Maduro já lançou até mapa com território da Venezuela incluindo Essequibo

Ação de Maduro para invadir a Guiana preocupa o presidente Lula

Charge do Gilmar Fraga (gauchazh.clicrbs.com.br)

Pedro do Coutto

Na manhã de ontem, terça-feira, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, anunciou que o presidente Lula da Silva determinou o deslocamento de militares para a fronteira norte, entre a Venezuela e a Guiana, por temer o conflito pela ocupação do território de Essequibo, que tem potencial petrolífero.

Maduro praticamente conclamou a população de seu país para a hipótese de uma invasão, acentuando que no plebiscito de domingo, mais um dos que convocou, 96% da população venezuelana revelou-se favorável à anexação, que foi condenada por unanimidade pelo Tribunal de Haia e pelo Conselho de Segurança da ONU.

ALARME – São imprevistos como esse que criam um alarme de preocupação intensa, sobretudo porque colidem com o princípio universal de direitos humanos, com a intocabilidade das fronteiras e a independência de cada país.

Mais uma nuvem envolve dois países, e o Brasil sente-se na obrigação de agir, provavelmente no espaço que separa a aparente ofensiva, desejada por Maduro contra o direito internacional que assegura a inviolabilidade das fronteiras. Sobre o plebiscito de domingo, reportagem ampla da Folha de S. Paulo focaliza o assunto.

RECUPERAÇÃO –  Reportagem de Vítor da Costa, O Globo, focaliza o fato de que neste ano vem crescendo o número de empresas que pediram recuperação judicial para que possam efetuar o pagamento de suas dívidas a bancos credores.

O custo do crédito é apontado como a origem da situação. Mas o problema é mais amplo e está no consumo e também em grande parte na atuação das próprias empresas, como foi o caso das Lojas Americanas.

O aumento descarado dos preços da energia, a inflação e as contradições brasileiras

Charge do Arionauro (arionaurocartuns.com.br)

Pedro do Coutto

Especialistas e empresários do setor de energia elétrica estão prevendo para o próximo ano um aumento de 10,4% nas tarifas, o que significa um pouco mais do que o dobro da inflação prevista para este exercício. A matéria é fiscalizada por Alvaro Gribel, O Globo desta segunda-feira, e se baseia num estudo da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores.

O presidente da entidade, Paulo Pedrosa, sustenta que o sistema elétrico está disfuncional, com altas e quedas acentuadas no fornecimento, e a previsão de aumento de tarifas verifica-se contraditoriamente num momento em que os reservatórios estão otimamente abastecidos. Atingiram o maior volume dos últimos 14 anos, reconhece o operador nacional do sistema elétrico. Mas há problemas regionais quanto às tarifas porque o sistema tarifário depende de benefícios fiscais que variam de uma região para outra.

INTERESSE – Quando os reservatórios descem de nível, religam-se termelétricas, cujo custo é mais elevado, além de poluir pelo consumo de gás ou óleo. Não é o caso atual para religar termelétricas. Entretanto, fica evidente que os proprietários das usinas térmelétricas têm interesse no fornecimento e o custo é muito mais elevado do que a produção hidrelétrica que representa por si dois terços do consumo nacional.

Curioso é que em todo o processo relativo à energia elétrica, incluindo o caso da Enel, em São Paulo, não se fala em Eletrobras que foi privatizada exatamente com o objetivo de conter os preços da energia fornecida no país, abrangendo o consumo industrial, comercial e de serviços, além do abastecimento residencial e de iluminação pública.

Está ocorrendo o contrário. Os reajustes ocorrem e os consumidores pagam a diferença entre a inflação e o aumento verificado. A previsão para 2024 não é das mais favoráveis, pois a alta das tarifas vai além do índice inflacionário calculado pelo IBGE. Há uma confusão nesta área que não foi sanada ainda pelos dirigentes responsáveis pelo setor. Aliás, o governo Lula recorreu ao Supremo contra o peso acionário da União nas decisões da Eletrobras. A União detém 42% das ações, mas o seu voto só vale 10%.

OPEP – Em Dubai, no encerramento da Conferência, no sábado, o presidente Lula afirmou que o Brasil vai aceitar a sua inclusão na OPEP, mas com o objetivo de dissuadir o consumo de petróleo e sua substituição por fontes não poluidoras visando conter o aquecimento global, objeto de um consenso internacional sobre a questão climática.

