Senado enterra PEC da Blindagem: Unanimidade contra a impunidade parlamentar

“Boa química” deve ser uma das melhores notícias deste final de ano

Charge do dia do campinense Fred Ozanan: Química...

Charge do Fred Ozanan (Paraíba Online)

Vicente Limongi Netto

Donald Trump finalmente admitiu. Disse na ONU que tem “boa química” com Lula. Acenou para promissor diálogo. Prometeu encontro com Lula. Brasil e Estados Unidos não podem continuar caminhando como cão e gato. Com arranca rabos improdutivos e patéticos.

Bons frutos comerciais e políticos poderão ser cultivados entre as duas nações. Trégua será benvinda.   Analistas pedem prudência. Trump é imprevisível. Lula, por sua vez, frente a frente com Trump, precisa ser firme, sereno e esclarecedor. Ventos saudáveis indicam que o namorico de Trump com a família Bolsonaro está com prazo de validade chegando ao fim. 

BOAS FALAS – E há mais notícias boas. Lula afirmou na ONU que “democracia é inegociável”; Hugo Motta abriu caminho para cassar Eduardo Bolsonaro; indecorosa PEC da bandidagem será enterrada no Senado. Sem choro nem vela; relator do projeto da anistia, deputado Paulinho da Força declarou que não aceita anistia ampla, geral e irrestrita”.

Antônio Carlos Camilo Antunes, o meliante “Careca” do INSS”, vi depor quinta-feira na CPMI. Os milhões de aposentados vítimas dos roubos do desprezível “Careca” esperam que saia da comissão vestido com um vistoso pijama listrado.

NOTÍCIA FURADA – Os meliantes Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, sabujos de Trump, que ambos consideram gênio, acreditam que na conversa anunciada com Lula, o topeduto vai deixar o presidente brasileiro nas cordas, fazendo com que ele passe a apoiar a anistia ampla, perdoe todo mundo e chame Bolsonaro para passar o Natal com ele no Alvorada. Francamente. 

A ilusão da felicidade, segundo o poeta Augusto dos Anjos

O beijo, amigo, é a véspera do... Augusto dos Anjos - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, professor e poeta paraíbano Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914), no poema “Ilusão”, mostra como felicidade e infelicidade podem se confundir.

ILUSÃO
Augusto dos Anjos

Dizes que sou feliz. Não mentes. Dizes
Tudo que sentes. A infelicidade
Parece às vezes com a felicidade
E os infelizes voltam a ser felizes!

Assim, em Tebas – a tumbal cidade,
A múmia de um herói do tempo de Ísis,
Ostenta ainda as mesmas cicatrizes
Que eternizaram sua heroicidade!

Quem vê o herói, inda com o braço altivo,
Diz que ele não morreu, diz que ele é vivo,
E, persuadido fica do que diz…

Bem como tu, que nessa crença infinda
Feliz me viste no Passado, e ainda
Te persuades de que sou feliz.

Trump na ONU: retórica em chamas, fatos em ruínas

Sob olhar de arquitetos das sanções, Lula desafiou ofensiva americana contra o Brasil

Discurso de Lula defende soberania brasileira

Malu Gaspar
O Globo

O discurso de Lula com duras críticas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pela ofensiva contra o Brasil na abertura da Assembleia Geral da ONU foi assistido de perto pelos arquitetos das sanções financeiras contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e sua mulher, a advogada Viviane Barci de Moraes.

O secretário de Estado americano, Marco Rubio, e o chefe do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, estavam no salão da Assembleia Geral durante a fala do presidente brasileiro. Os três são os principais responsáveis pela aplicação da Lei Magnitsky aos alvos brasileiros, sob a justificativa de que o STF promove uma “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e 3 meses de prisão pela trama golpista.

REUNIÃO – Rubio, um dos mais enfáticos críticos do governo brasileiro e do Supremo, e Bessent, a quem cabe implementar as sanções, assistiram impassíveis o chefe anunciar uma reunião com Lula o “na próxima semana” e dizer que o encontro rápido nos bastidores da ONU foi um “bom começo”. “Eu o vi, ele me viu, e nos abraçamos”, relatou Trump. “Não tivemos muito tempo para conversar, tipo uns 20 segundos”.

