Boulos está muito atrasado na análise sobre o eleitorado de esquerda

Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) durante debate da Band

Boulos parou no tempo e acabou sendo engolido por Ricardo Nunes

Bernardo Mello Franco
O Globo

Na quinta-feira, Ricardo Nunes deu uma desculpa esfarrapada para faltar a mais um debate em São Paulo. Na ausência do prefeito, Guilherme Boulos concedeu uma entrevista. A conversa revisitou temas como o apagão e as pesquisas eleitorais. Na passagem mais reveladora, o candidato ensaiou uma autocrítica sobre as dificuldades da esquerda nas urnas.

Boulos disse que a votação de Pablo Marçal “acendeu um alerta” no campo progressista.

“MEA CULPA” – “Tivemos a compreensão e a humildade de fazer um mea-culpa e uma autocrítica. Nós não dialogamos com um setor importante dos trabalhadores”, afirmou ao consórcio Folha/UOL/RedeTV!.

O candidato admitiu que a esquerda “deixou de falar” com eleitores que desistiram do emprego formal para “buscar sua prosperidade de outra forma, por conta própria”. “Na ausência de diálogo com este segmento, a extrema direita ocupou o espaço”, constatou.

O diagnóstico de Boulos está correto, mas parece atrasado.

EXEMPLO DE DORIA – O fenômeno que ele descreve já atropela seu grupo político há pelo menos três eleições paulistanas.

O empreendorismo despontou em 2016, quando o empresário João Doria, dono da revista “Caviar Lifestyle”, apresentou-se como “João Trabalhador”. Ele venceu no primeiro turno, triunfando em redutos tradicionais do PT.

No ano seguinte, a Fundação Perseu Abramo apresentou a pesquisa “Percepções e valores políticos nas periferias de São Paulo”. O documento alertou os petistas para uma transformação em sua base social.

IDEOLOGIA DO MÉRITO – Os trabalhadores haviam comprado a “ideologia do mérito” e a teologia da prosperidade, propagada por pastores evangélicos. Passavam a ver o Estado como inimigo e o esforço individual como único caminho para melhorar de vida.

 “No imaginário da população não há luta de classes”, anotaram os pesquisadores. “Para os entrevistados, o principal confronto existente na sociedade não é entre ricos e pobres, capital e trabalho. O grande confronto se dá entre Estado e cidadãos”, escreveram.

O estudo mostrou que a pregação liberal havia seduzido trabalhadores autônomos ou precários, que passavam a se identificar como empreendedores:

INDIVIDUALISMO – “Muitos assumem o discurso propagado pela elite e pelas classes médias apontando a burocracia e os altos impostos como empecilhos ao empreendedorismo”.

Movidos pelo sonho de enriquecer, moradores da periferia passavam a se guiar por uma lógica individualista, que liga a ascensão social à disciplina e à força de vontade.

“A noção de público é menos associada àquilo que pertence a todos e mais com o que é gratuito e de má qualidade”, afirmou o estudo da Perseu Abramo.

SUGESTÃO VÁLIDA – O texto terminou com uma sugestão que parece não ter sido levada a sério: sem abrir mão de seus valores, a esquerda precisava “produzir narrativas mais consistentes e menos maniqueístas ou pejorativas” sobre temas como família, religião e segurança.

A pesquisa de 2017 ajuda a entender a eleição de 2024, quando um aventureiro que demoniza o Estado e vende cursos sobre a “arte de prosperar” faturou 28% dos votos.

É improvável que Boulos consiga se aproximar dos eleitores do coach com promessas de última hora, como a isenção de rodízio para motoristas de aplicativo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGEste importantíssimo estudo por encomendado pela Fundação Perseu Abramo na gestão de Nilmário Miranda, historiador, ex-deputado, ex-ministro, que é um dos mais preparados petistas do grupo raiz. É pena que Lula não costume ouvir o que têm a dizer alguns correligionários de alto gabarito, como Nilmário Miranda. (C.N.)

Decisão de Toffoli que “inocentou” Alckmin constrange juíza e procuradores

Toffoli gasta R$ 100 mil com diária de segurança na Europa - 17/05/2024 -  Poder - Folha

Toffoli representa hoje a imagem da impunidade reinante

Rayssa Motta e Fausto Macedo

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), mandou arquivar uma ação de improbidade administrativa contra o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). O processo tramita na 13.ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo.

Alckmin responde por suposto caixa dois de R$ 8,3 milhões da Odebrecht na campanha ao Governo de São Paulo, em 2014, quando foi reeleito. Ele nega irregularidades.

JUÍZA PROTESTA – Coube à juíza de primeira instância, que conduz o processo, analisar se a ação se mantinha de pé mesmo sem as provas do acordo, ou seja, se o processo poderia seguir após a exclusão das informações declaradas inválidas pelo STF.

A juíza Luíza Barros Rozas Verotti, 13.ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, considerou que havia provas “imunes de contaminação” e manteve a tramitação do caso.

“Vale ressaltar que os elementos probatórios constantes do inquérito civil são imunes de contaminação, uma vez que não têm nenhuma relação, seja direta, seja por derivação, com o acordo de delação premiada. Assim, entendo que não estão presentes, desde logo, circunstâncias que permitam afastar a suposta prática de atos de improbidade administrativa, devendo-se dar prosseguimento ao processo, sob pena de se negar acesso à Justiça”, escreveu a magistrada.

DELAÇÃO PREMIADA – O processo foi aberto a partir de depoimentos de delatores da Odebrecht, registros de pagamentos, e-mails e planilhas do departamento de propinas da construtora, extraídas dos dos sistemas Drousys e My Web Day B.

Com a anulação das provas do acordo de leniência da Odebrecht, em setembro de 2023, Toffoli mandou remover da ação de improbidade “quaisquer elementos probatórios” obtidos a partir da confissão dos executivos da empreiteira.

Em novo despacho, na sexta-feira, dia 18, Tofffoli desconheceu a decisão da juíza e mandou trancar a ação, alegando que as informações obtidas a partir do acordo da Odebrecht foram “fonte primária” do processo.

DIZ TOFFOLI – “Analisadas as premissas do caso concreto, anoto que não vislumbro a existência de elementos probatórios mínimos que justifiquem o prosseguimento da ação de improbidade em face do ora reclamante, estando efetivamente contaminadas as provas referidas pela autoridade reclamada como suficientes para a persecutio”, escreveu o ministro.

O Ministério Público também é contra a posição de Toffoli e afirma que Alckmin recebeu recursos não declarados da Odebrecht por meio do tesoureiro de sua campanha, Marcos Monteiro, que também é réu no processo.

O tesoureiro era chamado pelo codinome “M&M” no sistema Drousys.

DINHEIRO VIVO – As supostas entregas de dinheiro vivo em hotéis de São Paulo teriam sido organizadas pelo doleiro Álvaro Novis, usado pela empreiteira para o pagamento de propinas, por meio de transportadoras de valores.

Em nota, o advogado Fábio de Oliveira Machado, que representa Geraldo Alckmin, afirmou que a decisão “só confirma o que sempre foi defendido pela defesa: a inexistência dos fatos empregados nessa ação judicial”.

“Essa importante decisão proferida pela Suprema Corte põe fim a uma injustiça que representou uma grave ofensa à honra do vice-presidente, cuja trajetória pessoal e política sempre foi pautada pelos mais elevados padrões éticos e morais”, diz a defesa.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Toffoli é um juiz totalmente despreparado. Suas decisões mostram que suas reprovações em concurso público foram justíssimas. Como magistrado, ele é uma permanente Piada do Ano. Neste caso, ele inocentou Alckmin apesar de existirem provas válidas que jamais foram anuladas por nenhum ministro do Supremo. O pior é que não acontece nada a Toffoli, rigorosamente nada, e ele segue posando de jurista. (C.N.)

Paulada tripla do STF em Bolsonaro é um prenúncio do que está por vir

Moraes nega todos os pedidos da defesa de Jair Bolsonaro

Josias de Souza
do UOL

Em decisões unânimes, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal desferiu três pauladas em Bolsonaro numa única sessão. Na primeira, negou pedido do capitão para se comunicar com outros investigados no inquérito sobre o golpe. Na segunda, indeferiu solicitação para reaver o passaporte apreendido. Na terceira, negou acesso ao conteúdo da delação do ex-faz tudo Mauro Cid.

Relator das petições, Alexandre de Moraes foi seguido pelos ministros Flávio Dino, Luiz Fux, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia.

XANDÃO NEGA – No voto em que negou a requisição de Bolsonaro para retomar os contatos com personagens como dono do PL, Valdemar Costa Neto, Xandão foi categórico.

Anotou que são “robustas” as provas de que “os investigados concorreram para o processo de planejamento e execução de um golpe de Estado, que não se consumou por circunstâncias alheias às suas vontades”.

No voto sobre o pedido de devolução do passaporte, Xandão escreveu que a PF “já demonstrou” que é real a possibilidade de fuga dos investigados. Um risco que “pode ser reforçado a partir da ciência do aprofundamento das investigações que vêm sendo realizadas”.

SIGILO MANTIDO – Sobre o desejo de Bolsonaro de apalpar a delação do ex-ajudante de ordens, argumentou que o sigilo é “necessário” para assegurar a eficácia das “investigações em andamento.”

Juntas, as decisões constituem um prenúncio do que está por vir. Potencializou-se a sensação de que, no caso da tentativa de golpe, Bolsonaro tem encontro marcado com uma sentença criminal.

Prevalecendo a lógica, o capitão logo será transferido dos palanques municipais para o banco dos réus.

