Republicano dos EUA pressiona Tesouro a endurecer sanções contra Moraes

Parlamentar é próximo de Eduardo Bolsonaro

Bela Megale
O Globo

O deputado republicano dos Estados Unidos Rich McCormick enviou uma carta ao Departamento do Tesouro dos Estados Unidos com questionamentos sobre o cumprimento das sanções impostas pela Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes. O documento, ao qual a coluna teve acesso, é datado de 1º de outubro e também é direcionado à Agência de Controle de Ativos Estrangeiros dos EUA (OFAC).

O parlamentar, que tem relação com Eduardo Bolsonaro e outros nomes próximos ao ex-presidente, questionou, por exemplo: “Quais são as obrigações específicas que se aplicam a instituições financeiras, fundos e gestores de ativos dos EUA quando um ministro sancionado permanece ativo na Suprema Corte do Brasil?”. Entre as perguntas de McCormick está ainda se “o OFAC emitirá orientações para governos aliados, organismos multilaterais ou partes interessadas do setor privado para reforçar padrões globais de conformidade diante dessa situação extraordinária”.

INEDITISMO – Na introdução da carta, o republicano destaca o ineditismo de os EUA sancionarem um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil: “Nunca antes um ministro em exercício da mais alta corte de um país estrangeiro havia sido sancionado sob essas autoridades.”

O deputado repete os argumentos usados pela gestão Donald Trump para punir Moraes, acusando o ministro de “graves violações de direitos humanos reconhecidos internacionalmente, incluindo a supressão da liberdade de expressão e do devido processo legal”. McCormick alega que a “permanência de um indivíduo sancionado em uma posição de autoridade judicial cria riscos de conformidade para pessoas e instituições norte-americanas que operam em um dos maiores mercados emergentes para investimentos dos EUA”.

Com o documento, Eduardo Bolsonaro e seu aliado nos EUA, Paulo Figueiredo, buscam aumentar a pressão sobre os bancos brasileiros para que Alexandre de Moraes e sua esposa, Viviane — que também foi sancionada —, tenham todas as transações financeiras e contas bloqueadas, inclusive no Brasil.

ENTENDIMENTO – O decano do STF, Gilmar Mendes, afirmou nesta quinta-feira (2), em um evento em Lisboa, que o entendimento dos bancos brasileiros é que a Lei Magnitsky não teria efetividade sobre as instituições nas operações em solo nacional.

— Até aqui, os bancos têm interpretado que as sanções não são extensíveis ou aplicáveis. Esse é o entendimento — declarou Gilmar no 2º Fórum Futuro Tributação.

Ferreira Gullar e suas reflexões sobre a vida, na janela do apartamento

Buenos Aires, 1975 . . . . . #ferreiragullar #poemasujo #poetaPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, crítico de arte, teatrólogo, biógrafo, tradutor, memorialista, ensaísta e poeta maranhense José Ribamar Ferreira, mais conhecido como Ferreira Gullar, fez muitos poemas de reflexão sobre a vida. Um dos mais famosos é “A Vida Bate”. criado em 1966.

A VIDA BATE
Ferreira Gullar

Não se trata do poema e sim do homem
e sua vida
— a mentida, a ferida, a consentida
vida já ganha e já perdida e ganha
outra vez.
Não se trata do poema e sim da fome
de vida,
o sôfrego pulsar entre constelações
e embrulhos, entre engulhos.
Alguns viajam, vão
a Nova York, a Santiago
do Chile. Outros ficam
mesmo na Rua da Alfândega, detrás
de balcões e de guichês.
Todos te buscam, facho
de vida, escuro e claro,
que é mais que a água na grama
que o banho no mar, que o beijo
na boca, mais
que a paixão na cama.
Todos te buscam e só alguns te acham. Alguns
te acham e te perdem.
Outros te acham e não te reconhecem
e há os que se perdem por te achar,
ó desatino
ó verdade, ó fome
de vida!

