro desdobramentos recentes são ilustrativos: uma aliança assombrosa entre o PL e o PT, que são os proponentes da ação pela cassação de Moro; As decisões polarizadas no voto dos desembargadores – os nomeados por Lula votando a favor, os demais contra; as decisões diametralmente opostas de cortes internacionais e do STF em relação à Odebrecht: a punição pela justiça americana de dois filhos do ex-presidente do Panamá, que a justiça deste país colocou na cadeia, e que reconheceram o recebimento de propinas da empresa, contrastando com anulação de provas no Brasil; e no mesmo caso, a decisão de Dias Toffoli, proibindo que delatores da Odebrecht testemunhem no caso do pai (e agora do filho) que já cumpriu pena nos EUA.

OS MAIORES LADRÕES – Há um capítulo do “A Arte de Furtar” intitulado “Como os maiores ladrões são os que tem por ofício livrar-nos, dos mesmos ladrões”, que chama a atenção para o potencial de abuso de agentes investidos de autoridade. O caso aberrante da semana é o dos irmãos Brazão: um é conselheiro do tribunal de contas; outro, deputado federal. Quando os tribunais, MP, etc. passam a ser percebidos como tendo uma lógica essencialmente arbitrária, o problema muda de patamar, como mostrei aqui. Aqui o cenário será o descrito em a “Arte de Furtar”, cap. 5º. “Dos que são ladrões sem deixarem que outros o sejam”.

É difícil prever qual será o impacto deste estado de coisas? O sentimento público de indignação é crescente, legitimando narrativas antissistema.

A mais rigorosa pesquisa sobre o impacto da Mãos Limpas, na Itália, fornece perspectivas menos sombria, malgrado ter havido também naquele país uma reação brutal do sistema.

CHANCE DE REELEIÇÃO – A probabilidade de políticos envolvidos em corrupção serem reeleitos diminuiu 50 pontos percentuais porque os líderes partidários excluem os envolvidos das listas eleitorais (fechadas) porque anteciparam o impacto negativo dos escândalos.

Ao contrário dos eleitores que relutam em punir corruptos devido a laços clientelísticos, ideológicos, e identidades compartilhadas, os líderes partidários querem maximizar votos. Ganham punindo.

De forma semelhante, temendo o impacto eleitoral do seu voto muitos deputados votaram a favor da manutenção da prisão de Brazão. Outros se colocaram em seu lugar, e votaram contra, mas foram minoria. Luz no fim do túnel? Difícil ser otimista.

Lira avisa ao governo que o imposto síndical obrigatório não será recriado

Tribuna da Internet | Volta do novo imposto sindical é jogo sujo, com  reajuste de 200% em relação ao anterior

Charge do Lane (Arquivo Google)

Fabrício Julião
Poder 360

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira (24.abr.2024) que um projeto de lei que trata da volta do imposto sindical não será aprovado na Casa Baixa. O tema é de interesse do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que quer a imposição de uma “contribuição compulsória” dos trabalhadores aos sindicatos.

“Quando esse assunto vai a plenário ele não tem respaldo, não tem respaldo para invasão de terra, para mudança de leis através de decretos, portarias ou projetos”, afirmou Lira, durante debate realizado pela CACB (Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil).

Lira deixou claro que o Congresso tem a maior parte dos representantes como conservadores e liberais e que não vai aprovar o que considera como “retrocessos”, seja na sua gestão ou na de seu sucessor – caso seu indicado seja eleito – na presidência da Casa Baixa.

“Eu conversei com o ministro Marinho e disse a ele que se o plenário da Câmara sentir o cheiro de que ele está querendo alterar a reforma trabalhista ou retornar alguns assuntos que o Congresso não vota, através de resoluções, regulamentações e decretos, os PDLs irão a plenário e nós derrubaremos”, declarou o deputado. O imposto sindical foi extinto em 2017 durante o governo de Michel Temer (MDB) com a reforma trabalhista (Lei 13.467) e, de lá para cá, a contribuição passou a ser opcional. No entanto, a cobrança agora é feita previamente, e cabe ao trabalhador não sindicalizado informar que não pretende colaborar.

Em setembro de 2023, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu pela constitucionalidade da cobrança de contribuição assistencial dos não filiados ao sindicato em caso de acordo, convenção coletiva de trabalho ou sentença judicial. Ainda assim, a Corte entendeu que é direito do trabalhador se opor à cobrança, desde que “feito expressamente”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Essa questão é ponto crucial da democracia brasileira. Há quase 17 mil organizações de trabalhadores no Brasil, entre sindicatos, federações, confederações e centrais sindicais. No resto do mundo, só existem 1,7 mil sindicatos; O segundo país do ranking (EUA) tem apenas 130. Há algo de errado nisso, que significa um capitalismo selvagem, de exploração do trabalhador pelo sindicato. E tudo isso aconteceu devido à criação do imposto sindical obrigatório, que enriqueceu falsos sindicalistas. E agora Lula e o PT sonham em (?) recriar o imposto, que o Congresso extinguiu no governo de Michel Temer. (C.N.)