É muito difícil que as grandes empresas exploradoras de petróleo se deixem convencer, tendo em vista o imenso volume de petróleo que exportam.

Lula critica Congresso e luta para manter o veto ao projeto do marco temporal

Lula pediu mobilização contra ‘raposa no galinheiro’

Pedro do Coutto

Ao longo da Conferência de Dubai, no sábado, o presidente Lula da Silva comparou em tom de humor o Congresso à uma raposa tomando conta de um galinheiro, e dirigiu-se à ministra Sonia Guajajara para que ela use a sua atuação pessoal e convença parlamentares de sua decisão.

A matéria da preservação das terras indígenas foi objeto de uma decisão do Supremo Tribunal Federal. A próxima quinta-feira é a data marcada  para que os vetos sejam apreciados. A derrubada dos vetos, revela reportagem de Fábio Nurakaway, O Globo de ontem, é de interesse  de setores ruralistas.

“Nós devemos construir uma força democrática no Poder Legislativo para que o Poder Executivo possa fazer a transformação social do país”, disse Lula.  A reportagem acentua que as lideranças indígenas argumentam que a lei aprovada pelo Congresso ameaça a sobrevivência das comunidades e a preservação das florestas.

FAIXA DE GAZA – Terminada a trégua no Oriente Médio, a luta entre Israel e o Hamas voltou com quase duzentos mortos na última sexta-feira, ocasionadas pelos bombardeios que arrasaram o territorio palestino. O cenário é de destruição e esforços devem ser postos em ação pela suspensão dos bombardeios e para que ações dos dois lados sejam interrompidas imediatamente.

Mas as forças israelenses persistem no propósito de destruir totalmente o Hamas, que tem desvantagem, evidentemente, em desferir foguetes contra Israel. A situação é de desespero para a própria humanidade.

ANEXAÇÃO –  O governo Nicolás Maduro realizou ontem um plebiscito sobre a anexação do território de Essequibo que pertence à Guiana. A iniciativa de Caracas foi condenada por unanimidade pela ONU e pelo Tribunal de Haya.

O plebiscito convocado representa, aparentemente um instrumento para utilização de força militar com esse objetivo. Portanto, uma crise ameaça também envolver o nosso continente numa ação de força. A região faz fronteira com o Brasil. Reportagem de Igor Giellow, Folha de S. Paulo. 

Demora em nomeações para cargos importantes aumenta as pressões sobre Lula

Charge do Zé Dassilva (nsctotal.com.br)

Pedro do Coutto

O presidente Lula tem por hábito, conforme está sendo revelado em seu atual governo, demorar a fazer nomeações para cargos importantes, e tal prática faz aumentar a pressão política sobre as futuras escolhas. Aconteceu isso nos casos das nomeações para o Supremo Tribunal Federal, para a Procuradoria-Geral da República e para os postos de primeiro escalão, a exemplo dos Ministérios dos Esportes e das Pequenas e Médias Empresas.

Quanto mais Lula demora a preencher os postos, maior é a força que vai se formando nas bases partidárias para a escolha dos nomes. Reportagem de Sérgio Roxo, O Globo deste sábado, acentua esta situação na escolha do substituto de Flávio Dino no Ministério da Justiça. Surgiu, inclusive, entre os nomes viáveis, o da ministra Simone Tebet, atualmente no Planejamento.

MAIS ESPAÇO – Seria uma forma, ao que tudo indica, de ampliar o espaço para o ministro Fernando Haddad. Mas, ao mesmo tempo, surgem pressões paralelas defendendo outras escolhas, como é o caso de Ricardo Cappelli, secretário-geral da Justiça, e de Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas e que congrega setores da esquerda ideológica, incluindo o PT de São Paulo.

Entre as figuras cogitadas, acrescente-se também o nome de Ricardo Lewandowski, que se aposentou recentemente do STF. Esses são exemplos que surgem da vacilação ou do jogo que o presidente Lula pratica sobre postos de poder. A demora para a escolha de nome contribui para o surgimento de interesses partidários que desejam atuar mais próximos do governo, comum e natural na matéria política.

Para evitar essas pressões que incomodam o Palácio do Planalto, a maneira de neutralizá-las é o preenchimento rápido das vagas que surgem na escala do poder. Em um ano pré-eleitoral como o de 2023, as bases buscam conseguir espaços que se reflitam nas áreas municipais que são redutos naturais dos pleitos para deputados, senadores e governadores. 