O amor é difícil
mas pode luzir em qualquer ponto da cidade.
E estamos na cidade
sob as nuvens e entre as águas azuis.

A cidade. Vista do alto
ela é fabril e imaginária, se entrega inteira
como se estivesse pronta.
Vista do alto,
com seus bairros e ruas e avenidas, a cidade
é o refúgio do homem, pertence a todos e a ninguém.
Mas vista
de perto,
revela o seu túrbido presente, sua
carnadura de pânico: as
pessoas que vão e vêm
que entram e saem, que passam
sem rir, sem falar, entre apitos e gases. Ah, o escuro
sangue urbano
movido a juros.
São pessoas que passam sem falar
e estão cheias de vozes
e ruínas. És Antônio?
És Francisco? És Mariana?
Onde escondeste o verde
clarão dos dias? Onde
escondeste a vida
que em teu olhar se apaga mal se acende?
E passamos
carregados de flores sufocadas.
Mas, dentro, no coração,
eu sei,
a vida bate. Subterraneamente,
a vida bate.
Em Caracas, no Harlem, em Nova Delhi,
sob as penas da lei,
em teu pulso,
a vida bate.
E é essa clandestina esperança
misturada ao sal do mar
que me sustenta
esta tarde
debruçado à janela de meu quarto em Ipanema
na América Latina.

Lula e Trump podem se encontrar na cúpula da Asean em meio a tensão comercial

Governistas defendem uma ligação telefônica antes

Ricardo Abreu
G1

Diplomatas ouvidos pela TV Globo afirmam que há boas chances de o encontro entre presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acontecer durante a Asean, a cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático, prevista para acontecer a partir do dia 26 de outubro, na Malásia.

O presidente Lula participará do encontro como convidado. Apesar de ainda não estar confirmado oficialmente, a expectativa é de que Donald Trump também participe da cúpula.

LIGAÇÃO – Alguns integrantes do governo brasileiro defendem que uma ligação poderia “amaciar o terreno para um encontro mais proveitoso com Trump”. O diálogo entre os dois presidentes vem sendo construído através de gestos e ações por parte das diplomacias de Brasil e Estados Unidos.

No mais recente deles, na última terça-feira, o vice-presidente Geraldo Alckmin conversou por um telefone com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick.

AVALIAÇÃO – Segundo fontes, Alckmin reforçou ao representante norte-americano que o Brasil está avaliando possíveis medidas de resposta ao “tarifaço” imposto pelos EUA, mas que a preferência do país é sempre pelo diálogo e negociação.

Na última segunda-feira (29), a Câmara de Comércio Exterior (Camex) também decidiu adiar por 30 dias a entrega do relatório que analisa a aplicação da chamada lei da reciprocidade contra os Estados Unidos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGEsse pessoal gosta de uma especulação. Trump soltou aquela conversa fiada na ONU, mas até agora, nada, e as sanções ainda não pararam. O último foi o ministro Benedito Gonçalves, do STJ, aquele que disse “missão dada, missão cumprida”, ao condenar Jair Bolsonaro e torná-lo inelegível. Não se sabe se o filho do ministro, que vive exibindo o enriquecimento ilícito, também perdeu o visto. (C.N.)

Cessar-fogo em Gaza: entre o esgotamento da guerra e o desafio da reconstrução

Eduardo Bolsonaro tenta vetar Tarcísio e sua “direita permitida” em 2026

O deputado segue com o plano de concorrer ao Palácio do Planalto

Bela Megale
O Globo

Há poucos dias, Eduardo Bolsonaro foi perguntado por membros do PL sobre uma chapa formada por Tarcísio de Freitas como candidato à Presidência e Michelle Bolsonaro como sua vice.

O deputado federal rechaçou prontamente a ideia e deixou claro que segue com o plano de concorrer ao Palácio do Planalto.

APENAS PARA OS IRMÃOS – Com Jair Bolsonaro inelegível, Eduardo admite abrir mão de sua candidatura apenas para dois nomes: os irmãos Flávio e Carlos Bolsonaro. Ambos, no entanto, não têm planos de concorrer à Presidência e focam no Senado.