Cada vez mais destruída, a Palestina não consegue nem ser país-membro da ONU

Palestinos fazem fila para encher seus contêineres com água em Rafah, na Faixa de Gaza

Palestinos fazem fila para encher seus recipientes com água

Dorrit Harazim
O Globo

Não é preciso ser um Voltaire para definir a História como o estudo de todos os crimes do mundo — a começar pelas guerras. Numa segunda categoria desses crimes, mais silenciosos, mas igualmente ruinosos, está deixar passar oportunidades capazes de mudar a História para melhor. Nesta semana, sob instrução do democrata Joe Biden, 46º presidente dos Estados Unidos, seu vice-embaixador junto à ONU desempenhou o melancólico papel de vetar a admissão da Palestina como membro pleno das Nações Unidas.

Apesar de esperado, o veto solitário (Grã-Bretanha e Suíça se abstiveram, os outros 12 integrantes do Conselho de Segurança aprovaram a moção) pode ser considerado uma dessas oportunidades perdidas.

UM PAÍS DIFERENTE – Caso não tivesse sofrido veto, a resolução passaria à votação na Assembleia Geral, com aprovação certamente maior que o mínimo necessário de dois terços dos 193 países. Hoje, 140 das nações da ONU já reconhecem a Palestina como Estado.

Um acolhimento pleno com direito a voto e assento rotativo no Conselho de Segurança representaria um upgrade simbólico e político (mas não legal, claro) para o país que ainda não é país. Continuará, assim, sendo “não membro com status de observador”.

Autoproclamado Estado independente desde 1988, apesar de não ter soberania sobre seus territórios ocupados até hoje por Israel, a Palestina, de que a Faixa de Gaza faz parte, continua a ser este imenso encontro marcado e sempre adiado do mundo democrático com a História.

DIFÍCIL DE ENTENDER – Ao justificar o veto dos Estados Unidos, o vice-embaixador Robert Wood cometeu contorcionismos verbais para explicar que o veto contra a admissão do Estado Palestino na ONU não refletia oposição ao Estado Palestino. Difícil de entender. Soube-se também que, para evitar ser a única voz dissonante da votação, os americanos se empenharam em tentar aliciar outros integrantes do colegiado.

Cópias de memorandos do Departamento de Estado obtidas pelo site The Intercept atestam a pressão exercida sobre o Equador para que convencesse os embaixadores de Japão, Coreia do Sul e Malta (país que preside os trabalhos do Conselho neste mês) a se alinhar aos Estados Unidos. Não deu certo.

Como pano de fundo, havia a emergência de uma guerra entre Israel e seu inimigo existencial, o Irã. As duas fortalezas militares jamais haviam se confrontado mano a mano, preferindo acertar suas contas por meio de atentados terroristas, ataques cibernéticos, assassinatos e agentes intermediários.

CHUVA DE DRONES – Na madrugada do sábado anterior, porém, a chuvarada de mais de 300 drones e mísseis iranianos que incandesceu o céu de Jerusalém e se espraiou por todo o território israelense alterara essa realidade…

Ainda assim, foi uma resposta anunciada com antecedência aos atores-chave da região e calibrada para poder ser interceptada por Israel e seus aliados. Todos puderam se dar por satisfeitos e declarar vitória.

Seis dias depois, o inevitável revide israelense revelou-se ainda mais contido, mais cirúrgico — um ataque de drones atingiu a base militar de Isfahan na sexta-feira, sem que a instalação nuclear iraniana ali fincada fosse atingida. Atendeu à pressão de seu principal aliado, os Estados Unidos, e de coadjuvantes, tanto europeus como árabes, para baixar a pressão.

“LIMPAR” RAFAH – Fica a pergunta: em troca de que os radicais do governo Netanyahu aceitaram comedimento contra o Irã? A moeda de troca talvez seja Rafah. Na próxima terça-feira, terão transcorrido 200 dias desde a chacina terrorista do Hamas contra civis israelenses.

A retaliação desencadeada pelas Forças de Defesa de Israel — eliminação radical do Hamas, mesmo que ao custo da asfixia da vida civil na Faixa de Gaza — ainda não está completa. Falta limpar Rafah, a cidade-refúgio do Sul onde mais de 1 milhão de palestinos desenraizados do Norte se somam aos famintos locais e onde o emaranhado de túneis usados pelos terroristas ainda não foi implodido.

Em 200 dias de operação terra-arrasada, 133 reféns israelenses (vivos ou mortos) continuam em mãos do Hamas devido ao estancamento das negociações por um cessar-fogo. Para o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, a contenção contra o Irã pode ter valido a pena se conseguir convencer Biden da necessidade de estrangular Rafah — condicional à remoção prévia daquela multidão sem rumo. Difícil.

MUITO DIFÍCIL – Tudo o que tange a Palestina é historicamente difícil. O próprio New York Times, jornalão de referência para boa parte do mundo, atualiza constantemente as orientações sobre os termos a ser usados por jornalistas do matutino que cobrem o conflito.

Segundo um memorando interno obtido por Jeremy Scahill, cofundador do Intercept, é recomendada a restrição ao uso de termos como “genocídio” e “limpeza étnica”; a denominação “territórios ocupados”, em referência às terras palestinas da Cisjordânia, Gaza e parte de Jerusalém, deve ser evitada.

“Palavras como matança, massacre, carnificina muitas vezes contêm mais emoção do que informação. Pensem muito antes de usá-las como sendo suas”, sugere também o memorando. Difícil.

