Uma mensagem de Ano Novo do escritor gaúcho Sérgio Jockymann

Desejo Primeiro "Os Votos" | Poema de Sérgio Jockyman que encerra uma lição de vida - YouTubeCarlos Newton

Sergio Jockymann (Palmeira das Missões, 29 de abril de 1930 – Campinas, 16 de fevereiro de 2011) foi um jornalista, romancista, poeta e dramaturgo brasileiro. Ficou conhecido por seu trabalho na comunicação do Rio Grande do Sul e por seus trabalhos como dramaturgo no teatro e na televisão, como roteirista de novelas. Foi deputado estadual do Rio Grande do Sul entre 1991 e 1995.

E nos deixou esse “Desejo”, que na internet é atribuído ao escritor francês Victor Hugo, conforme nos esclareceu

DESEJO
Sérgio Jockymann

Desejo primeiro que você ame,

E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,

Que mesmo maus e inconsequentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,

Desejo ainda que você tenha inimigos.

Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,

Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,

Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,

Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,

Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a despeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, inclusive, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga “Isso é meu”,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

Plano de matar autoridades jamais foi exibido, diz defesa do general

Mario Fernandes, general preso pela PF, trocou mensagens com Mauro Cid  sobre plano de executar Lula - PontoPoder - Diário do Nordeste

Fernandes vai assumir sozinho o plano dos assassinatos

Daniel Gullino
O Globo

A defesa do general da reserva Mario Fernandes, preso pela suspeita de participar um suposto plano de golpe de Estado, voltou a pedir sua liberdade ao Supremo Tribunal Federal (STF). Os advogados recorreram de uma decisão do ministro Alexandre de Moraes que negou uma primeira solicitação de soltura.

No recurso, a defesa alega que o documento chamado de Punhal Verde e Amarelo, apreendido com Fernandes, não foi entregue a ninguém. A Polícia Federal (PF) afirma que o texto era um plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Geraldo Alckmin antes da posse deles.

COPA 2022 – Além disso, os advogados afirmam que não há relação entre o plano e a operação denominada de Copa 2022, na qual Alexandre de Moraes foi monitorado, e afirma que Fernandes não participou dessa ação.

Fernandes é um dos 40 indiciados pela PF pela suposta trama golpista e está preso preventivamente desde novembro. De acordo com o relatório final da investigação, ele “teve atuação de extrema relevância no planejamento de Golpe de Estado e ruptura institucional”.

Seus advogados alegam, contudo, que o militar “nunca articulou plano para Golpe de Estado ou de suposto monitoramento de qualquer autoridade pública”.

PLANO INDIVIDUAL? – Além disso, afirmam que “ninguém teve acesso ou conhecimento da minuta encontrada no HD” e que Fernandes “não teve qualquer participação ou conhecimento relacionado ao evento denominado ‘Copa 22′”.

A PF afirma que o plano “possivelmente foi impresso” por Fernandes no Palácio do Planalto e levado no mesmo dia ao Palácio da Alvorada, onde o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) residia.

O recurso da defesa, chamado de agravo regimental, deve ser analisado pela Primeira Turma do STF.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Este é o general da boca suja, que se comunica com palavrões servindo de vírgulas. É um trapalhão, que envergonha o Exército e deveria ser condenado por falta de educação e falta de dignidade. (C.N.)

Caso Claudia Leitte indica que há perseguição religiosa do Estado

Cantora Claudia Leitte fez show em trio-elétrio em São Paulo

Claudia Leitte estaria virando uma cantora gospel?

André Marsiglia
Poder360

O Ministério Público da Bahia instaurou um inquérito para investigar suposto ato de racismo religioso de Claudia Leitte ao trocar, na letra de uma música chamada “Caranguejo”, os termos “Iemanjá” por “Yeshua”, nome hebraico de Jesus.
Não há racismo algum na troca. Beira ao absurdo pensar o contrário. Primeiro que música é ficção, logo achar que alguém pode ser racista em uma música é o mesmo que achar que atores e roteiristas podem ser assassinos em um filme de faroeste.

DIREITO AUTORAL – No máximo, a alteração pode ofender o direito autoral do compositor, algo que não tem nada a ver com crime de racismo e deve ser discutido no Judiciário entre particulares.

Segundo que racismo religioso é o ato de rebaixar deliberadamente alguém ou grupo em razão de sua fé. Claudia não fez isso, apenas reforçou a dela ao cantar “Jesus”.