“Em retrospecto, fico feliz de ter esperado. Nós tivemos uma boa conversa e combinamos de nos encontrar na próxima semana, se isso for de interesse mútuo, mas ele pareceu um homem muito agradável. Na verdade, ele gostou de mim e eu gostei dele”, prosseguiu. Nesse momento, apenas Mike Waltz, representante dos EUA nas Nações Unidas, olhou para o lado e sorriu para alguém fora do quadro da tela.

“MODELO” – Nas redes, Rubio classificou o discurso do chefe como “incrível” e avaliou que Trump está estabelecendo um “modelo para o mundo livre”. Citou ainda temas extensamente explorados pelo presidente na fala à Assembleia Geral, como a imigração ilegal e o negacionismo climático, mas deixou de fora a intervenção sobre Lula e o Brasil.

Como chefe da diplomacia americana, Rubio seleciona os estrangeiros a serem punidos pela Magnitsky, que passam a integrar a lista das chamadas sanções Ofac, sigla em inglês para Office of Foreign Assets Control, o Escritório de Controle de Ativos Externos do Departamento do Tesouro.

Bessent, por sua vez, é responsável por executar as restrições Ofac no âmbito dos EUA e também fez parte da costura do tarifaço de 50% sobre os produtos brasileiros imposto por Trump.

USO DESVIRTUADO  – A legislação foi criada no governo Barack Obama (2009-2017) para punir autoridades estrangeiras violadoras de direitos humanos, mas tem sido usada neste segundo mandato de Trump contra desafetos de Washington como Moraes e Karim Khan, procurador do Tribunal de Haia responsável pelo pedido de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, por crimes de guerra na Faixa de Gaza.

Em sua fala, Lula disparou críticas às retaliações americanas. “Mesmo sob ataque sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia, reconquistada há quarenta anos pelo seu povo, depois de duas décadas de governos ditatoriais. Não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia. A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável”, afirmou o petista.

“Essa ingerência em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias. Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade”, completou em uma referência tácita ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e ao ex-apresentador Paulo Figueiredo, articuladores das sanções junto ao governo Trump.

AMPLO DIREITO DE DEFESA – Na sequência, o petista destacou que Bolsonaro foi investigado, indiciado, julgado e condenado em um processo independente com amplo direito de defesa, sem mencionar o ex-presidente pelo nome.

“Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis. Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela”, alfinetou. Até o fechamento desta reportagem, as falas de Lula não haviam sido rebatidas por Rubio, Bessent ou auxiliares dos secretários nas redes sociais.

Michelle admite candidatura e promete ser “leoa” na campanha

2026: Michelle ganha força como possível candidata à Presidência | Brasil |  Pleno.News

Michelle candidata poderá facilitar a reeleição de Lula

Roseann Kennedy
Estadão

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro admitiu, pela primeira vez, disputar a eleição em 2026 como potencial sucessora de Jair Bolsonaro, “se for da vontade de Deus”. A declaração foi publicada, na manhã desta quarta-feira, 24, no site do jornal britânico The Telegraph.

​Embora tenha ressaltado que sua atenção está dedicada a cuidar das filhas e do marido neste momento, Michelle se apresentou como voz defensora da direita brasileira.

VONTADE DE DEUS – “Eu me levantarei como uma leoa para defender nossos valores conservadores, a verdade e a justiça. Se, para cumprir a vontade de Deus, for necessário assumir uma candidatura política, estarei pronta para fazer o que Ele me pedir.”

Michelle ainda não havia falado com a imprensa, desde a condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão, por envolvimento e liderança da trama golpista.

​Para ela, o que ocorreu na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) foi uma “farsa judicial” e as acusações contra Bolsonaro foram fabricadas.

ANTES DE TRUMP – A entrevista foi publicada um dia depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ​ter afirmado que houve “uma química excelente” entre ele e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, num encontro de poucos segundos, na Assembleia Geral da ONU, e aberto dialogo com o governo brasileiro para negociar as taxações.

Entretanto, segundo apurou a Coluna do Estadão, a entrevista foi concedida na sexta-feira, 19, bem antes da abertura das sessões da ONU.

Michelle, inclusive, expressou apoio às intervenções de Donald Trump em nome de seu marido. Também acusou o governo de Lula e o ministro Alexandre de Moraes de serem responsáveis pela crise e pelas sanções impostas pelos EUA.