Novo penduricalho beneficiará todos os servidores, alerta consultor do Senado

Políticos, Chega de Mordomia

Charge do Dum, Arquivo Google

Nicholas Shores
Veja

A PEC do Quinquênio, que concede à elite do funcionalismo um bônus salarial de 5% para cada cinco anos de serviço, ganhou na CCJ do Senado uma autorização “indefinida” que pode gerar um efeito cascata ilimitado e estender a benesse a qualquer cargo público no país, afirma a Consultoria de Orçamentos, Fiscalização e Controle do Senado.

A proposta original do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PDS-MG), beneficiava os magistrados e os membros do Ministério Público. O parecer de Eduardo Gomes (PL-TO) na CCJ incluiu os membros dos tribunais de contas, os advogados públicos, os defensores públicos e os delegados federais.

ALTÍSSIMO CUSTO – Na nota técnica, o consultor legislativo Fernando Bittencourt estimou que o quinquênio para essas categorias custaria 25,8 bilhões de reais em 2024 (considerando o ano cheio), 27,2 bilhões de reais em 2025 e 28,6 bilhões de reais em 2026, em um total de 81,6 bilhões de reais em três anos.

Contudo, o parecer da CCJ, que vai passar nesta quarta-feira pela segunda de cinco sessões de discussão no plenário, do Senado antes de ir à votação, “introduz uma autorização indefinida para extensão a quaisquer cargos e carreiras por parte de atos dos Poderes e órgãos autônomos de cada ente, a qual impede a identificação de quais seriam os beneficiários adicionais”.

“O efeito da parcela relativa às demais extensões possíveis do benefício permitidas pelo texto da proposição é materialmente impossível de calcular, dada a impossibilidade de especificar quais seriam tais cargos”, escreve o consultor.

BENEFÍCIO GERAL – O especialista afirma na nota que a autorização aberta pela versão atual da PEC abre caminho para “um aumento de proporções similares a toda a despesa de pessoal de todos os entes, limitado tão somente pela deliberação política de cada um e pela distribuição de tempo de serviço nos cargos”.

Há, de acordo com o consultor, “grande” probabilidade de interpretações administrativas e judiciais estenderem a benesse dos delegados da PF para todas as carreiras policiais. 

A brecha na PEC, avalia Bittencourt, cria “possibilidades intermináveis” para reivindicações de peritos, agentes ou investigadores da Polícia Federal, policiais penais e rodoviários federais, oficiais, escreventes e demais servidores da Justiça, agentes de fiscalização, assessores legislativos e militares.

CONSEQUÊNCIAS – Em um exercício do raciocínio interpretativo que a PEC do Quinquênio pode desencadear, o consultor questiona: “Se (a) razão de perceberem o benefício for o de serem formados em direito, também o professor universitário dessa especialidade não o teria? Mas se esse professor o tivesse, porque não todos os demais professores que exercem o mesmo papel formador?”

“Isso contraria o princípio da certeza do direito, levará a uma sequência interminável de reivindicações de enquadramento (a qual não terá parâmetros na Constituição para ser decidida) e, para efeitos de qualquer estimativa, torna materialmente impossível sequer imaginar o alcance dos beneficiários imediata e imperativamente beneficiados pela PEC – no limite, centenas de cargos ou carreiras distintos poderiam ser abrangidos por essa interpretação ampliativa”, conclui o consultor.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É incrível que esse projeto tipo saco sem fundos tenha sido apresentado por um senador que se diz advogado e tem um escritório de alto gabarito em Belo Horizonte. Se quer falir a União, que Pacheco então invente um projeto que beneficie todos os brasileiros, e não apenas os servidores, que estão aguardando merecido aumento de salários, mas isso é outro departamento. (C.N.)

Petrobras ajuda Haddad e aceita pagar os 50% dos dividendos extraordinários

Petrobras (PETR4): Quem é Jean Prates, cotado para cargo de presidente da  estatal – Money Times

Vamos ver e agora deixam Prates trabalhar pela Petrobrás

Carlos Rydlewski
Metrópoles

A Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária da Petrobras aprovou, nesta quinta-feira (25/4), a distribuição de 50% dos dividendos extraordinários da estatal, que totalizam R$ 43,9 bilhões. A decisão, que criou forte polêmica nos últimos meses, seguiu orientação do governo federal, o maior acionista da empresa, que deve receber cerca de R$ 6 bilhões do valor.

Os 50% dos dividendos, cerca de R$ 21,9 bilhões, serão pagos em duas parcelas. A primeira delas em 20 de maio e a segunda em 20 de junho.

FORTE CRISE – A questão do pagamento dos dividendos provocou forte crise na Petrobras, com repercussão nas ações da empresa negociadas na Bolsa brasileira (B3). O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, era contra o repasse da quantia e contava com o apoio de outros integrantes do governo e do PT, como o ministro da Casa Civil, Rui Costa.

Os representantes dos acionistas minoritários, que compõem o Conselho de Administração da empresa, queriam o repasse de 100% da quantia.

No meio da polêmica, a diretoria da Petrobras, liderada pelo presidente da empresa, Jean Paul Prates, que participou da assembleia de acionistas, sugeriu o pagamento de metade do valor.

CONSELHO APROVA – Na última semana, o Conselho da companhia aceitou a proposta dos 50%. Dos 11 conselheiros, 10 votaram a favor da divisão. O único voto contrário teria sido dado pela representante dos funcionários, Rosangela Buzanelli. O encontro desta quinta-feira, com a presença de Prates, contou com a participação de 91,92% dos acionistas ordinários (com direito a voto) da estatal.

