Bolsonaro tenta atribuir golpe a Heleno e Braga, e militares reagem

Heleno e Braga iriam chefiar o “Gabinete da Crise”

Cézar Feitoza
Folha

A defesa de Jair Bolsonaro (PL) passou a trabalhar nos últimos dias com a tese do “golpe do golpe”, segundo a qual militares de alta patente usariam a trama golpista no fim de 2022 para derrubar o então presidente e assumir o poder —e não para mantê-lo no cargo.

A estratégia para livrar Bolsonaro do enredo golpista implica os generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto como os principais beneficiados por uma eventual ruptura institucional.

QUEBRA DE CONFIANÇA – Aliados dos dois militares afirmaram à Folha, sob reserva, que a divulgação dessa linha de defesa causou quebra de confiança. O movimento é visto como um oportunismo do ex-presidente na tentativa de se livrar das acusações de que conhecia os planos golpistas.

A base para essa tese é um documento elaborado pelo general da reserva Mario Fernandes, um dos principais suspeitos de arquitetar a trama golpista revelada pela Polícia Federal. Esse texto previa a criação de um Gabinete Institucional de Gestão de Crise, comandado por militares, logo após o golpe de Estado.

As reações de militares sobre essa linha de defesa se intensificaram nesta sexta-feira (29) após Paulo Amador da Cunha Bueno, um dos advogados de Bolsonaro, dizer em entrevista à GloboNews que o ex-presidente não se beneficiaria com um eventual golpe.

DISSE O ADVOGADO – “Quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general Mario Fernandes, seria uma junta que seria criada após a ação do ‘Plano Punhal Verde e Amarelo’ e, nessa junta, não estava incluído o presidente Bolsonaro”, disse Bueno.

O advogado voltou a dizer que Bolsonaro não tinha conhecimento do plano identificado pela PF que definia estratégias para matar o presidente eleito Lula (PT), o vice, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal) e então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

“Não tem o nome dele [Bolsonaro] lá, ele não seria beneficiado disso. Não é uma elucubração da minha parte. Isso está textualizado ali. Quem iria assumir o governo em dando certo esse plano terrível, que nem na Venezuela chegaria a acontecer, não seria o Bolsonaro, seria aquele grupo”, reforçou o advogado.

BRAGA NETTO REAGE – Em nota divulgada após o indiciamento, Braga Netto criticou a “tese fantasiosa e absurda de ‘golpe dentro do golpe’”.

“[O general] lembra, ainda, que durante o governo passado, foi um dos poucos, entre civis e militares, que manteve a lealdade ao presidente Bolsonaro até o final do governo, em dezembro de 2022, e a mantém até os dias atuais, por crença nos mesmos valores e princípios inegociáveis”, diz o texto assinado pela defesa do militar.

Apesar do desapontamento, interlocutores de Heleno e Braga Netto dizem que os militares responsabilizam mais os advogados do que o ex-presidente.

HELENO CHEFIARIA – A minuta de criação do Gabinete Institucional de Gestão de Crise previa que o general Augusto Heleno seria o chefe do grupo. Braga Netto aparece como coordenador-geral, enquanto o general Mario Fernandes e o coronel Elcio Franco seriam assessores estratégicos.

O texto previa ainda outras estruturas no gabinete de crise, como as assessorias de comunicação social e de inteligência. Ao todo, seriam 18 militares no grupo, com maioria de integrantes da reserva do Exército.

Militares aliados de Braga Netto e Heleno destacaram que a linha de defesa mostra que o projeto político do ex-presidente foi colocado acima das amizades com os fardados que demonstraram lealdade durante o governo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Se continuar essa brigalhada, os envolvidos vão se acusar mutuamente, será uma festa de delações. Na forma da lei, o único que não pode fazer delação é o chefe. Mas quem era mesmo o comandante do golpe? Bolsonaro, Heleno ou Braga? (C.N.)

