Suprema Corte dos EUA impede Trump de deportar venezuelanos

Presidente do Supremo dos EUA estará sob holofote... | VEJA

John Roberts, presidente da Suprema Corte, está reagindo

Deu na Folha
Agência France Presse

A Suprema Corte dos Estados Unidos suspendeu neste sábado (18) a deportação de vários supostos membros de gangues venezuelanas, que vivem no Texas, para uma prisão em El Salvador, com base em uma lei do século 18.

O presidente dos EUA, Donald Trump, invocou no mês passado a Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798 para prender supostos integrantes do Tren de Aragua, uma das principais facções criminosas da Venezuela, e deportá-los para uma prisão de segurança máxima em El Salvador.

TATUAGENS – Advogados de vários venezuelanos já deportados afirmam que seus clientes não faziam parte da organização Tren de Aragua e que não haviam cometido crimes.

Segundo a defesa deles, as autoridades se basearam em tatuagens para determinar se os detidos eram ou não criminosos.

Até então, a lei de 1798 só havia sido usada durante a guerra de 1812 contra o Império Britânico e suas colônias no Canadá, e nas duas guerras mundiais.

SERIAM EXPULSOS – “O governo está proibido de expulsar qualquer membro do suposto grupo de detidos nos Estados Unidos até nova ordem desta corte”, determinou o tribunal. A decisão responde a um pedido de emergência apresentado por advogados de direitos humanos com o objetivo de impedir a deportação de migrantes atualmente detidos em um centro prisional no Texas.

No recurso apresentado na noite de sexta-feira, a União Americana pelas Liberdades Civis (Aclu, na sigla em inglês) argumentou que o grupo de venezuelanos havia sido informado de que “seriam expulsos de forma iminente” com base nessa lei.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A Justiça americana está dando uma lição ao Supremo brasileiro. O presidente Donald Trump pensa (?) que pode tudo. Com isso, está fazendo papel ridículo e espalhando pânico no país e no mundo. Mas existe a Justiça, que aos poucos, vai repondo as coisas em seus devidos lugares, travando os desvarios do ogro. Aqui na filial, está faltando o Supremo acordar do pesadelo, o que acontecerá mais cedo ou mais tarde. (C.N.)

Trump sobe o tom contra Harvard e ameaça impedir matrícula de estrangeiros

Reduzir penas é preciso, mas a anistia deve ser considerada um descalabro

Gilmar Fraga / Agência RBSMarcos Augusto Gonçalves
Folha

Há um esforço de setores da ultradireita para fazer a sociedade brasileira engolir um projeto de lei que promova a anistia de envolvidos no ataque à democracia de 8 de janeiro e, por extensão, arrume um jeito — o verdadeiro objetivo — de permitir que Jair Bolsonaro concorra à eleição de 2026.

Entre cenas explícitas de desfaçatez e banditismo parlamentar, o PL, sigla do capitão, arregimenta apoios para abrir a porteira e deixar a boiada passar.

MULHER DO BATOM – Toda a mistificação em torno da cabeleireira Débora Rodrigues, acusada de cinco crimes, presa preventivamente e ora em julgamento pelo STF, tem servido para maquiar a agressão golpista do 8/1. Teria sido um convescote de idosos desocupados e moças a fazer inocentes pichações em estátuas, usando um batom.

A direita tem dado demonstrações de notável capacidade de criar factoides e embrulhar mentiras em celofane de bombons para amplo consumo em redes digitais. A esquerda ainda parece estar distribuindo panfletos, como nos tempos do “agitprop” do século passado.

Entre as movimentações dos dois lados do espectro, os brasileiros, de acordo com a mais recente pesquisa Datafolha, não veem na anistia a meliantes antidemocráticos e no perdão a Bolsonaro uma pauta prioritária. São 56% os que se declaram contrários.

RIGOR DEMASIADO – Há, no entanto, hesitações quanto às penas determinadas pelo STF. Esse é um aspecto relevante a considerar. As divergências jurídicas sobre a cumulação dos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito e de golpe de Estado foram objeto de discussão no próprio tribunal.

Terminou por vencer a índole justiceira do superministro Alexandre de Moraes. A favor do Supremo, foi oferecida e concedida medida alternativa a centenas de indiciados.

Entretanto, ficou no ar uma sensação de sentenças exageradas que, embora não endossada na pesquisa pela maioria, dá margem a proselitismo e toca parte influente da opinião pública. Não vou me furtar a opinar, sem reivindicar razão ou sapiência jurídica: compartilho dessa impressão, as penas desde o início me pareceram fora da curva.

TARIFAÇO PENAL – O fato é que este suposto e controverso tarifaço penal virou possível moeda de troca, como aventou a ministra Gleisi Hoffmann, que, diga-se, deixou claro tratar-se de tema passível de discussão, mas da alçada do STF.

Que o Judiciário faça política é um segredo de polichinelo: não é que dá a impressão aqui e ali ou pareça que faz. Faz. Em muitos casos de forma oportuna, ainda que em outros oportunista.

O quadro de pressões congressuais da direita reacionária vai se tornando difícil para o governo Lula administrar, em seu déficit de popularidade e de hegemonia parlamentar.

MONSTRENGO DA ANISTIA – Não é, em nenhum aspecto, aceitável que a proposta prospere e esse monstrengo da anistia venha a ser aprovado. Seria um retrocesso em tudo nocivo à democracia e uma desmoralização nacional.

O Congresso empoderado dos últimos tempos está se transformando ou já se transformou numa disfunção política que atinge o gangsterismo deslavado.

O novo presidente da Câmara, Hugo Motta, está sendo chantageado à luz do dia para pautar um salvo-contudo para golpistas. É preciso que as forças democráticas demonstrem inteligência, articulação e resiliência para barrar esse descalabro.

Brasil, o país da impunidade, dá asilo a políticos corruptos e a narcotraficantes

Novo questiona Itamaraty após Moraes suspender extradição de traficante por  'reciprocidade' - Estadão

Moraes mandou para casa o traficante dos 52 quilos

Merval Pereira
O Globo

Quando a política se mistura com as decisões jurídicas, não há chance de dar certo. Esta semana, instituições brasileiras depararam com impasses nas relações internacionais do Brasil que evidenciaram erros cometidos anteriormente. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, deu outra prova de que decide mais com o fígado que com a legislação pertinente.

Como o governo da Espanha recusou-se a repatriar ao Brasil o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, foragido da polícia brasileira e acusado de ter tido comportamento radicalizado no seu blog para desacreditar as urnas eletrônicas, Moraes, alegando uma reciprocidade inexistente, liberou um cidadão búlgaro, traficante internacional de drogas, preso com 52 quilos de cocaína — a Espanha queria julgá-lo lá.

PRISÃO DOMICILIAR – Contrariado com o fato de a Justiça espanhola não considerar crime o que ele considera, simplesmente mandou o traficante para casa com uma tornozeleira eletrônica. Ora, se uma decisão esdrúxula dessas não é eivada de espírito de revanche, não sei o que mais é. Noutro caso, que envolve diretamente o presidente Lula, a situação é ainda mais grave.

Dois ex-presidentes do Peru já foram presos por causa da Operação Lava-Jato — e um outro, Alan García, se suicidou quando viu que ia para a cadeia.

Todos estão envolvidos no mesmo esquema da empreiteira brasileira Odebrecht, hoje renomeada Novonor, de financiamento a campanhas políticas em toda a América Latina, e foram condenados em seus países, em decorrência da investigação iniciada na Justiça brasileira.