A assembleia ainda vai eleger os novos integrantes do Conselho. Ao todo, 14 nomes concorrem a 10 assentos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A crise era conversa fiada e há dez dias a cotação das ações já vem superando os resultados anteriores. Agora, o Conselho precisa deixar Prates trabalhar, para que a Petrobras ajude o país a retomar o crescimento. E já ia esquecendo: o pagamento extra vai ajudar o ministro Haddad a melhorar as contas. (C.N.)

Proposta da reforma tributária bate de frente com projetos do setor privado

Charge do Carlos (Arquivo Google)

Eduardo Cucolo
Folha

A proposta do governo de regulamentação da reforma tributária bate de frente, em muitos pontos, com os projetos apresentados nas últimas semanas pelo grupo paralelo formado por congressistas e representantes do setor privado.

A lista de bens e serviços contemplados com isenções e alíquotas reduzidas e o “cashback” são alguns exemplos dos embates que devem marcar as discussões nos próximos três meses —prazo previsto para votar o texto na Câmara.

MENOS EXCEÇÕES – Na entrega da proposta aos congressistas, o secretário Bernard Appy afirmou que um número menor de exceções permite manter a alíquota dos novos tributos próxima de 26,5%. Lembrando que a tributação padrão atual é de 34%, como citou o ministro Fernando Haddad (Fazenda).

Outro ponto polêmico é a inclusão de automóveis (exceto os menos poluentes) e bebidas açucaradas na lista de produtos com tributação adicional pelo Imposto Seletivo, pelos danos causados por esses bens à saúde e ao ambiente.

Projeto prevê desoneração integral de 18 categorias de produtos da cesta básica. Além disso, a baixa renda poderá ter ‘cashback’ de até 50% do tributo na conta de luz.

ALÍQUOTAS REDUZIDAS – Reforma tributária prevê alíquota reduzida para profissionais liberais de 18 áreas, mas veículos e fumo poderão ter imposto maior, e ultraprocessados são poupados. Lista da educação com alíquota reduzida na reforma tributária inclui línguas de povos originários

O governo foi mais comedido ao listar apenas três minerais que serão tributados pelo mesmo motivo (minério de ferro, petróleo e gás natural), mas decidiu não isentar a exportação desses produtos.

Há também pontos na proposta da Fazenda que vão ao encontro dos projetos do grupo paralelo, como a redução de obrigações tributárias acessórias e a busca pela harmonização entre as atuações de União, estados e municípios. Cerveja, cigarro e refrigerantes podem ter taxa extra com imposto seletivo

NÃO-CUMULATIVIDADE – Merecem ainda uma análise mais detalhada as soluções propostas para dois grandes problemas do sistema atual: a garantia da não-cumulatividade e a mudança do local de tributação da origem para o destino.

Uma das autoras da proposta que resultou na emenda constitucional da reforma, a tributarista Vanessa Canado sempre defendeu que os projetos de um governo devem se basear naquilo que é o melhor do ponto de vista técnico. Concessões políticas, se houver, devem ser feitas durante o debate público no Congresso.

O texto apresentado nesta quarta-feira (24) dá ao governo uma boa margem de negociação. A apresentação da alíquota estimada mostra qual será o custo de mudanças que busquem apenas benefícios setoriais, não o aprimoramento sempre necessário de uma proposta tão complexa.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Agora, vêm as discussões no Congresso, com grupos de lobbies pressionando de todos os cantos, até que se chegue à proposta final, antes tarde do que nunca, porque essa reforma começou a ser esboçada ainda na fase de transição do governo. (C.N.)

Lula se irrita com governo ‘empacado’, e o clima ruim contamina o Planalto

Lula está cada vez mais irritado com ministros e Planalto hoje é chamado de "ninho de cobras"

Lula acha que o governo vai bem e a comunicação vai mal

Monica Gugliano
Estadão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está exasperado. Por mais reuniões que faça, por mais conversas que tenha, o governo parece empacado. Atolado, como se fosse um carro que não consegue sair do lugar. Cansado de tanta pasmaceira, Lula deu um puxão de orelhas em duas das figuras mais importantes do governo.

Dirigindo-se ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, recomendou que ele lesse menos livros e falasse mais com o Congresso. A mesma cobrança foi feita ao vice-presidente, Geraldo Alckmin, de quem exigiu mais agilidade e que também fale mais com o Congresso.

DOIS FATORES – Os interlocutores que tem conversado com Lula acreditam que dois fatores têm perturbado o humor presidencial: o primeiro deles é a constante queda na popularidade.

A segunda é a de quem se sente sobrecarregado com tarefas que caberiam aos seus ministros e auxiliares. “O governo está disfuncional”, disse um integrante do primeiro escalão que pediu para não ser identificado.

Um dos problemas é que os ministros decisivos nessa articulação não se entendem e não têm uma meta comum para a administração. Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Fernando Haddad (Fazenda) raramente concordam, a não ser quando fingem que estão pensando o mesmo. Antes de ser incluído no carão de Lula, o ministro Padilha marcou conversas com líderes da base aliada.

NINHO DE COBRAS – O clima contamina o resto do Palácio, chamado em Brasília. por muitos de “ninho de cobras”. Ali, a canelada rola solta e até as secretárias e os garçons brigam por alguma influência junto às autoridades.