TRÊS EMPECILHOS – A disposição de Michelle para concorrer em 2026 tende a gerar desconforto no núcleo duro do bolsonarismo, por pelo menos três motivos:

Ela enfrenta resistência da família Bolsonaro para uma candidatura presidencial; o deputado Eduardo Bolsonaro insiste em ser o candidato a sucessor do pai nas eleições; e a ala mais ao centro do partido é entusiasta da candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Alguns chegaram a cogitar o nome dela como vice na eventual chapa de Tarcísio ao Planalto. Entretanto, como mostrou a Coluna, os defensores da carreira política de Michelle rechaçam essa ideia.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Vai dar errado. Estão fazendo um esforço danado para eleger Lula. Mas o Brasil não é a Argentina, e Michelle não é Isabelita. Até o momento, Michelle era cotada para concorrer ao Senado pelo Distrito Federal. E a chapa do DF já estaria com toda a composição negociada. (C.N.)

Lula e Trump na ONU: o choque entre multilateralismo e nacionalismo

Dois modos de entender o papel da liderança em tempos de crise

Pedro do Coutto

Na Assembleia-Geral da ONU, os discursos de Lula e Donald Trump expuseram com clareza não apenas duas visões distintas de mundo, mas também dois modos de entender o papel da liderança em tempos de crise.

Lula subiu ao púlpito reafirmando que “o Brasil está de volta” à cena internacional, numa postura que mistura firmeza e esperança. Para ele, a desigualdade social, a fome e as mudanças climáticas não são pautas opcionais ou discursos de ocasião, mas desafios centrais da humanidade. Sua fala destacou a necessidade de ação imediata e concreta, cobrando dos países ricos o cumprimento de compromissos de financiamento climático e a responsabilidade de enfrentar coletivamente os problemas que atravessam fronteiras.

PROPOSTA – Mais do que cobrar, Lula também propôs: apontou para a urgência de reformas nas instituições multilaterais, em especial no Conselho de Segurança, para que não sejam reféns de uma geopolítica que ainda reflete os interesses de um mundo pós-Segunda Guerra. Seu tom foi, assim, o de quem reivindica não apenas respeito, mas espaço de protagonismo para países emergentes, em nome de uma governança global mais justa.

Trump, em contraste, apresentou um discurso que reforçou seu estilo inconfundível: direto, confrontador e centrado na ideia de soberania absoluta. Para ele, a ONU perdeu relevância justamente por se prender a declarações retóricas sem resultados práticos. Ao afirmar que não abrirá mão de colocar os Estados Unidos acima de qualquer instância multilateral, Trump voltou a criticar políticas ambientais que considera nocivas à economia e ironizou consensos internacionais sobre mudanças climáticas, retratando-os como exageros ou mesmo armadilhas para conter a produção e a competitividade americanas.

Também destacou a questão migratória, descrevendo-a como uma ameaça à identidade cultural e à segurança, numa narrativa que ecoa junto a plateias domésticas temerosas de perder espaço no mundo globalizado. O presidente americano fez do púlpito da ONU um palco para reafirmar sua crítica ao “globalismo”, buscando transformar um espaço de diálogo em vitrine de sua política de confrontação e autodeterminação.

DISPUTA – Esse contraste revela mais do que estilos diferentes: aponta para a disputa de projetos de poder no século XXI. De um lado, Lula fala em interdependência, solidariedade e reformas institucionais como caminhos para enfrentar problemas globais que nenhum país, por mais rico que seja, conseguirá resolver sozinho. De outro, Trump defende que cada nação deve cuidar de si, que instituições globais tendem a se perder em burocracias e que a busca por consensos acaba diluindo responsabilidades em prejuízo da soberania.

Essa dicotomia reflete um dilema contemporâneo: apostar no multilateralismo como saída para crises planetárias ou reforçar o nacionalismo como escudo diante das incertezas. No fim, o que se viu na ONU foi um retrato vivo das tensões do nosso tempo.

LIDERANÇA – Lula procurou encarnar uma liderança capaz de articular os interesses do Sul Global e dar voz a países historicamente marginalizados, enquanto Trump reafirmou o peso dos Estados Unidos como potência que não aceita dividir poder nem abrir mão de sua autonomia.

O futuro, no entanto, não dependerá apenas dos discursos, mas de ações concretas: se as palavras de Lula se transformarão em políticas de cooperação e financiamento internacional; se as promessas de Trump resultarão em estratégias sustentáveis ou apenas em mais isolamento.