ASILO À CORRUPÇÃO – A mulher do ex-presidente peruano Ollanta Humala, preso por ter recebido propina do esquema da empreiteira, pediu asilo político ao Brasil, dizendo-se perseguida. O governo brasileiro não apenas concedeu o asilo, como mandou um avião da FAB pegar a ex-primeira-dama, fundadora do partido político do ex-presidente. Longe de ser apenas uma dona de casa, ela é uma política ativa.

O grave não é apenas aceitar dar proteção a uma acusada de corrupção. O pior é que Marcelo Odebrecht, à época do escândalo revelado pela Operação Lava-Jato, afirmou em sua delação que o pedido para que US$ 3 milhões fossem doados à campanha de Humala foi feito pessoalmente pelo então presidente Lula.

Só no Brasil, origem da investigação, decidiu-se que não houve nada, todos os processos foram anulados ou prescreveram. No resto da América Latina, ex-presidentes de Peru, do Panamá e El Salvador foram presos.

PAÍS DE IMPUNIDADE – É um mau sinal o Brasil aceitar dar asilo a acusados de corrupção — como Nadine Heredia, mulher do presidente peruano indiciada — no mesmo movimento que aconteceu aqui, envolvendo até o presidente Lula. Aqui alegam que houve abuso de autoridade, conluio entre o juiz Moro e os procuradores de Curitiba.

A decisão da Segunda Turma, conforme garantia do ministro Gilmar Mendes, era apenas referente ao triplex do Guarujá. Os demais processos continuariam noutras instâncias. Nenhum deles, porém, foi à frente.

Além do mais, não tem lógica conceder o asilo, muito menos mandar um avião pegar em Lima uma refugiada comprovadamente envolvida em corrupção.

CONTRA LULA – A decisão se enquadra na visão política dos que consideram que a Lava-Jato foi uma ação de perseguição contra Lula, empresários e políticos governistas daquela ocasião.

A ex-primeira-dama peruana deve ter sido considerada perseguida política, nos termos em que as delações premiadas da Lava-Jato foram consideradas, por decisões monocráticas de juízes do Supremo, inválidas porque feitas sob tortura psicológica.

A delação do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que também incriminava o então presidente peruano, foi anulada pelo ministro Dias Toffoli. As delações, porém, valem no Peru e noutros países. Como dar asilo a alguém acusado de corrupção? Acusação de corrupção não tem nada a ver com política — ou tem, na visão do PT.

Deputado quer ouvir Tagliaferro sobre as ameaças que Moraes teria feito a ele

Chegou a hora de Tagliaferro contar tudo o que sabe

Deu na CNN

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) protocolou nesta quarta-feira (16) um requerimento que pede o convite a Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes, para prestar esclarecimentos na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara. 

Em requerimento, o deputado cita uma notícia veiculada por um jornal que teria revelado mensagens de Tagliaferro em que ele afirma ter medo de “ser preso ou morto” caso tornasse públicas informações sobre sua atuação como assessor do ministro Moraes. 

APENAS CONVITE – Por se tratar de convite, e não convocação, Tagliaferro não é obrigado a comparecer à Câmara dos Deputados mesmo se o requerimento for aprovado pela Comissão. 

Tagliaferro chefiou a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entre agosto de 2022 e maio de 2023, sob a presidência de Alexandre de Moraes. O assessor era responsável pela produção de relatórios sobre políticos, influenciadores e veículos de comunicação que publicavam desinformação sobre as Instituições Públicas e as eleições. 

Em abril deste ano, o Tagliaferro foi indiciado pela Polícia Federal por violação de sigilo funcional com dano à administração pública após divulgar diálogos do ministro com servidores do TSE e do STF.

VAZAMENTO PROPOSITAL – No documento de 21 páginas, a PF reuniu arquivos do celular do ex-assessor para apontar que o vazamento ocorreu de forma proposital.

O inquérito foi enviado ao Supremo Tribunal Federal e ainda precisa passar por avaliação da Procuradoria-Geral da República (PGR). 

O relator é o próprio ministro Moraes, a quem Eduardo Tagliaferro assessorava no TSE.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– É inexplicável, injustificável e estranhável o fato de Moraes continuar a ser relator de projetos em que se inclui como vítima ou interessado. E ainda há quem chame isso de Justiça. (C.N.)

Trump recicla a própria ignorância e deve perder seu quintal para Pequim

Balão com a imagem do presidente dos EUA, Donald Trump, durante protesto contra o governo em Los Angeles

Trump virou boneco numa manifestação em Los Angeles

Elio Gaspari
O Globo

Não se pode exigir que os presidentes dos Estados Unidos conheçam a América do Sul. Franklin D. Roosevelt (1933-1945) chamou Getúlio Vargas de general, e George W. Bush (2001-2009) perguntou a Fernando Henrique Cardoso se havia negros no Brasil. A ignorância pontual é uma condição do gênero humano. Afinal, ninguém é obrigado a saber tudo, mas o problema se agrava quando o sujeito recicla a própria ignorância e acredita ter conseguido sabedoria. Esse é o caso de Donald Trump e de sua turma.

O secretário de Defesa, Pete Hegseth, disse que “o governo Obama (…) permitiu que a China se infiltrasse em toda a América do Sul e Central com sua influência econômica e cultural”, e acrescentou: — Estamos retomando o nosso quintal.

O doutor falava do Canal do Panamá, onde empresas chinesas se estabeleceram no vácuo deixado pelos interesses comerciais dos Estados Unidos.

ESTILO CHINÊS – A China investe em matérias-primas e na infraestrutura na Ásia, África e América Latina de acordo com seus interesses. Não há um só caso de iniciativa chinesa contra a vontade de um país. (O Canal do Panamá foi arrancado da Colômbia no início do século XX.)

A miopia de Trump e sua turma está em querer fazer uma política a um só tempo isolacionista e expansionista, avançando sobre o Panamá, a Groenlândia, o Canadá e “retomando o nosso quintal”. Querem curar ressaca tomando mais um gole.

Deixando de lado considerações genéricas, pode-se ir ao mundo dos fatos. Enquanto os Estados Unidos estrangulam centros de estudo como o Wilson Center, de Washington, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) se reunirá em maio. Onde? Pequim.

CARA DE GAROTO – O Império do Meio é paciente, metódico e discreto. Em 1996, enquanto Donald Trump cuidava de imóveis a cassinos, a China mandou uma missão comercial a Fortaleza. Nela, mais magro e com cara de garoto, estava o vice-governador da Província de Fujian, Xi Jinping. Voltou em 2014, para uma reunião do Brics. Xi já esteve com três presidentes brasileiros e voltará a se encontrar com Lula no evento da Celac.

O governo americano teve, mas não tem mais, uma diplomacia atuante na América Latina. Roosevelt achou que Getúlio Vargas era um general, mas mandou Adolf Berle, um de seus principais assessores, para a embaixada no Rio.

Hoje, os laços culturais dos Estados Unidos com seu “quintal” continuam fortes, mas o trumpismo hostiliza estudantes estrangeiros e avacalha suas universidades. Tudo bem. Foi-se o tempo em que Ralph Della Cava corria pelo Ceará estudando a vida do Padre Cícero e Alfred Stepan estava no Rio pesquisando a política dos militares.

TUDO MUDOU – Veio o novo tempo, com a intimidação das universidades americanas e o objetivo de silenciar um pensamento radical. Vá lá, mas o problema está em outro lugar.

O agronegócio brasileiro deve parte de sua prosperidade às vendas que faz para a China (perto de US$ 50 bilhões em 2024).

Quando Della Cava e Stepan eram jovens pesquisadores, um dos grandes frigoríficos que operavam no Brasil era o Armour, com o nome do magnata que ajudou a revolucionar a indústria de alimentos dos Estados Unidos no século XIX, para onde Trump quer levar seu país e, junto, o “quintal”.

