
Lula diz que o 7 de Setembro é de toda sociedade
Pedro do Coutto
A comemoração de 7 de Setembro, amanhã, quinta-feira, deverá se revestir de modificações importantes no transcurso da data que, além do caráter cívico-militar, representará, também, um compromisso do governo Lula com os brasileiros e brasileiras na medida em que incluirá temas de grande interesse coletivo, como é o caso da preservação da Amazônia, das águas, do combate à fome e da expansão urgente do saneamento.
O deputado Paulo Pimenta, titular da Comunicação, tocou no assunto numa entrevista à GloboNews na tarde de segunda-feira. E ontem, terça-feira, reportagem de Renato Machado e Marianna Holanda, Folha de S. Paulo, focalizou o assunto, destacando o discurso a ser feito pelo presidente Lula dirigindo-se à união do país sobre os objetivos do governo e os legítimos interesses da própria população.
TEMAS – O pronunciamento será feito na Esplanada dos Ministérios pouco antes de ser iniciado o desfile militar. Aos temas destacados pelo ministro da Comunicação, a meu ver, deve ser incluído o relativo aos salários, uma vez que o maior problema brasileiro decorre da permanente derrota destes diante da inflação que devora o poder aquisitivo, sobretudo das classes de renda menor.
Não se trata apenas do salário mínimo, mas de todos os salários, pois todos são múltiplos, inteiros ou fracionários do piso básico essencial. Somente a valorização do trabalho humano, refletida na escala salarial, pode, através do tempo, conduzir a uma efetiva redistribuição de renda. Uma divisão mais justa do que a que predomina no sistema atual.
E quando se fala em divisão ou dividir, não quer dizer que seja por dois. Pode ser, por exemplo, por dez, desde que um décimo seja reservado ao pagamento dos trabalhadores. As favelas que crescem nas grandes cidades e as habitações que se projetam nos meios rurais são resultado da diferença entre o lucro inflacionário e a perda do poder de compra que afeta os salários. Afetar os salários significa afetar a própria existência humana.
OBSTÁCULO – A velocidade dos meios de pagamento nada tem a ver concretamente com qualquer processo de redistribuição parcial de renda. Pelo contrário. Diante dos problemas brasileiros, na economia e no plano social, e também no plano político, nele incluído o episódio de 8 de janeiro, existe um abismo a ser transposto, uma ponte capaz de motivar a sociedade brasileira a exemplo do que praticou com grande êxito o presidente Juscelino Kubitschek.
No seu governo, o desenvolvimento econômico alcançou o debate nas ruas. A sua popularidade e o exemplo de democracia que levou ficam para sempre na história brasileira. Como aliás analisou esplendidamente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao falar sobre os 70 últimos anos da política nacional em brilhante comentário no canal History Channel. O comentário encontra-se gravado e já foi exibido pelo menos duas vezes.
AMERICANAS – A CPI da Câmara Federal sobre o escândalo das Lojas Americanas e balanços fraudados na escala estratosférica de R$ 40 bilhões, terminou os seus trabalhos no final da tarde de terça-feira, concluindo pelo rombo. Mas, estranhamente, sem nomear os autores. Como não há débito sem crédito, e vice-versa, se alguém ganhou com o escândalo, muitos perderam. Nas edições de ontem, reportagem de Vitória Abel, Rafael Di Cunto, Marcelo Ribeiro e Bruno Rosa, O Globo, e de Alex Sabino, Folha de S. Paulo, focalizam amplamente o assunto.
Entretanto, Miguel Guterrez, ex-dirigente da empresa, enviou carta à CPI responsabilizando os bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles de terem participado ativamente do processo. O Valor focalizou também a questão. Trata-se, sob o ângulo da CPI, de um crime colossal sem autores. Vale lembrar que no início do caso, Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, em propaganda de página inteira na Folha de S. Paulo, no O Globo e no Estado de S. Paulo, sustentaram a versão de que não sabiam de nada. Não é possível.