Em um mundo pressionado por crises climáticas, conflitos armados e desigualdades crescentes, a escolha entre cooperação ou confronto terá consequências decisivas. O palco da ONU serviu, mais uma vez, como espelho das escolhas que definirão a próxima década.

Zambelli na berlinda: CCJ decide futuro da deputada presa na Itália

Deputada é alvo de um procedimento interno na CCJ

Luísa Marzullo
O Globo

A deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) presta depoimento nesta quarta-feira na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, em processo que pode resultar na cassação de seu mandato. A sessão desta manhã ocorre em meio à prisão da parlamentar, que está detida na Itália e aguarda o resultado do pedido de sua extradição para o Brasil.

Zambelli foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal por participação na invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com auxílio do hacker Walter Delgatti. De acordo com a acusação, ela buscava adulterar documentos oficiais, incluindo a emissão de um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Após a condenação, o STF encaminhou à Câmara o pedido de perda de mandato da deputada.

PARECER – O caso passou a tramitar na CCJ sob relatoria do deputado Diego Garcia (Republicanos-PR). O colegiado já ouviu Delgatti e o perito Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes no TSE. Agora, é a vez de Zambelli ser escutada antes da apresentação do parecer, que será submetido à comissão e, em seguida, ao plenário da Casa.

Antes do pedido de cassação, a deputada havia solicitado uma licença de 127 dias do mandato, concedida pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Desde então, sua cadeira é ocupada pelo suplente Coronel Tadeu (PL-SP). Fora do Brasil, ela teve a prisão decretada pelo STF e permanece sob custódia das autoridades italianas, aguardando decisão sobre um eventual processo de extradição.

A votação na CCJ marcará uma etapa decisiva do caso. Caberá, no entanto, ao plenário da Câmara dar a palavra final sobre a cassação, que exige maioria absoluta para ser confirmada.

Não esperem grandes resultados do próximo encontro de Trump e Lula

Análise: Rota de colisão entre Trump e Lula põe em xeque a democracia  brasileira

Reprodução do Arquivo Google

Carlos Newton

O próximo encontro entre os presidentes Donald Trump e Lula da Silva será uma nova versão do Maior Espetáculo da Terra, sem a direção de Cecil B. DeMille. Apenal um confronto de dois governantes egocêntricos e despreparados, ambos em final de carreira, já com certificado de validade vencido – ambos com 79 anos.

Apesar das evidentes deficiências causadas pela senilidade, ambos se consideram em condições de governar para sempre, porque sonhar ainda não é proibido nem paga imposto.

CONVERSA VIRTUAL – A reunião deve acontecer na semana que vem, segundo Trump, certamente por telefone ou videoconferência, e não deve resultar em nada.

É inimaginável esperar que Trump desista de perseguir Alexandre de Moraes, logo após atingir novamente o ministro do Supremo, ao colocar a mulher dele sob o rigor da Lei Magnitsky.

Da mesma forma, como conceber que Lula abandone a defesa da soberania e do nacionalismo justamente quando as pesquisas (ah, as pesquisas…) indicam que essa bandeira de luta faz com que ganhe facilmente a eleição de 2026, vitória que o transformaria no mais velho político já eleito presidente (em países democráticos, claro).

CEDER É PRECISO – Para haver um mínimo de avanço nesta reunião, pelo menos um dos presidentes teria de ceder em alguns dos quesitos, digamos assim. Aliás, o ideal seria que os dois recuassem um pouco, embora isso seja improvável, em função das deformadas superdimensões dos superegos deles.

De qualquer jeito, foi um avanço o fato de os dois terem se cumprimentado nos bastidores da ONU. Para quem esperava rugidos e rosnados, soou reconfortante.

Fica demonstrado que a filial Brazil já é uma das nações mais importantes do mundo e não pode ser tratada como um dessas sucursais de terceira classe que abundam na órbita da matriz USA. Por fim, sem a menor dúvida, Lula marcou um belo ponto nesse episódio do encontro que ainda não aconteceu.

Eles se odeiam, porém conversaram por 39 segundos e até se abraçaram

Mariosan

Charge do Mariosan (O Popular)

Fabiano Lana
Estadão

Das tantas teorias sobre a política, uma delas é que se trata de uma substituição da guerra por outro mecanismo de poder, menos letal. Até então, sem a existência da política, tribos rivais precisavam entrar em campo de batalha para decidir sobre os seus pontos divergentes. Os mais fortes levavam tudo.