Bolsonaro caminha e faz exercícios, mas continua sem receber alimentação oral

Ex-presidente Jair Bolsonaro caminha em hospital no DF

Cinco dias depois, Bolsonaro é alimentado por via venosa

Deu em O Globo

O ex-presidente Jair Bolsonaro, que segue internado em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital DF Star, em Brasília, postou vídeo nas redes sociais caminhando pelos corredores e fazendo exercícios de fisioterapia. O último boletim médico indicou que ele mantém “boa evolução clínica, sem dor e sem outras intercorrências”.

“O Hospital DF Star informa que o ex-Presidente Jair Bolsonaro permanece internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em acompanhamento pós-operatório. Mantém boa evolução clínica, sem dor e sem outras intercorrências. Apresenta também melhora dos exames laboratoriais.

JEJUM ORAL – Segue em jejum oral, com nutrição parenteral exclusiva. Nesta sexta-feira continuou o programa de fisioterapia motora (caminhada fora do leito) e respiratória. “Persiste a recomendação de não receber visitas e não há previsão de alta da UTI”, afirmou o último boletim médico.

Em publicação nas redes sociais, Bolsonaro agradeceu as manifestações de apoio que tem recebido, inclusive de “ex-presidentes de países aliados”, “ministros das relações exteriores” e parlamentares dos Estados Unidos. Ele, contudo, não cita nomes.

“Os últimos dias têm exigido de mim silêncio, paciência e dedicação total à recuperação. Mesmo na UTI, sigo firme, amparado por uma equipe médica extremamente dedicada, pela minha família e pelas orações de milhares de brasileiros”, disse ele na mensagem.

GRANDE PORTE  – No último domingo, o ex-presidente precisou passar por uma cirurgia de mais de 12 horas para desobstruir parte do intestino. A intervenção foi considerada de “grande porte” e teve o objetivo de descolar as chamadas “aderências” no órgão e reconstruir a parede abdominal.

A expectativa é que seja uma internação hospitalar de pelo menos duas semanas. Até o momento, Bolsonaro está se alimentando por via intravenosa.

O ex-presidente passou por uma “laparotomia exploradora”, procedimento que consiste em cortar o abdome para examinar os órgãos internos. No caso de Bolsonaro, houve o diagnóstico de retenção do trânsito do intestino. O objetivo, então, foi desfazer as “aderências” que bloquearam a digestão do paciente. Depois, houve a reconstrução da parede abdominal, feita para reforçar a musculatura dessa parte do corpo.

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGVejam como é delicada a situação de Bolsonaro. Cinco dias depois da “cirurgia de grande porte”, conforme relata o boletim médico, Bolsonaro continua sem alimentação via oral. Isso significa que há uma grande expectativa em relação ao funcionamento de seu intestino. A operação somente será considerada bem sucedida quando a alimentação sólida for restabelecida e o intestino voltar a funcionar novamente. Até lá, continua o clima de expectativa. (C.N.)

Bertrand Russell e Henri Poincaré, num duelo de gigantes no amor à Matemática

Bertrand Russell nascia há 149 anos - Fundação Editora Unesp

Russel, um nobre inglês que casou quatro vezes

Marcelo Viana
Folha

De um lado, Bertrand Russell (1872–1970): matemático, lógico, filósofo, intelectual e ativista, aristocrata inglês, membro da Casa dos Lordes, que casou quatro vezes e viveu até os 98 anos de idade. Do outro, Henri Poincaré (1854–1912): um dos maiores matemáticos de todos os tempos, físico, engenheiro, filósofo, oriundo da burguesia intelectual francesa —seu primo Raymond foi presidente da França—, saúde frágil por toda a vida, o que o tornou vítima de bullying na escola.

BUSCA DO INFINITO – Russell queria aprimorar a teoria dos conjuntos do alemão Georg Cantor, para livrá-la das contradições resultantes do uso dos conjuntos infinitos. Poincaré dizia que “as gerações futuras considerarão a teoria dos conjuntos uma doença, da qual conseguiram se livrar”, acrescentando que “o infinito atual não existe: o que chamamos infinito é apenas a possibilidade sem fim de criar novos objetos, sem importar quantos objetos existem já”.

Para Russell, “a matemática e a lógica são a mesma coisa”, pois “toda a matemática segue premissas lógicas e usa apenas conceitos que podem ser definidos em termos lógicos”.

Poincaré respondia que “é pela lógica que provamos, mas é pela intuição que descobrimos” e “a lógica é estéril, a menos que seja irrigada pela intuição”.

SEMPRE RIVAIS – É claro que estavam condenados a serem adversários. O que surpreende é que Poincaré tenha ficado em silêncio por tanto tempo, mesmo depois que, em 1903, Russell publicou o primeiro volume do seu livro “Princípios da Matemática”.

Poincare

Poincare, primo de um presidente francês,

Mas quando, em março de 1906, Russell expôs as suas ideias na revista científica Proceedings of the London Mathematical Society, Poincaré partiu para o ataque: em artigo publicado na revista Revue de Méthaphysique et Morale, ele desmontou a teoria de Russell. Foi o início de um duelo que durou anos.

Um duelo respeitoso. Russell era um lorde britânico e de Poincaré foi dito que “entre os cientistas que viveram no século passado, apenas ele conseguiu o milagre de nunca ter feito um único inimigo, uma única pessoa hostil a ele na ciência”. Mas nem por isso os dois adversários economizaram “socos” no plano das ideias.

TROCA DE ATAQUES – Em setembro do mesmo ano, Russell não hesita em jogar na casa do adversário: em publicação na Revue afirma que “Monsieur Poincaré não gosta porque não entende”. Poincaré rebate em artigo na mesma revista, a que Russell responde, em 1908, no American Journal of Mathematics.

De volta à Revue, em 1909, Poincaré publica “A lógica do infinito”, a que Russell replica, em 1910, com “A teoria dos tipos lógicos”.

Poderiam ter continuado assim por anos, se não fosse pelo fato de que Poincaré adoeceu e, devido a complicações na sequência de uma cirurgia, faleceu pouco depois.

TEXTO INALTERADO – Russell voltou a esses temas bem mais tarde, em 1938, no prefácio da republicação dos “Princípios da Matemática”. Sabendo que muita coisa mudou, reconhece que “a esta altura, o interesse deste livro é sobretudo histórico” e mantém o texto inalterado.

A acusação de que “a lógica é estéril” ainda dói, mas Russell está menos confiante de que suas ideias acabarão triunfando.

Por uma boa razão: no meio tempo, em 1931, o austríaco Kurt Gödel (1906–1978) mostrou que a ausência de contradições na matemática nunca poderá ser provada de forma rigorosa.

O mundo que minha filha vai encontrar será diferente daquele em que eu cresci

Charge do Zé Dassilva: no futuro - NSC Total

Charge do Zé Dassilva (NSC Total)

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

Na quarta-feira passada nasceu minha filha mais nova. Talvez seja o caos global do governo Trump; talvez sejam os meus 40 anos se aproximando; o fato é que só nesta, que é minha filha número 4, me dei conta de como o mundo que a espera é diferente daquele em que eu cresci.

Na minha adolescência nos anos 1990 e início dos anos 2000, parecia haver consenso. E não era para menos: por um breve período de uns 20 anos, os EUA não tinham quem lhe fizesse frente. A Rússia parecia se democratizar e entrar na ordem liberal e da China se esperava que, conforme enriquecesse, também se liberalizasse.