Lula tem procurado conversar com parlamentares, com os presidentes da Câmara e do Senado. Só que, nos dias de hoje, tirando a influência desses personagens e com exceções, é claro, o Parlamento funciona como se fosse uma MEI, cada um tem seus próprios interesses e briga por eles. Isso dificulta ainda mais qualquer negociação.

Além disso, Lula, segundo esse mesmo articulador, acha que está fazendo o seu trabalho e o dos seus ministros, que deveriam dar prioridade às agendas com parlamentares a ouvir as reivindicações. Lula mostra os números da economia, positivos, e crê que se a população fosse bem informada sobre eles, a situação seria diferente.

MAIS PUBLICIDADE – Mas Lula acha que seu primeiro escalão não fala nem com o Congresso nem com o povo. Para tentar mudar esse cenário, a Secretaria de Comunicação investirá uma dinheirama em ações nas redes sociais.

Pode ser que as conversas e as propagandas do governo funcionem.

Entretanto, se ambas não derem certo e o governo não conseguir ministros para mostrar suas realizações e melhorias propiciadas – que não foram poucas -, Lula deve mandar esse pessoal para a feira. Só a laranja aumentou 40%.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O governo está gastando uma fábula com a imprensa amestrada, com prioridade à amestradíssima Organização Globo, aos sites e blogs petistas. Agora, vai anunciar mais nas redes sociais. Será que o X (antigo Twitter) também será aquinhoado? (C.N.)

Bancada do agro avança seu pacote “anti-MST” com 17 propostas rurais

Escudo de Cunha, bancada 'Bala, Boi e Bíblia' faz avançar pauta conservadora

Charge do Flávio (Arquivo Google)

Rebeca Borges e Mariah Aquino
Metrópoles

A Câmara dos Deputados teve, nos últimos dias, avanços relevantes na tramitação de projetos de lei (PL) contrários à invasão de terras. As ações ocorrem em paralelo às ações do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pela reforma agrária durante o mês de abril. O período é chamado de Abril Vermelho por militantes do grupo.

Um projeto que visa frear o avanço de invasores de terra tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa e chegou a ser incluído na pauta da semana. Além disso, um segundo PL sobre o assunto teve urgência aprovada no plenário da Câmara. As pautas fazem parte de um pacote com 17 proposições “anti-invasão”, impulsionadas pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

CONTRA O MST – O avanço é fruto de mobilizações da bancada ruralista, que critica as ações realizadas pelo MST ao longo da semana. Segundo o movimento, em abril, foram realizadas 24 ocupações de terras e montagem de acampamentos em 11 estados do país.

A escalada das leis ruralistas no Congresso tem como pano de fundo o lançamento de um programa do governo federal para destinação de terras à reforma agrária no Brasil. Divulgada na última segunda-feira (15/4) com o nome de Terra da Gente, a iniciativa cria prateleiras de terras, ou seja, conjuntos de áreas que podem ser disponibilizadas para o assentamento de famílias de agricultores.

A iniciativa traz alternativas à tradicional desapropriação de terras para a aquisição de imóveis que serão destinadas à reforma agrária. A estimativa é que 295 mil famílias possam ser atendidas até 2026. Além disso, o governo anunciou R$ 520 milhões para a aquisição de terras para a política agrária, sendo R$ 383 milhões direcionados ao assentamento de pequenos agricultores e R$ 137 milhões destinados a investimentos em territórios quilombolas.

ATRITO COM LIRA – A inclusão de pautas contra invasão de terras, no radar da Câmara, também ocorre em meio a um atrito entre o governo federal e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). No início da semana, Wilson César Lira, primo do deputado, foi exonerado do cargo de superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de Alagoas. Lira não teria sido avisado previamente da decisão e não gostou da medida.

Conforme publicou a coluna de Igor Gadelha, do Metrópoles, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, conversou com o presidente da Câmara e disse que ele poderá indicar um substituto para o cargo.

O movimento de Teixeira não foi suficiente para reduzir a tensão: na noite de terça-feira (16/4), o plenário da Câmara aprovou o regime de urgência para o Projeto de Lei (PL) nº 895/23, que acaba com benefícios, auxílios, inclusão em programas sociais federais e nomeação em cargos públicos para ocupantes e invasores de propriedades rurais. O texto tem autoria do deputado Zucco (PL-RS), que presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST em 2023.

SEM ACORDO PRÉVIO – De acordo com líderes da base governista, ouvidos sob reserva pelo Metrópoles, não houve acordo prévio com Lira para a votação da urgência desse projeto. O tema chegou a ser debatido em reunião com lideranças partidárias, mas a análise da urgência pegou o governo de surpresa.

A situação chegou a ser duramente criticada pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). “Isso não pode acontecer, é quebra de acordo, é ruim para o funcionamento do parlamento”, disse em plenário.

Além do projeto que teve a urgência aprovada em plenário, nova pauta está na mira da bancada do agro. É o PL nº 8.262/17, que autoriza proprietários de terra a pedirem apoio de forças policiais para a retirada de invasores, mesmo sem ordem judicial.

PEDIDO DE VISTA – O texto tramita na CCJ, comissão presidida pela deputada Caroline de Toni (PL-SC), integrante da bancada ruralista. A matéria não foi votada porque houve um pedido de vista coletivo, mobilizado pela base governista.