Agora, na democracia, são necessárias intensas negociações e discussões barulhentas e penosas para se chegar a um acordo. Quando não é possível um entendimento, as questões controversas se disputam no voto.

ANTIPOLÍTICA – Quem defende a antipolítica, na prática, quer a volta do estado de violência. Prestem atenção nas franjas do bolsonarismo, que no final das contas, partiram mesmo foi para o quebra-quebra contra as instituições.

O suposto abraço entre o presidente americano Donald Trump e o presidente Lula, na Assembleia Geral da ONU, quando proferiram discursos contundentes em que quase não houve nenhum ponto em comum, mostra algo que é do triunfo da política: manter as boas relações pessoais mesmo que nenhuma ideia se encaixe. Pode ser hipocrisia? Não sabemos. Mas é melhor do que um país declarar guerra a outro quando se estranham. Aliás, quanto tempo duraria o mundo se não houvesse a hipocrisia? Mais de uma semana?

VISÕES DIVERGENTES – Em sua fala, Lula atacou as sanções que o Brasil tem sofrido dos EUA, criticou as políticas anti-imigração patrocinadas por Trump, defendeu ações ambientais, lamentou a decadência do multilateralismo, atacou a política de Israel pela morte de palestinos inocentes e por aí vai.

Trump, na sua vez, disse que as tarifas são para corrigir injustiças históricas contra os EUA, considerou os imigrantes ilegais como traficantes ou estupradores, disse que a agenda verde representa um colapso e o aquecimento global é uma farsa, e defendeu Israel, devido aos reféns que continuam em poder do grupo terrorista Hamas.

SEM CITAÇÕES -Nenhum dos chefes de Estado citou o nome do outro. O Brasil só foi mencionado por Trump perto do final de seu longo pronunciamento, em que disparou com agressividade contra os consensos da política liberal.

Mas eis que o norte-americano sai do protocolo dos discursos lidos (já havia reclamado da quebra do teleprompter, assim como do enguiço da escada rolante) e faz um elogio ao presidente brasileiro. Pelo que dá para induzir da fala de Trump, se encontraram ali pelo plenário da ONU e conversaram por “39 segundos” – e ainda não sabemos se o tempo cronometrado inclui ou não o abraço.

UM HOMEM BOM – Pelo curto tête-à-tête, Trump já concluiu que Lula parece um homem bom e acha que o brasileiro acha o mesmo dele. Irão se encontrar na próxima semana, anunciou. Assim, tirou um peso das costas do líder do PT, bastante criticado por inação em relação ao congênere americano.

Ainda é impossível prever se o encontro ocorrerá de verdade e mesmo se haverá algum resultado positivo. Mas fica o recado para quem defende a tese de que inimigos políticos também devem ser inimigos pessoais.

Nem Trump pensa assim. A civilização, inclusive, se construiu quando conseguimos superar os instintos mais agressivos em nome de uma boa negociação política.

Supremo fecha cerco e assume exclusividade sobre buscas no Congresso

Ilusão à toa! A Casa Branca não vai conseguir salvar Bolsonaro…

Charge: Bolsonaro sentado no colo de Trump

Charge reproduzida do Arquivo Google

William Waack
CNN Brasil

Dogma é dogma justamente porque não se pode duvidar dele. É exatamente isso que ocorre, neste momento, com as forças políticas alinhadas ao bolsonarismo. Elas se recusam a questionar o dogma segundo o qual a Casa Branca irá resolver, a seu favor, aquilo que o bolsonarismo deseja. No entanto, isso não está acontecendo.

Aparentemente, não há qualquer dado da realidade capaz de convencer as forças bolsonaristas de que as sanções, os ataques e as interferências promovidas pelos Estados Unidos na política brasileira estão, na verdade, piorando a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — e não o contrário.

NA SEQUÊNCIA – É unicamente disso que se trata para aqueles que, nos Estados Unidos, estão dispostos a aceitar prejuízos ao próprio país, desde que isso sirva para defender o chefe do clã Bolsonaro.

