Pela primeira vez, Zelenski admite que pode ceder territórios para a Rússia

Lamento que Otan não tenha nos ouvido, diz Zelenski - 24/07/2022 - Mundo -  Folha

Sem apoio dos EUA, Zelesnki devolverá terras à Rússia

Deu na Folha

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, afirmou neste domingo (17) que as negociações com a Rússia para o fim da guerra podem ter como base a linha de frente atual do conflito, e esta é a primeira vez que o líder ucraniano admite colocar na mesa parte de seu território.

“Precisamos de negociações reais, o que significa que podemos começar por onde está a linha de frente agora”, disse ele, após encontro com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em Bruxelas.

REUNIÃO, HOJE – O líder ucraniano viajou à sede da União Europeia na tentativa de mobilizar apoio de aliados europeus, todos apartados da cúpula entre Donald Trump e Vladimir Putin na sexta-feira (15). Zeleski, Von der Leyen e outros líderes do continente viajam a Washington nesta segunda-feira (18) para se reunir com o americano.

A cúpula entre Putin e Trump terminou sem um improvável cessar-fogo, que havia sido colocado como condição por Trump para que Moscou não sofresse “consequências severas”. O republicano, no entanto, saiu do encontro emulando os termos do Kremlin para o fim do conflito, defendendo um acordo de paz permanente em vez de um cessar-fogo, algo que favorece a posição russa.

Trump também fala agora em troca de território para finalizar um pacto, termo que agrada ao Kremlin. Putin tem pouco mais de 400 km² sob seu controle em Sumi e Kharkiv, áreas que não fazem parte das quatro regiões que anexou ilegalmente e que reivindica —são elas Donetsk, Lugansk, Zaporíjia e Kherson, além da Crimeia ocupada desde 2014 que já vê como sua e pouco é considerada em discussões sérias sobre o fim do conflito.

NOVAS FRONTEIRAS – Cerca de 6.600 km² de Donetsk ainda estão sob controle ucraniano, embora tropas russas tenham ganhado terreno recentemente próximo a cidades relevantes no local, ameaçando as defesas de Kiev. A troca, portanto, pode se referir à entrega da totalidade de Donetsk aos russos pelo retorno da pequena área de Sumi e Kharkiv. Lugansk já está toda sob controle de Moscou, que pode aceitar recortar Zaporíjia e Kherson e congelar o território no desenho atual da linha de frente.

Neste domingo, apesar do recuo em sua posição até aqui intransigente quanto a ceder territórios, Zelenski reiterou que busca uma pausa no conflito antes de negociar um acordo permanente.

Os péssimos sinais vindos do encontro Putin-Trump para Kiev, apartado na prática da discussão sobre o fim da guerra, é também deplorado por europeus, temerosos das aspirações de Putin para o resto do continente. A reação à cúpula, porém, foi cautelosa e em tom propositivo, com os principais líderes buscando caminhos que contemplassem a nova realidade.

GARANTIAS SÓLIDAS – Ursula von der Leyen, por exemplo, já havia se pronunciado antes de receber o ucraniano, afirmando que “garantias de segurança sólidas que protejam os interesses vitais de segurança da Ucrânia e da Europa são essenciais” e, por isso, que está trabalhando em “estreita colaboração com Zelenski e os EUA”.

Neste domingo, Zelenski e Von der Leyen se reuniram também com o presidente da França, Emmanuel Macron, e os primeiros-ministros da Alemanha, Friedrich Merz, do Reino Unido, Keir Starmer, e da Suécia, Ulf Kristersson.

Em Bruxelas, a presidente da Comissão Europeia afirmou que a Europa continuará “a apoiar o caminho da Ucrânia em relação à adesão à União Europeia”, adicionando que não poderia haver limitações às Forças Armadas de Kiev em eventual acordo de paz. Não falou em adesão à Otan, a aliança militar ocidental.

FRENTE UNIDA – Macron fez coro à Von de Leyen e ainda afirmou que a reunião de segunda representará uma frente unida da Ucrânia com seus aliados europeus. “Se mostrarmos fraqueza hoje diante da Rússia, estaremos preparando o terreno para conflitos futuros”, alertou.

Um dos pontos em discussão seria implementar garantias de segurança à Ucrânia, semelhante ao que prevê o artigo 5 da carta fundadora da aliança, mas sem incluir Kiev no grupo, algo que é inadmissível para Putin.

A ideia da garantia alternativa foi ventilada pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, no sábado (16). Neste domingo, o enviado especial americano, Steve Witkoff, afirmou em entrevista à rede americana CNN que Putin concordou com a ideia do oferecimento de garantias de segurança dos EUA e da Europa nos moldes do artigo 5 da Otan a Kiev, sem a admissão dos ucranianos ao grupo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Quer dizer que toda a mortandade, toda a destruição de cidades inteiras, toda a gastança de armas, munições, combustíveis e alimentos, tudo isso que ocorreu para evitar que a Rússia avançasse suas fronteiras sobre a Ucrânia, foi tudo em vão? Que mundo é esse, minha gente? Quem explica uma loucura nesse nível? (C.N.)

O poder do silêncio: a lição de Vargas lembrada por Elio Gaspari

Presidente cultivava seus silêncios estratégicos

Pedro do Coutto

No artigo publicado ontem em O Globo e na Folha de S.Paulo, Elio Gaspari lembra que Getúlio Vargas demonstrou, em plena Segunda Guerra Mundial, que o silêncio pode ser mais estratégico do que qualquer discurso. Em 1942, Franklin Roosevelt pressionava intensamente o Brasil a ceder bases militares em Natal e Recife, pontos considerados vitais para a logística americana rumo à África contra o nazismo.

O Pentágono já tinha, como lembra Gaspari, o “Plan Rubber” pronto — um esboço de invasão do Nordeste caso a negociação diplomática fracassasse. Vargas, diante de um cenário que poderia ter transformado o Brasil em mero satélite de Washington, preferiu o caminho da paciência e da ambiguidade. “Ganhou a guerra calado”, escreve Gaspari, sintetizando a habilidade de um líder que soube usar a ausência de resposta como uma forma de poder.

ESTRATÉGIA – O silêncio de Vargas não foi um gesto de submissão, mas uma estratégia calculada. Ao não ceder de imediato, manteve margem de manobra e, quando autorizou a instalação das bases, fez isso em condições que reforçaram a soberania brasileira e asseguraram ganhos políticos e militares. Gaspari lembra que, com essa manobra, o país não apenas evitou a ocupação, como ainda saiu fortalecido na cena internacional, ingressando na guerra como aliado de peso.

O paralelo que Gaspari traça com o presente é revelador. As pressões externas não desapareceram; apenas mudaram de forma e intensidade. Se no passado a diplomacia americana se valia de notas, telegramas e ameaças veladas, hoje ela pode surgir em declarações públicas, tweets presidenciais ou sanções anunciadas em rede internacional.

A diferença está no estilo: enquanto Roosevelt combinava diplomacia firme com cautela estratégica, Donald Trump apostou em humilhações públicas e barganhas de balcão, numa lógica em que a comunicação é mais importante que a construção de confiança.

SILÊNCIO – Há, contudo, um ponto crítico a ser observado. O silêncio de Vargas no plano externo contrasta com o silêncio imposto no plano interno. A mesma habilidade de calar frente a Roosevelt vinha acompanhada, dentro do Brasil, de censura, repressão e autoritarismo. Ou seja, a tática que se mostrou virtuosa no campo diplomático tinha um reverso sombrio quando aplicada à política doméstica.

O ensinamento que Gaspari nos ajuda a revisitar, portanto, não é o de exaltar Vargas em bloco, mas o de compreender que a prudência e o cálculo podem ser mais eficazes que a retórica vazia quando se trata de defender os interesses nacionais.

Num mundo saturado de ruído, declarações impulsivas e confrontos verbais, a lição que emerge desse episódio histórico é clara: saber quando falar é importante, mas saber quando se calar pode ser decisivo. E como conclui Gaspari, talvez o maior legado de Vargas tenha sido mostrar que, diante das grandes potências, o Brasil não precisa se ajoelhar nem gritar — basta ter inteligência para escolher o silêncio certo, no momento certo.