O pacote da bancada do agro com 17 proposições também conta com as seguintes pautas de destaque: PL nº 3.768/21: amplia a participação dos municípios nos processos de regularização fundiária; PL nº 1.198/23: eleva a pena de detenção para o crime de esbulho possessório; PL nº 4.128/23: obriga movimentos sociais a ter CNPJ.

Procurado pelo Metrópoles, o presidente da FPA, Pedro Lupion (PP-PR), afirmou que aguarda a aprovação das propostas, assim que elas forem pautadas por Lira. Ele acusa o governo federal de ser “conivente” com movimentos de ocupação de terras.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A inabilidade do governo é assunto a ser estudado por especialistas em comportamento humano. O setor agropecuário jamais deveria ser problema. Se fosse hábil, o governo conseguiria atender aos dois setores – os produtores rurais e os sem-terra, cujos interesses são conciliáveis, porque os sem-terras querem áreas improdutivas e os ruralistas são profissionais e não deixam que suas terras se tornem improdutivas. Mesmo assim, o governo não consegue atender nem a um nem a outro. (C.N.)

Há anomalia num país em que um político inelegível atrai multidões 

Brasil Sem Medo - “O mundo começa a descobrir a verdade sobre o Brasil”, diz Bolsonaro à multidão em Copacabana

Nenhum outro político consegue levar tanta gente às ruas

J.R. Guzzo
Estadão

Quanto mais cedo a elite pensante deste país reconhecer a existência de uma anomalia incurável na política brasileira de hoje, tanto melhor será para a manutenção e o desenvolvimento da democracia. A anomalia é um fato que está à vista de todo mundo: o ex-presidente Jair Bolsonaro é o líder político mais popular do Brasil, algo que pode ser demonstrado fisicamente pelas multidões que atrai a cada vez que comanda uma manifestação de rua.

Isso pode ser francamente ruim; muita gente, por sinal, tem certeza que é. Bolsonaro, segundo essa maneira de ver as coisas, foi o pior presidente que o país já teve em sua história, e tudo o que vem dele é um perigo claro e imediato para a sociedade, o regime democrático e a própria civilização em geral. Nada disso, porém, elimina o fato de que ele é o único político brasileiro capaz de levar tanta gente para a rua – e esse político está proibido de disputar qualquer cargo público pelos próximos oito anos. Não foi condenado até agora na Justiça, mas é inelegível.

E O ADVERSÁRIO? – Não pode ser normal, e não é mesmo normal. Fica mais anormal ainda quando o adversário político número 1 do candidato que não pode ser eleito é um presidente da República que não pode andar 50 metros em qualquer rua do país que preside. Tem medo, ou tem certeza, de levar vaia.

Na verdade, Lula não vai a nenhum lugar público do Brasil há dezessete anos, desde 2007 – não foi, sequer, aos jogos da Copa do Mundo de 2014, já no governo de Dilma Rousseff. Seus admiradores dizem que ele não precisa aparecer em público, pois foi declarado pelo TSE como vencedor das eleições de 2022, com pouco mais de 50% dos votos.

De fato, precisar ele não precisa; não há nenhuma lei no país obrigando o presidente a comparecer à praça pública, e muito menos a encher de gente a Avenida Paulista ou a Praia de Copacabana, como seu inimigo acaba de fazer. Mas é óbvio que alguma coisa está profundamente errada numa situação política que fica assim.

NEGAR A REALIDADE – A reação mais comum do governo e de seu sistema de apoio é negar a realidade – ou, então, dizer que as manifestações do povo são uma ameaça à democracia por parte da “extrema direita”. O presidente do STF, por exemplo, já disse que a presença da população na rua serviria para se contabilizar “quantos fascistas” há no Brasil.

Nenhuma dessas duas coisas faz nexo. Não há democracia possível se a realidade é anulada; na verdade, a abolição dos fatos é característica fundamental das ditaduras. Também é uma clara ruptura com a lógica comum sustentar que o cidadão que vai à rua para participar de uma manifestação política ordeira, espontânea e legal é um extremista que quer destruir a democracia.

Ao contrário: o direito de livre reunião, quando exercido dentro da lei, é uma das exigências mais elementares de qualquer regime democrático. A esquerda condena os comícios de Bolsonaro? A resposta é fazer comícios maiores a favor de Lula e do STF.

HAVIA MUITA GENTE – Dizer a verdade – como o governo, o STF e o seu entorno exigem dos que discordam deles nas redes sociais – não pode ser um ato antidemocrático. Um militante da esquerda poderia, perfeitamente, dar a seguinte resposta a quem lhe perguntasse se havia muita gente na manifestação do último domingo no Rio de Janeiro:

“Sim, havia muita gente”. Isso não vai fazer dele um bolsonarista. É apenas uma constatação de fatos. Como a democracia seria ameaçada com a exposição da realidade? É claro que multidões na rua não dão razão a ninguém.

Mas é claro, também, que fazer de conta que não está acontecendo nada, ou que aquilo que está acontecendo é um “golpe”, não vai ajudar a democracia brasileira a andar nem um milímetro para a frente.

 Reação da opinião pública ao STF é inédita e sem paralelo em democracias

Quem confia no sumpremo tribunal federal STF? - Quora

Charge do Zappa (humortadela)

Marcus André Melo
Folha

Um terço da população avalia o trabalho do STF como ruim ou péssimo, enquanto outro terço o faz como ótimo ou bom. O índice de aprovação é mais alto entre os que aprovam o desempenho do governo Lula (55%) e, na direção oposta, a taxa de reprovação é mais elevada entre os que o reprovam (63%) (Datafolha março/2024).