Quem acredita que trocar a letra de uma música em favor de sua fé humilha a do outro entende que sua crença é melhor, mais adequada ou correta. Portanto, quem está vendo racismo no episódio, ainda que não perceba, é o verdadeiro preconceituoso da história.

DEBATE DE BOTECO – Mas, até aí, a discussão dá um bom debate de boteco. O grande problema começa quando o Estado se mete na questão e passa a investigar a cantora, fazendo do wokismo e da lacração nossa de cada dia uma diretriz pública, uma política de Estado.

Submeter a máquina estatal e promover gastos públicos em favor de qualquer interesse que não seja o de todos fere o dever de impessoalidade, exigido da administração pública pelo artigo 37 da Constituição, responsabilizando os agentes pela indevida gestão.

Além disso, se a investigação caminha em sentido contrário ao descrito pela legislação, pela lógica e bom senso, o Estado, em tese, estaria abusando de seu poder e, seus agentes, de sua autoridade, para promover contra cidadãos uma verdadeira perseguição religiosa.

TOMAR PARTIDO – Em um Estado laico, os agentes públicos não podem tomar partido da defesa desta ou daquela religião específica, desta ou daquela causa, como se uma fosse melhor que a outra, ou mais digna de proteção e acolhimento.

A liberdade de expressão política no Brasil já acabou, não se pode mais falar o que se quer sobre a realidade do país, de suas instituições e autoridades. O Estado, agora, avançará sobre a ficção, sobre a música e sobre a religiosidade de cada um, até chegar ao pensamento. Não sobrará nada.

Com as emendas, o Congresso exibe desacato à lei na casa das leis

Tribuna da Internet | Violência, golpe, crise fiscal, dólar, juros e emendas…  Feliz Natal!Dora Kramer
Folha

Na Constituição discutida, votada e aprovada pela Assembleia Constituinte eleita em 1986 e concluída em 1988, há um dispositivo claro no artigo 37 que demanda transparência aos atos da administração pública.

A esse preceito, pouco observado com seriedade, se refere o ministro Flávio Dino ao exigir, com apoio dos pares do Supremo Tribunal Federal, o cumprimento das regras de manejo das emendas parlamentares.

É UMA LEI – A olhares mais frouxos, tal exigência pode parecer implicância do Judiciário ou mesmo soar como um quê de retaliação devido a certas iniciativas do Legislativo, mas não é. Trata-se da simples disciplina legal.

O Congresso tenta descumprir a lei, enquanto o Supremo atua para fazer valer o escrito na Carta. A este embate se dá o inadequado nome de crise institucional, quando o que se tem é um conflito movido por interesses da freguesia.

O Parlamento bate continência ao faz de conta ao alegar que cumpriu todas as determinações em consonância com regras do Executivo. Além de não ter cumprido de maneira reiterada, o estabelecimento das normas não cabe ao Planalto e sim ao STF, no resguardo ao que diz aquele artigo 37.

BUSCAR O ÓBVIO – Cristalina, pois, a situação. Não vê quem não quer ou, por outra, quem pretende interpretar a realidade de acordo com as próprias conveniências. É o caso dos congressistas resistentes à clareza do argumento constitucional.

O ano termina com a questão em aberto e assim ficará até a volta do recesso, em fevereiro, quando Flávio Dino avisou que vai se dispor, mais uma vez, a ouvir o Congresso já sob nova direção.

Com isso, o ministro está sendo benevolente. A rigor não cabe discussão quanto à letra da lei, matéria-prima do estado de Direito, que os legisladores deveriam ser os primeiros a respeitar, mas não o fazem numa clara afronta à natureza de suas funções. O Executivo, por sua vez, sem força para dar um basta nos abusos, confere um perigoso aval aos dribles, arriscando-se a ser sócio do escândalo em gestação pelas descobertas que a Polícia Federal vem fazendo no uso das emendas.

Esquerda apoia ditadores, mas alega que defende a democracia

Esquecidos: guerra da Síria tem seu pior momento em 4 anos

Repetem-se na Síria as mesmas imagens da Faixa de Gaza

Marcelo Coelho
Poder360

Uma esquerda que aplaude e chora ao mesmo tempo; sacrifica-se o ideal de democracia, direitos humanos e de luta social. O mundo todo viu na TV as multidões que comemoravam, na Síria, a queda do ditador Bashar al-Assad.  De particular interesse para os brasileiros, apareceram as imagens dos incontáveis familiares de mortos e desaparecidos, procurando notícias das vítimas de tortura no que restou das prisões do regime.