Incluir Malafaia em inquérito de Eduardo Bolsonaro pode causar reação evangélica

Silas Malafaia grava vídeo aos berros após virar alvo da PF

Malafaia desafia a PF: “Estão procurando a pessoa errada”

Carla Araújo
do UOL

A inclusão do pastor Silas Malafaia no inquérito que investiga as ações de Eduardo Bolsonaro contra o Brasil nos Estados Unidos gerou um alerta no Supremo Tribunal Federal: a reação dos evangélicos. A informação de que o pastor foi incluído no mesmo inquérito que envolve Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo foi divulgada pela GloboNews. O inquérito está sob sigilo.

A colunista Bela Megale, do jornal O Globo, relatou que o ministro André Mendonça conversou com o decano Gilmar Mendes sobre a preocupação com a reação da Igreja Evangélica.

MAIS UM ERRO – Mesmo destacando que Malafaia não é uma unanimidade entre os evangélicos, a avaliação é que Moraes reforça a narrativa de que não se pode fazer críticas a sua condução dos inquéritos e que estaria atentando contra a liberdade de expressão.

Outro ministro ouvido pela coluna disse concordar com a avaliação de Mendonça e ressaltou que a comunidade evangélica nos EUA é muito forte e poderosa, por isso a inclusão de Malafaia tende a piorar a situação, com novas sanções.

O inquérito foi aberto em maio e apura supostas ações contra autoridades, contra o tribunal e agentes públicos, além de articulação para obtenção de sanções internacionais contra o Brasil. Foi com base nesse inquérito que Moraes determinou o bloqueio das contas e bens do deputado. De acordo com a assessoria de imprensa da Câmara, a decisão foi comunicada à Casa no dia 24 de julho. A partir dessa data, os “valores serão retidos conforme a determinação recebida”. 

Bancos brasileiros analisam contas de Moraes para aplicar Lei Magnitsky

Banco Master, com 30 processos no STF, contrata escritório de esposa e  filhos de Alexandre de Moraes. - Notícias | Portal 7 Cidades

É preciso saber até que ponto a lei atingirá as famílias

Letícia Casado
do UOL

Os bancos brasileiros estão analisando as contas e ativos financeiros do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), para aplicar, onde couber, as restrições impostas pelos Estados Unidos por meio da lei Magnitsky, apurou a coluna.

A punição entrou em vigor no fim de julho. Desde então, as instituições financeiras brasileiras têm feito consultas a escritórios de advocacia nos EUA para entender quais bens e transações do ministro devem ser congelados ou cerceados e executar a ordem.

SOBRAM DÚVIDAS – Existe consenso, entre os especialistas, de que o indivíduo sancionado não pode comprar e vender dólares nem aplicar em nenhum produto de investimento que tenha qualquer conexão com o mercado norte-americano. Mas sobram dúvidas no que diz respeito a outros tipos de operação e às penalidades para os bancos que não cooperarem.

Os grandes bancos ficaram incomodados com os comentários de Eduardo Bolsonaro, na quinta, de que parece que não estão obedecendo à determinação do governo de Donald Trump.

Como se trata de uma situação inédita envolvendo uma legislação internacional complexa e existem regras de sigilo bancário no Brasil que também precisam ser observadas, as instituições financeiras não estão falando publicamente sobre suas ações, mas têm agido para cumprir os requerimentos.

GRANDES VIOLADORES – A lei Magnitsky foi desenhada para ser aplicada a grandes violadores de direitos humanos apontados como responsáveis por genocídio, estupros em massa, tortura e trabalho forçado, entre outros crimes.

O governo americano aponta Moraes como violador do direito de liberdade de expressão no Brasil, mas juristas especializados em direito internacional entendem que o ministro não se enquadra nessa classificação e que a lei está sendo manipulada para atingir desafetos.

Depois de derrotar o Hamas, agora Israel precisa derrotar Netanyahu

Benjamin Netanyahu: What are the corruption charges? - BBC News

Com Netanyahu no poder, Israel jamais terá paz duradoura

Mario Sabino
Metrópoles

O exército de Israel já planificou a ocupação da cidade de Gaza, apesar da oposição dos seus generais à ordem emanada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, interessado em estender a guerra ao máximo para não ter de responder aos crimes dos quais é acusado em seu país. Não importa a patente, soldados obedecem.

Do outro lado do jogo político macabro, o Hamas resiste a devolver os reféns israelenses que ainda permanecem sob o seu jugo, vítimas de um cotidiano de torturas e humilhações, como demonstra o vídeo que exibe o esfaimado Evyatar David cavando o que seria a própria cova. Quem paga pela vileza é a população de Gaza, que continua a servir de escudo para os terroristas.

Imagem colorida de Evyatar David, refém do Hamas - Metrópoles

Evyatar David, um dos reféns ainda vivo

VALOR DA VIDA – A verdade invisível apenas a antissemitas e aos seus cúmplices ingênuos é que a vida de um palestino tem o mesmo valor da vida de um judeu para esses facínoras.

Estima-se que, dos 50 reféns israelenses que continuam nas mãos do Hamas, apenas entre 20 e 23 estejam vivos. À diferença do início da guerra, os terroristas não têm quase nada a perder se matarem todos, uma vez que o Hamas profissional foi dizimado pelo exército israelense.

Israel não fornece números, mas governos europeus acreditam que 20 mil terroristas morreram nos bombardeios a Gaza. Foram substituídos por jovens com idade média de 19 anos e nenhum treinamento.

SEM COMANDANTES – O Hamas também foi decapitado dos seus comandantes. Sobraram entre seis e sete chefes militares de segunda linha, que vivem escondidos em buracos e dificilmente se comunicam entre eles.

Os terroristas não dispõem mais de foguetes para atingir território israelense, têm apenas armas leves, e a sua ação hoje se resume a atos de guerrilha em Gaza. Sem poder contar com o financiamento do Irã, derrotado por Israel, o Hamas não tem como se rearmar.

Israel venceu os terroristas, mas não conseguiu reaver todos os reféns. Dificilmente sairá desse beco, se não derrotar também Benjamin Netanyahu.

Anistia aos golpistas é bomba deixada por Arthur Lira para Motta

Arthur Lira defende proposta para limitar ações no Supremo | Agência Brasil

Arthur Lira só apareceu em plenário no final da sessão

Victor Ohana e Pepita Ortega
Broadcast

Líderes de bancadas da Câmara dos Deputados avaliam que o ex-presidente da Casa Arthur Lira (PP-AL) deixou uma “bomba” para o sucessor Hugo Motta (Republicanos-PB) ao não ter resolvido a questão da anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A avaliação foi feita após a oposição ter ocupado o plenário da Casa em resposta à prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro. Procurado, Lira não atendeu a reportagem. O espaço segue aberto.

O bloco da oposição reivindicou a anistia e restrição de Poderes do Supremo Tribunal Federal (STF). A retomada dos trabalhos se deu na quarta-feira, 6. Nas negociações, Lira foi chamado pela oposição para colaborar na resolução do conflito, o que preocupou interlocutores de Motta.

O QUE DIZEM – Reservadamente, líderes saíram em defesa de Motta e avaliaram que, ao chamar Lira, o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), quis desqualificar o atual presidente da Câmara. Além disso, para deputados, Sóstenes foi a Lira quando não viu mais possibilidade de acordo. Eles argumentam que os líderes já haviam decidido retomar os trabalhos.

Para um líder ouvido pelo Estadão/Broadcast, Motta não conduziu o assunto de modo errado porque, ao assumir o posto deixou bem claro que se pautaria através do diálogo. Segundo esse líder, a decisão de Lira de postergar o assunto resultou em um “acúmulo de insatisfações”.

Para outro líder “solidário” a Motta, a postergação de Lira piorou a crise porque a oposição agora tem as armas esgotadas e busca o “confronto direto” com o atual presidente da Câmara. Segundo esse deputado, a forma como Motta atua para evitar confrontos é confundida equivocamente como sinal de fraqueza.

EFEITO RETARDADO – Outro aliado de Motta chegou a classificar a “bomba” que teria sido deixada por Lira como “de efeito retardado”, considerando que os temas agora reivindicados pela oposição já estavam em “fogo brando” na Casa.

Como mostrou o Estadão/Broadcast, líderes consideram que o saldo principal da mobilização da oposição foi uma convergência com o Centrão em relação ao descontentamento com o STF, com a discussão de temas em suposta resposta à Corte máxima como o fim do foro privilegiado e a restauração de prerrogativas parlamentares.

