
Charge do Oliveira (Arquivo Google)
William Waack
Estadão
Olhando para a PEC da Blindagem na Câmara pode-se argumentar se é a esculhambação na política que leva a uma perda de juízo generalizada, ou se é o contrário. O resultado permanece o mesmo.
É o agravamento de uma situação em si bastante perigosa, que vem se disseminando há bastante tempo e se solidificando em vastos estratos sociais, ignorando divisões ideológicas. É a ideia de que o “sistema” está quebrado.
TUDO ERRADO – Por “sistema” entende-se “tudo”, ou seja, partidos, Poderes, leis, instituições, normas, regulamentos. Esse conjunto é percebido como incapaz de responder às questões mais desafiadoras (como crescimento da economia, por exemplo) ou é visto como viciado para favorecer determinada corrente grupo política e perseguir outra.
A crise brasileira mais abrangente pode ser descrita como a incapacidade de enfrentar os principais problemas “estruturais” (os grandes responsáveis por desigualdade, miséria e injustiça), tais como a janela demográfica, a estagnação da produtividade e os péssimos resultados em educação.
A expressão mais imediata dessa grande crise é o clima de cada um por si.
EXEMPLOS FORTES – A reforma tributária (na qual quem podia garantiu o seu) e as renúncias fiscais (a exceção vira direito adquirido) são exemplos fortes desse arraigado estado de espírito.
No sentido ainda mais imediato a PEC da Blindagem (ou da bandidagem, como se quiser) é mais um retrato nítido de como o corporativismo de agentes públicos opera principalmente para conquistar ou defender o que é “seu”.
A erosão da legitimidade e a desmoralização dos Poderes tem sido, nesse sentido, uma obra coletiva de longa duração.
DESMORALIZAÇÃO – O sistema de governo colabora para desmoralizar a figura do chefe do Executivo (que nada faz sem o Legislativo).
O sistema proporcional de voto colabora para tornar principalmente a Câmara uma casa de baixíssima representatividade, fracionada e dissociada de interesses nacionais abrangentes (fora todo o resto).
Integrantes do STF tem dificuldades em reconhecer como a própria instituição está sendo desmoralizada na luta política da qual passou a fazer parte como ator. A realidade política que a Corte enfrenta é a do crescente descrédito junto a uma enorme parcela da sociedade que não pode ser designada como “adversários liberticidas bolsonaristas”.
REINA A ANSIEDADE – Os avanços incrementais que alguns operadores políticos detectam (como melhoria na legislação eleitoral, por exemplo) contrastam com um ambiente geral no qual prevalecem hoje imprevisibilidade, insegurança jurídica e a falta de lideranças abrangentes dentro ou fora da política.
Cabe tudo, porém, na palavra do momento: ansiedade.

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Paulo Peres







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