DESASTRE – O afundamento de mina explorada pela Braskem em Maceió, ameaçando diversos bairros da capital de Alagoas, representa uma situação trágica que precisa ser socorrida com a máxima urgência. A obra da Braskem é a causa da situação e resulta de omissões sucessivas no tempo e que se agravaram nos últimos quatro anos.

Os precedentes do desastre não foram considerados pelas autoridades federais, estaduais e municipais, conforme os fatos indicam. A população dos bairros ameaçados de serem engolidos pela falta de solidez das obras, não serviram para que fossem realizadas as ações necessárias. Regiões de Maceió estão sendo sugadas num ritmo impressionante, obrigando a saída dos moradores. O afundamento das ruas ameaça tornar os locais atingidos em uma cratera de grandes proporções.

Cuidado! Tentativas de fraudes pelo celular e pela internet se multiplicam no Brasil

Charge do Thiagão (Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

Foi publicado na imprensa que no Brasil são praticadas 2,8 mil tentativas de fraudes por minutos através da internet e de ligações telefônicas. Um índice altíssimo e que preocupa a população brasileira.

São os mais variados tipos e formas para tentar êxito através das práticas ilegais. Surgem a cada dia novas manobras executadas até mesmo por programas virtuais ou pelos chamados robôs. Agora, tornou-se comum pessoais receberem ligações com uma mensagem avisando que ela será a próxima a ser atendida, mesmo que a pessoa não tenha ligado. Certamente, mas uma tentativa de golpe

PREVENÇÃO – É uma coisa impressionante o que acontece através da comunicação. Se as pessoas não se prevenirem, até no atendimento de telefonemas desconhecidos, correm o risco de sofrerem prejuízos. 

A situação transforma-se num grave problema para a sociedade de modo geral. Os golpes se sofisticam e até mesmo contas fictícias são criadas e entregas de produtos escondem tentativas de ludibriar as pessoas. Os números são altíssimos e os cuidados precisam ser redobrados.

INDICAÇÕES –  A Assembleia de acionistas da Petrobras, por uma margem pequena de votos, aprovou no final da tarde de quinta-feira, mudança no estatuto, facilitando nomeações políticas para vários postos de comando da empresa estatal. No O Globo, a reportagem é de Bruno Rosa, João Sorima Neto, Geralda Doca e Daniel Gullino. Na Folha de S. Paulo, de Nicola Pamplona.

Um erro do governo muito grande, pois forças políticas do Centrão avançam sobre os cargos públicos. O presidente Lula vem cedendo e a cada aceitação aumenta a voracidade dos que negociam votos do Congresso, exigindo atendimentos administrativos para negociar matérias de interesse governamental.

Com a Petrobras, o governo abriu uma nova perspectiva. Em vez de manter o bloqueio, fez o contrário; flexibilizou o acesso político à direção da empresa, agindo contra si próprio e contra o interesse da Petrobras.

Supremo se equivoca ao prever responsabilidade da imprensa por entrevistas

Queda do veto à desoneração representará derrota para Lula por falta de previsão

Com as recentes indicações, o governo Lula ingressa em mais uma nova fase

Milei recua da posição inicial contra o Brasil e até de ataques a Lula

Em carta, Javier Milei convidou Lula para posse

Pedro do Coutto

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, recuou da posição assumida na campanha eleitoral contra o Brasil e de ataque ao presidente Lula da Silva, ouvindo, como é provável, a opinião da Chancelaria sobre a relação entre os dois países.

A futura ministra de Relações Exteriores, Diana Mondino, enviou uma carta a Lula convidando-o para a sua posse e, ao mesmo tempo, destacando a importância de manter laços com o Brasil. Política é assim, candidatos em busca do voto fazem afirmações que depois não se confirmam. É a tentativa de agradar ao eleitor.

LAÇOS – “Construir laços” foi a expressão do novo presidente argentino que assume agora em dezembro. Milei diz que é um momento histórico o que a Argentina está vivendo e que a equipe de colaboradores acompanha os passos que antecedem a sua posse. A carta e os laços fraternos propostos não apagam o mal estar em virtude dos ataques a Lula da Silva.

O problema agora está com o presidente brasileiro em decidir se irá à posse de Milei, havendo passos pendentes a serem acertados, a exemplo do Mercosul. Milei recuou no caso do Brasil e vejamos como ele tratará a China, país ao qual também dirigiu ataques apesar dos laços comerciais existentes.