Para aliado do presidente da Câmara, as reivindicações da oposição com maior chance de passar na Casa são a restrição a decisões monocráticas de ministros do STF – por já ter sido debatida no Senado – e o fim do foro privilegiado – por se tratar de um tema que, de modo geral, a Casa deseja.

EXISTE ACORDO? – Com relação à marcha de Sóstenes até o gabinete de Lira, esse deputado avalia que o líder do PL procurou o ex-presidente da Câmara enquanto cardeal do PP, e não para resolver a questão. No mesmo dia, Sóstenes anunciou, ao lado de líderes do PP e do União, que havia um acordo entre eles para que fosse debatido o foro privilegiado e depois a anistia.

Questionado pela reportagem se quis desqualificar Motta ao recorrer a Lira, o líder do PL disse que ligou para o ex-presidente da Câmara após uma discordância com Motta na tarde daquela quarta-feira. “Quando eu liguei para o Lira, é porque nós tínhamos tido um problema (com Hugo Motta)”, afirmou.

Por conta do desentendimento, Sóstenes afirmou não ter se sentido confortável para ir à reunião de líderes à noite. O líder do PL, então, disse que o ex-presidente da Câmara lhe telefonou e lhe “emprestou” o gabinete, para que pudesse conversar com ele e outros cardeais do Centrão. “Ele (Lira) me emprestou a sala”, declarou. Após o debate no gabinete de Lira, o grupo se dirigiu a Motta. Ainda de acordo com o líder do PL, a discordância que o deixou desconfortável foi a mesma pela qual ele pediu perdão a Motta no plenário. Da tribuna, Sóstenes disse na quinta, 7, que “não foi correto” com Motta “no privado” e agradeceu o presidente por ter sido “muito paciente”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
O problema é que Sóstenes ainda não tem o apoio de líderes que representem a maioria absoluta da Câmara (metade mais um dos deputados), para aprovar a “urgência urgentíssima”. Enquanto não conseguir, a anistia não começa a tramitar. (C.N.)

O surpreendente mundo da química é ideal para ampliar divulgação científica

Conheça a lista de 9 objetos básicos obrigatórios em um laboratório escolar  de química | Prolab

Avanços da química são incentivos para os estudante

Hélio Schwartsman
Folha

O mundo precisa desesperadamente de alfabetismo científico. Basta lembrar que, em 2020, Donald Trump, em sua primeira passagem pela Casa Branca, sugeriu que cientistas investigassem se injetar desinfetantes no corpo de pacientes não seria a solução para a pandemia de Covid.

Tudo bem que Trump é um cara fora da curva e só estava pensando alto. Mas respeitados membros da comunidade médica insistiram no uso de cloroquina contra a moléstia mesmo quando já havia muitos ensaios clínicos mostrando que essa droga antimalárica não era efetiva contra o Sars-CoV-2.

ESTUPIDEZ – Mesmo hoje, cinco anos depois de uma pandemia da qual o mundo foi resgatado por vacinas, parte das populações de países ricos e instruídos recusa imunizantes, provocando a ressurgência de doenças que haviam se tornado raras nesses lugares.

Contra a estupidez lutam os próprios deuses em vão, afirmou Schiller. Mas daí não decorre que devamos desistir. É aí que entram divulgadores de ciência como Joe Schwarcz, que acaba de ter uma de suas obras, “O Surpreendente Mundo da Ciência”, lançada no Brasil.

Schwarcz é um clássico da divulgação científica. Isso significa que ela pega casos curiosos, identifica neles uma questão científica e a esclarece, quase sempre ampliando ainda mais a discussão. A ideia é usar boas e bem contadas histórias para despertar no público o interesse pela ciência.

PSEUDOCIÊNCIAS – Quanto mais cientificamente alfabetizada for a população, menos espaço haverá para pseudociências, charlatanismos e cloroquinismos. E, se há algo que Schwarcz sabe fazer, é transformar sua área de especialidade, que é a química, em histórias interessantes.

Ao fazê-lo ele trata de questões primordiais para a vida das pessoas, como a alimentação, e do planeta, como poluição e mudança climática.

De forma menos vital, mas igualmente interessante, ele desvenda até a química do cheiro de livros, tanto os velhos como os novos. E informa usuários de Kindle saudosistas que já existem perfumes e velas com os aromas de que eles tanto sentem falta.

Getúlio Vargas ganhou a guerra calado; Lula está perdendo, porque fala demais…

Lula,como Vargas, luta contra patrimonialismo tupiniquim sob capitalismo em  crise e guerra mundial à vista - Patria Latina

Ilustração: Pátria Latina

Elio Gaspari
Folha

Valeria a pena mandar um pesquisador aos arquivos do Itamaraty para consultar a conduta de Getúlio Vargas durante os primeiros anos da Segunda Guerra Mundial. Ele tinha um enorme abacaxi no colo. Depois da entrada dos Estados Unidos na guerra, em 1941, o Brasil corria o risco de uma invasão para assegurar o controle de pistas de pouso no Saliente Nordestino. Voando de Natal, os aviões americanos poderiam chegar à África.

Os personagens dessa época nada tinham em comum com os da crise de hoje. O presidente americano Franklin Roosevelt era um simpático profissional, enquanto Donald Trump faz da antipatia um estilo de vida. Vargas cultivava seus silêncios, já Lula fala o que lhe vem à cabeça.

SILÊNCIO – Com a entrada do Brasil na Guerra e a criação da Força Expedicionária Brasileira, Getúlio fez do limão (o risco da invasão) uma limonada. O silêncio foi sua arma. Em 1938, um ano antes do início da guerra, os Estados Unidos já olhavam para a importância estratégica do Saliente Nordestino.

Getúlio era uma esfinge, mas os generais Eurico Dutra e Góes Monteiro eram germanófilos assumidos. Um era ministro da Guerra e o outro, chefe do Estado-Maior do Exército e condestável militar do Estado Novo.

Em janeiro de 1939, os americanos pediram o primeiro estudo de ocupação do Saliente. Em agosto, um mês antes do início da guerra na Europa, o Exército americano desenhou o Plano Rainbow (Arco-Íris). De prático, resultou o envio de um cônsul para Natal, com o objetivo de colher informações. Meses depois a cidade estava mapeada, localizando até mesmo a casa do bispo.

DIZIA VARGAS – Em maio de 1940, Vargas escreveu: “As notícias da guerra são de uma verdadeira derrocada para os Aliados. O povo, por instinto, teme a vitória alemã; os germanófilos exaltam-se. Mas o que ressalta evidente é a imprevidência das chamadas democracias liberais.”

Meses depois da tomada de Paris, o embaixador alemão no Rio achava que os militares brasileiros não aceitariam bases americanas, caso os Estados Unidos entrassem na guerra. Tudo bem, mas, na mesma semana, os americanos estavam de olho em Natal e registravam:

“O aeroporto não é guardado por tropas ou polícia… aviões de transporte vindos da África ou Açores podem surpreender tropas terrestres e ocupar Natal e outras cidades da corcunda do Brasil.”

PISTA DE POUSO – Vargas se equilibrava, prometia a base, negociando armas e, se possível, uma siderúrgica. Os americanos construíram pistas de pouso com dinheiro de um fundo secreto e o logotipo da companhia PanAmerican.

O embaixador alemão continuava convencido de que não haveria acordo. Afinal, os generais Dutra e Góes Monteiro remanchavam e queixavam-se a Vargas. Ele escrevia: “O ministro da Guerra falou-me dos planos que os americanos alimentaram, de ocupação do nosso território” (…) “Góes convencido de que os americanos querem ocupar o nosso território do Nordeste, a pretexto de nos defender contra ataques alemães.”

Em setembro de 1941, Dutra era claro: “A vinda agora de elementos americanos para o Brasil acarretaria a consequência de anular nossa soberania na região.”

PLANO DE OCUPAÇÃO – Em 1993, o repórter Lauro Jardim revelou que, em novembro de 1941, os Estados Unidos tinham um plano para invadir o Brasil, ocupando Natal, Recife, Belém, Salvador, São Luís, Fortaleza e a Ilha de Fernando de Noronha.