LIBERALISMO – A globalização era inevitável. A democracia liberal era o modelo vencedor. Com ela vinha um pacote de valores universais: ciência, direitos humanos, secularismo, tolerância, igualdade. Com a internet nascente, as divergências se resolveriam pela abundância da informação. O único espaço para discussão seria a fronteira da ciência, domínio de especialistas, a quem caberia cada vez mais o governo do mundo. Isso era não apenas justo e eficiente, como inevitável.

Hoje o quadro se inverteu. Vivemos a desglobalização econômica, a corrosão democrática, a ascensão de conservadorismos e fundamentalismos, a emergência ambiental —embora nos impacte diretamente— tratada com ceticismo. A inteligência artificial ameaça o trabalho intelectual.

E o custo de vida, a sobrecarga mental e a escassez de tempo empurram as taxas de fecundidade para os níveis mais baixos da história.

BOLHAS SOCIAIS – A revolta contra aquela ordem veio de dentro das próprias democracias. A liberdade de expressão somada à revolução na tecnologia de comunicação virou o velho mundo de cabeça para baixo. O sonho da conexão global nos levou à divisão interna.

As redes sociais uniram pessoas por afinidades e as isolaram em bolhas. Em vez de um consenso iluminado por especialistas, tivemos a multiplicação de vozes e de verdades selecionadas sob medida para os interesses e identidades de cada um.

O otimismo que hoje se projeta, no entanto, nos anos 1990 não necessariamente era sentido por todos. A ideia de progresso e valores universais era a ilusão criada por uma elite cultural que detinha o monopólio da voz.

FALTAVA ALGO – Para o meu eu adolescente, a promessa de uma vida de especialista dentro da engrenagem tecnocrática inspirava mais tédio e ansiedade do que esperança. Faltava algo. Um elemento fundamental da vida humana —e, mais especificamente, da política— tinha quase desaparecido: o conflito. Havia eficiência demais e significado de menos.

Nesse novo mundo, minha filha conseguirá ver valor em algo fora do apelo cada vez mais irresistível das telas? E mesmo se tiver interesses, terá emprego? Seus direitos como mulher estarão garantidos? Não sei dizer, e isso também traz uma boa dose de ansiedade, embora não de tédio. Sei que ela não poderá ser uma espectadora passiva do que virá; terá que lutar por seu espaço.

Não há o que lamentar. O mundo que minha filha encontrará é mais incerto e, por isso mesmo, mais aberto aos indivíduos. Capacidade de pensar com autonomia e criatividade para agir sem um caminho pré-traçado serão virtudes mais necessárias do que qualquer conteúdo específico. É isso que espero poder ensinar a ela.

“Não tenho intenção de sair da Espanha”, disse Eustáquio sobre a decisão judicial

Oswaldo Eustáquio: defesa diz que Brasil perdeu prazo em processo de  extradição

Eustáquio diz que prefere continuar vivendo na Europa

Elijonas Maia
da CNN

O jornalista brasileiro Oswaldo Eustáquio, foragido na Espanha desde 2023, disse em entrevista à CNN que não pretende deixar o país europeu. A conversa por telefone acontece um dia após a Audiência Nacional do país europeu, mais alta Corte constitucional, negar a extradição dele ao Brasil.

“Não tenho a intenção de sair da Espanha. Embora eu tenha conseguido visto para os Estados Unidos. Meu próximo passo é: estou em Santiago de Compostela para agradecer a Deus por essa benção”, declarou na manhã desta quarta-feira (16).

CAMINHADA – Eustáquio também declarou que fará uma caminhada de dez dias pela cidade “para comemorar essa vitória” e, segundo ele, pedir anistia aos presos pelos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro no Brasil.

Oswaldo Eustáquio tem dois pedidos de prisão em aberto no Brasil. Um de 2022 por tentativa de golpe de Estado e outro de 2024 por ameaça e corrupção de menores.

Já foragido das autoridades brasileiras e proibido de usar redes sociais, a Polícia Federal (PF) identificou que ele usou o perfil da filha menor de idade para divulgar informações sigilosas de um delegado da PF, que é responsável pelo inquérito do plano de golpe. Dados pessoais foram divulgados e também uma foto do servidor, que passou a receber ameaças.

EM OUTROS PAÍSES – Nessa época, o jornalista estava na Inglaterra. Antes, foi foragido no Paraguai. Os dois países foram base de Eustáquio antes de ele conseguir se instalar na Espanha.

Esse segundo mandado de prisão, não cumprido, ensejou o pedido de extradição às autoridades espanholas, que concluíram haver motivação política do pedido do Brasil e, dessa forma, negaram a extradição, seguindo o artigo 4 do acordo bilateral.

O governo espanhol, porém, foi a favor da extradição, como noticiou a CNN em janeiro. Mas o caso seguiu para o Judiciário, que entendeu de forma diferente nesta semana.

DISSE EUSTÁQUIO – “Vencemos o Supremo, o executivo brasileiro e o governo espanhol”, diz Eustáquio, se referindo ao pedido do governo brasileiro, passando pelo Ministério da Justiça, com chancela do Supremo Tribunal Federal (STF).

O Ministério da Justiça brasileiro informou que vai recorrer de todas as formas possíveis para que a extradição de Eustáquio seja realizada.

E o ministro Alexandre de Moraes mobilizou sua equipe para trabalhar no recurso.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGOs países realmente democráticos têm orgulho de defender perseguidos políticos. Aqui no Brasil, estamos costeando o alambrado da democracia, como dizia Brizola, que morou no Uruguai e nos Estados Unidos, quando era perseguido político. (C.N.)

Da janela da casa, Tom via o Corcovado e podia até sonhar com a felicidade…

Tom Jobim em sua casa | Argosfoto

Tem em sua casa, com o Corcovado ao fundo

Paulo Peres
Poemas & Canções

Os parceiros Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes expressam na letra de “Corcovado”, título de uma de suas mais famosas canções, um retrato do Rio de Janeiro visto da janela onde morava Tom, em Ipanema, na Rua Nascimento Silva, 107, de onde se podia avistar o Corcovado e se podia sonhar em encontrar um grande amor e, consequentemente, fazê-lo conhecer o que é a felicidade, depois de sonhos, tristezas e descrenças deste mundo.

A música “Corcovado”, estilo bossa-nova, foi gravada por Nara Leão, em 1985, pela PolyGram.

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CORCOVADO
Tom e Vinicius

Um cantinho, um violão
Esse amor, uma canção
Pra fazer feliz a quem se ama

Muita calma pra pensar
E ter tempo pra sonhar
Da janela vê-se o Corcovado,
O Redentor, que lindo!

Quero a vida sempre assim
Com você perto de mim
Até o apagar da velha chama

E eu que era triste
Descrente deste mundo
Ao encontrar você eu conheci
O que é felicidade meu amor

Com poderes demasiados, Moraes enfrenta muitos questionamentos, diz “The Economist”

Quem é quem no gabinete de Alexandre de Moraes, relator do inquérito que mira Bolsonaro no STF? - Estadão

Prepotência de Moraes impressiona a revista britânica

Juliano Galisi
Estadão

A revista inglesa The Economist afirmou nesta quarta-feira, 16, que o Supremo Tribunal Federal (STF) pode agravar sua crise de confiança diante dos brasileiros se não levar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao plenário da Corte.

O ex-presidente e mais sete aliados são réus no STF por uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. O Supremo ainda analisará o recebimento da denúncia contra mais 26 pessoas. Tanto o recebimento das denúncias quanto o julgamento das ações penais serão realizados pela Primeira Turma, colegiado com cinco dos 11 ministros da Corte.

CRISE DE CREDIBILIDADE – Para a revista inglesa, o julgamento na Turma pode agravar a crise de credibilidade enfrentada pelo STF nos últimos anos. O Supremo foi procurado para se posicionar sobre as críticas da revista, mas não respondeu.