Lula e Bolsonaro saem das eleições com fraquezas diferentes e perigosas

Com Bolsonaro, Lula, Pacheco, Lira e quatro ministros do STF no exterior, o  dia em que a política brasileira se moveu à distância - Jornal O Globo

Há pedras diferentes nos caminhos de Lula e Bolsonaro

Ricardo Corrêa
Estadão

A pergunta sobre quem sai mais forte das eleições, se Lula, virtual candidato à reeleição em 2026, ou Bolsonaro, inelegível mas até então considerado condutor único da direita no Brasil, faz muito menos sentido quando se chega a outra constatação: a de que ambos deixam a corrida atual mais fracos do que começaram. Por motivos diferentes, mas igualmente perigosos.

O de Lula é mais fácil de identificar. Ficou bastante claro que a esquerda sofre cada vez mais para falar com setores da sociedade com quem o petista sempre dialogou. Isso pode até fazer menos diferença para as eleições de 2026, se considerarmos que Lula venceu apesar disso em 2022 e que, com a máquina na mão, teria mais ferramentas para sustentar isso. Mas faz muita diferença na relação com o Congresso e na preparação de candidatos ao Legislativo em 2026.

PASSO À DIREITA – Lula depende hoje mais do Centrão do que antes da abertura das urnas no primeiro turno. Com a percepção de que a população está menos disposta a ouvir as pautas da esquerda, a tendência é que o Parlamento imponha ainda mais dificuldades ao presidente.

Deputados e senadores de centro têm todos os motivos para dar um passinho mais à direita se olharem para o resultado da disputa municipal, sobretudo considerando que, em dois anos, serão escrutinados por esses mesmos eleitores que não querem saber dos dogmas da esquerda. E aí custará bem mais caro ao governo fazer valer suas vontades no Congresso.

O caso de Bolsonaro é mais complexo. Em uma eleição em que seu principal oponente foi derrotado e que a direita floresceu em muitos lugares, poderia ter saído com a percepção de que foi vitorioso. Mas a flagrante divisão em seu campo promovida em várias partes do Brasil e, em especial, o surgimento do fenômeno representado por Pablo Marçal, trazem uma dor de cabeça gigante.

MARÇAL RESISTE – O incômodo vai além da questão eleitoral que, por si só, já seria problemática. O ex-coach já aparece à frente de Tarcísio de Freitas nas intenções de voto para 2026, segundo levantamento da Quaest. Desautorizar o voto dos bolsonaristas nele não é tarefa fácil nem agradável, como se viu em SP. Não apenas uma parte do eleitor do ex-presidente fincou o pé na candidatura do ex-coach até o final como ficou profundamente irritado com Bolsonaro e seu entorno quando houve críticas públicas a Marçal.

O problema maior, porém, é de ordem jurídica. A divisão na direita e o surgimento de outra liderança, com mais vitalidade e imagem mais moderna, esvaziou um pouco Bolsonaro justamente no momento em que uma avalanche de más notícias é esperada na Justiça.

É dado como certo que, após o fim do período eleitoral, o ex-presidente será denunciado ainda neste ano pela participação em desvio e venda de joias do acervo presidencial.

INDICIAMENTOS – Bolsonaro já foi indiciado pela Polícia Federal junto com 11 pessoas por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Ele também já foi indicado em outro caso, a fraude do cartão de vacinas, apuração em que o procurador-geral da República Paulo Gonet pediu novas diligências já concluídas pela PF. Isso sem falar nas apurações que ainda não chegaram à PGR, como as investigações sobre a Abin Paralela, milícias digitais e, principalmente, a de uma tentativa de golpe de Estado. Tudo represado para não interferir no processo eleitoral, mas que deve ganhar novo impulso após o fim deste período.

Dado o cenário tenebroso do ponto de vista jurídico, Bolsonaro e seus aliados tinham como principal aposta para que ele não fosse preso a força política que poderia garantir uma mobilização popular contra o encarceramento. A avaliação é de que o STF talvez não tivesse coragem para fazê-lo após eventuais denúncias da PGR.

Esperava-se que, se ele não fosse absolvido, ao menos o caso não fosse avante tão rápido, permitindo que uma mudança de conjuntura futura, com a eleição de Congresso e Executivo mais à direita, impedisse uma condenação final.

NOVA REALIDADE – Com novos players à direita, certamente haverá hoje menos mobilização para salvar o futuro de Bolsonaro do que antes da eleição. Parte dos eleitores e de aliados já migraram para Pablo Marçal, e grupos deste campo começam a desafiar a autoridade do ex-presidente. Tarcísio de Freitas também é mais bem avaliado que o ex-presidente e cada vez mais ganha interlocução, inclusive fora da bolha da direita mais extrema.

Há entre aliados de Bolsonaro quem diga que ele só pensa em si próprio e em seus filhos e que, para defender-se das acusações e manter seu legado, ele está sacrificando apoiadores. Esse grupo só continuou com Bolsonaro por entender que não haveria espaço na direita para outro caminho, e por entender que ele seria o indutor único na direita. Essas forças políticas continuariam no palanque de Bolsonaro desafiando o Judiciário até o fim por acreditar que seriam massacrados por seu próprio eleitorado por ordem do presidente se não fossem submissos até o fim, pois ninguém jamais sobreviveu na direita desafiando sua força. Isso foi colocado em xeque nessa eleição.

Também a demonstração de vitalidade do Centrão e mesmo de políticos à direita desautorizados por Bolsonaro mostra que montar a superbancada no Senado em 2026 para tentar derrubar ministros do STF pode não ser tão fácil assim. A polarização deu sinais de desgaste, o que é péssimo para essa estratégia de radicalizar o Senado. Só há uma coisa pior do que perder uma eleição e o controle de um governo: é perder o papel de liderança de seu próprio campo político, o que Bolsonaro parece começar a experimentar.

Celso Furtado e o papel das instituições no desenvolvimento econômico

Brasil de Fato - Criador da Sudene e do Plano Trienal de Desenvolvimento, Celso  Furtado é um dos maiores economistas brasileiros e dedicou sua vida a  entender o Brasil e a produzirMarcus André Melo
Folha

O Nobel de economia de 2024 foi concedido a pesquisas sobre o papel das instituições no desenvolvimento econômico. Em “Political Obstacles to economic growth in Brazil” (1965), Celso Furtado foi precursor, um neoinstitucionalista “avant la lettre”. Seu objetivo era explicar por que tivemos industrialização sem política de desenvolvimento.

Isso se devia à falta de “uma classe industrial armada de ideologia própria e com forte atuação”, e às instituições que obstaculizavam os interesses do mundo urbano industrial.

DIZIA O MESTRE – O sistema federativo “ao atribuir grande força ao Senado, no qual os pequenos estados agrícolas e as regiões mais atrasadas têm influência decisiva, coloca o Poder Legislativo praticamente em mãos de uma minoria da população do país.”

Instituições eleitorais excludentes cumpriam o mesmo papel: “Na Câmara, o número de deputados é proporcional à população de cada estado. Desta forma, quanto mais analfabetos um estado tem, mais valor tem o voto da minoria votante”, dizia Furtado, acrescentando:

“Assim, o voto de um cidadão que habita um estado com 80% de analfabetismo, vale cinco vezes mais do que o daquele outro que habite um estado 100% alfabetizado. Como é nas regiões com mais analfabetos que a oligarquia tem mais força, o sistema eleitoral contribui para manter o predomínio desta”.

OUTRA VISÃO – Mas nas eleições majoritárias a hegemonia se romperia: “Estas exceções assumem importância, nos estados mais desenvolvidos, para o cargo de governador e, no plano nacional, para o cargo de presidente da República”. Isto gerava as condições para que “o Poder Executivo represente as forças que desafiam o status quo, representado pela velha oligarquia que domina o Congresso”.

As relações Executivo-Legislativo seriam marcadas por um conflito irresolúvel entre o presidente —eleito por um eleitorado modernizante urbano— e um Congresso conservador, comprometido com o status quo.

O presidente sequer tinha poder de iniciativa quanto a reforma constitucional, que a constituição de 1946 reservava ao Legislativo.

CLASSE DOMINANTE – “Conservando em suas mãos o Poder Legislativo, ao qual cabe com exclusividade a iniciativa de mudar a Constituição, a classe dominante tradicional ocupa uma posição privilegiada na luta pelo controle das instituições políticas”.

O resultado era ingovernabilidade: “Para legitimar-se o governo tem que operar dentro dos princípios constitucionais. Por outro lado, para corresponder às expectativas da grande maioria que o elegeu —principalmente da população urbana consciente politicamente—, o presidente da República teria que alcançar objetivos que são incompatíveis com as limitações que lhe cria o Congresso dentro das regras do jogo constitucional”.

ESCOLHA TRÁGICA – O duplo imperativo levaria a uma escolha trágica: “A subordinação ao marco constitucional e a obediência ao mandato substantivo que vem diretamente da vontade popular entram em conflito, criando para o presidente a disjuntiva de trair o seu programa ou forçar uma saída não convencional, que pode ser inclusive a renúncia”.

Presidente “urbano” vs Congresso “dos grotões” é imagem recorrente no debate público no momento. Mas fato é que ocorreu radical metamorfose; agora o presidente e os governadores do PT concentram votos nas regiões menos desenvolvidas, ao contrário do diagnóstico de Furtado.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A contradição apontada pelo professor Marcus André Melo não significa que Celso Furtado tivesse errado na análise, feita muito antes da criação do PT. Além disso, é preciso entender que agora o PT está em franca decadência e ele próprio se tornou um partido-grotão. (C.N.)