Em dezembro, os japoneses atacaram Pearl Harbor. Os EUA entraram na guerra e foram buscar o Saliente Nordestino. O então tenente-coronel Kenner Hertford contaria:

Para encurtar a história, os brasileiros aceitaram cem fuzileiros em Belém, outros cem em Natal e mais cem em Recife e Fortaleza. (…) Concordaram em que nosso Exército assumisse o controle das torres dos aeroportos. Inicialmente, não podiam usar uniformes”. E a pista de Parnamirim, perto de Natal, foi uma das mais movimentadas da época.

Collor foi condenado pelo Supremo por ter apoiado Bolsonaro em 2022

Moraes pede documentos à defesa de Collor para justificar prisão domiciliar

Aos 76 anos, Fernando Collor tem transtorno afetivo bipolar

Vicente Limongi Netto                                                                   

Saúde para Fernando Collor, que dia 12 completou 76 anos de idade.  Somos amigos há 40 anos. Um dia a verdadeira história republicana fará justiça a Collor de Mello. Em todos os cargos públicos que ocupou, Collor sempre trabalhou pela coletividade com vigor e determinação. Com o mesmo inabalável espírito público. Como todo ser humano, errou muito, mas também acertou bastante. 

Collor nunca foi dissimulado. Enfrentou com rigor obstáculos e calúnias de infames, covardes e decaídos. Como presidente da República, Collor tirou o Brasil das amarras do atraso. Deixou leis que permanecem servindo aos brasileiros, como o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código de Defesa do Consumidor. Sempre defendeu a Constituição e um Senado forte e soberano. 

ABSOLVIDO – No STF foi absolvido por unanimidade em dois julgamentos. Mas há pouco virou réu e condenado, pelo mesmo Supremo Tribunal Federal. Julgamento torpe e vingativo.

O erro crucial e mortal de Collor, eleito chefe da nação com 40 anos de idade, foi ter apoiado Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais, na disputa com Lula da Silva em 2022.

A corte, agora esmerado puxadinho do PT e de Lula, foi implacável. Os olhos dos carrascos de Collor sangraram, de tanto fervor cívico. Collor jamais temeu eleições. Sempre foi eleito pelo voto direto.

COMENDA – A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviço e Turismo (CNC) condecorou o presidente do Sistema Fecomércio-DF, José Aparecido Freire, com a Ordem Nacional do Mérito Comercial, no grau de cavaleiro.

A comenda foi entregue pelo presidente da CNC, José Roberto Tadros, que enalteceu as qualidades pessoais e profissionais de Aparecido. Por sua vez, Aparecido destacou:

“Tadros nos mostra como trabalhar com transparência e dedicação. Nesses últimos 6 anos seu trabalho uniu mais nossa entidade e ajudou o Brasil a conhecer melhor a CNC, o Sesc e o Senac”.

PEQUENO POEMA – Para nos conduzir neste domingo, um pequeno poema, “Acenos” –  O dorso nu mostra o coração florido./ O céu descobre mãos suaves,/ Sombreadas com nuvens prontas para o baile dos aflitos.

Na Libertadores, há poucas jogadas de ataque para invadir as retrancas 

Dois jogadores de futebol estão em campo. Um deles, à esquerda, está vestindo uma camisa branca com detalhes vermelhos e calças brancas, com uma expressão de desânimo, passando a mão na cabeça. O outro jogador, à direita, está usando uma camisa listrada em vermelho e preto, com o número 9 nas costas. Ao fundo, é possível ver uma arquibancada com torcedores e uma faixa.

40% dos gols do Flamengo estão saindp de bola parada

Tostão
Folha

Pela Libertadores, Flamengo e Inter fizeram um jogo estratégico, intenso, com muita marcação, mas com pouca criatividade e qualidade técnica. O Flamengo dominou a maior parte do jogo, porém, como tem sido habitual, criou poucas chances de gol. Jorginho, excelente meio-campista, que geralmente inicia as jogadas ofensivas no próprio campo com ótimos passes, posicionava-se mais à frente, enquanto Allan, que não tem essa qualidade, iniciava os lances.

Após o Mundial de Clubes, 40% dos gols do Flamengo foram decorrentes de bolas paradas. É exagero. No Campeonato Inglês são 17%. Além disso, o Flamengo e todos os clubes brasileiros cruzam demais as bolas da intermediária, o que facilita para o zagueiro cortar. Já os principais times europeus usam bastante as viradas rápidas de bola de um lado para o outro e também as triangulações pelas laterais até alguém penetrar na defesa para receber a bola e cruzar da linha de fundo para o companheiro cabecear de frente para o gol.

INTER E FOGÃO – O que ocorre com o Inter, que teve uma grande queda nesta temporada? O treinador e a estratégia não mudaram, porém caiu muito a qualidade de alguns jogadores. Wesley, que surpreendeu no ano passado por ter atuado muito melhor do que no Cruzeiro, voltou a jogar como antes, sem brilho. O futebol tem razões que vão além de nossos conhecimentos e explicações técnicas e táticas.

O Botafogo, em casa, venceu a LDU, do Equador, por 1 a 0. Ancelotti estava presente para ver os jogadores e o primeiro trabalho de seu filho Davide como técnico. Deve ter ficado satisfeito. Na Copa do Mundo, o filho voltará a ser auxiliar do pai.

Nas muitas partidas que Ancelotti viu pelo Brasil, deve ter constatado o que já sabia, que a seleção possui uma grande carência nas laterais. Vários jogadores que atuam no Brasil têm sido convocados, como Arana, do Atlético-MG, Alex Telles, do Botafogo, Alex Sandro e Emerson Royal, do Flamengo. Todos são bons nos seus clubes, mas fracos para a seleção. Se o uruguaio Piquerez, do Palmeiras, fosse brasileiro, seria titular na seleção.

CONCEITOS MODERNOS – O Palmeiras goleou, em Lima, o fraquíssimo Universitario por 4 a 0, com três gols no início da partida. A dupla de ataque formada por Vitor Roque e Flaco López, juntos desde o início do jogo pela primeira vez, foi o destaque da partida. Após o primeiro gol, o time peruano foi para o ataque, o que facilitou bastante para os dois atacantes, especialmente Vitor Roque, com sua enorme velocidade. Ainda é cedo para uma avaliação da dupla. Os apressados já estão eufóricos.

Aos poucos, as equipes brasileiras têm incorporado os importantes conceitos modernos na maneira de jogar, como a marcação por pressão em todo o campo para recuperar rapidamente a bola, a compactação para não deixar grandes espaços entre os setores, a intensidade para atacar e defender com muitos jogadores, a saída de bola com troca de passes desde o goleiro, a alternância entre o jogo curto e o mais longo em direção ao gol e outros detalhes.

Porém nada disso é suficiente se não há talento individual e capacidade de, em uma fração de segundo, tomar decisões corretas, com clareza, concisão e precisão.

“Uma parte e a outra parte”, que dividem vida e obra de Ferreira Gullar

Os homens, embora sejam iguais em... Ferreira Gullar - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

Ferreira Gullar, pseudônimo do maranhense José Ribamar Ferreira (1930/2016), jornalista, crítico de arte, teatrólogo, biógrafo, tradutor, memorialista, ensaísta e poeta é um dos fundadores do neoconcretismo, entra para a história da literatura como um dos maiores expoentes e influenciadores de toda uma geração de artistas dos mais diversos segmentos das artes brasileiras.

Segundo alguns professores de literatura, o poema “Traduzir-se” reflete a profissão de fé de Gullar no exercício de uma poética em um discurso que só abrange a sociedade, porque investiga o mais fundo de sua subjetividade. O poeta se revela contido e grave durante o que vai expondo.

TRADUZIR-SE
Ferreira Gullar

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?

Acredite se quiser! Dizem que Ciro Gomes vai ser candidato em 2026

Ciro Gomes (PDT) entra na 'guerra dos bonés'.

Ciro Gomes imita Trump e vai lançar muitos bonés

Iander Porcella
Estadão

Aliados do ex-ministro Ciro Gomes o aconselharam a aproveitar o “bate cabeça” entre governadores para se lançar como o candidato anti-Lula ao Palácio do Planalto em 2026. A avaliação é de que os presidenciáveis da direita estão amarrados ao ex-presidente Jair Bolsonaro e não podem fazer movimentos concretos agora, enquanto Ciro teria o caminho livre para pavimentar a candidatura.