O parlamentar tem deixado claro que vê o governador de São Paulo como um representante do que chama de “direita permitida” e afirma que não deixará um nome de fora da família angariar o capital político. Em relação a Michelle, Eduardo acredita que ela, apesar de ser esposa do pai, não é um nome que representa o clã.

O deputado federal está, desde abril, nos Estados Unidos, atuando em busca de sanções contra autoridades brasileiras para pressionar por uma anistia ampla que beneficie o ex-presidente.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Esse rapaz é muito folgado. Se tivesse um mínimo de noção, estaria apoiando Tarcísio de Freitas para a presidência, com a senadora Teresa Cristina de vice (C.N.)

Autorização para entrevista de Bolsonaro gera reação de Flávio: “Do jeito que está, é pegadinha!”

Novo presidente do STF, Fachin herda acervo de mais de três mil ações

Tereza Cristina surge como peça-chave do agronegócio para vice de Tarcísio

Senadora foi ministra durante o governo Bolsonaro

Gabriel Sabóia
O Globo

O nome da senadora Tereza Cristina (PP-MS) ganhou força entre representantes do agronegócio para ser vice em uma possível chapa encabeçada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), à Presidência, com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ministra da Agricultura durante o governo Bolsonaro, a parlamentar é vista como um nome capaz de atrair o eleitorado feminino e conservador e integra a federação entre União Brasil e PP, de onde deve sair o vice para a chapa de centro-direita.

NOME PONDERADO – O nome dela já foi aventado para integrar a chapa em 2022, mas Bolsonaro optou por Walter Braga Netto para o posto. Vista no Congresso como nome ponderado do bolsonarismo, a parlamentar manteve interlocução recente com a base de Lula, durante a relatoria do projeto da Reciprocidade Econômica, e foi elogiada pelos colegas governistas.

Meses depois, ao ver o Brasil ser taxado pelo governo dos Estados Unidos, disse que a Lei da Reciprocidade Econômica só deveria ser usada “como último recurso” e quando “todos os caminhos diplomáticos” fossem esgotados, embora o agronegócio estivesse entre os setores mais afetados pelo tarifaço. Posicionamentos como estes a reforçam como um nome “mais ao centro”, não associado ao radicalismo.

SEM RESISTÊNCIA – O nome dela já foi colocado por membros do agro a Bolsonaro e ao filho mais velho dele, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que não apresentaram resistência inicial. Tarcísio, que foi colega de Esplanada de Tereza, também teria simpatia à ideia.

A concorrência, porém, pode vir de dentro do próprio partido, já que o senador Ciro Nogueira (PP-PI) não esconde a vontade de compor a chapa. Ao O Globo, no mês passado, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, definiu Ciro como “um ótimo nome” para o posto. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também é cotada, embora seja mais provável que concorra ao Senado pelo Distrito Federal.

— Estaremos com o Tarcísio, caso ele seja o candidato apoiado pelo Bolsonaro. É provável que o vice seja da federação União-PP, e a Tereza é um nome mais do que perfeito para nós, do agro. É ponderada, de confiança, entende nossas bandeiras. Mas, até o momento, não temos candidatura definida, muito menos o vice. Outros nomes ótimos ainda vão surgir, certamente — disse o presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, Pedro Lupion (PP-PR).

NEGATIVA – Procurada, Tereza não respondeu diretamente. Por meio da sua assessoria, disse que “ninguém é candidato a vice” e negou ter tido qualquer conversa sobre o tema até o momento.

Na última segunda-feira, depois do primeiro encontro com Bolsonaro desde que o ex-presidente foi condenado a 27 anos de prisão, Tarcísio reafirmou que será candidato à reeleição para o governo de São Paulo. A insistência na reeleição é lida por aliados como uma forma de dar uma “acalmada” nas especulações e ganhar tempo. Valdemar Costa Neto afirmou que, caso Tarcísio seja candidato ao Planalto, será pelo PL.