Sem sofrimento e agonia, ninguém pode alcançar o autoconhecimento

O Instituto de Carl Jung em Zurique na Suíça - Blog da Mari CalegariLuiz Felipe Pondé
Folha

Uma das tradições mais ricas no cristianismo antigo é aquela conhecida como os padres do deserto. Homens e mulheres que se exilavam no deserto em regiões como o Egito, Israel, Síria, Turquia (Capadócia), a fim de buscar Deus. Aquilo que conhecemos como a prática monástica é descendente direta desses padres e mães do deserto.

Nesse processo de desconstrução interior, de entrar em contato com seus demônios na solidão e no silêncio, sob a fúria dos elementos naturais, como se falava então, como frio, calor, fome, sede, escuridão, essas testemunhas de Deus —”monachói”, raiz grega da palavra “monge”— fundarão a linhagem da busca enlouquecida de Deus atravessando suas defesas psicológicas e máscaras sociais.

NO SUBSOLO – Dostoiévski (1821-1881), segundo a fortuna crítica, se inspira nesse tipo de atravessamento de si mesmo, sem misericórdia, para escrever seu monumental “Memórias do Subsolo”, um dos maiores livros já escritos na Europa.

Logo na abertura, nosso homem do subsolo se refere a possível causa médica de ele ser um homem tão amargo: ele sofreria do fígado.

Mas, tomado pela busca desenfreada de não mentir sobre si mesmo, nosso homem do subsolo fala um pouco mais abaixo algo mais ou menos assim: o problema não é o meu fígado, eu sou mesmo um homem mau.

SOLIDÃO DO ETERNO – Até hoje existem homens e mulheres que buscam essa solidão acompanhada pelo Eterno, inclusive no Brasil —não vou citar exemplos de locais assim para não destruir a solidão, a paz e o silêncio dessas pessoas. Em nosso tempo, devemos cuidar para a multidão não destruir tudo.

Seria possível pensar num processo como esse fora da instituição religiosa? E, evidentemente, fora da nebulosa de picaretagem que assola o mundo da espiritualidade desde a segunda metade do século passado?

Essa ideia aparece, por exemplo, na gigantesca nebulosa de picaretagem citada acima, sob a rubrica falsamente facilitada da busca de autoconhecimento.

FORA DA RELIGIÃO – Mas, existem formas consistentes de se atravessar um
 processo assim fora do contexto propriamente religioso institucional. Vejamos um exemplo.

O grande psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) descobriu por si mesmo esse caminho fora de qualquer instituição religiosa.

Com essa referência, não quero passar a ideia de que seria “melhor” ou “pior” atravessar esse processo fora ou dentro de uma instituição religiosa porque não sofro de qualquer anticlericalismo démodé.

SURTO DE JUNG – Num sonho em 1927, relatado na sua autobiografia “Sonhos, Memórias e Reflexões”, atravessando um período de intenso sofrimento psíquico que muitos se referem como “seu surto”, Jung “descobriu” questões essenciais que serão tratadas ao longo
da sua vida profissional e sustentarão a teoria que ficará conhecida como psicologia analítica.

Nesse período ele entrará em contato com o inconsciente coletivo e seus arquétipos —assim ele denominará este conceito— caracterizado por ser algo universal, ancestral e definitivo na história pessoal de cada um, assim como da espécie, como um todo.

Como diz o próprio na obra acima citada, foram necessários 45 anos para ele dar conta das experiências que ele viveu até então.

EM MEIO À POLUIÇÃO – No sonho de 1927 —resumidamente— ele se encontra em Liverpool, suja e escurecida pela fuligem, a conhecida poluição causada pela revolução industrial então ainda recente. Ele se encontra em meio a outras pessoas, cercadas pela sujeira, chuva e escuridão.

Mas, no centro de um lago à frente, numa ilhota —que ele dirá ser percebida só por ele— uma luz do sol resplandecia numa árvore. Em meio a agonia da vida e do mundo, uma esperança de que se possa viver com algum sentido —a luz— não destruído pela “escuridão”.

Para Jung, este sonho indicará seu destino, destino este que ele se referirá como “seu mito”.

SI MESMO – Mas, o conceito que nasce daí será o de “si mesmo”, ou “self” cuja trajetória na vida, quando minimamente bem realizada, será o encontro consigo mesmo e o entendimento que a vida só tem sentido quando banhada nessa “corrente de lava e a paixão nascida do seu fogo”, como ele mesmo descreve.

A metáfora da corrente de lava e a paixão que nasce do seu fogo não deve ser de modo nenhum menosprezada neste contexto porque ela indica, justamente, a agonia que um processo como esse implica. Agonia esta que poderá se materializar numa paixão por viver sendo fiel ao fogo que queima e aquece ao mesmo tempo, mas que é luz.

Nesse período, Jung desiste de sua promissora carreira de professor na faculdade de medicina de Zurique para se dedicar a sua obra. Sem agonia e sofrimento — a travessia do deserto — não há autoconhecimento.

Demorou, mas Lula está ameaçando fazer a ansiada reforma ministerial

Reforma ministerial pode ter 'dança das cadeiras' | ASMETRO-SI

                    Charge do Gomez (Correio Braziliense)

Vicente Limongi Netto

Acredite-se ou não, dizem que a reforma ministerial vem com tudo. Para tirar o azedume e o marasmo da política. O Brasil precisa de união. Juntar suas forças, independente de partidos ou crenças. 

Lula tem consciência que é preciso mudar para o Brasil voltar a crescer. Para deixar o povo esperançoso de que nem tudo está perdido.

GRANDES NOMES – Os brasileiros podem esperar uma reforma moderna. Lula vai tirar da cartola e do fundo do coração alguns nomes encantadores e carismáticos.

Figuras públicas que podem sair em paz, sem medo de serem apedrejadas nas ruas. Personagens singelos que irão sossegados na padaria, na farmácia, arriscar na loteria ou ir praia, pegar bom bronzeado. Afinal, ninguém é de ferro. O Brasil é de todos.

 Dona Janja convenceu Lula de que o Brasil não é apenas do PT ou do eventual ocupante da chefia da nação. Com a reforma, Lula deseja levar alegrias e fartura nas mesas dos mais pobres. Natal próspero e feliz. Com nozes, castanha, pernil, espumantes, picanha e aquela branquinha famosa que anuncia boa ideia.

NOMES NOTÁVEIS – Na bolsa dos ministeriáveis, além do sempre lembrado Rodrigo Pacheco, que no Senado é conhecido como Boneco de Olinda, outros nomes qualificados e notáveis, como Davi Alcolumbre, Juca Kfoury, Casagrande, Gleisi Hoffmann, Magno Malta, Eduardo Girão e Jorge Kajuru.

Também são citados outras figuras consensuais, como  Eduardo Leite, Ciro e Cid Gomes, Carlos Bolsonaro, Damares Alves, Vanderlei Luxemburgo, Galvão Bueno, Pablo Marçal, Gabigol, Pablo Bittar, Antonio Garotinho, Sergio Cabral, Boninho e Valdemar Costa Neto.

Até o capitão Jair Bolsonaro já teria sido sondado como possível neopetista. Não respondeu, porque nada faz sem ouvir antes o grande ídolo dele, Silas Malafaia.  

MUITO AMADA – Nesta segunda-feira, dia 21, Deus levou para perto dele a minha sogra amada. Com 97 anos, d. Maria Consuelo Pimentel Pinheiro, partiu em voo direto para céu, sem fazer escala.

Educou 9 filhos com o ardor e o amor de mãe carinhosa e dedicada. Partiu serena, digna e altiva, do mesmo jeito que soube viver. 

Minorias mal comportadas diminuem as bases sociais do Partido Democrata

Donald Trump é racista?

Aumenta o apoio de eleitores negros a Donald Trump

Demétrio Magnoli
Folha

“Eles varrem os restos da mesa como se fossemos um cão treinado e dizem ‘isto é para você’. E aplaudimos como focas amestradas.” Assim, referindo-se ao Partido Democrata, LaPage Drake, um negro do Texas de 63 anos, justificou sua intenção de voto. O eleitor faz parte dos 20% de homens negros que, segundo uma pesquisa recente, preferem Trump a Kamala Harris.

No total, 15% do eleitorado negro americano pende para o candidato republicano, o que pode decidir a contenda. E a larga vantagem histórica dos democratas entre hispânicos e negros experimenta gradual erosão.

EM QUEDA – Entre hispânicos, o apoio aos democratas reduziu-se de 73% em 2012 a 63% nesta pesquisa. A queda acentuou-se no intervalo 2016-2020. Os negros seguem, com atraso, a mesma tendência. Há 12 anos, cerca de 90% deles sufragaram Obama; hoje, apenas 78% declaram voto em Harris. A queda acentuou-se nos últimos quatro anos.

É um fenômeno aparentemente paradoxal pois, enquanto o Partido Democrata torna-se cada vez mais identitário, as duas minorias clássicas da política identitária afastam-se dos democratas. Pesquisas qualitativas esclarecem o mistério: os hispânicos e negros “dissidentes” explicam sua intenção de voto da mesma forma que os brancos da baixa classe média. Dizem-se frustrados com a economia, isto é, com as perdas de renda derivadas do surto inflacionário recente.

De acordo com a bíblia sagrada identitária, hispânicos e, principalmente, negros, não têm o direito de compartilhar as frustrações dos brancos. Seguindo o dogma, e rompendo com seu hábito de ouvir o que as pessoas dizem, Obama encarregou-se de passar um pito nos homens negros. Atribuiu as resistências a sufragar Harris ao pecado do machismo, classificando como “pretextos” e “desculpas” a insatisfação sobre o estado da economia.