Pilhas de documentos eram remexidas no chão; demoliram-se paredes em busca de calabouços secretos, onde alguns sobreviventes poderiam estar ainda.

CRIMES HORRENDOS – Surgem, a cada dia, novas notícias da dimensão monstruosa a que chegaram os crimes de al-Assad. Num subúrbio de Damasco, leio no Financial Times, as crianças estão acostumadas a encontrar mandíbulas humanas nos terrenos baldios em que brincam.

Sim, houve uma guerra civil também – e o Exército Islâmico era ainda mais criminoso do que os seguidores de al-Assad.

Mas, no subúrbio de Tadamon, as jornalistas Raya Jalabi e Sarah Dadduch encontraram, ainda presas no teto de edifícios, as cordas usadas em enforcamentos; sentiram o odor dos cadáveres e viram pilhas de roupas ensanguentadas pelo chão.

E O FUTURO? – O Exército islâmico foi derrotado em 2017.  Cadáveres de oposicionistas e rebeldes continuaram a ser despejados em Tadamon até que al-Assad finalmente fugisse do país.

Claro que ninguém pode saber que tipo de sistema irá substituir a ditadura de al-Assad. Algum compromisso entre as diversas etnias e facções? A predominância de fundamentalistas islâmicos? Mais guerra civil?

É impossível avançar qualquer prognóstico. O espantoso, entretanto, é que alguns setores de esquerda já estejam julgando os acontecimentos – e de forma negativa.

DERROTA ÁRABE – Um intelectual muito respeitado nos países de língua inglesa, e já traduzido no Brasil, suspira com tristeza. A queda de al-Assad, escreve Tariq Ali, “é uma grande derrota para o mundo árabe”.

O renomado colaborador da New Left Review compara o fim do regime sírio a um “mini-1967”, aludindo à fulminante vitória israelense contra o Egito e israelense contra o Egito e seus aliados na chamada Guerra dos 6 Dias. Não se trata, portanto, de boa notícia para Tariq Ali.

Como se sabe, a ditadura síria funcionava como um canal de ligação entre os xiitas do Irã e os combatentes do Hezbollah no Líbano; tratava-se, então, de uma força em prol da resistência palestina; e assim, “logicamente”, a queda de al-Assad – prejudicando Hamas, Hezbollah e Irã – é séria derrota para o “mundo árabe”.

VÍCIO INTELECTUAL -Claro que Tariq Ali faz a ressalva: não derrama lágrimas pelo ditador. Sim, é verdade que ele condena as brutalidades do regime.

O problema, na minha opinião, é que com isso se repete uma espécie de vício intelectual que vem se tornando comuníssimo em setores da esquerda. Trata-se de um pensamento duplo.  O sujeito diz:

“Não sou a favor de ditaduras, mas a queda dessa ditadura é uma péssima notícia”. Tariq Ali não derrama lágrimas por al-Assad. Mas na prática está derramando, sim.  É muito diferente de dizer: “Não sou a favor da ditadura X, mas o que veio em seguida foi muito pior”.  Aí, estamos comparando dois males, sem apoiar ninguém.

“UMA TRAGÉDIA” – E é muito mais grave dizer que “a queda da ditadura X é uma tragédia”, sem nem mesmo saber o que virá em seguida.

Essa é a atitude de Tariq Ali, e de tantos esquerdistas simpatizantes de ditaduras sanguinárias. Pois a certeza deles não é que a derrota de um ditador “simpático” pode trazer alguma esperança democrática.

A certeza deles é que a derrota do ditador “simpático” significa vitória para os Estados Unidos e, no caso, Israel.

“Não sou a favor de Putin, mas… torço para que as democracias europeias que apoiam a Ucrânia terminem quebrando a cara.”

OUTRO EXEMPLO – “Concordo que existe uma ditadura na Nicarágua, mas se ela acabar isso será uma vitória americana, e isso sim é que seria uma tragédia.”

Com isso, sacrifica-se a meu ver todo ideal de democracia, de direitos humanos, de luta em prol dos torturados e desaparecidos. Aceita-se tudo, desde que os Estados Unidos percam, e que o Irã, a Coreia do Norte, a Rússia e a China, continuem fortalecidos.

Não consigo entender como, ao mesmo tempo, esse tipo de esquerdista ainda se considera democrático. De resto, nessa simpatia por Putin, ao menos, os que detestam o imperialismo norte-americano logo vão encontrar um valioso aliado: seu nome é Donald Trump. Não demorará muito para que parte da esquerda comece a elogiá-lo também.