— Quem vai escolher o candidato a presidente e a vice é o Bolsonaro, na hora certa. É por isso que ele (Tarcísio) ainda não veio para o PL. Se ele for candidato à Presidência, com o aval de Bolsonaro, será pelo nosso partido. Se tentar a reeleição por São Paulo, será pelo Republicanos. Então, sem esta decisão feita, ainda não faz sentido ele vir. O Republicanos sempre foi e sempre será parceiro nosso — disse, no último mês.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGGrande reforço para a candidatura de Tarcísio de Freitas.  Vai ser uma eleição eletrizante e acredito que Tarcísio vença o segundo turno. Será esculhambado de todo jeito, chamado de privatista etc., mas é um militar de carreira, que saberá defender os interesses do país, conforme ensinam no quartel. (C.N.)

Após ataque a Moraes, Tarcísio admite fim do papel de interlocutor com STF

Distanciamento já vinha ocorrendo antes fala de Tarcísio

Bela Megale
O Globo

O discurso de Tarcísio de Freitas no 7 de Setembro, no qual chamou Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de “tirano”, afastou ainda mais o governador e o ministro, segundo aliados de ambos. O distanciamento já vinha ocorrendo alguns meses antes do episódio, mas, depois da fala de Tarcísio, eles não conversaram mais.

A aliados, Tarcísio classificou seu pronunciamento como uma “questão de momento”, já que o ato na Avenida Paulista ocorreu às vésperas do início do julgamento de Jair Bolsonaro no STF. O governador nega, porém, que tenha deixado de ser uma pessoa afeita ao diálogo e repete que buscará os integrantes do STF sempre que precisar tratar de temas importantes para São Paulo.

INTERLOCUÇÃO – A integrantes de seu governo, Tarcísio admite, porém, que não faz mais o papel de interlocutor entre a corte e Bolsonaro que já desempenhou no passado, especialmente junto a Moraes. Se em 2024 os dois mantinham conversas regulares, hoje o clima é outro.

Ao descrever sua relação com o ministro para interlocutores, o governador diz que eles nunca tiveram proximidade, que sempre tratou de questões institucionais de São Paulo e que, às vezes, entrou em campo para ajudar Bolsonaro.

FALA DURA – Tarcísio também nega que sua fala dura contra Moraes no 7 de Setembro tenha tido cálculo político com o objetivo de se cacifar na disputa pela Presidência, e repete que seu plano é concorrer à reeleição ao Palácio dos Bandeirantes. Nos bastidores, admite, porém, que a pressão sobre ele era elevada naquela ocasião e lembrou que políticos também precisam de votos.

O governador tem repetido que decidiu concorrer ao cargo em São Paulo, em 2022, por insistência de Bolsonaro, que lhe deu essa “missão”. Conta que se desincompatibilizou do posto de ministro da Infraestrutura faltando cerca de dez dias para o prazo vencer, e que o plano era uma vaga no Senado por Goiás. Com isso, busca mostrar que não tem como foco a Presidência da República.

Juristas alertam para erosão da autoridade do STF e sugerem Código de Conduta

Ao menos no papel, EUA agora reforçam à tese da “paz em dois Estados”

Palestinian Authority withdraws from Qatar funding scheme for Gaza - Qatari envoy | Reuters

Gaza era muito próspera antes de ser destruída por Israel

Demétrio Magnoli
Folha

“O plano de 20 pontos para encerrar a guerra em Gaza é tudo com que os israelenses sonharam —ou mesmo fantasiaram. Às vezes, parece mais uma lista de exigências de Israel do que compromissos diplomáticos” (Roy Schwartz, editor senior do jornal Haaretz). “Netanyahu obteve quase tudo que queria, graças a Trump” (Mohamad Bazzi, professor de jornalismo da New York University). Equivocam-se os dois: se aplicado, o plano dissolveria a utopia genocida do Grande Israel.