O Brasil não é exceção: a avaliação da Suprema Corte americana é a mais baixa em 50 anos e a brecha entre democratas (46%) e republicanos (68%) nunca foi tão alta: 44 pp. Pela primeira vez, mais gente desaprova (54%) do que aprova a instituição.

GANHADOR/PERDEDOR – O que explica avaliações e sentimentos díspares em relação às instituições políticas na opinião pública? Na literatura especializada o principal fator explicativo é o hiato ganhador-perdedor (winner-loser gap).

As taxas de confiança/aprovação de instituições e do governo, ou de satisfação com a democracia, são muito mais elevadas entre os “ganhadores” —eleitores que votaram no governo (coalizão) ou simpatizam com ele— do que entre os “perdedores” (os demais).

No caso do Poder Judiciário, há uma dinâmica peculiar: os apoiadores do presidente ou primeiro-ministro tendem a avaliar negativamente o Poder Judiciário, o qual limita a ação do Executivo. E vice-versa.

EUROPA E ÁFRICA – Estudo com 34 democracias europeias, intitulado “Between Impartiality and Politicization: Confidence in the Judiciary among Political Winners and Losers” (2024), traz evidências claras quanto ao hiato ganhador/perdedor. Estudo similar com 34 países africanos chegou a mesma conclusão.

A avaliação dos governos e do parlamento é muito desfavorável entre os perdedores. A brecha é menor em relação às Supremas Cortes.

No caso europeu, desagregando-se a informação por tipo de partido, o hiato aumenta entre eleitores de partidos populistas em relação ao não populistas. É forte no primeiro grupo, mas inexistente no segundo.

GRAVE EQUÍVOCO – Tratar estas questões como ideológicas ou doutrinárias, como é comum no debate público, é grave equívoco. Apoiadores do PT vilipendiaram o STF durante o mensalão e o impeachment de Dilma (embora os juízes nomeados pelo PT fossem maioria), quando eram governo. Quando passaram à oposição, a avaliação mudou radicalmente.

E vice-versa: sob Bolsonaro, o STF tornou-se vilão. Paradoxalmente, continua sendo pelo desdobramento das ações.

Dois fatores geram hiperpolitização no sentimento em relação ao STF: sua a ampla jurisdição criminal e o fato de que este passou a ser objeto de ataque institucional e individuais, tornando-se parte do litígio não só arbitro, o que nunca ocorrera antes, como já discuti aqui na coluna. Estes dois aspectos conferem ao fenômeno características únicas, sem paralelo em outras democracias.

Moraes prestigia bolsonarista que critica “cidadãos de toga” e “canetaço” do STF

O ministro Alexandre de Moraes, durante sessão do STF

Ministro Moraes aceitou confraternizar com os inimigos

Rafael Moraes Moura
O Globo

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), está protagonizando em Londres um evento jurídico promovido por uma empresária bolsonarista que já escreveu artigos repudiando o “canetaço” do Supremo e criticando “cidadãos de toga” que “afrontam a democracia”.

Moraes vai participar de um painel sobre os “Mecanismos de aprimoramento do processo eleitoral”, nesta quinta-feira (25), e ainda da sessão de encerramento do evento, ao lado do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e dos ministros do Supremo Gilmar Mendes e Dias Toffoli.

TROPA DE ELITE – Além deles, também participam do evento, promovido pelo Grupo Voto, ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e integrantes do primeiro escalão do governo Lula, como o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, o advogado-geral da União, Jorge Messias, e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues.

Ao todo estão entre os convidados três ministros do STF, cinco do STJ e dois ministros do governo Lula. Desses, Moraes e Raul Araújo também são ministros do TSE.

Além da empresária Karim Miskulin, presidente do Grupo Voto, financia o evento de três dias o empresário Alberto Leite, do grupo FS Security – outro entusiasta do bolsonarismo e que se declara admirador de Musk.

CENSURA, NÃO! – Em 15 de dezembro de 2022, no fim do governo Bolsonaro, Karim Miskulin publicou uma análise sobre o cenário nacional “feita, sobretudo, pela Karim cidadã”. E protestou: “Censura, não!”, escreveu, referindo-se aos bloqueios de contas em redes sociais, sem citar explicitamente Moraes.

Agora, ela é anfitriã no evento, que  ocorre no luxuoso hotel The Peninsula, próximo do Palácio de Buckingham, com diárias que

O STF e o TSE informaram à equipe da coluna que não bancaram as despesas de viagem dos magistrados, mas o grupo Voto não respondeu se pagou as passagens e a estadia dos ministros. O STJ também não se manifestou.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Quando comentamos aqui na Tribuna da Internet que a política brasileira é a mais surreal do mundo, há quem diga que se trata de um exagero. Mas logo surge a confirmação. No evento que começa hoje em Londres, por exemplo, temos bolsonaristas e lulistas fingindo confraternizar em cenário de luxo, mas na verdade se odeiam desabridamente. Ah, Brasil… (C.N.)