COR DA PELE – O ex-presidente, um líder culto e refinado que se definia como mestiço, costuma escapar à armadilha de avaliar os indivíduos pela cor de sua pele ou, na triste tradição americana, pelo conteúdo de seu “sangue”. Mas, no caso, imerso na lagoa identitária de seu partido, descartou a hipótese de que (apesar de Magritte) um cachimbo pode ser, eventualmente, só um cachimbo.

A repreensão aos homens negros, um gesto de paternal arrogância, reflete uma crise política de largas dimensões, que estende-se muito além dos EUA: os “progressistas” alienam-se da realidade, substituindo-a por suas próprias ideologias.

É mais que a economia. Cerca de 47% dos eleitores negros, homens e mulheres, ecoam a narrativa de que a criminalidade nas grandes cidades está fora de controle, numa previsível reação à bandeira tresloucada de “desfinanciar a polícia” erguida pelo Black Lives Matter.

MIGRANTES ILEGAIS – Pior: 41% apoiam a ideia extremista de deportação em massa de imigrantes ilegais. Em grau menor, os negros reproduzem a adesão dos brancos pobres às narrativas da campanha de Trump.

Há 90 anos, na era do New Deal, o Partido Democrata tornou-se o partido da classe trabalhadora. Há 60 anos, com a Lei dos Direitos Civis, passou a monopolizar o voto negro. A obsessão identitária vai destruindo suas extensas bases sociais.

 Os democratas converteram-se no partido da classe média com diploma universitário das grandes cidades. Trump e seu cortejo sombrio são os beneficiários da ruptura histórica.

Lula demonstra não entender o que significa a expressão “acidente sério”

Lula divulga foto de reunião com ministros no Alvorada para mostrar que está bem após acidente doméstico

Ao invés de repousar, Lula tira uma onda de que já está bem

Caio Spechoto
(Broadcast)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicou uma foto em seu perfil no X, antigo Twitter, que o mostra sorridente e fisicamente bem dias depois do acidente doméstico que o tirou da reunião da cúpula dos BRICS na Rússia.

Na imagem, ele conversa com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e com o chefe da Assessoria Especial da Presidência da República, Celso Amorim.

DISSE LULA – “Reunião de trabalho no Alvorada com o assessor especial Celso Amorim e o ministro Alexandre Padilha . Conversamos sobre a agenda política nacional e internacional para os próximos dias”, disse o presidente na publicação.

No sábado, 19, Lula sofreu uma queda no banheiro do Palácio da Alvorada e bateu a cabeça. Os médicos o orientaram a não fazer viagens aéreas de longa distância, por isso a ida à Rússia foi cancelada. A participação do presidente no encontro dos BRICS será por videoconferência.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que Lula está ativo e “super bem”. Ele disse que o petista terá reuniões no Palácio da Alvorada e que não há prazo para voltar a despachar no Planalto.

NOVO EXAME – Segundo Padilha, Lula deve fazer um novo exame de ressonância nesta terça-feira, 22. O ministro das Relações Institucionais disse que não há data o presidente voltar a despachar do Palácio do Planalto. “Não tem, porque é a equipe médica que vai dar essa autorização”, declarou o ministro.

Segundo ele Lula está liberado para ter reuniões e deve receber mais auxiliares no Alvorada durante a tarde. Os médicos estariam acompanhando o caso do presidente à distância.

Padilha afirmou que também depende de liberação da equipe médica eventuais viagens do presidente nos próximos dias. Ele é aguardado, por exemplo, para um ato de campanha do candidato a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos (Psol) na véspera do segundo turno.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– A vaidade fala mais alto e faz o presidente bancar o super-homem. Para que isso? Para nada, basicamente. O primeiro exame de Lula indicou que havia “pontinhos de sangramento, mas risco de complicação é pequeno”, disse o Dr. Roberto Kalil Filho, acrescentando: “Foi um acidente bobo, corriqueiro. Mas sério”, diz o médico de Lula, mas o presidente parece não entender o significado da palavra “sério”. (C.N.)

Piada do Ano! PT quer impedir Lula de dar mais espaço ao PSD de Kassab

Kassab diz que Tarcísio precisa observar “equívocos” de Serra e Doria | Metrópoles

Kassab apoia, ao mesmo tempo, Lula, Bolsonaro e Tarcísio

Vera Rosa
Estadão

O impacto do crescimento do Centrão nas urnas sobre a reforma ministerial planejada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a segunda metade de seu mandato preocupa a cúpula do PT. Há apreensão nas fileiras petistas com o ganho de peso do PSD de Gilberto Kassab, secretário de Governo na gestão de Tarcísio de Freitas em São Paulo. As críticas avançaram depois que o PSD saiu do primeiro turno das eleições com o maior número de prefeitos no País, conquistando 882 municípios.

Filiado ao PSD, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), é cotado para entrar no primeiro escalão do governo federal, em 2025. Embora Lula ainda avalie qual ministério Pacheco poderá ocupar, o tamanho do partido na equipe já provoca queixas por parte de dirigentes, deputados, senadores e até ministros do PT, que não veem motivo para a sigla de Kassab obter mais espaço.

APOIO FRÁGIL – O PSD comanda, atualmente, três ministérios: Minas e Energia, com Alexandre Silveira; Agricultura, com Carlos Fávaro; e Pesca, com André de Paula. Nos bastidores, porém, auxiliares de Lula observam que a taxa de alinhamento do PSD ao governo, em votações de interesse do Palácio do Planalto no Congresso, caiu do ano passado para cá, apesar dos cargos e dos recursos liberados para emendas parlamentares.

Kassab rebate, sob o argumento de que “o governo conseguiu aprovar tudo o que quis” na Câmara e no Senado. O fato de Kassab ser secretário de Governo na gestão de Tarcísio – um possível adversário de Lula na disputa pelo Planalto, em 2026, – também é apontado como mais um fator para o presidente não ceder outros “anéis” ao PSD.

Além disso, o ministro Alexandre Silveira, expoente do partido, tem recebido muitas críticas de petistas. As queixas se avolumaram após Silveira conseguir derrubar, em maio, o então presidente da Petrobras, Jean Paul Prates (PT), e aumentar sua influência sobre o setor de petróleo, fazendo indicações para várias agências reguladoras.

MAIS ATRITOS – A articulação para a queda de Prates envolveu o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa. Nos últimos tempos, porém, Silveira se desentendeu com Costa. Em conversas reservadas, seus desafetos dizem agora que ele está de olho na cadeira da Casa Civil.

O titular de Minas e Energia também teve atritos com o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e com o próprio Pacheco.

As eleições que vão renovar a cúpula do Congresso estão marcadas para fevereiro de 2025 e Alcolumbre é favorito para novamente dar as cartas no Senado. Lula vai esperar não apenas o segundo turno dos confrontos municipais neste domingo, 27, mas também o resultado das disputas no Legislativo para só depois fazer trocas no Ministério.

TAMANHO DA BASE – É a partir desse mapa que o presidente terá a dimensão da nova correlação de forças e do tamanho de sua base aliada. De qualquer forma, já se sabe que partidos do Centrão avançaram muitas casas no jogo ao ganhar musculatura nas urnas e Lula terá de renegociar o apoio com todos do grupo.

A ida de Pacheco para um ministério passa, ainda, por um acerto com Kassab. Motivo: Lula tem planos de lançar o presidente do Senado ao governo de Minas, em 2026, numa aliança com o PT, caso ele tenha viabilidade política. Em troca, quer apoio do PSD para sua candidatura à reeleição.

Ex-ministro, Kassab nunca garantiu a adesão a esse projeto, nem mesmo se seu nome entrasse no páreo como vice da chapa. “Deixa eu quietinho em São Paulo”, afirmou o secretário ao Estadão. Kassab garantiu que, se o PSD tiver candidato próprio ao Planalto, será o governador do Paraná, Ratinho Júnior.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Cada vez se confirma mais a importância de Gilberto Kassab na política brasileira. Criou um partido para chamar de seu quando era prefeito de São Paulo e desde então faz parte da base aliada federal, não importa quem esteja na Presidência, e recebe os maiores benefícios, sem participar de nenhum sacrifício. É hoje o rei dos bastidores da política brasileira, imune aos efeitos da polarização. O PT pode espernear à vontade, que não adianta nada. Kassab é inatingível. (C.N.)

Se não ajustar as contas, Lula vai deixar uma herança maldita para os petistas

Salário mínimo: veja as fórmulas de reajuste que estão sobre a mesa de Lula

Lula não vê saída e fica deprimido com o déficit em alta

Merval Pereira
O Globo

A disputa interna no governo sobre cortes para equilibrar as contas públicas envolve questões semânticas, como contrapor gastos a investimentos, mas principalmente divergências de visão de mundo, fazendo com que a renovação partidária necessária se veja constrangida por pensamentos anacrônicos que podem levar o PT, a médio e longo prazos, a um fim semelhante ao do PSDB, que vem encolhendo a cada eleição, como já aconteceu a PDT ou PTB e a outros ainda menos votados.

A boa vontade da agência de rating Moody’s, que recentemente melhorou a nota do Brasil, tem mais a ver com a perspectiva de sucesso do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que com os números atuais — eles são bons, mas não estáveis a médio prazo.

ARCABOUÇO – O próprio presidente Lula fez lobby ativo, indo pessoalmente conversar com os técnicos da agência em Nova York, convencendo-os de que existe a “possibilidade” de cumprimento do arcabouço fiscal.

Pois agora chegou o momento certo para, com medidas concretas, confirmar essa possibilidade, a que parte do PT e o próprio Lula se contrapõem.

Há muitos anos o presidente tem a louvável fixação de que gastos em saúde e educação são investimentos. Claro que sim, e o ministro da Fazenda não é louco de achar o contrário, mas é preciso calibrar esses investimentos, balancear a distribuição de verbas e ter controle das necessidades. O gasto obrigatório, constitucional, tem de mudar, não pode ser automático.