A aposta fácil é no fracasso do plano, porque: a) quase tudo termina em desastre na Terra Santa; b) seu caráter genérico exige complexas negociações a cada etapa, abrindo as portas para manobras de sabotagem de Netanyahu e do Hamas.

DOIS ESTADOS – Contudo, quem está no negócio da análise política, não no das apostas, precisa reconhecer o principal: os EUA retornaram, ao menos no papel, ao princípio da paz em dois Estados.

Netanyahu assumiu o programa da ala extremista de seu gabinete, que prega a limpeza étnica da Faixa de Gaza e o enterro da ideia de um Estado Palestino. Trump impulsionou tal programa ao delinear a visão da “Riviera do Oriente Médio”.

Num giro de 180 graus, porém, seu plano afirma o direito dos palestinos viverem em Gaza e, ainda, seu direito a um Estado independente. Nada disso é invenção do atual presidente americano: são propostas apresentadas no passado pelo governo Biden e inscritas num esboço recente formulado por Macron junto com os sauditas.

OUTRO PROTETOR – O giro de Trump foi deflagrado pelo bombardeio de Doha por Israel. Os países do Golfo beneficiam-se da proteção estratégica dos EUA. Se essa proteção perde valor, tenderão a procurar outro protetor —isto é, a China.

Não por acaso, foi da Casa Branca que Netanyahu enviou suas desculpas ao primeiro-ministro do Qatar. A vaidade, bússola maior de Trump, desempenha papel protagonista: o presidente americano, que sonha com o Nobel da Paz, colocou-se na posição de chairman do Conselho da Paz, órgão de supervisão geral do plano.

Netanyahu diria não, se pudesse. Disse não a Biden, pois sabia que seu interlocutor jamais abandonaria Israel. Diante de Trump, só sabe que tudo pode acontecer.

ROLETA RUSSA – O inédito isolamento internacional do Estado judeu proíbe-lhe brincar de roleta russa com o governo dos EUA. Por esse motivo, tenta reinterpretar o plano, sugerindo falsamente que ele não contém a promessa, lá no fim do arco-íris, da autodeterminação estatal palestina. Mas o sucesso de sua sabotagem exigiria uma negativa do Hamas, o parceiro tácito de sempre.

O Hamas encontra-se na encruzilhada. Seus dirigentes exilados inclinam-se a aceitar o plano, pois são cativos do Qatar, que opera junto com Trump. Por outro lado, os dirigentes em Gaza, que controlam o destino dos reféns israelenses, tendem a recusá-lo, pois o desarmamento extinguiria sua influência política. Uma rejeição reabriria o cenário da limpeza étnica, com o beneplácito de Trump. Seu sim condicional evidencia uma completa falta de opções.

Sobram motivos para objeções palestinas. Inexistem garantias firmes sobre a retirada israelense. O Conselho da Paz e a força internacional de estabilização configurariam um novo protetorado. O “caminho crível” rumo ao Estado Palestino aparece como mera declaração de intenções. O Hamas compartilha com o governo de Netanyahu uma oposição absoluta à paz em dois Estados. O plano de Trump encurrala os dois inimigos-irmãos.

Declaração de Gilmar Mendes aciona ofensiva de aliados de Bolsonaro nos EUA

“Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar…”

Prêmio BTG Pactual da Música Brasileira

Hermínio Bello de Carvalho, grande compositor

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor carioca Paulo César Batista de Faria, o Paulinho da Viola, é tido como um dos mais talentosos representantes da MPB. Junto com o poeta Hermínio Bello de Carvalho, compôs “Timoneiro”,  um de seus sambas mais bonitos, em que os dois parceiros usam o mar como parábola do sentido de destino que orienta nossas vidas. Este samba foi gravado por Paulinho da Viola, em 1996, no CD Bebadosamba, pela BMG.