Segundo o artigo publicado pela The Economist, a Suprema Corte brasileira enfrenta “crescentes questionamentos” na medida em que tenta “administrar” assuntos políticos. O Judiciário do Brasil é definido como um sistema de “juízes com poder excessivo”. “E nenhuma figura personifica isso melhor do que Alexandre de Moraes”, afirma a The Economist, qualificando o magistrado como um “juiz estrela”.

“Moraes responde às críticas com autoridade. Pressionado no ano passado sobre se o tribunal deveria adotar um Código de Ética, como a Suprema Corte dos Estados Unidos fez em 2023, Moraes afirmou que ‘não há a mínima necessidade.’”, afirmou a The Economist, referindo-se a uma declaração de Moraes durante o Fórum Jurídico de Lisboa em junho de 2024.

GILMARPALOOZA – O evento em Lisboa é encabeçado pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), fundado pelo ministro Gilmar Mendes. Por essa razão, o evento foi apelidado de “Gilmarpalooza”.

A The Economist criticou o decano da Corte por reunir no Fórum de Lisboa “pessoas influentes que costumam ter negócios na pauta” do STF. Em 2024, o Estadão mostrou que o “Gilmarpalooza” reuniu representantes de 12 empresas com causas tramitando no Supremo. Algumas das ações, inclusive, eram de relatoria do próprio Gilmar Mendes.

Moraes e Gilmar não foram os únicos alvos de críticas da revista inglesa. Dias Toffoli foi mencionado como exemplo do poderio das decisões monocráticas do STF, como são chamados os despachos individuais de ministros que têm efeito antes de um aval do plenário.

PROVAS DA ODEBRECHT – Foi por meio de decisão monocrática que Toffoli anulou, em setembro de 2023, as provas obtidas por meio do acordo de leniência da empreiteira Odebrecht (hoje, Novonor).

A decisão, segundo a The Economist, comprometeu “quase todas as provas descobertas durante a Lava Jato”. Toffoli também foi criticado por “abrir uma investigação duvidosa” contra a Transparência Internacional, uma entidade não governamental que é crítica ao ministro.

Já Luís Roberto Barroso, atual presidente da Corte, foi criticado por uma declaração durante um congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em julho de 2023. “Nós derrotamos a censura, nós derrotamos a tortura, nós derrotamos o bolsonarismo para permitir a democracia e a manifestação livre de todas as pessoas”, disse Barroso na ocasião.

CENÁRIO DE CRISE – Esses fatores, segundo a The Economist, compõem um cenário de crise de credibilidade do STF. Na avaliação da revista, o julgamento de Bolsonaro na Primeira Turma pode agravar essa percepção, uma vez que, dos cinco ministros do colegiado, dois deles possuem estreita relação com o presidente Lula (PT): Cristiano Zanin, ex-advogado pessoal do petista, e Flávio Dino, ex-ministro do governo Lula. Ambos, inclusive, indicados ao Supremo por Lula nos últimos dois anos.

“O julgamento, portanto, corre o risco de reforçar a percepção de que o tribunal é guiado tanto pela política quanto pela lei”, afirmou a revista inglesa.

A publicação avaliou que o STF ampliou seu escopo de atuação em resposta a uma crise institucional nos demais Poderes.

DESDE O MENSALÃO – Nos últimos anos, enquanto o Executivo perdeu sua legitimidade, o Congresso “se viu atolado” em “impasses e escândalos” de corrupção. Nesse sentido, o escândalo do Mensalão, julgado pelo STF em 2012, fortaleceu a Corte. O Supremo passou a estar “mais disposto a fazer valer seus poderes” a partir do julgamento.

“Seus poderes advêm da Constituição brasileira, uma das mais longas do mundo, e permite que partidos políticos, sindicatos e muitas outras organizações apresentem casos diretamente ao STF, em vez de deixá-los passar por tribunais inferiores”, informou a The Economist.

Como mostrou o Estadão, o STF tem ampliado seu controle de constitucionalidade com o julgamento de ações por “omissões inconstitucionais”. Segundo o levantamento, desde 2019, a Corte despachou 78 decisões do gênero. O valor supera as 62 decisões do tipo registradas entre 1990 e 2018.

REDES SOCIAIS – A revista observou ainda que o STF “legisla” sobre determinados assuntos “porque as outras instituições brasileiras fazem seu trabalho mal“.

Como exemplo do mau trabalho dos demais Poderes, a The Economist citou o projeto de regulamentação das redes sociais, conhecido como “Projeto de Lei das Fake News”. A proposta está na gaveta do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), que já afirmou que não pretende pautá-lo, pois “não legislar também é uma opção”.

A revista citou a prioridade do Congresso em debater a anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 como “surreal”. “O Congresso há muito tempo aguarda um projeto de lei que estabeleceria regras claras para a liberdade de expressão online. Em vez disso, surrealmente, está gastando seu tempo ponderando uma legislação que perdoaria aqueles que atacaram prédios do governo após a derrota eleitoral de Bolsonaro.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Um Supremo que age politicamente é uma vergonha nacional. A Justiça só existe quando é apartidária. (C.N.)

Em campanha para 2026, Lula critica elite e reforça defesa da educação

O que Trump ameaça não é apenas a democracia, mas também o liberalismo

Charge do Zé Dassilva (NCS Total)

Carlos Pereira
Estadão

Nos Estados Unidos, a estrutura sempre foi alicerçada no liberalismo, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, quando o país se consolidou como seu principal expoente no mundo ocidental e propagador desses valores no cenário global. Liberdade individual, competição, livre mercado, governo limitado, igualdade perante a lei e democracia foram os pilares que moldaram a ordem institucional americana.

Essa crença liberal ajudou a sustentar um ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico e estabilidade política, traduzido na ideia do “sonho americano”: esforço individual, trabalho duro e meritocracia como caminhos legítimos para o sucesso e a prosperidade. Enquanto essa crença foi dominante, os EUA operaram quase em “piloto automático”, com ajustes de rota marginais.

FRUSTRAÇÕES – Contudo, quando os resultados políticos e econômicos frustram as expectativas da população — especialmente dos principais atores políticos e agentes econômicos —, a crença dominante torna-se maleável e suscetível a mudanças, especialmente diante de choques.

Abrem-se brechas, ou janelas de oportunidade, para a contestação do sistema de crenças vigente — e, por consequência, das instituições que o sustentam. Mudança de crenças, portanto, é a chave para se entender mudanças institucionais.

O retorno de Donald Trump à presidência não pode, portanto, ser interpretado como um acidente — algo esdrúxulo, escatológico ou estranho ao ambiente político americano.

CRENÇAS E VALORES – A defesa de valores antagônicos ao liberalismo — como nacionalismo, protecionismo, segurança, estranhamento com a diferença, muros, tarifas, barreiras comerciais, preconceito contra imigrantes — sinaliza um estágio explícito de competição entre crenças e valores sobre como o mundo deveria funcionar.

Mudanças estruturais costumam ser inquietantes e até assustadoras, pois ainda não está claro o que irá prevalecer: quais crenças e instituições permanecerão e quais se tornarão dominantes. Portanto, ainda é cedo para afirmar com certeza se os EUA estão atravessando uma transição estrutural de valores. Mas os sinais de desalinhamento entre expectativas e resultados produzidos pelas suas instituições são cada vez mais evidentes.

Mais do que a democracia em seu sentido minimalista — o regime em que partidos perdem eleições competitivas — o que hoje parece realmente em risco, com o novo governo Trump, é a própria base liberal que historicamente definiu o ethos americano e do mundo ocidental.