Na carta, Milei fala sobre o seu projeto de trabalho e as relações com continentes, compromisso que ele assume nessa tentativa de retomar o relacionamento pessoal com Lula e as relações comerciais e políticas com o Brasil.  A nova tendência assumida por Milei, portanto, é um passo para um entendimento possível.

REAÇÃO –  Os governadores Claudio Castro, Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Eduardo Leite, Ratinho Jr e Renato Casagrande lançaram a ideia de um reajuste do ICMS como medida preventiva a possíveis cortes de verbas estaduais em virtude da reforma tributária federal.

No O Globo, reportagem de Luiza Marzulo, assinala a reação dos deputados dos respectivos estados contra a iniciativa temendo consequências negativas junto ao eleitorado, sobretudo no pleito municipal em 2024.

PAUTA  – Encontra-se pronto para integrar a pauta de julgamento do Supremo Tribunal Federal uma ação de alguns anos que envolve os limites da liberdade de expressão com base num processo contra o Diário de Pernambuco, movido pela família do ex-deputado Ricardo Zarattini Filho, já falecido.

A matéria específica ao caso se limita à questão já ajuizada contra o jornal. Mas o que está em jogo é o balizamento dos limites de liberdade de expressão. Esta não deve ser limitada por medidas prévias. Para isso existe a Lei de Imprensa e os processos de injúria, calúnia e difamação. O caso dá margem para que o STF se pronuncie sobre a matéria, fortalecendo jurisprudências sobre o assunto. A reportagem é de Bernardo Lima e Mariana Muniz, O Globo.

Falta um projeto básico de governo ao terceiro mandato de Lula

Charge do Galvão Bertazzi (folha.com.br)

Pedro do Coutto

Em seu terceiro mandato como presidente da República, reportagem de Camila Turtelli e Dimitrius Dantas, O Globo deste domingo, observa-se a fraca aprovação de projetos e as dificuldades que o governo mantém com o Congresso do país, a meu ver, em grande parte, pela falta de um projeto básico capaz de produzir matérias criativas para cumprir os compromissos da campanha eleitoral.

As negociações com o parlamento, realizadas à base de troca de favores, não funcionam e não são capazes de produzir uma base sólida e permanente que se sensibilize pela qualidade dos projetos e o interesse deles em participar no sentido construtivo e efetivo da população do país. A constância de desarticulações agrava o panorama que envolve o Planalto e o coloca em posição sempre difícil.

DESENTENDIMENTOS – As relações com a Câmara dos Deputados e com o Senado Federal são desenvolvidas cordialmente, mas sempre em consequência de desentendimentos e nunca como antecipação de soluções. Há ministérios que não geram projetos e eventos capazes de colocar o governo de forma favorável junto à opinião pública. Dá a impressão que há setores que se preocupam apenas com verbas para manipular e não com projetos para concretizar.

O presidente Lula precisa rever com urgência a atuação do Executivo, pois há diversos setores que não estão funcionando. É verdade que o conjunto não é igual à soma das partes, mas é preciso que as partes sejam pelo menos eficientes e capazes de atuar dentro do interesse público do país.

DECLARAÇÕES – Muito bom o editorial de ontem, domingo, de O Globo, sobre a decisão que o Supremo tomará sobre a ação que torna os jornais e os órgãos de comunicação co-responsáveis por declarações de entrevistados. O editorial destaca a importância da decisão do STF para o futuro da imprensa e a continuação de sua liberdade.

Evidentemente, que a matéria é de alta importância. As declarações de entrevistados são de responsabilidade de seus autores, da mesma forma que as peças publicitárias. Se uma publicidade está errada, e seu conteúdo pode prejudicar interesses legítimos dos consumidores,a responsável é a própria empresa e não a matéria veiculada. Essa análise é bastante clara, pois caso contrário os jornais seriam também responsáveis, da mesma forma que as empresas de televisão e rádio, pelas propagandas que veiculam. Não se pode transferir a responsabilidade de quem transmite uma opinião para o veículo que a publicou.

EMENDAS – Matéria de Vitória Azevedo e Renato Machado, Folha de S. Paulo, destaca que o governo Lula realiza um esforço junto ao Congresso para incorporar as emendas parlamentares voltadas à realização de obras públicas para integrá-las no Programa de Aceleração do Crescimento.

A ideia é positiva e os autores das emendas não podem reclamar pois os seus projetos serão absorvidos pela execução orçamentária global do país. A dificuldade é selecionar a qualidade das emendas e incorporá-las ao corpo do programa governamental. O PAC em sua nova fase eleva-se a R$ 1,4 trilhão, equivalente a praticamente um terço do orçamento federal em vigor para este ano.