TIMONEIRO
Hermínio Bello de Carvalho e Paulinho da Viola

Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar…
É ele quem me navega
Como nem fosse levar…

E quanto mais remo mais rezo
Pra nunca mais se acabar
Essa viagem que faz
O mar em torno do mar

Meu velho um dia falou
Com seu jeito de avisar:
– Olha, o mar não tem cabelos
Que a gente possa agarrar

Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar…
É ele quem me navega
Como nem fosse levar…

Timoneiro nunca fui
Que eu não sou de velejar
O leme da minha vida
Deus é quem faz governar

E quando alguém me pergunta
Como se faz pra nadar
Explico que eu não navego
Quem me navega é o mar

Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar…
É ele quem me navega
Como nem fosse levar…

A rede do meu destino
Parece a de um pescador
Quando retorna vazia
Vem carregada de dor

Vivo num redemoinho
Deus bem sabe o que ele faz
A onda que me carrega
Ela mesma é quem me traz

Piada do Ano! Gilmar acha (?) que Lei Magnitsky não atinge bancos brasileiros

O dilema da isenção para R$ 5 mil: entre alívio fiscal e armadilhas políticas

Charge do Nando Motta (brasil247.com)

Pedro do Coutto

A aprovação do projeto que isenta do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil por mês trouxe alívio imediato para milhões de brasileiros, mas também abriu uma série de questionamentos sobre justiça tributária e cálculo político. Como bem destacou a jornalista Vera Magalhães em artigo publicado em O Globo, a medida reforça a posição de Lula para a disputa eleitoral de 2026, dando ao presidente uma narrativa de compromisso com os assalariados de baixa e média renda.

De fato, há forte apelo popular nesse tipo de medida, já que grande parte da população brasileira recebe salários abaixo do patamar estipulado. No entanto, a forma como a regra foi desenhada gera distorções: um trabalhador que ganhe R$ 5.100, por exemplo, perde o direito à isenção e volta a ser tributado integralmente, situação que produz desigualdade e quebra o princípio de progressividade.

EFEITOS – Esse detalhe técnico, aparentemente menor, pode provocar efeitos perversos e precisa ser corrigido no Congresso para que a política tributária seja de fato justa. Ao mesmo tempo, a medida carrega peso político inegável. Ao ampliar a faixa de isenção, Lula fortalece seu discurso social e solidifica apoio em segmentos que sentirão diretamente o benefício.

Isso ajuda a explicar por que adversários como Ratinho Júnior, Romeu Zema e Ronaldo Caiado, apesar de governarem estados importantes, ainda não conseguem decolar no cenário nacional. A ausência de nomes fortes e competitivos, somada à decisão de Tarcísio de Freitas de disputar a reeleição em São Paulo, reforça o isolamento de Lula no topo das pesquisas.

CONVERSÃO EM VOTOS – O bolsonarismo, embora continue presente como força de oposição, não se converte automaticamente em votos ou em liderança eleitoral consolidada. O problema é que, enquanto o debate sobre o Imposto de Renda se mantém no campo político, outras crises corroem a confiança da população: do envenenamento de bebidas com metanol, que já provocou mortes e queda abrupta no consumo, até esquemas de corrupção em concursos falsos, revelados pela Polícia Federal.

Esses episódios reforçam a percepção de que o país continua vulnerável a fraudes e práticas criminosas em várias frentes, exigindo uma resposta enérgica do Estado. O desafio, portanto, é transformar a vitória política da isenção em uma política tributária consistente, transparente e progressiva, sem que ela se torne apenas mais um instrumento de barganha eleitoral.

Lula colhe, no presente, os frutos de uma medida popular, mas sua durabilidade dependerá da capacidade do governo e do Congresso de corrigirem distorções e de não deixarem que a justiça fiscal se perca no meio do jogo político.

Mandato por um fio: Câmara aguarda STF para decidir destino de Zambelli

Lula é realmente “mais do mesmo” e a oposição não sabe escolher candidato

COM OITO PALAVRAS, BORIC DESMONTOU DISCURSO DE LULA SOBRE VENEZUELA  (Bernardo Mello Franco – OGlobo) | Jornal Contato

Charge do Chico Caruso (O Globo)

William Waack
Estadão

As eleições de 2026 parecem neste momento abertas em boa parte pelo fato do que se chama de direita achar que um bom poste funcionaria. Um poste vistoso, pintado com as cores certas do bolsonarismo.