Lula adiou a solução fiscal em busca de ganhar eleição de 2026

Clayton Rebouças | Lula defende contenção de gastos, moralização e justiça fiscal #charge #cartum #cartoon #humor #política #humorpolitico #desenho #art... | Instagram

Charge do Clayton (O Povo/CE)

William Waack
Estadão

As estimativas para as contas públicas que o governo acaba de entregar ao Congresso recebem o pomposo nome de Lei de Diretrizes Orçamentárias, mas deveriam ser tratadas como confissão. A de que nada mesmo importa além de ganhar as eleições de 2026.

Nisso não há qualquer surpresa. Desde as eleições municipais do ano passado Lula assumiu que uma deterioração modesta da política fiscal – a que ele conduz no momento – incomoda muito os agentes econômicos, mas seria essencial para ganhos eleitorais. A novidade na confissão é o próprio governo assumir que o sucessor estará quebrado em 2027.

UMA VISÃO ERRADA – Este será o resultado da conhecida armadilha fiscal que Lula armou para si mesmo, pela qual garantiu desde o primeiro dia do terceiro mandato que despesas cresceriam mais do que receitas.

Numa linha do tempo mais longa, os resultados prometem ser os mesmos da primeira era do PT no poder – medíocres, sobretudo diante dos desafios que o Brasil enfrenta – mas Lula acha que foi um golpe em 2016 que o impediu de alcançar o paraíso.

O que realmente impressiona na confissão batizada de LDO é o grau de distanciamento da realidade política. Coloque-se por um momento de lado a inconsistência dos números (comportamento das despesas versus comportamento das receitas) e o que se lê na peça entregue ao Legislativo é a crença do Planalto em obter do Congresso mais arrecadação. Não há base política para isso.

SEM POPULARIDADE – Da mesma maneira, outra questão política subestimada é o grau de resistência social às forças encabeçadas por Lula.

As dificuldades em expandir popularidade mesmo com tanto empenho em aumentar renda e facilitar crédito vem de um cansaço generalizado e não apenas consequências de episódios isolados, que pudessem ser contornados via propaganda política.

É óbvio em qualquer lugar que inflação atormenta a aprovação de governantes, ou os torna inelegíveis na próxima disputa nas urnas, mas no caso de Lula esse fator é apenas mais um componente de um mix pesado de desconfiança. E, principalmente, pouca esperança de que seja capaz de traçar rumos melhores.

ELEIÇÃO DIFICÍLIMA – Significa que Lula estaria fora do jogo? A confissão batizada de LDO evidencia que ele mesmo considera as eleições dificílimas – a ponto de deixar pior para si mesmo (na hipótese de sair vencedor) uma situação fiscal já pra lá de preocupante. Mas não, ele não está fora do jogo.

Seus adversários parecem confusos e sem grande capacidade de decisão no momento quanto à escolha de um nome para enfrentar Lula. Há um enorme potencial eleitoral nas forças de centro direita, que padecem até aqui da falta de qualquer tipo de direção central e, por consequência, de um rumo claro.

A escolha de seu nome por enquanto depende do humor de Jair Bolsonaro, e o que dizem as pesquisas sobre a popularidade de Lula.

É preciso investigar caso do ex-assessor que teme ser morto a mando de Moraes

Mensagens inéditas revelam medo de Moraes: “Se falar, o ministro me mata”

Gravações do celular de Tagliaferro são nitroglicerina pura

Deu na Gazeta do Povo

A Polícia Federal obteve mensagens que mostram o temor do perito Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes no TSE, quanto à sua integridade física enquanto planejava divulgar os bastidores de Moraes no TSE, revelou uma reportagem da Gazeta do Povo.

Tagliaferro temia que Moraes o prendesse, ou até mandasse assassiná-lo, caso revelasse publicamente informações sigilosas sobre sua atuação na Corte. Em conversas particulares com sua atual esposa, o perito declarou sentir medo de Moraes e expressou vontade de expor o que presenciou em Brasília.

MATA OU PRENDE – “Se eu falar algo, o Ministro me mata ou me prende” escreveu Tagliaferro em uma conversa de WhatsApp em 31 de março do ano passado.

Na mesma conversa, ele afirmou que gostaria de “contar tudo de Brasília” antes de morrer. Também revelou o desejo de “chutar o pau da barraca” e “jogar tudo para o alto”.

A PF extraiu as mensagens do celular do ex-assessor e as incluiu no inquérito que tramita no STF. A investigação, pública, traz registros de conversas entre março e novembro de 2024, acessíveis a qualquer pessoa cadastrada no sistema processual do STF.

TUDO GRAVADO – Tagliaferro ficou conhecido em meados do ano passado, quando a Folha de São Paulo divulgou diversas conversas do grupo do ministro com seus assessores.”

Com extensa carreira na iniciativa privada e na área de tecnologia, Eduardo Tagliaferro ficou conhecido no último ano por seu envolvimento em um episódio controverso envolvendo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Supremo Tribunal Federal (STF).

Tagliaferro foi um dos personagens envolvidos no suposto uso da estrutura da Corte Eleitoral pelo ministro Alexandre de Moraes, na época em que era presidente do TSE, para embasar relatórios dos quais era relator no STF. Quando não havia provas, Moraes pedia que usassem “a criatividade” para incriminar alguns investigados.

EXCELENTE CURRÍCULO – Eduardo Tagliaferro é perito digital, atuou diretamente em um núcleo de inteligência da Corte e chefiou a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED), órgão dentro do TSE.

Criada em 2022, ainda durante a gestão do ministro Edson Fachin, a AEED tinha a missão de combater fake news relacionadas ao processo eleitoral, em especial os ataques ao sistema eletrônico de votação brasileiro.

Submetida à presidência do TSE, a assessoria monitorava redes sociais, identificava postagens tidas como irregulares e enviava os casos para serem avaliados pela presidência da Corte, que poderia determinar ou não pela sua remoção.

ASSESSOR-CHEFE – Após o fim da gestão de Fachin, Alexandre de Moraes assumiu a presidência do TSE e esteve à frente do órgão entre agosto de 2022 e junho de 2024. Em agosto de 2022, Moraes nomeou Tagliaferro para o comando da AEED, no cargo de assessor-chefe.

Ficou então a cargo do perito digital o monitoramento daS redes sociais e a checagem de publicações que pudessem ser consideradas “irregulares”. Esse processo ganhou notoriedade durante o pleito presidencial de 2022, quando houve uma maior atuação do TSE na remoção de conteúdos e suspensão de perfis das plataformas digitais.

De acordo com informações reveladas pelo jornal Folha de S. Paulo no ano passado, enquanto presidia a Corte Eleitoral, Alexandre de Moraes teria solicitado informalmente, por meio de outros assessores, a produção de relatórios à assessoria chefiada por Tagliaferro no TSE.

RELATÓRIOS ESPECIAIS – Esses dados teriam sido depois usados em inquéritos sob relatoria de Moraes no STF. O perito teria sido o responsável por atender a alguns desses pedidos, atuando como um elo entre as duas instituições.

A Folha teve acesso a mensagens de um grupo de WhatsApp que mostrava a dinâmica entre Tagliaferro, Airton Vieira, juiz instrutor do gabinete de Moraes no STF, e Marco Antônio Vargas, juiz auxiliar de Moraes durante sua presidência no TSE. Nas mensagens, esses auxiliares davam ordens e direcionamentos informais para a produção de tais relatórios.

De acordo com informações do próprio Eduardo Tagliaferro, esses relatórios teriam mirado, em grande parte, comentaristas de direita e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As decisões do STF culminaram na remoção de conteúdos e exclusão de perfis das redes sociais.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O temor de o ex-assessor-chefe ser preso ou assassinado por ordem de Moraes mostra a que ponto chegamos. O Supremo e a Polícia Federal têm o dever de mergulhar a fundo nessas investigações, mas acontece que elas estão a cargo do próprio ministro Moraes. Em qualquer outro país minimamente civilizado, essa investigação seria relatada por algum outro ministro. Mas aqui é Brasil. (C.N.)