11 thoughts on “Bolsonaro tenta atribuir golpe a Heleno e Braga, e militares reagem

  1. “Mas quem era mesmo o comandante do golpe? Bolsonaro, Heleno ou Braga? (C.N.)”
    PS. Aquele que propôs o acordo “Para Estancar a Sangria”, bem como seus entusiásticos participantes, ou seja: A corrupta multilateralidade interessada!

  2. Gostaria de ver a mesma dedicação desses jornalistas ao golpe dado pelo stf e em parte stf. Como diz a música do Vinicius, que maravilha viver. Limparam a barra de todos sejam os políticos e os empresários. Missão dada, missão cumprida

  3. A princípio, fui tentado a acreditar nessa tese, do Golpe dentro do Golpe, esposada pelo advogado de Bolsonaro, Cunha Bueno no Estúdio I, sem muita convicção e lógica. Os advogados, são muito criativos para defender os clientes.

    Braga Neto e Heleno sempre foram fiéis ao presidente Bolsonaro. Sem o presidente na liderança da massa, os Bolsonaristas, o futuro regime de excessão chapa pura, não iria muito longe, além da divisão no Alto Comando.

    Provavelmente, se realmente algum fardado assumisse o Poder, viria da Ativa, jamais da reserva, portanto, seria muito difícil, os generais de pijama, Braga Neto, Heleno ou Mario Fernandes, liderarem a intentona verde oliva.

    Hoje, analisando melhor os fatos vindos a tona, se depreende, que Bolsonaro seria declarado comandante do ” governo revolucionário”, até que novas eleições, convocadas pelo comando de crise, com Bolsonaro como candidato, nova composição dos ministros do TSE e do STF.

    O regime de Maduro na Venezuela, teria uma cópia no Brasil, sem tirar nem por. Ficamos a beira de uma tragédia ou comédia? Acho que seria trágico para o cidadão brasileiro.

    • Essas são as consequências da falta de Plano B, da falta de perspectivas, da da falta de discussão de ideias de mudança de sistema, da falta de sonhos de uma nova nação, civilizada e próspera.

  4. Ninguém aqui lembrou da doença de Costa e Silva, quando uma “junta militar” assumiu (marinha, exército e aeronáutica)? ô pessoal esquecido…kkkk … seriam os mesmos 3 tons de cinza …

  5. O Nero Amazônico não era tão Nero assim, agora estão queimando mais que ele, a narrativa é “boca de siri”
    As narrativas vão se sucedendo de acordo com a necessidade do momento. Agora é golpe dentro do golpe depois será golpe da direita, aquela facção política que gosta de destruir democracia.
    Maduro constrói sua democracia que vai assombrar o mundo, mas Loola ainda chega lá, respaldo jurídico é o que não falta.

  6. O passado o recomenda:

    Resposta postada 27/08/20
    Lembro que as diretrizes lançadas durante a campanha do Sr. Jair Bolsonaro se apresentavam como uma promessa de “restauração nacional” pena que se tratassem de promessas eleitorais, já um tanto batidas pelo seu uso costumeiro pelos marqueteiros de plantão e proferidas por um personagem pouco confiável, devido ao seu não recomendável perfil de político medíocre e fisiológico.
    Os objetivos globais da “nova política” preconizada para a “restauração nacional” eram:
    Na Área Econômica
    Promessa: Reduzir em 20% a dívida Pública.
    FATO: Da redução prometida de 20% sobre os 3,87 trilhões de 2018, ao aumento acumulado previsto, até o fim deste ano, de estimados 50%, teremos um aumento nominal de 70%, o que leva a um montante estimado de 5,8 trilhões em 31/12/21, aproximando-se de 100% do PIB, o que significaria uma catástrofe económica.
    Promessa: Valorização da moeda e controle da inflação.
    FATO: Dólar em 31/12/2018 R$ 3,874 Dólar em 03/12/2021 R$ 5,68, Valorização da moeda estrangeira 46 % Desvalorização da moeda nacional 31,5%. Inflação em 31/12/18 = 3,75% inflação acumulada até 30/11/2021 = 18,65% = Aumento médio de 65,7%. Sem comentários.

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