Há crises que fazem surgir lideranças em função da volatilidade, perigo, abrangência e imprevisibilidade dos fatos. É justamente a crise que o Brasil hoje enfrenta, com inéditos componentes geopolíticos nas questões até aqui “exclusivamente” domésticas.

MAIS DO MESMO – Mas a crise não está projetando lideranças. Lula é a expressão acabada de mais do mesmo, apesar da fantasia mal ajambrada de estadista que lhe foi emprestada pelo adversário político. O grande problema do lado oposto do espectro não é a falta de nomes, mas de estaturas.

Reina em elites brasileiras econômicas uma dupla sensação de desamparo. A primeira por cortesia de Donald Trump, que através do tarifaço exibiu sua vulnerabilidade e a falta de inteligência estratégica internacional. A segunda sensação de desamparo surge do quadro político doméstico.

Embora Lula acredite que a conta do assistencialismo acrescida de inflação comportada lhe garanta a eleição, parece esquecer de seu maior adversário.

VISÃO EXAURIDA – Trata-se de um pervasivo sentimento de que as coisas estão andando errado, que o “sistema” de instituições funciona contra quem trabalha. E do cansaço frente a uma figura política velha que não vende mais sonhos.

O resultado geral é uma subjetiva sensação que se poderia chamar de “claustrofobia política”.

A expressão vem sendo utilizada pelo escritor americano Robert Kaplan para descrever cenários em sistemas políticos bastante diferentes entre si na Europa, Estados Unidos e América Latina, mas sofrendo da mesma percepção generalizada de que os caminhos conhecidos não levam mais a lugar algum.

PALPÁVEL ANSIEDADE – No Brasil esse fenômeno (a tecnologia da informação tornou o mundo um lugar bem pequeno) é acrescido de uma palpável ansiedade. O debate político está distante, para se dizer o mínimo, dos problemas mais abrangentes. E sem foco preciso.

Essa seria, por definição, a função clássica de lideranças, não só no campo da política. É verdade que boa parte dos impasses institucionais no Brasil vem de um desequilíbrio dos poderes e da falência do sistema político cuja evolução é longa na linha do tempo.

Mas que está se agravando sem que se consolidem correntes, linhas ou movimentos capazes de criar um sentido de conjunto, especialmente naquilo que se poderia chamar de direita. Parece parada, incapaz de galvanizar um eleitorado reconhecidamente de centro direita. Está amarrada a um poste.

PF perde tempo atrás de “ação orquestrada de ameaças contra Dino e delegado Shor

Em-ministro de Bolsonaro tenta virar a página das joias das Arábias

Almirante Albuquerque foi indiciado em junho do ano passado

Igor Gielow
Folha

Circulando nos altos escalões da indústria nuclear, o ex-ministro Bento Albuquerque quer deixar o caso das joias sauditas de seu ex-chefe Jair Bolsonaro no passado. “É uma página virada”, disse à Folha durante o maior evento do setor, a Semana Atômica Mundial, em Moscou.

Ex-titular das Minas e Energia, o almirante Albuquerque, 67, foi indiciado em junho do ano passado pelo episódio em que tentou desembaraçar joias dadas pelo governo saudita na volta de uma visita ao reino desértico, em outubro de 2021. Em depoimento, disse entender que um conjunto de colar e brincos de diamantes seriam para a mulher de Bolsonaro, Michelle, e outro de caneta e relógio, para o então presidente.

SEM DENÚNCIA – A explicação não convenceu a Polícia Federal, mas até agora não houve denúncia da Procuradoria-Geral da República sobre o caso, que envolveu outras joias que segundo a acusação foram desviadas para lucro do ex-mandatário.