Lula entra em campo para conter a crise entre o Senado e o STF

Lula de esforça para apaziguar os ânimos entre os Poderes

Pedro do Coutto

O presidente Lula da Silva entrou em campo e recebeu ministros do Supremo Tribunal Federal na tentativa de conter a crise aberta entre o Senado e o Judiciário, cujos reflexos inevitavelmente envolvem a Câmara dos Deputados e atingem o desempenho do governo do país. Envolve a Câmara dos deputados porque ela terá que votar a emenda aprovada pelo Senado, rejeitando ou aprovando. De qualquer forma, nesse desfecho, reside a sensibilidade da questão.

Na hipótese de aprovação, a crise se aprofunda entre as duas casas do Congresso e o Judiciário. No caso de rejeição, a crise se desloca entre Rodrigo Pacheco e Arthur Lira.  O episódio está bem narrado em reportagens de Mariana Muniz, O Globo, Julia Chaib, Marianna Holanda e Catia Seabra, Folha de S. Paulo, e Eduardo Gayer, no Estado de S.Paulo.

IMPACTO – O encaminhamento para suavizar os efeitos do impacto demandam muitas conversações e um esforço paralelo de apaziguamento dos ânimos. É preciso que haja um acontecimento capaz de diminuir os atritos já verificados.

O entrechoque abala o governo. Todos esperam uma solução, mas até o momento não houve notícia de redução da divergência. A impressão que ficou é que o Senado aprovou a emenda que poderia ter sido encaminhada juntamente com o STF sem a necessidade do isolamento da tarefa. Agora é consertar o impacto. A saída é difícil, mas não impossível. Política também é sinônimo de polidez.

DESONERAÇÃO – Os 17 setores abrangidos pela redução da folha para o INSS estão se articulando com deputados e senadores para derrubar o veto do presidente Lula. Enquanto isso, reportagens de Alvaro Gribel, Vitória Abel,Gabriel Saboya, João Sorima Neto e Vinícius Neder O Globo, e de Tiago Bethônico e Catia Seabra, Folha de S. Paulo, destacam as afirmações do ministro Fernando Haddad comprometendo-se a encontrar uma fórmula para compensar as empresas.

Ele, ao que parece, foi surpreendido pelo veto. Uma questão complexa, pois a medida teve a sua continuidade assegurada por decisão do Supremo. O veto causou espanto no quadro político pela reação que pode ocorrer no mercado de trabalho, sobretudo porque tanto as empresas quanto os sindicatos de trabalhadores apoiaram a desoneração. O veto provoxou um impacto negativo para o Palácio do Planalto.

Decisão do Senado, no fundo, criou um enorme problema para Lula e seu governo

Sem dúvida, governo Lula torna-se cada vez mais dependente do Congresso

Lula enfrenta exigências parlamentares para aprovar proposições

Pedro do Coutto

O governo Lula, os fatos estão comprovando, torna-se cada vez mais dependente do Congresso Nacional e para cada votação importante paga um preço que pulveriza as suas iniciativas, impedindo a consolidação de um projeto definido com base nos compromissos assumidos na campanha eleitoral. O tema é bem abordado por Miriam Leitão em seu artigo de ontem, em O Globo.

Na sequência da dependência, situa-se a PEC que o Senado aprovou restringindo decisões do Supremo Tribunal Federal. A PEC em si suspende efeitos de decisões monocráticas sobre atos do presidente da República, do presidente do Senado e do presidente da Câmara.

OFENSIVA – Mas a questão não é apenas de conteúdo. Trata-se da forma com que se deu a aprovação numa clara ofensiva contra o Judiciário. Não houve sequer a preocupação de qualquer entendimento prévio sobre o assunto. Na Folha de S. Paulo, a matéria é de João Gabriel, Julia Chaib e Bruno Bogossian. No O Globo, a reportagem é de Lauriberto Pompeu, Dimitrius Dantas , Camila Turtelli e Mariana Muniz.

A votação terá um reflexo político inevitável, e o voto do governo favorável, dado pelo senador Jaques Wagner, demonstra a vinculação do Palácio do Planalto ao Projeto de Emenda Constitucional aprovado pelo Senado. Aliás, em dois turnos no mesmo dia.