A simples discussão dessa possibilidade coloca em alerta a parte petista que a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, representa: — Isso é um perigo — disse ela.

EXEMPLO DA DILMA – Mesmo que seu mandato na presidência esteja no fim, Gleisi espelha um grupo que não se convenceu de que é preciso cortar gastos para ter perspectiva de crescimento a longo prazo. Não se lembram do que aconteceu à ex-presidente Dilma, eleita devido ao crescimento artificial da economia no ano eleitoral. Depois ela não conseguiu mais controlar a situação.

Os ministros Haddad e Simone Tebet, do Planejamento, têm batido nessa tecla nos últimos dias, muito mais para conter esse grupo muito atuante do PT, que combina em bom tamanho com Lula e diz que não se pode cortar investimento social. Não é disso que se trata, e ninguém deveria querer cortar tais gastos, mas podemos e devemos fazer algo mais racional. Ninguém quer manter equilíbrio fiscal à custa dos pobres, mas existe uma margem de manobra que precisa ser aumentada para que a gestão funcione.

O presidente pode estar certo na semântica, mas nas contas o dinheiro é igual: sai do Tesouro, da arrecadação de impostos. Veremos se Haddad consegue alguma manobra que ajude o Brasil, para justificar e melhorar ainda mais a nota de crédito e o país ganhar o grau de investimento.

SENSIBILIDADE– O presidente, no entanto, parece ter mais sensibilidade política que seus comandados e luta consigo mesmo para fazer convergir seu lado social com as necessidades econômicas de longo prazo.

No primeiro mandato, Lula conseguiu essa proeza, quando parecia até mais difícil. Fez um governo equilibrado economicamente e teve sucesso, mas tinha o apoio do então ministro da Fazenda Antonio Palocci. Este, além da confiança de Lula, que Haddad também tem, tinha um poder de decisão dentro da estrutura partidária que Haddad ainda não tem. Nesse embate está a disputa pelo futuro do partido pós-Lula, no aggiornamento do PT.

A possibilidade de Lula não disputar a reeleição, por não poder ou não querer, não entra na suposição da máquina partidária, que conta com um novo mandato. Não entendem que, se não for feito algo imediatamente, enquanto a economia está em bom momento, a hipótese de reeleição de Lula enfraquece. Ou então virá como herança maldita deixada para si próprio, para seu partido. E para o país.

Após provocar pânico no mercado de bitcoin, Musk prevê “falência” dos EUA

Elon Musk prevê que inteligência artificial tornará todos os empregos  obsoletos | CNN Brasil

Musk diz que o governo dos EUA está se endividando demais

Fabio Lucas Carvalho

Site CPG

Nas últimas semanas, o bilionário e CEO da Tesla, Elon Musk, voltou aos holofotes não apenas por suas polêmicas, mas por gerar um alerta sobre a economia dos Estados Unidos. Em meio a uma série de acontecimentos recentes envolvendo o mercado de bitcoin, Elon Musk lançou uma advertência direta: o EUA estaria caminhando para a falência devido a gastos excessivos do governo.

Mas por que essas declarações de Musk chamaram tanto a atenção? E qual a conexão entre isso e a recente movimentação do bitcoin pela Tesla? Vamos explorar os detalhes dessa situação e explicar de forma clara e objetiva o impacto dessas questões.

OUTROS ATIVOS – A Tesla, que em 2021 comprou uma grande quantidade de bitcoin, voltou a agitar o mercado ao mover 750 milhões de dólares em criptomoedas para novos endereços, gerando especulações sobre uma possível venda dos ativos.

Essa movimentação causou pânico entre os investidores e contribuiu para a recente queda no preço do bitcoin, que anteriormente estava próximo de seus picos históricos, na casa dos 70 mil dólares.

Além disso, Elon Musk usou sua rede social X (antigo Twitter) para reiterar seus alertas sobre a economia americana.

FORA DE CONTROLE – Ele destacou que os gastos desenfreados do governo podem levar o país à falência. Musk enfatizou que 500 bilhões foram adicionados à dívida nacional apenas nas últimas três semanas, criticando o que ele chama de “gastos governamentais fora de controle”.

O impacto dessas declarações vai além das fronteiras das redes sociais. Stanley Druckenmiller, um renomado investidor bilionário, também emitiu um aviso sobre as consequências das políticas monetárias do Federal Reserve.

Com os Estados Unidos enfrentando uma inflação crescente e uma dívida nacional que ultrapassa os 34 trilhões, a economia do país encontra-se em uma posição delicada. E segundo Elon Musk, a falência governamental pode ser uma realidade se nada for feito.

RITMO ALARMANTE – Analistas do Bank of America alertaram que a dívida dos Estados Unidos (quantia de dinheiro que o governo federal toma emprestado para cobrir despesas operacionais) está crescendo a um ritmo alarmante, com projeções de aumento de US$ 1 trilhão a cada 100 dias.

Segundo Michael Hartnett, estrategista-chefe da instituição, essa escalada pode elevar a dívida nacional para US$ 36 trilhões até o final de 2024.

Em nota aos clientes, Hartnett destacou que esse cenário tem impulsionado o debate sobre “desvalorização da dívida“, refletido em máximas históricas nos preços do ouro e do bitcoin, que podem alcançar US$ 2.077 por onça e US$ 67.734, respectivamente.

SINAL DE ALERTA – O crescente endividamento dos EUA acende um alerta para os mercados financeiros, com investidores buscando ativos considerados seguros, como o ouro.

A crise também afeta diretamente o mercado de criptomoedas. O bitcoin, que há alguns meses parecia prestes a atingir novos patamares devido ao apoio de gigantes como BlackRock e o interesse crescente da China, perdeu fôlego.

Essa volatilidade, no entanto, pode ser vista como uma oportunidade para alguns investidores, especialmente aqueles que acreditam que o bitcoin pode se beneficiar da desvalorização do dólar e dos temores sobre a economia tradicional.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Musk tem razão. A situação é verdadeiramente preocupante, porque o dólar antes era  garantido em ouro, agora não tem mais garantia alguma, a não ser a conversa fiada de governantes irresponsáveis. O certo é que vivemos num mundo muito louco. (C.N.)

Lula ainda tem risco de sangramento intracraniano e deve repetir exames

Agendamentos – Dr. Luiz Severo

Neurocirurgião Luiz Severi explica a situação médica de Lula

Cláudia Collucci
Folha

O presidente Lula (PT) deverá repetir nas próximas 72 horas novos exames de neuroimagem para se certificar de que não há sangramento ou edema na região atrás do crânio (ociptal), lesionada após escorregar e cair no banheiro.

Segundo médicos ouvidos pela Folha, esse é o protocolo-padrão nesses casos. O boletim médico informou que Lula sofreu “ferimento corto-contuso em região ociptal”, responsável pela percepção visual, e levou pontos na região atrás da cabeça. Ele foi atendido no Hospital Sírio-Libanês de Brasília e segue sendo acompanhado em casa.

NO SÁBADO – O acidente ocorreu na noite de sábado (19), conforme antecipado pela coluna da Mônica Bergamo, da Folha, no momento em que Lula e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, finalizavam os preparativos para a viagem à Rússia, onde ele participaria da reunião de cúpula do Brics. Por recomendação médica, a viagem foi cancelada.

O neurocirurgião Luiz Severo, especialista em dor, diz que, de acordo com informações disponíveis, o presidente teve um traumatismo cranioencefálico leve. “Ele não teve perda de consciência, não teve outros sinais de alarme, chegou ao hospital consciente e orientado.”

Segundo ele, o termo “ferimento corto-contuso”, indica também que, além do traumatismo, o presidente sofreu uma contusão cerebral, ou seja, lesão na superfície do encéfalo em que acontece pequenos sangramentos.

RISCO DE AUMENTAR – “São sangramentos benignos, mas, a partir do momento em que o paciente tem um traumatismo leve e um sangramento intracraniano pequeno, a gente tem que ficar atento para o risco de aumento desse sangramento.”

Severo explica que esse risco é maior em pacientes idosos pela própria fragilidade dos tecidos e dos vasos sanguíneos. Lula tem 78 anos. Pessoas que usam anticoagulantes, como o AAS, também podem ter risco de sangramento aumentado. Não há informação se o presidente faz uso desses medicamentos.

Para o neurologista, as primeiras 72 horas são as mais críticas para o risco de edema no cérebro. “A recomendação é repouso, hidratação e monitoramento.”

SEM VIAJAR – De acordo com o boletim médico, após avaliação da equipe médica, Lula foi orientado a evitar viagem aérea de longa distância, podendo exercer suas demais atividades.

Um voo do Brasil até a Rússia, onde será realizado o encontro, pode durar 17 horas.

Severo explica que a orientação de não viajar neste momento ocorre pelo risco de aumento de pressão no crânio e de sangramento, além da necessidade de monitorização clínica e radiológica pela equipe médica.

QUEDAS FREQUENTES – Segundo a geriatra e clínica-geral Maisa Kairalla, membro da Câmara Técnica de Geriatria do Cremesp (Conselho Regional de Medicina), quedas como a que Lula sofreu no banheiro são muito frequentes entre idosos. Dados do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia mostram que entre pessoas acima de 80 anos, 40% sofrem quedas todos os anos.

Ela explica que uma das piores consequências das quedas em que há traumatismo craniano é o risco de hematoma subdural, uma condição em que o sangue acumula na região entre o crânio e a superfície cerebral após a ruptura de um vaso sanguíneo.