Até interlocutores de Ciro no PDT dizem que sua ida para o PSDB, dada como certa, facilita o caminho para a disputa da Presidência. Há uma visão de que os tucanos teriam mais facilidade para alianças com o Centrão. Procurado, Ciro não comentou

LULA NA MIRA – Entretanto, caso se lance ao Palácio do Planalto, Ciro deve evitar críticas a Bolsonaro. A ideia é concentrar a artilharia no presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar ocupar a vaga da direita no segundo turno. Aliados dizem que ele demorou a fazer isso em 2022 e, por isso, ficou de fora da polarização que marca a política brasileira.

O PDT enfrenta uma crise de identidade e encolhimento político às vésperas da reorganização para as eleições de 2026. Sob o comando de Carlos Lupi, a sigla deixou de se apresentar como terceira via e pode depender de uma federação para sobreviver eleitoralmente.

A legenda conta atualmente com 17 deputados e 3 senadores, mas se prepara para uma debandada. No Ceará, reduto histórico do partido, correligionários avaliam que apenas André Figueiredo deve permanecer. Outros quatro deputados discutem migração para o PSB ou siglas como o União Brasil.

OUTRO FOCO – Com isso, o foco do partido passou a ser montar uma chapa competitiva para deputado federal, a fim de evitar ser barrado pela cláusula de desempenho – que exige pelo menos 13 deputados eleitos ou cerca de 2,5% dos votos válidos distribuídos em nove estados.

Uma das estratégias para vencer a cláusula seria formar uma federação, mecanismo defendido pelo atual ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz (PDT). “Os partidos grandes que não estão ameaçados com a cláusula de barreira estão fazendo federação. Como é que nós, pequenos, ameaçados pela cláusula de barreira, vamos ignorar?”, afirmou.

Lula escolhe a diplomacia em vez da retaliação contra os Estados Unidos

Lula aposta na cooperação e no multilateralismo

Pedro do Coutto

A decisão do presidente Lula da Silva de não retaliar cidadãos americanos e nem adotar medidas imediatas de reciprocidade às tarifas impostas pelos Estados Unidos representa mais do que um gesto de prudência: é uma escolha estratégica que reafirma a soberania brasileira sem cair na armadilha do confronto direto.

Quando Donald Trump anunciou tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, num gesto interpretado como retaliação política e ingerência externa, muitos esperavam que o Brasil respondesse na mesma moeda, aplicando restrições semelhantes.

DIÁLOGO – Lula, no entanto, optou por outro caminho: descartou a retaliação automática e concentrou esforços em fortalecer a economia interna, proteger exportadores e manter aberto o diálogo em instâncias multilaterais.

Essa postura revela uma compreensão madura das relações internacionais. Ao afirmar que “não iria se humilhar” buscando Trump em condições desfavoráveis, Lula sinalizou que o Brasil não se submete a pressões externas, mas também não se deixa guiar por impulsos que poderiam agravar a crise. Em vez de fechar portas, o governo lançou um pacote de medidas de apoio de mais de R$ 30 bilhões para os setores afetados, ao mesmo tempo em que reforçou a articulação diplomática junto a parceiros como os BRICS e a Organização Mundial do Comércio.

A decisão evita um desgaste imediato e coloca o país numa posição de força moral, preservando sua imagem de defensor da soberania e do multilateralismo. Lula demonstrou que governar em tempos de tensão exige equilíbrio: firmeza para defender os interesses nacionais, mas inteligência para não transformar diferenças em rupturas irreversíveis.

VÍNCULOS – Há também um simbolismo importante nessa escolha: ao recusar-se a retaliar indiscriminadamente cidadãos americanos no Brasil, Lula diferenciou o campo político do campo humano. Seria fácil explorar o ressentimento popular e restringir vistos ou criar barreiras a estrangeiros como forma de revanche. Contudo, ao não fazê-lo, o presidente preservou milhares de vínculos culturais, acadêmicos e familiares que unem os dois países, demonstrando que a política externa brasileira não deve ser guiada pelo improviso nem pelo populismo punitivo.

Essa distinção entre governo e povo é um traço que fortalece a credibilidade internacional do Brasil. Além disso, a opção por não reagir de forma imediata pode abrir espaço para uma recomposição futura das relações comerciais em condições mais favoráveis ao Brasil. A retaliação automática, ainda que popular internamente, teria efeito limitado diante do peso da economia americana e poderia fechar portas de negociação no médio prazo.

Com a estratégia de resistência paciente, Lula cria margem para costurar alianças com outras potências emergentes, pressionar os EUA por meio de organismos multilaterais e, sobretudo, transformar o episódio em exemplo de maturidade política. A história mostra que grandes líderes são aqueles que sabem distinguir o momento de lutar do momento de recuar para vencer em outro terreno.

Europa reage de forma contundente a Trump e Putin, no fiasco do Alasca

Trump saiu derrotado do encontro com Putin

Em matéria de mediar paz, Trump é um tremendo fracasso

Wálter Maierovitch
do UOL

Líderes europeus assinaram em conjunto uma contundente declaração que desmascarou os presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos, e Vladimir Putin, da Rússia. A declaração foi firmada logo após o encontro entre os dois líderes mundiais na chamada cúpula do Alasca, e foi assinada por autoridades como Ursula von der Leyen e António Costa (União Europeia), Keir Starmer (Reino Unido), Friedrich Merz (Alemanha), Emmanuel Macron (França), Giorgia Meloni (Itália) e Alexander Stubb (Finlândia).

O que mais chama a atenção é que a declaração está inteiramente apoiada no direito internacional público atual. Como ficou na cara que a Rússia não irá paralisar a guerra nem reduzir os bombardeamentos que matam civis inocentes nas cidades e povoados, os líderes europeus colocaram a boca no trombone.

PONTOS PRINCIPAIS – Da declaração consta, por exemplo, não caber à Rússia vetar o ingresso da Ucrânia na União Europeia ou na Otan. Essa decisão compete tão somente e só à Ucrânia, um estado-nação, alerta a declaração.

Outro ponto destacado, e que chega a ser o óbvio diante da garantia protetiva da soberania das nações prevista na Constituição das Nações Unidas, é caber apenas à Ucrânia a decisão sobre a cessão ou alienação de seu território.

Como se sabe, a Rússia invadiu a Ucrânia, provocando uma guerra que já dura três anos e meio, para se apropriar de seus territórios. No momento, bombardeia, para fim de se apropriar e apossar, Pokrousk, Kostiantynivka, Siversk, Dobaopillia e Rubizhne.

FRONTEIRAS – Para Trump, o direito internacional não vale nada e tudo na Ucrânia é uma questão meramente imobiliária. Mas a declaração ressalta que as fronteiras, divisas da Ucrânia, que estão consolidadas, não podem ser alteradas pela força de potências estrangeiras.

Outra advertência contida na declaração diz respeito à falta de legitimidade da Rússia para exigir que Kiev fique fora da Aliança de nações do Atlântico e promova o desarmamento das suas forças de defesa. Trata-se, mais uma vez, de vontade do estado ucraniano. O desarmamento só facilitaria uma expansão russa.

O presidente Trump, em campanha presidencial, prometeu acabar com a guerra na Ucrânia, em 24 horas. Agora, na cerimônia de encerramento da parte do encontro com participações diretas da dupla Trump e Putin, — um encontro abreviado pelo fracasso e com duração de menos de três horas —, o presidente russo tentou, como se diz no popular, livrar a cara do americano. Putin disse que a guerra não teria acontecido se Trump fosse o presidente no início do conflito.

CESSAR-FOGO? – Como informou Trump, a sua meta era sair da cúpula do Alasca com um cessar-fogo. Juridicamente, não se sabe bem como, pois a Ucrânia sequer participou da conversa no Alasca. Também não estava lá a interessada União Europeia, que teme a expansão russa.

Putin não aceitou o cessar-fogo. Ele só aceita um acordo de paz com todas as suas exigências aceitas. Em outras palavras, enquanto não for celebrado esse acordo, a guerra continua.

Trump mudou de posição. Na verdade, capitulou e, com cara de nocauteado, saiu-se com a seguinte declaração: “Decidimos que a maneira melhor para colocar fim à horrível guerra entre Rússia e Ucrânia é chegar-se diretamente a um acordo final para colocar-se fim à guerra. Não um simples acordo de cessar-fogo que, frequentemente, não vinga.” Trump diz que levará agora à Ucrânia e à União Europeia as propostas russas.