Luta anticorrupção não pode ser criminalizada, diz Transparência 

Sentado, o presidente do conselho da entidade Transparência Internacional, François Valérian, durante entrevista exclusiva à Folha em hotel no bairro de Copacabana no Rio de Janeiro

No Rio, Françoise Valerian defende a Lava Jato

Flávio Ferreira
Folha

Em visita ao Brasil, o presidente do conselho da Transparência Internacional (TI), François Valérian, defendeu a entidade de combate à corrupção das acusações feitas em processo no CNJ (Conselho Nacional de Justiça) que investiga o acordo feito pela Petrobras na operação Lava Jato, no qual a TI atuou como conselheira.

Em entrevista à Folha, Valérian disse que as alegações no CNJ configuram mais uma situação de assédio judicial contra a entidade e não se pode permitir a “perseguição e criminalização do trabalho daqueles que lutam contra a corrupção de indivíduos poderosos”.

Em relatório para o CNJ, a Polícia Federal afirmou que a relação de proximidade da Transparência InternacionaI com os procuradores da Lava Jato teria beneficiado diretamente a TI. Qual a posição do sr. sobre essa acusação?
Primeiro, fomos alvo das notícias falsas de que a TI estava recebendo dinheiro das multas da Lava Jato e havia estabelecido sua presença no Brasil com esse propósito. Quando ficou claro que não havíamos recebido um centavo e as pessoas perceberam que estamos presentes em mais de cem países, as notícias falsas mudaram.

No mesmo relatório, a Polícia Federal levanta uma hipótese criminal de que o então procurador da República Deltan Dallagnol revelou à Transparência “informações contidas em documento preparatório que deviam permanecer em segredo”…
A principal razão da minha visita ao Brasil foi expressar o apoio e a confiança do movimento global da TI no trabalho ético e corajoso realizado pelo nosso capítulo brasileiro, que tem sido alvo de campanhas difamatórias e assédio judicial há cinco anos. Além disso, vim em um esforço para envolver diferentes atores para que o Brasil possa recuperar sua liderança global na luta contra a corrupção, assim como tem feito na agenda climática e na luta contra a pobreza.

E a Lava Jato?
Como a TI Brasil afirmou muitas vezes, os erros e excessos que inegavelmente ocorreram na Lava Jato devem ser corrigidos, quaisquer responsabilidades devidamente atribuídas e, acima de tudo, melhorias legais e institucionais promovidas para preservar e fortalecer a luta contra a corrupção, evitando que seja cooptada por interesses políticos. O que não pode ser permitido é a perseguição e criminalização do trabalho daqueles que lutam contra a corrupção de indivíduos poderosos.

Como o sr. avalia o voto do corregedor do CNJ, Luis Felipe Salomão, no qual ele afirmou que os acordos da Lava Jato instituíram uma espécie de sistema “cash back” com autoridades estrangeiras?
Nunca ouvi falar de um sistema de reembolso em cooperação criminal internacional. O que sei é que, há décadas, o mundo vem discutindo o retorno dos recursos da corrupção aos seus países de origem. Hoje, convenções já determinam isso, assim como leis nacionais, como na França. Portanto, parece peculiar para mim que um caso de cooperação penal internacional, que resultou na efetiva sanção do maior esquema de suborno transnacional da história e no retorno de recursos significativos ao país onde as vítimas estavam, possa se tornar, ou ser interpretado, como um sistema de “cash back” da corrupção, liderado por agentes da lei.

A Transparência Internacional assinou um memorando e foi a conselheira da força-tarefa da Lava Jato no acordo com a Petrobras. Isso não indica uma posição a favor de um dos lados nos processos, no caso a favor do Ministério Público Federal, da acusação?
Não estamos tomando partido. O que a TI tem defendido é a boa governança e transparência dos acordos, esse foi e tem sido o único propósito. Nosso papel é constantemente apoiar os sistemas judiciários a fazerem o trabalho contra a corrupção. Então, eu não vejo como inadequado que grupos anticorrupção trabalhem com promotores ou juízes anticorrupção. Cada um com seu papel, mas sim, deve haver uma cooperação.

A TI realizou um encontro no Brasil para discutir os temas de corrupção e meio ambiente. Em quais situações eles se entrelaçam?
Primeiro, o planeta foi levado à beira de uma catástrofe climática por causa da extração de carvão, petróleo e gás ao longo dos últimos dois séculos, e a corrupção dominou essas indústrias na maior parte dos últimos dois séculos. Então, a crise climática é amplamente causada pela corrupção. Agora, precisamos garantir a transição energética. Mas para fazer isso, precisamos ter políticas que levem a esse objetivo, e não queremos que as políticas sejam capturadas pelos interesses privados que abusam do lobby oculto para capturar políticas. Portanto, a corrupção está realmente no coração da nossa luta contra a crise climática.

A Transparência Internacional tem alertado sobre o problema da impunidade?
O problema da impunidade está relacionado à falta de separação de Poderes e à falta de força do sistema Judiciário. Em muitos países há essa dificuldade em garantir uma aplicação eficiente da justiça. O que observamos em um certo número de países são retrocessos. Observamos no Brasil que evidências foram anuladas no caso Odebrecht e Lava Jato recentemente, que multas estão sendo suspensas. Isso é preocupante porque o Brasil deveria desempenhar um papel importante na luta mundial contra a economia global da corrupção, dado o tamanho econômico do Brasil, dada a importância geopolítica do Brasil. Então, o Brasil deveria desempenhar esse papel, e bem, não é exatamente o caso agora.