“Às vezes você bate a cabeça, não sangra no dia, mas isso pode acontecer em até 30 dias, tempo que pode levar um hematoma subdural para se formar”, explica a médica.

SERVE DE ALERTA – Outro risco muito frequente é a fratura de quadril. “Se o presidente não tivesse operado [em razão de uma artrose no quadril] e colocado a prótese, o risco dessa queda poderia ter sido ainda maior porque a região fica muito instável, o que leva os idosos a caírem muito.”

Kairalla diz que a situação vivida pelo presidente serve de alerta para que os idosos façam adaptações em suas casas para prevenir eventuais quedas.

“O banheiro é um lugar muito propício para escorregar, fica molhado, cai pasta no chão.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Lula deveria se afastar para tratamento médico, porque tem de ficar muitos dias no estaleiro, porque pode ser operado para retirar o sangue, se o sangramento voltar. Seria uma cirurgia simples e rápida. Mas ele não fará isso, porque tenta mostrar que está “em forma”, por ordem do marqueteiro, visando o sonho da reeleição. (C.N.).

ONU esconde ‘Guerra e Paz’, de Portinari, e o filho planeja tour pelo mundo

Os painéis Guerra e Paz, de Candido Portinari, voltarão ao Brasil -  Helvécio Carlos - Estado de Minas

Direção da ONU mudou a localização e ocultou a obra-prima de Portinari

 

Jamil Chade
do UOL

Entre as bandeiras do corredor da ONU, João Cândido Portinari cantarolava o que era o sentimento que tomava conta daquele homem com intensos olhos azuis: “prepare o seu coração”, numa referência à canção de Geraldo Vandré. Com 86 anos, o filho de um dos maiores artistas brasileiros parecia saber de cor o caminho que levava até as obras de seu pai, Cândido Portinari.

Num dos saguões da ONU, em Nova York, estão duas das principais obras do pintor — “Guerra e Paz”, telas doadas pelo Brasil para a instituição que representava o sonho de uma utopia. Os raios de sol que entravam pelas janelas naquele dia de visita tornavam o momento do reencontro entre João e as telas ainda mais mágico.

CORAÇÃO APERTADO – Questionado pelo UOL, que acompanhava a visita, sobre o que sentia quando via as obras, João não hesitou: “um coração apertado”.

O motivo de seu comentário é a decisão da ONU de impedir que as telas sejam visitadas nos tours organizados aos turistas de todo o mundo ao prédio.

Tampouco os jornalistas que cobrem diariamente as reuniões da ONU podem ter acesso. Os quadros ficam em uma área reservada, por onde apenas diplomatas passam.

SEM UNIDADE – E, mesmo assim, o espaço passou a ser local de exposições de outras iniciativas, rompendo a unidade entre as duas telas gigantes —”Guerra” e “Paz”— que se contrapõem. Enquanto o filho de Portinari examinava a obra do pai, negociadores e embaixadores percorriam o local, ignorando as telas ou já acostumados com elas.

João contou que essa não é a primeira vez que as telas desaparecem do público. No início da década de 50, o então secretário-geral da recém-criada ONU, Trygve Lie, pediu que governos de todo o mundo presenteassem a instituição com obras de arte que representassem as respectivas culturas.

O governo brasileiro encomendou a Portinari uma peça que tratasse de guerra e de paz.

NA ENTRADA – Os murais foram colocados na entrada na Assembleia Geral, numa disposição pela qual os negociadores encarariam a guerra, em sua entrada. E, ao sair, a paz. Uma espécie de visualização de seu trabalho de negociadores em um mundo sem conflitos armados.

Os painéis chegaram à ONU em 1956. Mas permaneceram durante um ano inteiro em caixotes. “Meu pai ficou preocupadíssimo [com a possibilidade de] que eles pudessem estragar”, contou o filho.

“Houve até um movimento de artistas e intelectuais que sugeriram que o Brasil pedisse as obras de volta”, disse.

OBRA DE PICASSO – Enquanto os painéis ficavam fechados, diplomatas discutiam se elas deveriam ser colocadas em outro local do prédio. “Havia um debate se aquele saguão deveria ser usado para uma obra de Pablo Picasso”, relatou João.

Mas, por uma operação exitosa do Itamaraty nos bastidores, Portinari manteve seu espaço e, finalmente, as obras foram instaladas em 1957.

Na inauguração, porém, quem desapareceu foi o próprio pintor. Ao solicitar o visto americano para viajar para Nova York, Portinari recebeu um alerta: teria de declarar que não era comunista. “Ele se recusou”, contou João.

VISTO NEGADO – O visto jamais lhe foi concedido. “Isso mostra o homem que ele era. Aquela era a maior oportunidade de passar uma mensagem de paz”, afirmou o filho, responsável por manter e democratizar o acervo do pai.

Não foi a única ocasião de um veto ao pintor. Em 1949, Portinari também foi impedido de viajar aos EUA para uma conferência mundial da paz.

Ainda assim, na inauguração dos painéis na ONU, em setembro de 1957, o prêmio Nobel Dag Hammarskjöld, então secretário-geral da entidade, declarou que aquelas eram as obras de arte mais importantes doadas às Nações Unidas.

SEM PORTINARI – O chefe da Missão do Brasil junto à ONU, embaixador Cyro de Freitas Valle, lamentou que Portinari não estivesse presente.

“Com pesar, não o vejo entre nós”, disse “Desejo salientar um ponto: o Brasil acredita estar oferecendo hoje à ONU o que tem de melhor para dar”, completou.

Foram necessários mais de 50 anos para que a ONU fizesse um reconhecimento público da dimensão da doação brasileira. Depois de as telas terem sido restauradas no Brasil e devolvidas para a ONU, o então secretário-geral da entidade, Ban Ki-moon, qualificou “Guerra e Paz” como “mais do que magníficas obras de arte”. “Elas são o chamado de Portinari para a ação. Graças a ele, todos os líderes que entram nas Nações Unidas veem o terrível preço da guerra e o sonho universal pela paz”, disse.

DEU A VIDA -Ban Ki-mooncontou como “o próprio Portinari foi advertido por seus médicos a parar de trabalhar nos murais porque estava ficando doente por causa da tinta de chumbo. Mas ele se recusou. Ele literalmente deu sua vida para terminar essas obras-primas. Ele nunca viveu para vê-las instaladas”, lamentou.

Mas nem sempre as telas foram marcadas por invisibilidade. Antes de deixar o Brasil, em 1956, as obras foram expostas no palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. João, na época com 17 anos, se lembra de tudo. Inclusive do impacto de uma crônica de Carlos Drummond de Andrade sobre o que havia visto.

“Se tais pinturas não se gravarem por toda a vida na tela interior, é que não mereceríamos tê-las visto. Usando a linguagem da obra de arte, que é uma alegria perfeita mesmo quando nos expõe o pranto e a solidão mortuária, Portinari nos diz : Olha, vê bem, penetra o fundo destas imagens, e escolhe”, escreveu.

VOLTA AO MUNDO – O pintor escolheu a paz e, agora, seu filho quer levar as telas para percorrer o mundo, com paradas na Itália e na COP30, em Belém, em 2025. O trecho final envolveria uma exposição no Museu Nacional de Pequim, em 2026. Mas nada está garantido ainda, diante dos elevados custos, exigência de um planejamento cuidadoso e do fato de envolver peças que foram doadas para a ONU.

Portinari, o filho, já demonstrou que não lhe falta planejamento nem experiência. Há dez anos, o Projeto Portinari obteve a guarda das telas por seis anos, o que permitiu que elas fossem restauradas e expostas no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Belo Horizonte e em Paris.

A esperança de João Cândido é que a obra-prima de seu pai possa, agora, dar a volta ao mundo numa missão de paz.

Ministros do Supremo já perderam a capacidade de fazer a coisa certa

Charge do Nani (nanihumor.com)

J.R. Guzzo
Estadão

O STF joga há mais de cinco anos uma partida que só tem piores momentos, mas ainda assim consegue jogar cada vez pior. É natural. Os ministros perderam a capacidade de fazer qualquer coisa certa, como o organismo vai perdendo a audição ou os glóbulos brancos – e no espaço aberto pela ausência das coisas certas só podem entrar as coisas erradas. Não é que os ministros pensem errado. O problema é que eles não sabem o que é pensar.

Num momento em que a integridade do STF está sendo cada vez mais contestada, e se multiplicam as evidências de que o Tribunal se tornou o maior inimigo da democracia no Brasil, o que fazem os ministros? Vão para um piquenique em Roma pago, entre outros, por empresários que confessaram crimes de corrupção ativa. Pior: devolveram dinheiro roubado, e agora o ministro Dias Toffoli lhes deu de volta os R$ 10 bilhões que tinham prometido pagar para sair da cadeia.

PROMISCUIDADE – É incesto explícito. As empresas que levam os ministros para passear nas capitais do mundo rico têm causas a serem julgadas no STF. A mulher de Dias Toffoli é advogada do escritório que representa a JBS – a que foi presenteada pelo marido com aqueles R$ 10 bi. As mulheres de Alexandre Moraes, Gilmar Mendes e Cristiano Zanin também advogam no SFT. Só a sra. Moraes está em dezoito processos. O ministro Barroso acha tudo isso normal.

O presidente do tribunal, aliás, achou uma boa ideia defender a boca livre de Roma com o seguinte enunciado: registrar que empresários corruptos patrocinaram o “evento” é ter “preconceito contra a iniciativa privada”.

O que ele sugere, então? Que a presença de ladrões confessos deve ser mantida em sigilo, para não levantar dúvidas sobre a reputação da liberdade empresarial? Aí já é levar a jaca para o palco e enfiar o pé em cima.