Desarmonia entre Poderes abre espaço para populistas, adverte Lavareda

Cientista político que trabalhou com Temer e FHC é citado em relatório do  Coaf - Época

Lavareda defende a segurança da urna eletrônica 

Leandro Magalhães e Clarissa Oliveira
da CNN

Ao CNN Entrevistas desta semana, o cientista político e presidente do Conselho Científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), Antonio Lavareda, apontou um dos principais fatores de conflito na política brasileira: a desarmonia entre os Poderes.

“O artigo segundo da Constituição brasileira fala na necessidade de independência e harmonia entre os Poderes. Hoje, nós não temos, a rigor, independência e, de fato, é muito difícil alguém reconhecer que haja harmonia entre os Poderes da República”, afirmou Lavareda à CNN.

CRISE ETERNA – “Não podemos continuar nesse padrão de briga de cão e gato ou de gato e rato. A cada mês termos uma nova crise entre Poderes.”

Lavareda resume os meandros desses conflitos ao descrever a investida do Congresso nas “atribuições do Executivo, da Presidência. O governo reage, o Judiciário é instado a intervir”.

Segundo ele, esse movimento resvala para uma “judicialização da política”, seguida de um “desgaste do nível de satisfação dos brasileiros com a nossa democracia”.

POPULISTAS – O cientista político aponta a consequência desse imbróglio: a abertura de um “espaço considerável para a chegada de outsiders da política através dos processos eleitorais, com bastante apoio da população”.

“E são outsiders que carregam consigo frequentemente projetos políticos populistas que, em última instância, ameaçam a própria sobrevivência da nossa democracia.”

Ao CNN Entrevistas, Lavareda analisou também o impasse das emendas parlamentares. Para o cientista político pernambucano, as emendas constituíram uma relação legítima entre deputados, senadores e municípios. No entanto, para ele, essa relação não é normal.

SEM RECUO – “Eu não consigo imaginar que os parlamentares possam recuar, dar passos atrás e abdicar de emendas. Eles constituíram uma relação com seus municípios, com sua base de apoio. Eu quero dizer que isso é legítimo, mas não é normal”, disse, acrescentando:

“No Presidencialismo clássico, então, cabe aos políticos brasileiros e às instituições brasileiras olharem no espelho e dizer: ‘Olha, nós temos que dar uma forma, né?’ Uma forma concreta, adequada, não conflituosa, para esse novo conjunto de procedimentos que ao longo do tempo vieram sendo adotados e onde estão mais ou menos consolidados”, salientou.

SEM RUMO – Sobre o voto impresso, o cientista político disse que a ideia surge quando a Câmara dos Deputados está sem rumo.

“Isso é uma questão menor, que volta à tona em momentos de turbulência, quando a Câmara parece que está sem rumo.”

Ele lembra que o atual modelo de votação é aprovado pelos eleitores. “A maioria esmagadora acredita no processo eleitoral eletrônico. A Justiça Eleitoral é uma das instituições que têm melhor avaliação entre os brasileiros. Isso [urna eletrônica] não é um problema. Modificar isso [com voto impresso] não produziria nenhuma mudança qualitativa na Democracia brasileira”.

Se o mundo não acabar, 2025 será igual a 1925, e a 1825, e a 1125

Formigas ao redor de uma trama geométrica abstrata

Ilustração de Angelo Abu (Folhapress)

João Pereira Coutinho
Folha

O latim é uma língua morta. Mas não é apenas isso: quando morre uma língua, morrem certas ideias e conceitos que ela expressava perfeitamente. Um deles é “sub specie aeternitatis” (do ponto de vista da eternidade). É nele que penso em cada virada do ano, quando a nostalgia me assalta e as ansiedades futuras também.

Foi Baruch Spinoza (1632–1677) quem deu nova vida à expressão latina. Compreender a realidade, fora das limitações do tempo e do espaço, é olhar para o mundo sob essa ótica superior.

FORMIGAS – E, por meio desse ângulo, tudo ganha um valor relativo. Nossas ambições ou frustrações, nossos desejos ou medos, nossos planos ou fracassos —tudo isso é um detalhe que dura um segundo, ou menos que um segundo, no caudal infindável do tempo.

Imagine uma colônia de formigas. Do ponto de vista da eternidade, nós somos as formigas. Não sei se Robert Zemeckis leu Spinoza. Mas o seu “Here – Aqui”, que estreia no Brasil já em janeiro, ilustra o ponto.