EXIGÊNCIAS –  A impressão que tenho é a de que o presidente Lula se rendeu às exigências da maioria parlamentar, incorporando-se a ela para evitar percalços e eventuais derrotas, comprovando que a sua maioria não é sólida e, na falta de solidez, está a base das exigências parlamentares para aprovar proposições tanto de interesse do governo quanto do próprio país.

Para cumprir compromisso de campanha, sobretudo na área social, o governo vai cedendo, descaracterizando o poder que legitimamente obteve nas urnas de 2022. Temos que aguardar as próximas etapas para que possamos perceber e analisar os efeitos do choque entre o Senado e o STF.

ICMS – Os governos do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul anunciaram na quarta-feira, em forma de carta aberta, uma elevação do ICMS, a partir de janeiro de 2024, na tentativa de se resguardar de efeitos possivelmente negativos da reforma tributária. No O Globo, matéria de Renan Monteiro, Victória Abel e João Sorima Neto.

Evidentemente, que a elevação do ICMS vai acarretar uma subida de preços. Os consumidores, como sempre, pagarão a diferença que refletirá na perda de poder de compra dos salários dos trabalhadores e trabalhadoras. Conforme sempre digo, sem a valorização salarial, é impossível reduzir a concentração de renda em qualquer país do mundo. Esse processo lança os consumidores nas redes de crédito e a perda se acentua com os juros muito altos.

Foi um desastre a aproximação de torcidas naquele Maracanã lotado

Torcedores brigaram na arquibancada do Maracanã

Pedro do Coutto

Não sei de quem é a maior responsabilidade, se da administração do Maracanã, se da CBF, da empresa que comercializou os ingressos para o jogo entre o Brasil e a Argentina, ou de todas as entidades conjuntamente.

O fato absurdo foi a não separação das torcidas dos dois países que resultou numa briga generalizada que provocou o adiamento por meia hora do início da partida. Setenta mil pessoas no estádio Mário Filho presenciaram as cenas e milhões de espectadores viram pela televisão.

ERRO PRIMÁRIO – Estivemos perto de uma tragédia coletiva por falta de previsão e pela disposição de venda maior de ingressos. O erro primário levou o pânico a milhares de famílias que levaram crianças para a partida e que não sabiam como se proteger da violência que ameaçava ampliar-se ainda mais. Foi uma vergonha para os organizadores.

Aproximar torcidas em jogos de futebol no mundo inteiro sempre produziu péssimos resultados. Inviável o comportamento dos que facilitaram a violência e, cuja repressão, pelo o que assisti na TV Globo, foi exagerada e só provocou maiores choques entre torcedores que vieram da Argentina, torcedores brasileiros e o policiamento conduzido por uma empresa privada de segurança. Faltou a presença da Polícia Militar nas arquibancadas e de outros agentes de segurança vinculados diretamente ao poder público, subordinados à Secretaria de Segurança estadual.

JUSTIFICATIVA – As explicações do governo do Estado e da Prefeitura não convencem e muito menos demonstraram a existência de uma capacidade mínima para evitar uma aproximação que se encontrava a um passo do absurdo. Foi um choque para o público que compareceu ao estádio para a partida de grande importância e tradição entre o Brasil e a Argentina.

No campo, perdemos o jogo. A meu ver, faltou um homem de frente na área adversária, já que não contamos com Vinícius Júnior, com Neymar e o treinador Fernando Diniz não convocou Richarlison. Não sei o motivo. No Fluminense, campeão da Taça Libertadores, existe um homem de frente, aliás dois, Germán Cano e John Kennedy.

Na seleção brasileira, na noite de terça-feira, os ataques eram conduzidos por jogadores de meio de campo que passaram a atuar como finalizadores. Na minha opinião perdemos por isso. Mas a derrota maior, sobretudo para a imagem brasileira, foi a desorganização que propiciou a calamitosa violência no estádio.

ACORDO – O governo de Israel aprovou, nesta terça-feira, o acordo mediado pelo Catar para uma trégua temporária em Gaza, após 45 dias de guerra com o grupo terrorista Hamas, que domina o enclave. Segundo o jornal israelense Times of Israel, a negociação deve permitir a liberação de cerca de 50 dos 240 sequestrados pelo grupo durante o brutal ataque terrorista de 7 de outubro em troca de quatro dias de cessar-fogo —o primeiro desde o início do conflito.