PROTEÇÃO AO ROUBO – O STF está vendo, finalmente, a sua conduta entrar em julgamento – até pela imprensa internacional, essa que os ministros veneram com a mesma intensidade com que odeiam as redes sociais. Indaga-se, é claro, como um tribunal de justiça possa ter formado contra si um prontuário tão óbvio de proteção à roubalheira. Mas indaga-se, mais ainda, se o STF é hoje um defensor ou um agressor da democracia no Brasil.

O tribunal parece ter decidido acabar, de uma vez por todas, com qualquer dúvida que ainda possa haver a respeito. O ministro Flavio Dino decidiu intimar o deputado Marcel van Hattem, um dos líderes da oposição, a depor numa delegacia de polícia.

Ele sabe perfeitamente que o artigo 53 da Constituição proíbe isso: “quaisquer” opiniões, palavras e votos de membros do Congresso, está escrito ali, são “invioláveis”. Por que viola, então?

Governo de Lula falha grotescamente por ser capaz de enxergar só até 2026

Simone Tebet afirma que gastos sociais não são problema no orçamento |  Radioagência Nacional

Governo não aproveita os planos que Simone Tebet cria

Diogo Schelp
Folha

O governo federal inicia este semestre a elaboração de um plano para orientar as políticas públicas de longo prazo para o Brasil. Com o nome de Estratégia Brasil 2050, o documento receberá contribuições de todos os ministérios, do BNDES, de Estados e municípios e da sociedade civil, sob coordenação do Ministério do Planejamento, com foco em temas como clima, infraestrutura, macroeconomia e transição demográfica.

A intenção é ótima. Como bem disse a ministra Simone Tebet no mês passado, ao dar o pontapé na iniciativa em reunião com representantes das outras pastas, “o Brasil não tem tradição de planejar a longo prazo”.

ERRO HISTÓRICO – A incapacidade de planejar o futuro explica em parte o fato de o País ter tanto potencial desperdiçado. Perdemos a janela demográfica, fase propícia a um salto no crescimento econômico graças à existência de uma parcela da população economicamente ativa maior do que as de crianças e idosos; falhamos em construir uma educação básica de qualidade, apesar de recursos garantidos na área.

Além disso, seguimos permitindo a destruição dos nossos biomas, apesar de há anos vigorar o consenso de que sua exploração econômica imediata não paga pelos prejuízos futuros em termos de impacto no clima, na agricultura e nas populações.

E fracassamos também em aumentar de forma significativa o índice de produtividade do trabalho, ainda ocupando uma das piores colocações nesse quesito dentre os países com renda média; e, apesar de possuirmos todas as condições naturais para ser uma potência energética, temos uma das tarifas de eletricidade mais caras do mundo em proporção à renda da população.

NEM MÉDIO PRAZO… – Governos após governos provam-se incapazes até mesmo de se ater a projetos de médio prazo, como o Plano Plurianual, instrumento previsto na Constituição que define metas de quatro anos. Objetivos mais distantes caem no esquecimento com ainda mais facilidade.

Um exemplo disso é o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (Pnatrans), criado em 2018 com o compromisso de reduzir pela metade os óbitos nas ruas e estradas do país até 2030. Muitas das premissas do Pnatrans encontraram resistência no governo de Jair Bolsonaro e foram abandonadas. Como resultado, o total de mortes no trânsito voltou a crescer depois de vários anos de quedas graduais.

O governo Lula não é muito diferente em sua dificuldade em enxergar para além da duração do próprio mandato – motivo suficiente para não ser muito otimista com o que será feito do plano que está sendo elaborado sob a batuta de Tebet com resultados a serem colhidos em 2050, quando Lula terá 105 anos. Basta ver alguns exemplos de sua gestão até aqui.

PARADOXO – O setor elétrico vive um paradoxo de ter abundância de geração, mas conviver com tarifas elevadas e riscos de apagão. Praticamente todas as empresas geradoras, transmissoras e distribuidores concordam que é necessário fazer com urgência uma reforma no setor, mirando em redução de tarifas, liberdade de consumo, segurança no sistema e transição energética para as próximas décadas.

Mas o governo só consegue agir quando é para aprovar medidas pontuais, com benefícios momentâneos nas contas de luz, trazendo ainda mais insegurança e jogando os custos para o futuro. Ou seja, quando mexe nas regras, aumenta o caos.

A regulação das apostas online segue a mesma lógica. Como mostrou o Estadão, a preocupação sempre esteve centrada na busca por uma nova forma de arrecadação, sem um estudo aprofundado de impacto na economia, no combate à lavagem de dinheiro, nas finanças familiares e na saúde pública. Resultado: em poucos meses os problemas já começaram a aparecer e o governo e o Congresso correm para remendá-los.

OS MESMOS ERROS – A miopia do governo aparece mesmo em áreas para as quais já existem metas ambiciosas, como as de redução de queimadas, ou em políticas que já deram errado no passado, como a ideia de abrir os cofres do Tesouro Nacional para turbinar a disponibilidade de crédito do BNDES para aquecer o PIB.

Nesses e em outros casos, Lula não enxerga além de 2026, quando se submeterá a uma eleição com caráter plebiscitário, ou seja, na qual os eleitores dirão se o presidente melhorou ou não sua vida nos quatro anos anteriores.

Planejar para 2050, como pretende a ministra Simone Tebet? Quem nos dera.

Nunes vira humorista e Boulos anuncia sua estreia como mágico nesta segunda

Boulos aposta em Lula, Marta e mobilização de vereadores para virar votos em SP | Partido dos Trabalhadores

Boulos anuncia uma grande surpresa nesta segunda-feira

Josias de Souza
do UOL

Para quem assiste a debates pelo espetáculo, seria um confronto primoroso. Teve jogo de empurra, caneladas e banho de lama. Era um prato sortido, porém requentado. A TV Record exibiu um grande replay, com Nunes e Boulos brandindo as acusações de sempre para provar que os dois são indignos da poltrona de prefeito de São Paulo.

Quem resistiu às duas horas de confronto presenciou dois instantes inusitados. Os candidatos, já meio fartos da própria mesmice, ensaiaram números para carreiras alternativas. Numa passagem, Nunes aventurou-se como comediante. Noutra, Boulos anunciou para segunda-feira sua estreia como mágico.

HUMORISMO – Um repórter perguntou se Nunes conseguiria andar pelo centro de São Paulo à noite sem ser tomado de assalto pelo medo. Foi nessa hora que o prefeito contou uma piada. Disse que esteve “outro dia” na Praça da Sé, “por volta das 22h.” Viu “crianças brincando”. Teve-se a impressão de que o mediador do debate reprimiu uma espécie de sorriso interior.

Boulos não tirou coelhos novos da cartola. Porém, na última frase das considerações finais, adiou o grand finale para esta segunda-feira:

“Às 10 horas da manhã, nós vamos fazer um pronunciamento que você nunca viu numa campanha eleitoral e que vai mudar a eleição”. Com 56% de rejeição no Datafolha, terá que tirar cartolas de dentro do coelho.

DOIS GAMBÁS – O risco que os candidatos correm quando se tratam como dois gambás é o eleitor concluir que, nesse tipo de debate, mesmo quem sai ganhando fica fedendo. Num instante em que 86% dos eleitores informam ao Datafolha que já estão decididos, é improvável o confronto da Record resulte em virada de votos. Tende a consolidar posições.

Nesse contexto, o debate foi menos ruim para Nunes, que aparece nas pesquisas muito à frente do rival.

A virada passa a depender agora da força do abracadabra prometido por Boulos para esta segunda-feira.

Lula cancela viagem após cair no banheiro e levar vários pontos na cabeça

Roberto Kalil admite ter tomado cloroquina em tratamento da Covid-19

Dr. Roberto Kalil foi a Brasília para verificar o ferimento de Lula

Deu na Folha

O presidente Lula não vai mais embarcar para a Rússia, onde participaria da reunião de cúpula dos Brics. Ele foi internado no hospital Sírio Libanês de Brasília após um acidente doméstico em que sofreu uma queda no banheiro e bateu a cabeça. De acordo com relatos, o petista estava sentado em um banco e escorregou.

O acidente ocorreu na noite de sábado (19), quando Lula e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, finalizavam os preparativos para a viagem à cidade russa de Kazan, que abrigará o encontro.

EM OBSERVAÇÃO – Lula foi ao hospital, recebeu pontos na nuca, voltou para a residência oficial, no Palácio da Alvorada, e neste domingo (20) retornou à instituição médica para novos exames.

Ele agora está em casa, mas permanece em observação. Deve despachar normalmente na segunda (21). De acordo com relatos feitos à Folha, apesar do susto, não houve maiores problemas e em momento algum o presidente perdeu a consciência.

Lula vai participar da reunião do Brics por videoconferência. Ele está reunido neste domingo com o chanceler Mauro Vieira e outros ministros para discutir a operacionalização e os detalhes de suas intervenções.

DIZEM OS MÉDICOS – De acordo com boletim médico, ele sofreu “ferimento corto-contuso em região ociptal”, responsável pela percepção visual. O petista levou pontos na região atrás da cabeça.

“Após avaliação da equipe médica, [Lula] foi orientado a evitar viagem aérea de longa distância, podendo exercer suas demais atividades”, diz o boletim. Um voo do Brasil a Kazan, onde será realizado o encontro, pode durar 17 horas. Os médicos consideraram que o melhor para o presidente era ficar em Brasília.

A viagem estava prevista para ocorrer neste domingo (20), mas foi cancelada depois que o presidente fez exames que indicaram a necessidade de permanecer em Brasília.