Ataque de Trump a universidades é ato de tirania e exemplo para a direita do Brasil

Um grupo de pessoas participa de um protesto ao ar livre, segurando cartazes com mensagens como 'DEFEND SCIENCE', 'PROTECT OUR STUDENTS' e 'DEFEND OUR RESEARCH'. No fundo, há um edifício grande e histórico. Algumas pessoas estão sorrindo, enquanto outras têm expressões sérias. O clima parece ser de determinação e união em torno da causa.

Professores e pesquisadores de Columbia fazem protestos

Vinicius Torres Freire
Folha

Faz muitos anos, universidade deixou de ser discussão pública no Brasil, assunto de conversa daquilo que, no passado, se chamava de “formadores da opinião pública” (formavam a opinião uns dos outros. Atualmente nem isso). No máximo, falamos de ranking, o que dá audiência, ranking de qualquer coisa, de pizzaria a sex shop, de riqueza a felicidade. Nos EUA, é assunto de guerra cultural e política.

Universidade não é aqui assunto de política pública, de política econômica de médio prazo, que dirá de discussão eleitoral. Mesmo discussões sobre políticas de desenvolvimento mal mencionam universidades e centros de pesquisa — essas políticas vão dar com os burros n’água.

ASSUNTO ESOTÉRICO – Tratar de universidades nos EUA parece, pois, assunto ainda mais esotérico. A extrema-direita detesta a universidade, nos EUA, aqui e alhures, não é de hoje. É dos elementos centrais de seu ataque demagógico a elites (àquelas elites escolhidas para apanhar, claro).

Sob Trump 1, como em tantos casos, o ataque ficava mais no mundo da arenga, da retórica. Agora, o trumpismo está mais preparado para a implementação, tem mais capacidade executiva —tem “comandos em ação” e aterroriza também o que há de funcional e civilizatório no Estado.

Está demolindo o serviço público profissional, as agências técnicas de supervisão, fiscalização, de promoção da saúde e de pesquisa biomédica, bioquímica, ambiental. No ano que vem, vai atacar o Banco Central, o Fed.

FRENTE DE GUERRA – Agora, Trump amplia sua frente de guerra à universidade. Começou por dizer que combatia o antissemitismo de estudantes que fizeram manifestações contra Israel. Exigiu mudanças em conselhos universitários e em políticas de segurança nos campi.

A seguir, atacou universidades que adotam políticas de diversidade, equidade e inclusão ou similares, “woke”. Quer mudanças em métodos de seleção de estudantes, programas de estudo e outras complicações extensas demais, que não cabem aqui.

O ataque maior é contra as universidades privadas melhores e famosas, como as da Ivy League (da costa nordeste). Fez Columbia baixar a cabeça. Ameaça tirar fundos, contratos e isenções fiscais de Harvard, a primeira grande a resistir.

SÍMBOLO DA ELITE – Como universidade, Harvard é um dos símbolos maiores da elite da Nova Inglaterra, das elites costeiras, do poder americano mais civilizado, muita vez desprezada pelo americano médio do meião do país, por gente que foi deixada para trás, os deserdados da globalização, da “Terceira Via” e das políticas da tecnocracia liberal que comanda o mundo faz uns 30 anos. Essas universidades se pensam como responsáveis muito práticas da formação dessas elites.

De modo mais cru, está em jogo o próprio interesse americano: universidades privadas de elite, com muito dinheiro do governo, e agências e institutos do governo (Institutos Nacionais de Saúde, Nasa etc.), associados a empresas, são o coração da novidade técnica. O mundo pega carona.

O assunto vai muito além: se trata de liberdade de expressão, de pesquisa, de pensamento, ameaçada por um projeto de tirano, que contesta no grito decisões judiciais e coloca o Estado para perseguir inimigos. Não é assunto distante. É um exemplo para a extrema-direita e seus agregados no Brasil, que olham com atenção para parte do que fazem Javier Milei na Argentina e Trump nos Estados Unidos.

Está custando caro a Lula culpar pela carestia “quem compra comida cara”

charge de Thiago Lucas (@thiagochargista), para o Jornal do Commercio.  #lula #haddad #mercado #carne #economia #pt #supermercado #compras  #inflação #feira #picanha #brasil #chargejc #chargejornaldocommercio  #chargethiagojc #chargethiagolucas ...

Charge do Thiago Lucas (Jornal do Commercio)

Josias de Souza
do UOL

A palavra é um empreendimento meio a meio. Pertence metade a quem pronuncia, metade a quem ouve e interpreta. Há dois meses, Lula culpou quem compra comida cara pela carestia. A mais recente pesquisa do Datafolha indica que o comentário custou caro.

Para 83% dos brasileiros Lula tem alguma responsabilidade pela inflação dos alimentos — 54% acham que ele tem muita culpa, 29% avaliam que o presidente é um pouco culpado. A popularidade de Lula entrou no vermelho por muitas razões. A inflação dos alimentos consolida-se como uma das mais evidentes.

Além de contraproducente, o conselho de Lula —”Está caro, não compra”— revelou-se desnecessário. A pesquisa mostra que a carestia forçou 58% dos brasileiros a reduzirem a quantidade de alimentos que costuma comprar. O percentual foi maior entre os mais pobres: 67%.

PRODUTOS EM ALTA – No acumulado de 12 meses, a inflação foi de 5,48%. No mês passado, o tomate subiu 22,55%. O ovo ficou 13,13% mais caro. O café moído subiu 8,14%. Especialistas sustentam que os alimentos encareceram por causa da sazonalidade, da imprevisibilidade climática e do mercado internacional.

O diabo é que, num país presidencialista, as crises sempre ganham a cara do presidente. Lula costuma falar dez vezes antes de pensar.

Ele deveria olhar com mais atenção para os Estados Unidos. Foi sobretudo por raiva da inflação —ou da memória inflacionária— que o eleitor americano puniu Biden nas pesquisas e Kamala Harris nas urnas. É por medo da inflação que o mesmo eleitor coloca a popularidade de Trump no vermelho antes dos 100 dias de governo.

“Se eu falar, ele manda me prender ou matar”, disse o ex-assessor de Moraes

Mensagens inéditas revelam medo de ex-assessor de Moraes: “se falar algo, o  ministro me mata” – Blog do Silva Lima

Eduardo Tagliaferro é um servidor de excelente currrículo

Renan Ramalho
Gazeta do Povo

Mensagens obtidas pela Polícia Federal na investigação sobre o perito Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), revelam que ele temia ser preso por ordem do ministro, ou até morto, caso contasse publicamente o que sabia. Em conversas particulares que manteve ao longo do ano passado com sua mulher, Tagliaferro expressou muito medo do ex-chefe.

“Se eu falar algo, o Ministro me mata ou me prende”, escreveu o perito, em 31 de março de 2024, para a sua atual esposa, numa mensagem de WhatsApp. No diálogo, ele manifestou o desejo de “contar tudo de Brasília” antes de morrer. “Minha vontade, é chutar o pau da barraca, jogar tudo para o alto”, escreveu Tagliaferro.

ESTÃO NO INQUÉRITO – As mensagens, inéditas, foram capturadas pela Polícia Federal no inquérito contra Tagliaferro que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). A Gazeta do Povo acessou o histórico de conversas dele com a mulher pelo WhatsApp a partir de um relatório oficial da investigação. O inquérito é público e o documento pode ser acessado por qualquer pessoa cadastrada no sistema de consulta processual do STF.