Importante o acordo para a sobrevivência humana, ameaçada no território de Gaza pela guerra e pelo objetivo de destruir o terrorismo. A decisão é uma decorrência da pressão dos Estados Unidos, sem dúvida. A trégua já vem muito tarde. Mas, como diz o velho ditado, “antes tarde do que nunca”. Entretanto, fica a pergunta: Quem poderá reconstruir o território de Gaza?

Agora é aguardar os reflexos concretos do pronunciamento de Milei

Milei terá que colocar suas promessas extravagantes em prática

Pedro do Coutto

O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, confirmou os seus projetos de governo para a primeira fase de seu mandato que começa em dezembro. Temos que aguardar os reflexos políticos, econômicos e sociais de seus compromissos que vão ter que percorrer a incerteza dos apoios no legislativo argentino e na opinião pública nacional e internacional diante de medidas de impacto, como o processo de dolarização que anuncia para os próximos 18 a 24 meses. No O Globo, a matéria é de Janaína Figueiredo. Na Folha de S. Paulo, de Júlia Barbon. No Estado de S. Paulo, de Carolina Marins.  

O tema da dolarização é extremamente complexo, conforme foi bem comentado na noite de segunda-feira no programa Em Pauta, da GloboNews. Na expectativa de subida da moeda americana, pois a argentina não tem estoque de dólares disponível para o projeto, a tendência do mercado pode ser a de aquisição de dólares para formar um estoque capaz de se opor ao processo inflacionário que, aliás, se encontra em curso no país.

EXTRAVAGÂNCIA – O fim do Banco Central é antes de mais nada uma extravagância, contrariando uma tendência universal no campo da política monetária. O que substituirá o BC argentino? Não se sabe. Pode ser que nada. Então terão que ser avaliados os efeitos da inexistência de um órgão de tal importância, adotado pela imensa maioria, ou quase totalidade, das nações desenvolvidas.

Os serviços médicos e empresas públicas estão numa lista de privatizações. Pode ser que os serviços médicos e o setor de educação sejam excluídos diante de reações populares. Mas, a privatização anunciada inclui a empresa estatal de petróleo, “o que puder ser privatizado”, na expressão do presidente eleito, e inclusive a televisão estatal, incluindo, assim, o setor de comunicação.

IMPACTO – Não será fácil o curso das medidas. Elas possuem um impacto muito forte, trazendo o risco de abalar a própria solidez do governo. Na parte de política externa verificou-se uma agressão desnecessária ao Brasil. Milei convidou Bolsonaro para a sua posse e não convidou Lula da Silva, a quem ataca sem sentido algum. Não tocou ainda no caso da China, mas a atmosfera de seu primeiro pronunciamento público está marcada pelas nuvens de dúvida quanto ao êxito e falta de visibilidade quanto ao rumo.

As primeiras escalações para a sua equipe, em casos específicos, causaram surpresa. Por isso, temos que aguardar a reação política interna, os reflexos externos e a identificação dos limites da viabilidade. Serão, como se identifica, dias difíceis em matéria de convivência política e social. Na economia espera-se a consequência do vendaval.

PETROBRAS –  Na política brasileira, reportagem de Malu Gaspar e Ana Flávia Pilar, O Globo, focaliza o movimento iniciado pelo ministro Rui Costa, chefe da Casa Civil de Lula, para a substituição de Jean Paul Prates na Presidência da Petrobras.

A substituição poderá levar Marcus Cavalcante,  da Bahia, ao cargo importante na esfera do ministro Alexandre Silveira. Entretanto, existem problemas, acentua a matéria, no estatuto da Petrobras.

INDICAÇÃO – A demora do presidente Lula em formalizar as indicações para procurador-geral da República e para preencher a vaga no STF aberta com a aposentadoria de Rosa Weber, causa o aumento das pressões dos vários setores interessados e motivados pelas duas nomeações. Mariana Muniz e Sérgio Roxo, O Globo, focalizam o tema.

De fato, a demora abre uma perspectiva de incerteza e dúvida, dando margem às manifestações que não ocorreriam se o presidente da República tivesse decidido rapidamente as questões. Quanto mais demora, maiores são as pressões.

Milei vence disparado e o seu desafio está nos seus próprios projetos

A morte da jovem Ana Clara mostra que shows públicos precisam de mais atenção

Ana clara morreu após passar mal dentro de estádio

Pedro do Coutto

A morte da estudante Ana Clara Benevides Machado, que estava entre as pessoas sob intenso calor de mais de 40º e assistiam ao show da cantora Taylor Swift, no estádio Nilton Santos, no Engenho de Dentro, representou um trágico episódio e, ao mesmo tempo, um sinal de alerta máximo para espetáculos  de dimensão excepcional como este que exigem providências e medidas essenciais.