Na verdade, e como sustentam os serviços da inteligência europeia, o presidente americano irá propor um acordo de paz com a Rússia desde que ela possa anexar os territórios desejados, a compreender a região de terras raras da região do Donbass (bacia hidrográfica com área de 98.900 km2).

RUGIDO DE LEÃO – Putin, pelo que já se sabe, rasgou, no Alasca, elogios a Trump, mas não abriu mão das suas pretensões imperialistas.

O presidente russo foi manso. Não rugiu e saiu, internacionalmente, recuperado da condição de pária internacional, com mandado internacional de prisão expedido pelo Tribunal Penal Internacional.

Como se sabe, um pária jamais seria convidado para, com pompas e circunstâncias, um encontro com o presidente dos EUA, e em um antigo território russo, hoje americano. O forte rugido do leão Trump, ouvido antes do encontro do Alasca, perdeu a força. Apenas foi sentido, no verão de Anchorage, um rugido fraco de leão velho, desdentado, como aqueles de porta de circo mambembe de periferia.

Poderes têm de dar resposta única aos EUA sobre ataques de Trump

Quem é Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados | Política | Valor  Econômico

Inexperiente, Motta pode ser enrolado pelos líderes

Vera Magalhães
O Globo

A sem-cerimônia com que o deputado Eduardo Bolsonaro tem feito ameaças cada vez mais explícitas a autoridades, funcionários públicos e cidadãos comuns brasileiros só é possível porque ele se sente respaldado pelo avanço autoritário vertiginoso do governo Donald Trump e duvida que receberá alguma punição por conspirar contra o próprio país.

Uma obra recém-lançada no Brasil ajuda a entender a velocidade com que Trump — eleito para um novo mandato em 2024 depois de derrotado quatro anos antes — vem tomando de assalto as instituições e dinamitando sem dificuldade o até então hígido sistema de freios e contrapesos da democracia norte-americana.

PROJETO 2025 – Trata-se de “O projeto”, livro do jornalista David A. Graham, que se debruça sobre a concepção e a implementação, na Presidência de Trump, do Projeto 2025, plano de ação tratado na campanha do ano passado pelo republicano como fantasioso, mas que vai sendo posto em prática quase ponto por ponto.

No livro, fica claro que, a partir do diagnóstico das alas mais radicais do Partido Republicano de que Trump foi “sabotado” pelo aparato institucional no primeiro mandato, era necessário enfraquecer o esquema logo na largada para que a segunda passagem pela Casa Branca não sofresse as mesmas limitações.

INIMIGO Nº 1 – Nesse caldo entram agências governamentais, universidades, Forças Armadas, Congresso, Judiciário, imprensa e qualquer outro grupo que ouse se interpor contra um projeto de poder que o autor chama de “imperial”.

O Brasil entrou para valer na lista de inimigos a abater graças ao contraste óbvio entre as reações aqui e lá diante de tentativas de golpe de Estado. Os julgamentos firmes e céleres da trama golpista do governo Bolsonaro e do 8 de Janeiro são precedentes preocupantes para alguém que escapou de ser responsabilizado uma vez e não quer correr riscos caso perca uma reeleição que já não esconde pretender disputar.

A arbitrariedade das medidas anunciadas contra o Brasil e as falsidades enunciadas por Trump e seus auxiliares mais graduados são suficientemente graves para preocupar todos os brasileiros que têm responsabilidade. Cabe aos três Poderes do Brasil se unir e adotar todo tipo de blindagem possível contra arbítrios que podem vir em qualquer área, contra qualquer um.

SEM LIMITES – Eduardo Bolsonaro não esconde o êxtase com Trump conseguir levar adiante medidas que, no governo de seu pai, foram contidas pelo Congresso e pelo Judiciário.

Assim inebriado, se acha inatingível a ponto de ameaçar nominalmente o presidente da Casa de que ainda faz parte, Hugo Motta.

Qualquer condescendência com esse comportamento inaceitável resultará na repetição, com frequência cada vez maior, de cenas como a tomada da Mesa da Câmara pela bancada bolsonarista, e o risco é a paralisia completa dos trabalhos do Legislativo justamente durante uma emergência como o tarifaço.

Datafolha mostra que culpar Lula é um ótimo negócio para Bolsonaro

Donald Trump, Lula e Bolsonaro

Números do Datafolha estão péssimos para Lula e PT

Josias de Souza
do UOL

Errar é humano, ensina o antigo provérbio. Botar a culpa em Lula pode ser um ótimo negócio, sinaliza o Datafolha. Pesquisa divulgada neste sábado revela que 35% dos brasileiros responsabilizam Lula pela chantagem tarifária de Trump. Para 39%, a culpa é da família Bolsonaro – 22% culpam diretamente o “mito”; e 17% o filho dele, Eduardo Bolsonaro.

A distribuição das culpas entre Lula e o clã Bolsonaro está empatada no limite da margem de erro da pesquisa, que é de dois pontos para mais ou para menos. Considerando-se que o objetivo da sanção de Trump não é comercial, mas confessadamente político —interromper uma ficcional “caça às bruxas” a que estaria submetido Bolsonaro— o empate estatístico representa uma derrota para Lula na guerra da comunicação.

É PIOR AINDA – Numa evidência de que há males que vêm para pior, 15% dos brasileiros responsabilizam Alexandre de Moraes pela chantagem de Trump. Somando-se aos 35% que enxergam Lula como culpado, chega-se à impressionante marca de 50%. Quer dizer: a maioria do eleitorado livra a cara de Bolsonaro e de Eduardo, que se dedica em tempo integral a trair a pátria nos Estados Unidos.

Ao atiçar Trump para impor sanções contra o Brasil, o clã Bolsonaro subverteu até o provérbio. O prejuízo à economia nacional faz da chantagem um erro desumano. Mas há pessoas que, apaixonadas pelo ódio, não levam em conta a realidade. A verdade que anima o pedaço bolsonarista da sociedade é a mentira mais agradável de acreditar.

Entre os brasileiros que votaram na sucessão de 2022 em Bolsonaro, 83% atribuem a Lula (58%) ou a Moraes (25%) a motivação do tarifaço de Trump. Nova derrota para a seara governista, pois a fidelidade do bolsonarismo é dez pontos percentuais maior do que a lealdade do lulismo. Entre os eleitores de Lula, 73% culpam Bolsonaro (38%) ou Eduardo (35%).

EXEMPLO DA ÍNDIA – As mais perigosas inverdades são as verdades levemente distorcidas. Pode-se criticar o inquilino do Planalto por muita coisa. Mas não faz nexo atribuir a extorsão política de Trump ao antiamericanismo de Lula. Aliado do imperador laranja, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi não só telefonou como visitou a Casa Branca. E rala o mesmo tarifaço de 50%.

Alexandre de Moraes tampouco está isento de críticas. Entretanto, a iminente condenação de Bolsonaro e de todo o alto comando do golpe descerá ao verbete da enciclopédia como um grande feito.

Se o enquadramento na Lei Magnitsky serviu para alguma coisa foi para realçar as digitais do relator num êxito que é coletivo. Inclui a investigação da Polícia Federal, a denúncia da Procuradoria e as decisões colegiadas do Supremo.

VIRAR A PÁGINA – Traiçoeira e tortuosa, a história às vezes é feita da somatória das coisas que poderiam ter sido evitadas. Em 1964, o Brasil não conseguiu evitar o penúltimo golpe. Em 2022, a maioria dos brasileiros evitou, por pequena margem, o autoflagelo de um novo mandato de Bolsonaro.

Desde o 8 de janeiro de 2023, o país se esforça para virar a página do novo golpe que foi evitado. Os mais lúcidos engolem de uma vez a verdade que os liberta. Os recalcitrantes bebem gota a gota a verdade que os maltrata.

Com sorte, os livros ensinarão aos brasileiros do futuro que nem o imperialismo de Trump foi capaz de transformar a história dos dias que correm num novo recomeço em falso.

