
Moraes deixou claro que o STF não cederá a intimidações externas
Pedro do Coutto
O julgamento de Jair Bolsonaro e de mais sete apoiadores no Supremo Tribunal Federal iniciou-se como um dos momentos mais decisivos da democracia brasileira. A acusação é grave: uma trama golpista que, segundo documentos e delações, previa impedir a posse de Lula em 2023 e até atentar contra autoridades como o próprio presidente, Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.
Como era esperado, a defesa optou pela tese da negação absoluta, alegando que nada do que se narra de fato ocorreu. Porém, essa estratégia esbarra na dureza dos fatos. Minutas de golpe, depoimentos como o de Mauro Cid e provas documentais tornam insustentável a versão de que tudo não passou de imaginação. Quando a realidade se impõe, a negação vira contradição.
RECADO – Moraes, ao abrir os trabalhos, deixou claro que o STF não cederá a intimidações externas, enviando um recado direto a Eduardo Bolsonaro, que buscou apoio em Donald Trump e até aventou sanções contra o ministro.
O movimento foi visto como um desastre político, uma demonstração de desespero que beirou o absurdo. Afinal, o que se pretendia? Uma intervenção armada americana em solo brasileiro? A resposta é óbvia: não havia nem condições materiais nem legitimidade internacional para tamanho disparate. A tentativa de instrumentalizar pressões externas apenas reforçou a postura firme da Corte em defesa da soberania nacional.
Enquanto isso, no Congresso, ganha fôlego a discussão sobre uma anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Bolsonaro defende a medida como atribuição do Legislativo. Porém, o máximo que se pode esperar é algum abrandamento de pena em casos específicos, como o do tenente-coronel Mauro Cid, que fez acordo de delação premiada. No mais, as chances de absolvição são mínimas.
ESTADO DE DIREITO – Esse julgamento também lança luz sobre o papel das instituições brasileiras na contenção de aventuras autoritárias. O STF, ainda que alvo de críticas e pressões, mostra-se como um pilar na defesa do Estado de Direito, sustentando a ordem constitucional diante de tentativas de ruptura.
Ao mesmo tempo, a sociedade civil acompanha atenta, dividida entre aqueles que exigem punição exemplar e os que, por convicção ou conveniência política, insistem em relativizar a gravidade dos acontecimentos. A forma como o tribunal conduzirá esse processo será lembrada como uma prova de maturidade democrática ou como um risco de fragilização institucional.
O mundo observa como o Brasil lida com uma tentativa de golpe que, se tivesse prosperado, mergulharia o país em uma crise sem precedentes. A resposta firme das instituições serve como sinal de que a democracia brasileira, embora constantemente testada, mantém resiliência. Essa percepção externa é vital não apenas para a imagem do país, mas também para a confiança em sua estabilidade política e econômica. Assim, mais do que um julgamento de pessoas, trata-se de um julgamento de valores: democracia contra autoritarismo, verdade contra negação, soberania contra submissão.



Mariana Sanches






Vicente Limongi Netto 
Mario Sergio Conti
