Entenda por que as crises entre os três Poderes são tão frequentes no Brasil

TRIBUNA DA INTERNET

Charge do Bier (Arquivo Google)

Carlos Pereira
Estadão

Têm sido cada vez mais frequentes conflitos entre os três Poderes. Uma das possíveis causas da cizânia seria uma incongruência ideológica entre eles. Um Executivo de esquerda, um Legislativo predominantemente conservador e uma Suprema Corte de perfil majoritariamente progressista.

Essa diferença de preferências tem sido tamanha a ponto de 175 parlamentares terem assinado uma Proposta de Emenda Constitucional que autoriza o Congresso derrubar decisões do Supremo que o legislativo julgue que os limites constitucionais da Corte foram extrapolados.

PODE SER BENÉFICO? – Ao invés de interpretar esses conflitos como evidência de uma suposta crise institucional, é possível explicar esse fenômeno justamente como virtude. Ou seja, um sistema político extremamente competitivo e de perfil “consensualista” não permite que nenhuma força política consiga, sozinha, ser majoritária.

Imagine se em um país complexo e diverso, como o Brasil, houvesse um sistema político em que maiorias episódicas pudessem impor as suas preferências sem grandes restrições. Certamente, os interesses de minorias circunstanciais seriam alienados e os potenciaIs conflitos tenderiam a ser muito mais polarizados ou mesmo explosivos.

No Brasil, entretanto, as saídas dos conflitos são sempre negociadas e pactuadas a todo momento, porque perde-se eficiência governativa. Tem-se a sensação de que nada acontece.

NEGOCIAÇÕES ESCUSAS – Quando existe cooperação entre as múltiplas forças políticas, percebe-se que é fruto de negociações escusas, o que gera mal-estar generalizado. Embora não de forma consistente, consegue-se impor perdas políticas e judiciais a quem “cruza o sinal”.

Por outro lado, tem-se a certeza de que não vai haver mudanças bruscas e que ninguém vai ser capaz de passar o “rolo compressor” nas posições circunstancialmente minoritárias, como é comum em regimes majoritários puros.

Mas, paradoxalmente, o jogo não quebra. Não temos “virada de mesa” justamente porque cada uma dessas múltiplas forças se controla mutuamente. O equilíbrio desse jogo não é estático, mas dinâmico, pois raramente existe alinhamento de preferências entre poderes.

HÁ PRESSUPOSTOS – Em um ambiente institucional com esta natureza, é exigido um coordenador (o presidente) com a capacidade de montar coalizões minimamente coerentes.

Além disso, espera-se que os poderes e recursos sejam distribuídos proporcionalmente ao peso político de cada um, e que a coalizão não seja muito distante da preferência agregada do Congresso.

Como nem sempre o presidente tem essa requerida virtude, a sociedade confunde e vaia o próprio sistema político ao invés do governante de plantão.

10 thoughts on “Entenda por que as crises entre os três Poderes são tão frequentes no Brasil

  1. Há “dendos”, que serão copiados, em:
    Alerta de 21/9/2023: (3) O presidente Biden está criando uma nova agência federal chamada “Brigada Americana do Clima”. (4) Embaixador israelense na ONU é detido por protestar durante o discurso do presidente do Irã. (5) A Elite globalista está mais perto de realizar o sonho de tornar os eleitores tão desanimados com a República capitalista, que a maior parte da população apoiará um sistema totalmente novo. Novo em 3/10! https://www.espada.eti.br/alerta-2023-09-21.htm

  2. Naturalmente, se tivermos partidos dignos desse nome no Brasil, poderíamos falar na benéfica dialética própria da Democracia.

    Mas o que vemos é uma luta venal pela privatização do Estado de caráter clepto-patrimonialista.

    Assim podemos falar mais em conluios do que conflitos de caráter ideológico no seio do Estado.

  3. Um jogo combinado já que todos tem uma só idéia fixa e serão punidos severamente se desobedecerem a agenda!
    Vergonhosamente cangados!

  4. Se estamos onde estamos é por culpa do poder legislativo em sua grande maioria. Preocupados em garantir boquinhas de tudo quanto é tipo e preço, abriram mão do dever de legislar e fiscalizar os outros dois poderes. Conceder ao presidente da república o poder de indicar ministros aos tribunais superiores, deles exigindo o dever supremo de fidelidade a ele, o presidente da república, no levaram a tal estado. Agora que os onze suprassumos da república nos governam, interpretam a Constituição do jeito que querem, e que mais os beneficia ficamos chorando. Tal estado de coisa tem cura? Sem dúvida mas será que há interesse em corrigir as coisas?

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