“Desde meu depoimento [em 2023], nunca mais me procuraram”, afirmou numa conversa rápida após sua palestra no lendário fórum de eventos da era soviética VDNKh, no norte da capital russa. O evento é promovido pela Rosatom, a gigante russa que é um dos principais atores do campo nuclear.

Em julho, a Comissão de Ética da Presidência aplicou uma censura a Albuquerque pelo caso, o que não tem efeito prático. “Isso não me preocupa. Foi uma decisão política, absurda”, desconversou.

CONSULTORIA – Em sua nova encarnação, após quase cinco décadas de Marinha e três anos em meio no governo Bolsonaro, o almirante tem reputação estelar. Desde 2024 é consultor da área nuclear da Diamante Energia —o irônico nome da empresa, no contexto, foi retirado de seu principal negócio, o parque termelétrico Jorge Lacerda, em Santa Catarina.

A empresa não é imune a envolvimento em enredos políticos. Ela é comandada pelo sobrinho do mandachuva do PSD, Gilberto Kassab, Pedro, ao lado do empresário Jorge Nemr. Ambos estão em Moscou com Albuquerque e outros integrantes da Diamante.

A empresa é beneficiária de um projeto aprovado em 2022 que estendeu até 2040 a obrigatoriedade da compra de energia da poluente matriz do carvão, que tem no complexo de Jorge Lacerda a maior instalação do país. “Não há nenhum conflito de interesse”, disse Albuquerque. Segundo ele, quando políticos catarinenses apresentaram sua demanda em apoio ao projeto, o parque ainda era controlado pela Engie Brasil, que vendeu a operação ao fundo que formou a Diamante em 2021.

JABUTIS – O nome da empresa voltou ao noticiário em duas reportagens deste ano na Folha. Uma mostrava que jabutis embutidos em projetos no Congresso poderiam facilitar a instalação de uma termelétrica a gás na região de Brasília, uma iniciativa da Diamante e do empresário Jorge Suarez. Outra, que o governo contratou compra de energia obrigatória gerada em Jorge Lacerda por preços 62% acima da média paga por outros consumidores.

Em ambos os casos, a empresa nega quaisquer favorecimentos de natureza política no setor, cujo atual ministro é Alexandre Silveira, do PSD de Kassab —que, por sua vez diz não tem nada a ver com os negócios do sobrinho, que não quis conversar com jornalistas em Moscou.

PAINEL  – A palestra de Albuquerque, proferida em inglês, foi em um painel sobre os chamados reatores nucleares modulares, usinas atômicas miniaturizadas que podem ser colocadas em barcaças e levada a regiões distantes.

A Diamante associou-se à russa Rosatom, que opera a primeira usina flutuante do mundo e já demonstrou interesse em ampliar seu espaço no mercado brasileiro. Um projeto de R$ 60 milhões, R$ 35 milhões bancados pela agência pública Finep, pretende montar no Brasil microrreatores nucleares, ainda mais práticos para o emprego em comunidades distantes.

Presidente da frente parlamentar do setor nuclear, o deputado Julio Lopes (Progressistas-RJ) defende uma mudança urgente na legislação para facilitar a parceria com os russos e outros atores do mercado.

RECEIOS – “Não há impedimento para a participação de minoritários, mas o mercado tem receios. É preciso um decreto sobre o tema, uma medida provisória. O ministro Silveira irá anunciar isso nos próximos dias”, afirmou ele em Moscou. Tocando na mesma oitava, Albuquerque disse: “Precisamos de regulação clara”, disse.

Seu périplo no mundo nuclear o fez interlocutor do argentino Rafael Grossi, presidente da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), ligada à ONU. Na semana passada, eles estiveram juntos em Viena, sede do órgão, e Grossi também está em Moscou.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGBento Albuquerque é mais um canalha que desonra as forças armadas e a sociedade civil. Um péssimo militar, para dizer o mínimo. (C.N.)

Sob Alcolumbre, Comissões-fantasmas no Senado consomem verba sem funcionar