Após denúncia de Eduardo Bolsonaro, EUA podem punir assessores de Moraes

Eduardo Bolsonaro diz que brasileiros entendem que tarifaço de Trump é  'sacrifício a ser feito': 'Nossa liberdade vale mais do que a economia' -  BBC News Brasil

Eduardo trabalha para jogar Trump contra o Brasil

Bela Megale
O Globo

Na última rodada de conversas que teve com autoridades dos Estados Unidos, em Washington, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) levou documentos elaborados pela equipe do ministro Alexandre de Moraes, no período em que o magistrado presidiu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com isso, funcionários que trabalham no gabinete de Moraes entraram no radar das autoridades dos Estados Unidos e têm chances de serem sancionados com a revogação dos vistos americanos, por exemplo.

Entre os documentos levados por Eduardo Bolsonaro à gestão Donald Trump, estão certidões do TSE sobre os presos envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro. Esses documentos apontam que postagens em redes sociais com conteúdos políticos teriam sido levadas em conta para embasar decisões envolvendo os investigados.

GRAVE DENÚNCIA – Na conversa com interlocutores, Eduardo afirma que os americanos teriam considerado a documentação “grave” e sinalizaram que o material poderia embasar uma sanção contra atuais e antigos integrantes do gabinete de Moraes no TSE e no Supremo Tribunal Federal (STF).

No fim de julho, o ministro foi alvo da Lei Magnitsky, que lhe impôs sanções financeiras. Eduardo Bolsonaro, no entanto, não ficou satisfeito com o entendimento que os bancos brasileiros tiveram da lei, permitindo que Moraes mantenha contas ativas e faça operações em real.

NOVA INVESTIDA – O deputado deu início, nos últimos dias, a uma nova investida junto aos americanos para entender o alcance da Lei Magnitsky.

Em conversa nesta semana com autoridades dos EUA, o filho de Jair Bolsonaro ouviu que “o correto” seria o bloqueio total das contas do magistrado.

Com isso, a expectativa de Eduardo é que os bancos sejam comunicados sobre a necessidade de cumprir a medida ou que até mesmo sejam penalizados com multas.

Procuradoria não aceita a “anulação” das condenações do corrupto Palocci

Nunes Marques diz que suspensão do X deve ir ao plenário do STF

Voto de Nunes Marques mostra que ele entrou no conluio

Levy Teles
Estadão

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Kassio Nunes Marques acompanhou o relator Dias Toffoli e formou maioria para anular todas as provas e processos contra o ex-ministro Antonio Palocci na Operação Lava Jato.

O placar ficou em 3 a 2, favoráveis para Palocci. Além de Toffoli e Nunes Marques, também Gilmar já havia votado pelo arquivamento do caso. André Mendonça e Edson Fachin foram por caminho oposto.

SESSÃO VIRTUAL – O processo é julgado pela Segunda Turma, composta pelos cinco ministros mencionados. Em abril, Nunes Marques pediu vista (mais tempo para análise). O voto do ministro foi em sessão virtual.

Réu confesso, Antônio Palocci fechou acordo de colaboração premiada e delatou propinas de R$ 333,59 milhões supostamente arrecadadas e repassadas por empresas, bancos e indústrias a políticos e diferentes partidos nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (2002-2014). Palocci foi preso em 2016.

A decisão não afeta o acordo de colaboração premiada, que continua válido. O ex-ministro pagou uma multa de R$ 37,5 milhões em troca dos benefícios da delação.

CONLUIO – Como relator, Toffoli abriu os votos pela anulação do caso. Ele justificou que, assim como Lula, o ex-ministro também teria sido vítima do “conluio” entre o ex-juiz Sergio Moro e os procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.

Lula foi o primeiro réu na Lava Jato a ter processos e condenações anulados pelo STF. O precedente tem beneficiado outros empresários e políticos.

Para justificar a “nulidade absoluta de todos os atos praticados” contra Palocci nas investigações e ações da Lava Jato, inclusive na fase pré-processual, Toffoli argumentou que “os fundamentos que conduziram ao reconhecimento do conluio (…) transcendem para as demais persecuções penais que sofreu perante o mesmo órgão jurisdicional e no mesmo contexto da Operação Lava a Jato”.

VOTO CONTRÁRIO – Fachin, um dos divergentes, defendeu que o STF não poderia ter estendido a Palocci a decisão que beneficiou Lula porque são contextos diferentes. “Não se pode, a pretexto de pedidos de extensão, examinar pedidos amplos e genéricos sobre as mais variadas investigações decorrentes da operação Lava Jato, ainda que sob o manto de concessão de habeas corpus de ofício, sob pena de violação ao juiz natural e as regras de competência”, afirmou.

Fachin também argumentou que os diálogos obtidos na Operação Spoofing “são graves, merecem ser apurados e o Judiciário deve dar uma resposta sobre eles”, mas não deveriam ser usados como prova porque não passaram por perícia oficial.

O ministro André Mendonça foi na mesma linha e argumentou que o pedido de Palocci deveria ser analisado “nas instâncias e vias apropriadas”.

PROCURADOR INSISTE – A Procuradoria-Geral da República (PGR) move um recurso para restabelecer as ações penais contra Palocci.

Ao entrar com recurso, o procurador-geral Paulo Gonet defendeu que as provas contra o ex-ministro foram obtidas “a partir de múltiplas fontes e em diferentes instâncias” e que seus argumentos não encontram “suporte probatório, configurando mero inconformismo com o regular prosseguimento da persecução penal”.

“A vinculação de Antonio Palocci Filho à Operação Lava Jato aparenta ter ocorrido de forma legítima, sustentada em elementos concretos que emergiram no curso natural das apurações e com esteio em provas subsistentes até o atual momento”, afirmou.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Quando a gente vê um juiz fracassado como Dias Toffoli falando em “conluio”, a gente pensa que ele está fazendo uma reflexão sobre sua vida. Mas depois a gente nota que Toffoli está se referindo a terceiras pessoas, membros do Judiciário, que teriam condenado reús honestos e sem provas. Realmente, essas maluquices marcam o surrealismo da Justiça brasileira, na qual só os corruptos podem confiar. (C.N.)

Judiciário erra demais e falha na prestação de contas à sociedade

Fachada do STF: Cúpula do Judiciário precisa julgar um ex-presidente admirado pela metade da população e, ao mesmo tempo, acusado de tramar um malsucedido golpe de Estado. Foto: Wilton Junior/Estadão

Supremo precisa reconhecer o exagero de suas penas

Fabiano Lana
Estadão

A cúpula do Judiciário está prestes a enfrentar um dos maiores desafios não só da história brasileira, mas da própria democracia mundial. Precisa julgar um ex-presidente admirado pela metade da população e, ao mesmo tempo, acusado de tramar um malsucedido golpe de Estado. Temos um caso jurídico, político e afetivo. Para que a tarefa seja bem-sucedida, não bastará apenas aplicar a justiça. Será necessário mostrar que o poder, como um todo, é isento e se guia pelas leis, não por política ou interesses pessoais. O Judiciário tem sido, no mínimo, bastante negligente nessas questões

O que vemos, diariamente, são notícias e fatos desairosos sobre seus principais atores. Os últimos deles, que envolvem o Tribunal Superior do Trabalho (TST), foram espantosos. Incluem a criação de uma área VIP no aeroporto de Brasília para os magistrados não serem incomodados pelos inconvenientes (ou seja, os cidadãos normais) e a compra de automóveis de valores algo dispendiosos para servir os juízes.

DENTRO DA ROTINA – O grande problema é que não se trata de algo fora da curva. Os chamados penduricalhos se tornaram uma jabuticaba nacional. Pagamentos acima do teto constitucional a juízes somaram R$ 10,5 bilhões em 2024 no Brasil, de acordo com estudo do Movimento Pessoas à Frente, citado em reportagem deste Estado de São Paulo.

O aumento, com o beneplácito do Conselho Nacional de Justiça, foi de 49% em um ano. É uma espécie de epidemia de supersalários autoconcedidos que chega a todas as unidades federativas brasileiras. E, como cereja do bolo, já houve até condenação a uma jornalista que divulgou os altos salários de desembargadores do Rio Grande do Sul.

Mas a questão salarial é apenas parte do problema, por incrível que pareça. Certas decisões heterodoxas tomadas pelo Judiciário, no caso, assinadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), podem parecer perseguição política.