Corrijo. Quem o ilustrou primeiro foi Richard McGuire, na sua primorosa novela gráfica. Zemeckis leu, gostou, chamou a sua tribo —Eric Roth no roteiro, Tom Hanks e Robin Wright para os papéis principais— e fez o filme.

NAQUELE LUGAR – Aqui entre nós, o longa é mediano, e o seu sentimentalismo fácil, devidamente ensopado pela música de Alan Silvestri, tornaria a obra intragável.

Mas o conceito é notabilíssimo: um só plano, sempre no mesmo lugar, filmando a passagem do tempo. Bilhões de anos de evolução —das primeiras lavas aos primeiros dinossauros; dos primeiros nativos aos primeiros americanos independentes, até chegarmos à construção de uma casa naquele lugar. Ali.

Depois, quando a casa está construída, tudo o que vemos é uma sala e os habitantes que vão desfilando nela ao longo de décadas, séculos. A câmera de Zemeckis oferece o ponto de vista da eternidade. E que vemos através dela? Sim, o embrulho vai mudando —mobília, cortinados, sofás. Rádio, televisão, computadores. Habitantes, seus trajes, seus comportamentos.

SENTIMENTOS – A única coisa que não muda é o carrossel de sentimentos humanos. Não interessa se falamos de um casal na era dourada, na era do jazz, no pós-Segunda Guerra ou na Guerra do Vietnã. Ou durante os dias de hoje.

Nada do que é humano nos é estranho, para citar outra frase latina. Vemos as mesmas ilusões, as mesmas esperanças, os mesmos planos para a vida. As mesmas contingências que alteram, ou acabam, com os planos. O envelhecimento. A doença. A morte, em tom cômico ou trágico, tanto faz.

E os filhos que chegam. E os filhos que partem. E os filhos que retornam — ou não. Histórias de amor que prometiam tanto e falharam tanto. Solidão. Arrependimentos. Ou nem por isso: segundas oportunidades.

NA MESMA SALA – Depois, o tempo dá um salto e vemos tudo outra vez — na mesma sala, no mesmo espaço, no mesmo canto do mundo. A natureza humana é o supremo clichê. Agora que o ano caminha para o fim, a mídia é generosa em análises prospectivas sobre 2025. O tom, usualmente, é sombrio. Fácil entender por quê.

Guerra na Europa. Guerra no Oriente Médio. Possibilidade de guerra no Indo-Pacífico. E o homem laranja na Casa Branca, pairando sobre a Terra como a sombra de Nosferatu.

Mas, excetuando um asteroide mal-humorado ou uma guerra nuclear, 2025 será igual a 1925, e a 1825, e a 1125. Do ponto de vista da eternidade.

TUDO DE NOVO – Basta instalar uma câmera na minha sala, ou na sala do leitor, e espreitar para o passado, para o presente e para o futuro.

Vejo pela lente a selva, os primeiros arruamentos, as primeiras iluminações. As primeiras paredes, janelas, coberturas. Vejo os meus antepassados, ou os seus antepassados, com a sensação única de que eram únicos, vivendo na vertigem do tempo, cultivando projetos, lamentando o que fizeram ou não fizeram.

Vejo-me a mim, vejo você, alentado ou deprimido com as forças das pequenas coisas, como alentados ou deprimidos serão os homens que ainda não chegaram para habitar a mesma sala, para a destruir, para a reconstruir, para a destruir de novo.

A MESMA ESPÉCIE – Em 2025, do ponto de vista da eternidade, continuaremos a mesma espécie mesquinha, calorosa, raivosa, sonhadora, amedrontada ou corajosa. Vamos amar, ferir quem amamos, acalentar sonhos, destruir sonhos.

Tudo vai mudar, nada vai mudar. O novo ano é o velho ano que será igual a todos os novos anos.

Há formigas que lamentam essa salvífica pequenez. Mas, quando escuto as 12 badaladas, fico imaginando como será a vista lá do alto para o formigueiro cá embaixo.

Uma poética receita de Ano Novo, segundo Carlos Drummond de Andrade

Frases de Carlos Drummond De AndradePaulo Peres
Poemas & Canções

Bacharel em Farmácia, funcionário público, escritor e poeta, o mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) é um dos mestres da poesia brasileira. O significado principal do poema “Receita de Ano Novo” está em olhar para dentro de si mesmo e sentir-se, realmente, apto para ganhar um belíssimo Ano Novo.