Esse cenário se repetiu nesta segunda-feira (22), mais uma vez. Assim que o governo americano aplicou a Lei Magnitsky também contra a esposa do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, as negociações em curso para algum tipo de anistia — ou mesmo para uma dosimetria penal mais favorável, que pudesse beneficiar até o próprio Jair Bolsonaro — esfriaram consideravelmente. E o clima aumentou com a notícia do próximo encontro entre Trump e Lula

AO CONTRÁRIO – Do ponto de vista político, o que se observa é o fortalecimento de Lula, e não da direita radical, que o bolsonarismo acredita ser a única capaz de representá-lo. Os bolsonaristas imaginaram, no Congresso, uma troca entre a aprovação da PEC da Blindagem e a anistia, mas estão sofrendo desgaste por não conseguirem conquistar nem uma, nem outra.

Apesar de o bolsonarismo ainda contar com um contingente eleitoral numeroso — que os candidatos da direita julgam não poder ignorar — essa corrente carece de dois elementos fundamentais na política: força suficiente dentro do próprio Congresso e poder de convencimento.

Acreditam que a Casa Branca lhes dará aquilo que não conseguem obter por meios próprios. Isso não passa de um dogma.

As ruas dizem não à blindagem e à anistia

PT mira Tarcísio em inserções de TV e vincula governador à anistia

Trump: “Gostei de Lula, ele gostou de mim — só faço negócios com quem gosto”

Fala de Trump foi um banho de água fria nos bolsonaristas

Deu no O Globo

O presidente americano, Donald Trump, afirmou durante seu discurso na Assembleia Geral da ONU ter se encontrado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pouco antes de ocupar o centro do plenário em Nova York.

Os dois teriam se abraçado e concordaram em se encontrar na semana que vem, segundo o americano. A fala de Trump aconteceu após o discurso do presidente brasileiro, que fez várias críticas indiretas aos EUA e ao republicano. O governo brasileiro confirmou ao O Globo que os presidentes se encontraram, mas não que uma reunião oficial havia sido marcada.

BOA CONVERSA – “Eu estava entrando e o líder do Brasil estava saindo. Eu o vi, ele me viu e nos abraçamos — afirmou Trump. — Combinamos que vamos nos encontrar na próxima semana. Não tivemos muito tempo para conversar, uns 20 segundos. Em retrospecto, que bom que eu esperei, porque isso não tem funcionado bem [diálogo com Lula], mas conversamos, tivemos uma boa conversa, e combinamos de nos encontrar na semana que vem. Mas ele parecia um homem muito legal. Na verdade, ele gostou de mim, eu gostei dele. Eu só faço negócios com pessoas de quem eu gosto. Quando eu não gosto, eu não gosto. Tivemos ao menos 39 segundos de uma química excelente. É um bom sinal “, afirmou o presidente americano.

O governo brasileiro confirmou ao O Globo que Lula e Trump tiveram um encontro breve, mas cordial, após o discurso do brasileiro na abertura da Assembleia Geral. Segundo uma fonte que presenciou a cena, Trump havia assistido à fala do presidente, e no encontro, ambos sinalizaram disposição para um diálogo mais amplo. Ainda não há, porém, uma combinação formal para a reunião citada pelo americano.

A menção à Lula aconteceu em um momento em que Trump se referia às tarifas de 50% impostas pelos EUA a importações brasileiras — uma medida que o Departamento de Estado vinculou a uma série de pautas, incluindo uma suposta perseguição política e judicial ao grupo político do ex-presidente Jair Bolsonaro e à imposição de regulamentações às plataformas americanas, que Washington reputa como censura.

TARIFAS – “O Brasil agora enfrenta tarifas pesadas em resposta aos seus esforços sem precedentes para interferir nos direitos e liberdades de nossos cidadãos americanos e de outros, com censura, repressão,(…) corrupção judicial e ataques a críticos políticos nos Estados Unidos”,  disse Trump antes de citar o presidente brasileiro.

No momento em que foi citado, Lula se mostrou surpreso. Quando Trump começou a falar sobre o Brasil e o suposto futuro encontro com o presidente, o assessor especial Celso Amorim e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, chamaram a atenção do petista na tribuna.

O Itamaraty não solicitou nenhuma reunião bilateral entre Lula e Trump durante à viagem aos EUA. A delegação brasileira, porém, já tinha apontado que em um possível encontro nos corredores da ONU, o presidente “falaria com Trump como fez com Milei na Argentina”.