Não tem sentido aceitar que milhares de pessoas possam permanecer expostas ao sol intenso do Rio de Janeiro aguardando horas a fio por uma autorização para ingressarem no estádio. Tal situação acentua uma insensibilidade absoluta para com os espectadores que aguardavam um sinal para ter acesso ao local do show. Um sonho que deslocou a rotina de várias pessoas, de vários estados para o Rio de Janeiro e que por isso mesmo exigia das autoridades ações de prevenção e de respeito humano.

PRONUNCIAMENTOS – A morte de Ana Clara provocou pronunciamentos do ministro Flávio Dino , do governador Cláudio Castro e do prefeito Eduardo Paes. Tudo isso em consequência do desfecho fatal que atingiu a jovem e feriu a sensibilidade de todos, conforme as reportagens da televisão demonstraram. Depois da tragédia é que se pensou na distribuição de água, na autorização de acesso mais cedo aos locais do show, o que evitaria a exposição demasiada ao sol intenso da cidade.

Depois do ocorrido é que se pensou em reforçar o socorro médico disponível. Ana Clara poderia ter sido salva se um mínimo de sensibilidade e respeito humano tivesse existido. A cantora Taylor Swift arrebata multidões e apaixona o público como ficou revelado. No sábado, ela cancelou o show que faria após o público enfrentar filas quilométricas. As reclamações procedem.

ABSURDO – O ponto nevrálgico da questão é que é preciso uma visão ampla e geral no caso de espetáculos que nem este. É absurdo, em pleno verão, milhares de pessoas acamparem ao redor de um estádio, dormindo em barracas improvisadas, sem condições mínimas de higiene e hidratação. É necessária uma programação lógica e objetiva para tais shows. Não se pode em nome de uma promoção gigantesca expor a população aos riscos de tal procedimento para assistir a um sonho musical.

A tragédia de Ana Clara é uma tragédia coletiva e revela um caminho absurdo de se promover espetáculos nas condições que marcaram o show de sexta-feira. Para hoje, segunda-feira, está previsto outro show. O impacto do episódio continua pressionando a consciência da sociedade.

 

Para Campos Neto, os juros do rotativo são um problema muito complexo

Charge do Fernandão (Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

Na edição de O Globo deste sábado, matéria de Mariana Rosário e João Sorima Neto, inclui declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante encontro na Federação Brasileira de Bancos, de que os juros rotativos dos cartões de crédito são um problema muito complexo e que é preciso ser equacionado sem prejuízo para os lojistas e para os compradores.

Realmente o problema dos juros do crédito rotativo, que passam de 400% ao ano, são uma questão altamente complexa. Com essa porcentagem,  é impossível qualquer resgate por parte dos consumidores. Os juros altos, acompanhados pelo fato de os salários perderem sempre para a inflação, formam o caminho que leva ao endividamento das pessoas físicas. Um endividamento que abrange, como a Operação Desenrola revelou,74 milhões de trabalhadores e trabalhadoras do país.

O consumo é forçado pela realidade inflacionária na medida em que os rendimentos do trabalho não acompanham os índices do IBGE. O recurso para o consumo, seja  de que tipo for, é o recurso ao crédito. E as taxas agravam ainda mais o problema. É uma declaração espantosa do presidente do BC sobre a questão.

URNAS –  Num quadro indefinido, os argentinos votam hoje para a escolha do novo presidente da República. As informações de Buenos Aires indicam que há um equilíbrio e o resultado ainda é imprevisível.

Informações de última hora poderão ser decisivas para o desfecho. O governo Lula torce para Sergio Massa, consequência das agressões desferidas por Javier Milei.

TRABALHO – Cristiane Gercina, Folha de S. Paulo, destaca o início de um movimento na Câmara Federal para tornar sem efeito a portaria do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, que condiciona o trabalho aos domingos e feriados à necessidade de inclusão da perspectiva  em convenção coletiva.

A portaria é considerada como um fator de fortalecimento dos sindicatos, uma vez que as convenções coletivas só podem ser firmadas através de entidades sindicais representativas das categorias profissionais. Os críticos da portaria acham que ela criou um problema adicional desnecessário em relação ao quadro atual.

Verbalização na política, feita por Biden, cria uma outra realidade