ENCONTRO COM PUTIN – Ele foi atendido pelo cardiologista Roberto Kalil Filho, que viajou para a capital para atender o presidente.

A reunião dos Brics seria o primeiro encontro de Lula com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, depois do início de seu terceiro mandato. Em setembro, os dois conversaram por telefone e discutiram uma proposta para encerrar a Guerra da Ucrânia.

Segundo o Palácio do Planalto divulgou à época, eles abordaram o plano conjunto de Brasil e China para encerrar o conflito, que tem como um dos pontos principais a realização de uma conferência internacional com a participação de Moscou e Kiev, atuando de forma igualitária.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Infelizmente, a idade não perdoa. Por mais que Lula insista nessa aventura da reeleição aos 81 anos, fica claro que essa bagaça não vai dar certo. Aqui na Tribuna alguns comentaristas já chamam o presidente de “Biden Lula”, porque aos 81 anos o presidente americano não diz coisa com coisa e parece estar sempre sob efeito de medicamentos tarja preta. Lula também precisa de um chinelo e um pijama de flanela, mas a primeira-dama gosta de viajar… (C.N.)  

A alta rejeição de Guilherme Boulos prejudica sua arrancada na reta final

19.out.2024 - Apoiadores de Guilherme Boulos (PSOL) aguardavam por candidato e pelo presidente Lula (PT) na zona sul de São Paulo, mas ato foi cancelado

Neste sábado, Lula cancelou caminhada por causa da chuva

Roberto Nascimento

O eleitor de São Paulo foi massificado pela estratégia do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que associa o candidato do PSOL como radical de esquerda, isso assustou a classe média e até eleitores da periferia.
Nem mesmo a gestão incompetente de Nunes no Apagão Elétrico, ao não retirar em tempo hábil, as árvores caídas nas vias urbanas e culpando exclusivamente a ENEL, deu os resultados esperados por Boulos. Na última semana, o prefeito recuou apenas 4 %, nas pesquisas.

DESCOLADO – Nunes inteligentemente, dispensou o apoio de Bolsonaro, com alta rejeição na capital, o que poderia contaminar o prefeito como um negacionista, reacionário, golpista e anticiência, as marcas do ex-presidente. Nunes preferiu colar no governador privatista e atual queridinho dos poderosos empresários da Avenida Faria Lima.

Aliás, o sucesso nas pesquisas do candidato Nunes, tem sido colocado na conta de Tarcísio, o que tem tornado Jair Bolsonaro uma fera ferida, porque gregos e troianos do poder político e empresarial já “elegeram” o governador como futuro presidente.

Bastou Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, expressar o óbvio, dizendo que Tarcísio é o candidato da direita para 2026, dando como certa a inelegibilidade de Bolsonaro, para abrir um climão entre Bolsonaro e Valdemar.

PLANO B – O ex-presidente ameaçou abandonar o PL e criar um partido para chamar de seu. Costa Neto quase teve um infarto. Tentou botar panos quentes, incluindo o filho Eduardo Bolsonaro como um bom nome para presidente, mas Bolsonaro ficou ainda mais irritado, porque o número um da Direita é ele e o plano B sempre foi Flávio Bolsonaro, o senador.

No campo da esquerda, Boulos foi praticamente abandonado pelo PT e por Lula, que nunca acreditaram na viabilidade do candidato do PSOL. O PT está um pote até aqui de lágrimas com o eleitor paulista, que não crê como antes no sonho das propostas petistas, agora defasadas com os novos desafios de um tempo tecnológico, de IA e do empreendedorismo, tão bem percebido e explorado pel  /,o enganador e encantador de serpentes Pablo Marçal.

Neste sábado, Lula ia fazer uma caminhada com Boulos pela capital paulista, mas teve de ser cancelada, por causa da chuva. Seria muito pouco, para alavancar o candidato do PSOL. Lula não entendeu que a derrota de Boulos será também uma derrota dele e de toda a esquerda. É melhor perder, sabendo que tudo foi feito para ganhar, do que fingir que apoia, para não ficar atrelado a um perdedor.

COVARDEMENTE – Nesse ponto, Lula agiu covardemente com Boulos, como Bolsonaro fez com Nunes. Na campanha, Bolsonaro fincou um pé na canoa de Nunes e outro pé na canoa de Marçal, enquanto Lula tirava os dois pés da canoa de Boulos, e agora tenta desesperadamente ajudar na última semana antes do segundo turno, sabendo de antemão que não dá mais.

Em eleição, não se pode recuperar o tempo perdido, se errar a escolha, só é possível corrigir na próxima eleição, mesmo assim, se tiverem humildade para reconhecer os erros e mudar radicalmente de rumos, caso contrário, vão perder novamente e de maneira avassaladora.

Brasil é campeão do comprometimento de renda para pagar dívidas pessoais

Enquanto bancos têm lucros bilionários, 62% dos brasileiros estão endividados | Sindicato dos Bancários

Charge reproduzida do Google

José Roberto de Toledo
do UOL

O brasileiro sobe no mais alto lugar do pódio quando o assunto é comprometimento de renda para pagar dívidas, afirmou o professor Lauro Gonzales, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). O primeiro lugar se deve a uma inclusão financeira apoiada numa obtenção de crédito predatória. Segundo o especialista, enquanto o acesso e uso a serviços financeiros explodiram recentemente, a qualidade ainda deixa muito a desejar.

Acesso é, digamos, as pessoas terem possibilidade de acessar um serviço financeiro. Isso é diferente do uso, porque não é porque você tem acesso, que você vai usar. (…) Tem três grupos de fatores andando juntinhos. Um é o próprio Banco Central e uma série de mudanças regulatórias que aconteceram, eu diria que nos últimos vários anos, cujos efeitos se somaram, não é uma coisa só.

VEJAM O PIX – Para dar exemplos concretos, o Pix. O Pix é uma mudança recente, final de 2020 (…). A existência das fintechs, dessas instituições de pagamento, onde a gente vai, a gente vê aquelas maquininhas hoje (…). A explosão disso tem a ver com mudanças regulatórias que aconteceram também nesse período todo.

O segundo grupo de fatores são as novas tecnologias e novos atores que, hoje, oferecem serviços que só bancos ofereciam. O terceiro é o grande aumento no volume de transferência de recursos, caso do Bolsa Família recentemente.

O Brasil ficou muito tempo numa espécie de ‘série B’ de contas correntes, por exemplo, ou de contas em instituições formais. Acho que esse é um bom exemplo. Por quê? Porque essas contas são a porta de entrada para vários outros serviços. O Brasil estava lá naquela faixa, mais ou menos assim, cerca de 60% dos adultos com conta corrente.

VIROU FRANÇA – Então, o Brasil estava numa posição intermediária. O Brasil não estava lá embaixo na ‘série C’, mas não estava como os países desenvolvidos. Nos últimos anos, deu um salto. O Brasil, em poucos meses, virou a França.

O acesso, o número de adultos com conta corrente hoje, é semelhante ao de países desenvolvidos, acima de 90%. Se a gente pega, por exemplo, o número de pessoas que são beneficiárias do Bolsa Família e tem conta corrente, esse número hoje já está próximo de 100%. Utilizando essas contas formais, acesso e uso, nesse caso. Então, aumentou drasticamente.

Segundo Lauro Gonzales, professor da FGV, se o acesso e o uso explodiram, a qualidade tem muito a melhorar, e o resultado é o endividamento da população, sobretudo da parcela mais pobre.

ENDIVIDADOS – Quando a gente olha, por exemplo, o comprometimento de renda da galera que está dentro do Bolsa Família — e esse número me assustou, confesso, quando eu olhei essa pesquisa —, a gente vê, assim, coisa da casa de 35% da renda comprometida com pagamento de amortização e juros de dívida para usuários do Bolsa Família. Sendo que esse número já é alto para a população em geral. No Brasil, tipicamente, esse número varia entre 25% e 27%, conforme dados do próprio Banco Central (…).

“De cada R$ 100 que você ganha, em média, R$ 36 está indo para o pagamento, só sobra R$ 64”, diz Lauro Gonzales. “Isso é muito por duas razões. Primeiro, se a gente comparar com outros países, o segundo colocado tem um nível de comprometimento de renda que é tipicamente metade do existente no Brasil. Isso é, a população em geral. Entre os pobres, eu tenho certeza que o Brasil é campeão com esses números que eu estou falando”.

O professor da FGV salienta que os dados da pesquisa refletem a dimensão da qualidade.

TIPO DE CRÉDITO – “Então, que tipo de serviço, que tipo de crédito essa população está consumindo? Não é o crédito que o Acredita [programa de crédito do governo federal] está se propondo a fazer”, indaga Lauro Gonzales, acrescentando:

“Esse crédito que hoje está inchando, está engrossando o caldo do endividamento, é um crédito muito ligado a consumo e muito ligado a uma combinação de cartão de crédito e consignado. Aliás, o consignado é um capítulo à parte nessa história toda, porque muito embora as taxas sejam baixas, ele pode acabar sendo utilizado assim como alavanca para outros créditos, ele pode acabar comprometendo uma parcela muito grande da renda também”, conclui o economista, preocupado com o crescente endividamento do governo e da população.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Lula abriu o empréstimo consignado, descontado em folha, a pretexto de que ajudaria a melhorar as condições dos aposentados, mas ajudou mesmo foi a melhorar os lucros das instituições financeiras. De grandes ideias desse tipo já estamos cheios, e não causa surpresa que o Brasil esteja na liderança do endividamento pessoal. Cobrando nos cartões de crédito juros reais (descontada a inflação) superiores a 350 por cento ao ano, que outro país ousaria competir conosco? Realmente, fica difícil nos tirar desse vergonhoso pódio. (C.N.)