MENSAGENS – O discurso de Lula, em contrapartida, foi marcado por uma série de mensagens aos EUA, sem que o governo americano ou Trump fossem mencionados diretamente. O presidente denunciou ataques à soberania por meio imposição de sanções arbitrárias e intervenções unilaterais, e falou diretamente sobre tentativas de ingerência.

“Mesmo sob ataque sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia, reconquistada há quarenta anos pelo seu povo, depois de duas décadas de governos ditatoriais. Não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia”,  afirmou Lula momentos antes do discurso de Trump. — A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável. Essa ingerência em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias. Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade.

MUITAS CRÍTICAS – Antes de Trump citar Lula, circularam entre fontes oficiais brasileiras comentários de que o discurso de Trump parecia estar sendo dito “em um bar”, e que “deveriam levar um chope pra ele”. O discurso do presidente americano foi apontado como “patético” por interlocutores.

Agentes políticos que advogam junto ao Departamento de Estado americano pela imposição de sanções ao Brasil, incluindo o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o influenciador e neto do ex-ditador João Batista Figueiredo, Paulo Figueiredo — recentemente denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) —, afirmaram que o aceno de Trump a Lula seria parte de uma estratégia para forçar o presidente brasileiro a ceder às pressões americanas em pautas internas — até o momento, Lula não participou de nenhuma reunião com Trump ou discutiu as exigências de Washington para retirar as sanções.

DISSE EDUARDO — Trump primeiro estressa a relação, se coloca numa posição de superioridade e depois senta à mesa de uma maneira muito mais confortável. Agora o Lula é quem vai ter a obrigação de sair dessa mesa com uma vitória ou explicando que não houve uma violação de direitos humanos no Brasil. O constrangimento está com o lado de Lula. Para quem leu os livros do Trump, ele está fazendo exatamente aquilo que sempre falou e sempre praticou na sua vida empresarial. Não recebi com surpresa não. Ele não busca o conflito, ele busca as melhores posições para atender aos interesses dos americanos porque é um patriota, então ele está certo — disse Eduardo à coluna de Bela Megale.

Apesar da avaliação, a menção ao Brasil não ocupou um espaço central no discurso do americano. Trump citou mais de 20 países antes de se referir a Lula ou ao país, citando aliados e rivais e situações geopolíticas em quase todos os continentes.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGA recueta de Trump foi uma surpresa total. Mas não indica nada. Não se pode presumir que ele vá parar com as sanções e suspender as que já tomou. Trump é uma esfinge muito doida, que se alimenta com ácido lisérgico. Num dia está desequilibrado, e no outro, também. Comprem pipocas. (C.N.)

Um  amor impossível destruía o orgulho do poeta Augusto Meyer

Meyer, retratado por Portinari em 1937

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, folclorista, ensaísta e poeta gaúcho Augusto Meyer (1902-1970), autor do poema “Gaita”, nele confessa que não tem mais palavras para expressar seu amor não correspondido, que está levando seu orgulho e sua vida.

GAITA
Augusto Meyer

Eu não tinha mais palavras,
Vida minha,
Palavras de bem-querer;
Eu tinha um campo de mágoas,
Vida minha,
Para colher.

Eu era uma sombra longa,
Vida minha,
Sem cantigas de embalar;
Tu passavas, tu sorrias,
Vida minha,
Sem me olhar.

Vida minha, tem pena,
Tem pena da minha vida!
Eu bem sei que vou passando
Como a tua sombra longa;
Eu bem sei que vou sonhar
Sem colher a tua vida,

Vida minha,
Sem ter mãos para acenar,
Eu bem sei que vais levando
Toda, toda a minha vida,
Vida minha, e o meu orgulho
Não tem voz para chamar.

Saída de Sabino abre guerra por ministérios e pressiona Fufuca no governo

Manifestações contra anistia superam 7 de Setembro nas redes

A voz das ruas contra a blindagem e a anistia não dá margem a dúvidas

Protestos reuniram milhares de pessoas em várias capitais

Pedro do Coutto

As manifestações realizadas no último domingo em São Paulo, no Rio de Janeiro e em diversas capitais do país não deixaram dúvidas: a sociedade brasileira está mobilizada contra duas iniciativas que, para muitos, representam um ataque direto ao Estado de Direito — a chamada PEC da Blindagem e o projeto de lei de anistia.