O relatório, que também é público, contém a análise dos dados extraídos do celular de Tagliaferro e nele a PF inseriu link e endereço na internet onde estão arquivos com prints das conversas dele com a atual esposa ao longo de quase oito meses, entre março e novembro do ano passado, bem como mensagens trocadas com seu advogado.

Os diálogos, de 2024, ocorreram no ano seguinte à demissão de Tagliaferro do cargo que ocupava no TSE. O perito chefiou, entre agosto de 2022 e maio de 2023, a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED). Ele era o responsável pela elaboração de relatórios sobre políticos, ativistas e veículos que publicavam nas redes sociais críticas ou ofensas a Moraes, ao TSE ou ao STF.

RELATÓRIOS SOB MEDIDA – No último dia 2 de abril, a Polícia Federal indiciou Tagliaferro pelo crime de violação de sigilo funcional com dano à administração pública, por supostamente vazar à imprensa mensagens que ele trocou com outros auxiliares de Moraes. Essas mensagens, reveladas pela Folha de S.Paulo em agosto do ano passado, mostravam como Moraes, quando presidia o TSE, encomendava relatórios de Tagliaferro que depois eram usados pelo próprio ministro para bloquear perfis e remover postagens de críticos nas redes sociais.

As mensagens publicadas em agosto indicavam que Moraes tinha alvos pré-determinados. Na época da revelação das mensagens, o ministro afirmou que eram pessoas já investigadas no inquérito das fake news, no STF, e que, como presidente do TSE, Moraes também tinha poder de polícia para coletar provas contra os investigados.

As novas mensagens, de Tagliaferro com a atual companheira, mostram que ele não só temia o ministro, como tinha opiniões negativas sobre ele. Pelo WhatsApp, o perito desabafava com ela sobre o período em que trabalhou com Moraes, queixando-se do serviço que realizava e do ex-chefe, que chegou a xingar de “FDP”.

FOI DETIDO – Tagliaferro foi demitido da chefia da AEED por Moraes em 9 de maio de 2023, um dia após ser preso em Caieiras (SP). Na noite da véspera, em casa, durante um desentendimento com a ex-mulher (com quem convivia na época) e um amigo, sua arma pessoal disparou e ele foi detido por suposta prática de violência doméstica.

Nesta reportagem, selecionamos trechos das conversas com sua atual mulher, cerca de um ano depois, nos quais Tagliaferro menciona Moraes, o STF e o TSE.

“Se eu falar algo, o Ministro me mata ou me prende” – em vários diálogos, Tagliaferro e sua atual esposa conversavam sobre as dificuldades que ele enfrentou em Brasília. Em 31 de março de 2024, ele expressou o desejo de contar o que viu: “Mas antes de eu morrer/ Tenho que contar tudo de Brasília/ Só falta isso/ O resto, mesmo eu sofrendo, já coloquei cada um no seu lugar”, escreveu.

Depois, desabafou: “Sabe que hoje, se eu falar algo, o Ministro me mata ou me prende, ele é um FDP”. Em seguida, deu como exemplo o caso de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Bolsonaro. “Veja pelo Cid, falou em um grupo privado, algo que nem seria crime, somente comentou uma verdade, o FDP mandou prender ele de novo”.

Na sequência do desabafo com a atual mulher, Tagliaferro escreveu: “Parece que a vida é boa para quem é ruim/ Cheguei a essa conclusão”. Momentos depois, voltou a falar sobre a vontade de revelar o que sabia. “Minha vontade, é chutar o pau da barraca, jogar tudo para o alto”, escreveu. “Meter o louco e não fazer mais nada, mas não posso, tenho as meninas”, completou depois, em referência a duas filhas adolescentes.

Em 23 de abril de 2024, Tagliaferro travou um diálogo com a atual esposa que, segundo a PF, mostraria que ele teria vazado as conversas com a equipe de Moraes para a imprensa. Ele relatou ter falado com a Folha. “Estão investigando o ministro”.

Ela demonstrou preocupação: “Não falou besteira né?”. E Tagliaferro responde: “O necessário. Mas não serei identificado”. Depois, em tom de brincadeira, ele continua: “Se eu morrer, já sabe rsrs”.

Momentos depois, ele voltou a conversar com ela sobre o contato com a imprensa. “Pensando no que falei para Folha”. “Falou merda?”, perguntou a mulher. Ele respondeu: “Kkkk. A verdade”.

As vezes a verdade não é uma boa opção”, comentou ela. Tagliaferro respondeu: “Eu sei/ Mas eu só trabalho com a verdade. Mesmo ela não sendo a melhor opção”. “Falei como a área funcionava”, escreveu depois.

NO SUPREMO – Sobre o andamento do caso de Tagliaferro no STF, no dia 2 de abril, no indiciamento dele, a PF não fez um pedido de prisão preventiva, apenas imputou a ele o crime de violação de sigilo funcional com dano à administração pública, cuja pena varia de 2 a 6 anos de prisão.

O relatório final da investigação foi enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR), a quem cabe agora decidir se denuncia o perito ou arquiva o caso, se entender que não há crime ou indícios suficientes de autoria.

O inquérito tramita na Corte, sob relatoria de Moraes. Para o ministro, estaria no “contexto de reiterados ataques institucionais ao Poder Judiciário” e o vazamento das mensagens teria “intuito de atribuir e/ou insinuar a prática de atos ilícitos por membros” do STF.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
No Brasil, a Justiça agora está sendo feita ao contrário. No banco dos réus, no lugar da Tagliaferro, quem deveria está sentado é o próprio ministro Alexandre de Moraes. Realmente há crimes nos autos, mas eles foram principalmente cometidos por Moraes, que determinava a seu subalterno Tagliaferro que os cometesse, criando provas quando elas não existissem. E ainda chamam isso de Justiça. (C.N.)

Contraditório, Trump critica estupidez, mas vem praticando-a cotidianamente

Trump's Intervention in Huawei Case Would Be Legal, but Bad Precedent,  Experts Say - The New York Times

Trump precisa se desculpar pelo seu jeito estúpido de ser

Josias de Souza
do UOL

Há uma originalidade cômica nos movimentos de Trump. Comporta-se como um estúpido didático, do tipo que denuncia a estupidez praticando-a cotidianamente. A penúltima de Trump foi exposta no site da Casa Branca. Documento oficial anota que a China agora amarga tarifa de 245%. Não se sabe como o cálculo foi feito.

Instado a comentar, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Lin Jian, aconselhou os jornalistas a perguntarem ao outro lado.

É UM HUMORISTA – A essa altura, qualquer taxação adicional será vista como piada de um humorista autodestrutivo que voltou a comandar a maior potência econômica e militar do Planeta.

Trump mandou dizer, por meio de sua porta-voz, que está aberto à negociação. “A bola está com a China”, declarou.

“A China quer o que nós temos e o que todos os países querem é o que nós temos: o consumidor americano. Ou, colocando de outra forma, eles precisam do nosso dinheiro” – acrescentou o presidente norte-americano.

UM TELEFONEMA – A realidade dá à valentia de Trump uma aparência de súplica para que o presidente chinês lhe conceda um telefonema. Mas Xi Jinping não parece estimulado a conversar, muito menos a implorar por clemência.

Mandou dizer que “se os Estados Unidos realmente querem resolver o assunto por meio do diálogo e da negociação, devem parar de ameaçar e chantagear, e conversar com a China com base na igualdade, respeito e benefício mútuo”.

O camarada Xi não tem pressa. Tomado por suas ações, ele tem apenas uma pergunta: Quando Trump admitirá que conduz uma política comercial estúpida?