MUITOS EXAGEROS – Nesses erros se incluem penas altíssimas de cadeia para gente que foi claramente bucha de canhão de conspiradores mais poderosos, cancelamento de perfis de redes sociais, e declarações, mesmo nos autos, que soam mais como manifestos políticos do que argumentos para decisões judiciais.

Parece não haver preocupação em mostrar à metade da população que quem eles consideram líder político cometeu crimes e merece ser punido por isso. Há risco desse descaso provocar um ressentimento que deveria, no mínimo, ter sido ponderado.

Um curioso efeito colateral desses abusos do Judiciário é que uma conquista civilizacional como “liberdade de expressão” se tornou bandeira de gente que admira a ditadura militar brasileira – regime que colocava censores nas redações de jornais.

PROMISCUIDADE – Há também questões adicionais, como as seguidas confraternizações da cúpula do Judiciário com a elite econômica brasileira. Muitas vezes são travestidas como debates, diálogos e conversas de alto nível. Mas nem Cândido, o ingênuo personagem de Voltaire, acreditaria que não há lobbies envolvidos. A sociedade, e não apenas os grupos radicais bolsonaristas, tem acompanhado tudo isso com lupa.

O próprio ministro Alexandre de Moraes admitiu, esta semana, que qualquer ser-humano é passível de erros e acertos, o que inclui, por certo, os integrantes do Judiciário. Uma reflexão até surpreendente vinda de uma autoridade considerada inflexível, “que sempre dobra a aposta”.

A questão agora é levar em consideração toda essa sucessão de erros e tratar de corrigi-los. Até porque o desafio maior, julgar Jair Bolsonaro com equilíbrio e isenção, está prestes a acontecer. Haverá humildade, tempo, capacidade de renúncia e disposição para isso tudo?

Graves denúncias são desprezadas por uma imprensa cada vez mais submissa

A imprensa nacional e as ameaças à liberdade de expressão

Charge do Edra (Arquivo Google)

Luís Ernesto Lacombe
Gazeta do Povo

Não é à toa que eu sempre me refiro aos jornalistas enviesados como a imprensa que desistiu de ser imprensa. Há várias razões para isso. Essa turma desistiu dos fatos, desistiu da busca pela verdade, desistiu da isenção, de olhar o mundo real, “o tempo que já vivemos”. Tudo o que essa gente considera são seus interesses pessoais, dos veículos para os quais trabalha. Aqueles que forçam a barra para continuar se tratando como jornalistas estão preocupados em criar narrativas, perseguindo objetivos políticos, ideológicos, mercadológicos… Aos seus cúmplices toda a força possível. Aos seus inimigos o rigor da mentira mal ajambrada.

Tem sido assim desde 1º de janeiro de 2019, quando Jair Bolsonaro assumiu a Presidência da República. Foi assim durante a Covid, quando, pela primeira vez, testemunhei a criação de um “consórcio de imprensa”. Não bastava um veículo torto ou outro, era preciso que todos contassem da mesma maneira as mesmas histórias inventadas.

SEM EQUILÍBRIO – Já não era mais imprensa, já não havia mais equilíbrio, opiniões variadas, um olhar ilimitado, um horizonte amplo. Passamos a ter a visão seletiva e distorcida, ouvidos delirantes ou simplesmente inoperantes. Sim, a imprensa que desistiu de ser imprensa age por meio da mentira e também da omissão. E são milhares de exemplos disso.

Na última semana, jornais que já foram importantes e os mais acessados portais de notícias do país resolveram ignorar informações que deveriam ter ocupado as primeiras páginas, as capas. A questão é que agora a relevância das pautas passa longe do interesse legítimo dos leitores (mesmo que o desconheçam), passa longe do compromisso com as leis, com princípios morais, o que é correto. E os “jornalistas” nem se envergonham de adotar critérios fajutos para determinar o que será notícia e o que não será.

Seguindo seu plano diabólico de destruição total de um país, eles fingiram que o jornalista americano Michael Shellenberger e os brasileiros David Ágape e Eli Vieira não apresentaram novas provas robustas de arbítrios, abusos e ilegalidades praticados por Alexandre de Moraes e sua trupe.

MENSAGENS SURREAIS – A série de reportagens se baseou em mensagens trocadas num aplicativo por assessores do ministro do STF, logo depois das prisões de inocentes em Brasília em 8 e 9 de janeiro de 2023. Fica claro que Moraes fez de tudo para manter essas pessoas na cadeia. Os arquivos mostram que as prisões foram motivadas por questões políticas. Um trecho de uma das reportagens diz que “Alexandre de Moraes serviu aos interesses de Lula, atropelando as leis para criminalizar o discurso de opositores”.

Os assessores do ministro do STF operaram por meio de um grupo secreto de WhatsApp que criava “certidões de inteligência ilegais”. Os manifestantes foram mantidos presos, enquanto eram realizadas varreduras em suas redes sociais, desrespeitando a Lei Geral de Proteção de Dados e o prazo legal de 24 horas para a realização da audiência de custódia.

O “discurso” on-line considerado “criminoso” era às vezes apenas uma postagem sobre a importância de se cumprir a Constituição. Bastava uma foto do preso usando uma camisa da seleção brasileira, e, pronto, ele não se livrava das grades. Moraes não queria soltar ninguém sem antes ver na rede se tinha “alguma coisa”. E a repressão judicial excessiva contra os detidos contribuiu para a insustentável tese de que o 8 de janeiro foi uma “tentativa de golpe de Estado”. E isso ainda é usado no processo em andamento no STF contra Jair Bolsonaro e seus aliados.

ORDENS ILEGAIS – E não havia santo na gangue de Moraes. Todos estavam cumprindo ordens ilegais, o que foi muito comum também na Alemanha nazista. E não havia constrangimento, havia crueldade. O juiz instrutor de Moraes, Airton Vieira, chegou a encerrar uma troca de mensagens assim: “Que nas audiências de custódia possamos dar a cada um o que lhe é de direito”, e cinco emojis de uma carinha piscando o olho com a língua para fora. Na resposta, um assessor também usou um emoji: quatro carinhas dando gargalhadas, em meio a lágrimas. O outro preferiu digitar seis letras ‘k’: “kkkkkk”…

Se não passou pela cabeça daqueles que são ex-jornalistas tornados militantes investigar profundamente as denúncias concretas apresentadas pela equipe do Michael Shellenberger, eles também não quiseram nem saber de um importante depoimento prestado na Câmara dos Deputados na última quarta-feira.

O ex-funcionário do Departamento de Estado dos Estados Unidos Mike Benz foi ouvido pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. Benz explicou como o deep State americano teria operado uma campanha sistemática para interferir nas eleições brasileiras de 2022, com uso de verbas públicas, manipulação de narrativas e favorecimento à candidatura de Lula.

MANIPULAÇÃO – A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) teve seu orçamento triplicado e financiou ONGs, sindicatos e “agências de checagem de fatos” no Brasil, com a finalidade de combater o então presidente Jair Bolsonaro. Mike Benz afirmou com clareza:

“Não foi uma interferência pontual, mas uma operação coordenada de manipulação da opinião pública, com base em censura estratégica e interferência digital disfarçada de combate à desinformação”.

O deputado Marcel van Hattem classificou o episódio como um “golpe conduzido pelo PT com o apoio do governo Biden” e acusou o Supremo Tribunal Federal de ter atuado em conluio com as ações de censura.

EM NOME DA SOBERANIA – Essa imprensa que desistiu de ser imprensa embarca, feliz, no relativismo criminoso de um grupo político. Assim como a democracia, a soberania também passa a ser relativa. E esse movimento é contagioso. Nada mais é absoluto, nem a verdade, nem as leis, nem a justiça, nem os valores, nem os princípios…

O problema é que o jornalismo que se atirou de um arranha-céu não se esborracha sozinho no concreto. Tendo relativizado também seus objetivos profissionais (contar as melhores e mais relevantes histórias reais da melhor forma possível), os jornalistas mortos-vivos condenam os brasileiros, sem exceção.

Primeiro, eles abandonaram sua profissão, outrora tão nobre, para imediatamente e consequentemente entregar o povo ao desamparo. É preciso ter consciência disso e responder da mesma forma, abandonando quem nos deixou. Esse é um despertar mais do que necessário. Ninguém, ninguém será livre, preso a uma imprensa ordinária, que está amarrada ao que há de pior nesse mundo.

(Artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)