Milhares de pessoas ocuparam as ruas em atos pacíficos, mas intensos, denunciando o que consideram ser uma tentativa de privilegiar políticos e enfraquecer a igualdade perante a lei. A PEC da Blindagem, aprovada na Câmara, prevê que o Supremo Tribunal Federal só poderá abrir processos contra parlamentares com aval prévio do Congresso.

LIMITAÇÃO – Na prática, essa medida limitaria a atuação da Justiça e abriria espaço para a impunidade, um retrocesso institucional de peso. Já o projeto de anistia, que pretende beneficiar réus e investigados por ataques antidemocráticos, é visto como ainda mais grave, uma vez que os julgamentos sequer foram concluídos.

A resposta das ruas foi clara: não há clima político nem social para blindagens ou perdões coletivos. Segundo levantamento da Veja, atos contra as duas medidas ocorreram em mais de 30 cidades e 22 capitais, em uma das maiores mobilizações deste ano.

Para lideranças como Guilherme Boulos, o recado ao Senado é direto: a população não aceitará que parlamentares se coloquem acima da lei nem que anistias sejam usadas como ferramenta de esquecimento seletivo. O tom das manifestações reflete a percepção de que tais iniciativas não são apenas extravagantes, mas também ilegítimas, pois afrontam o princípio democrático de responsabilização.

RESPONSABILIZAÇÃO – Ao lado das faixas e cartazes, o sentimento era de que a democracia só se fortalece quando todos respondem por seus atos, independentemente de cargos ou alianças políticas. No centro da disputa está um dilema maior: de um lado, defensores da blindagem e da anistia alegam que o Judiciário extrapola funções e que seria preciso reequilibrar os poderes; de outro, críticos sustentam que esse argumento não pode servir de pretexto para enfraquecer investigações e permitir que agentes públicos escapem de punições.

O risco é institucional e simbólico: se o Congresso insistir em aprovar essas medidas, poderá abrir um precedente perigoso e corroer a confiança da sociedade nas instituições. Mais do que um recado, as ruas deram um aviso inequívoco: a democracia exige limites claros ao poder, e qualquer tentativa de subvertê-los será enfrentada com mobilização popular. O Brasil vive um momento em que ignorar esse clamor não é apenas um erro político — é um atentado contra a legitimidade do próprio sistema democrático.

Climão no Supremo: Fux isola-se após voto pela absolvição de Bolsonaro

Fux foi o único que votou pela absolvição do ex-presidente

Bela Megale
O Globo

Dias após o julgamento que condenou Jair Bolsonaro a 27 anos de prisão, o clima entre os ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) e Luiz Fux segue “azedo”, segundo relatos de magistrados da corte.

Fux foi o único dos cinco integrantes do colegiado que votou pela absolvição do ex-presidente e da maioria dos condenados da trama golpista. Os ministros afirmam que não houve embates ou troca de farpas nos bastidores, mas dizem que o climão ficou instaurado e que é “muito improvável” uma reaproximação de qualquer membro da Primeira Turma, inclusive Alexandre de Moraes, com Fux.

CLIMÃO – A avaliação é que a inclusão da advogada Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro, na Lei Magnitsky, pode piorar ainda mais o clima. Os magistrados destacam que o problema não foi a divergência do voto de Fux, mas a maneira como ele mostrou sua posição.

A leitura majoritária entre os membros da Primeira Turma é que o colega não proferiu seu voto em um rompante e trabalhou detalhadamente numa fala que abastece o discurso de Jair Bolsonaro e seus aliados de ataques ao STF e seus membros.

— É muito difícil o clima voltar ao normal. O ministro Fux sabia bem o que estava fazendo e não fez uma manifestação em um arroubo. Tudo que leu foi escrito, estudado. Ele, inclusive, evitou ir na sala de lanches durante o julgamento para nos encontrar — disse um magistrado.

INDIGNAÇÃO –  Os ministros relataram que Fux evitou encontrar os colegas nos intervalos do julgamento de Bolsonaro porque sabia do “clima de indignação” de todos.

A leitura dos magistrados é que, com seu voto, o ministro não só foi contraditório em relação às posições que sustentou em julgamentos do 8 de janeiro como também abasteceu os ataques ao STF em um momento em que o tribunal está pressionado pelos bolsonaristas e pela gestão Donald Trump.

Outro magistrado descreveu que o ambiente com Fux seria “o pior possível” e disse que ele “não foi coerente” e ainda “incorporou uma narrativa que coloca seus colegas e a corte na linha direta de ataques”.