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RECEITA DE ANO NOVO
Carlos Drumond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Feliz Ano Novo! Brasil vai vencer a guerra comercial entre EUA e China

Tudo o que você precisa saber para iniciar uma plantação de soja | Agro  Estadão

Brasil detém condições ideais para produzir soja e milho

Jamil Chade
do UOL

Exportadores americanos alertam que uma eventual guerra comercial entre Donald Trump e a China pode ter apenas um vencedor: o Brasil. O novo presidente americano assume o governo pela segunda vez no dia 20 de janeiro e, nas últimas semanas, vem anunciando que irá elevar tarifas de importação a diversos países, inclusive aliados. Contra a China, ele chega a falar em uma alta de 60% nas barreiras comerciais.

A constatação ocorre depois de Trump ter vencido de maneira avassaladora o voto no setor rural americano, marcado pelo conservadorismo. Nos 444 condados dos EUA que dependem mais de 25% da economia no campo, o republicano somou em média 77% dos votos. Ele só não venceu em onze das 444 regiões. Em 100 desses condados, Trump teve mais de 80% dos votos.

HAVERÁ PREJUÍZOS – Mas, em um levantamento realizado por algumas das entidades mais poderosas do lobby agrícola americano, os resultados apontam que há um risco real de que uma parcela desses agricultores seja prejudicada.

Uma tensão comercial entre americanos e chineses, como promete Trump, ampliaria a compra de Pequim da soja e do milho brasileiro, substituindo o produto americano.

Hoje, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA, a estimativa é de que atividade exportadora do Brasil chegará a superar 153 milhões de toneladas nesses dois produtos entre 2024 e 2025. Só em 2024, a China importou quase 69 milhões de toneladas de soja do Brasil e pagou quase US$ 30 bilhões por isso.

BRASIL FAVORECIDO – Em novembro, durante a visita oficial de Xi Jinping ao país, 6 dos 37 acordos firmados entre Brasil e China estavam diretamente ligados ao Ministério da Agricultura e Pecuária para uma maior abertura do mercado chinês para diversos produtos nacionais.

O potencial comercial pode chegar a US$ 500 milhões por ano em setores inclusive dominados pelos produtos americanos.

Mas os estudos feitos pela National Corn Growers Association e pela American Soybean Association apontam que, diante de uma guerra comercial, o Brasil poderia ver um aumento de exportação de até 8,9 milhões de toneladas por ano de milho e soja.

EM QUEDA – A China continua sendo o maior mercado de exportação para a soja americana. Durante o primeiro governo Trump, o Departamento de Agricultura dos EUA indicou que as vendas americanas para o mercado chinês desabaram em US$ 27 bilhões. Depois de Trump aumentar tarifas para bens chineses, Pequim retaliou, também elevando tarifas para os produtos dos EUA.

Quase uma década depois, os agricultores americanos alertam que a China se preparou para um eventual cenário de uma volta de Trump ao poder. Além de amplos investimentos domésticos, Pequim também vem fortalecendo sua relação comercial com o Brasil.

NOVO RECORDE – Em 2023, as exportações agrícolas do Brasil para a China atingiram um recorde de US$ 60,24 bilhões, representando 36,2% do comércio agrícola total do país.

Se a China retaliasse com suas próprias tarifas de 60% sobre os produtos agrícolas dos EUA, isso resultaria em uma perda para os americanos de 25 milhões de toneladas métricas de exportações de soja e 90% das exportações de milho.

“Conclusão: Uma abordagem baseada em tarifas repetidas acelera a conversão de terras agrícolas na América do Sul, o que tem ramificações permanentes nas exportações de soja e milho em todo o mundo”, dizem as associações. “E os produtores de soja e milho dos EUA arcam com o ônus.” Os dois produtos são centrais na exportação agrícola dos EUA. Juntos, eles representam 25% de toda a venda ao exterior do campo americano.

TUDO ERRADO – De acordo com as entidades, os fazendeiros americanos “trabalharam por mais de 40 anos para estabelecer e nutrir uma relação comercial forte com a China”. Agora, veem a ameaça de ter de pagar parte do preço das políticas de Trump, enquanto os chineses desenvolvem cadeias alternativas de abastecimento.

Ao mesmo tempo, o Brasil e a Argentina ganham participação no mercado global com o aumento das exportações.

Os EUA perdem um total combinado de 2,3 a 3,7 milhões de toneladas métricas de exportações de soja e milho por ano, enquanto o Brasil ganha uma média de 4,6 milhões de toneladas métricas de exportações de soja e milho por ano.

DUPLA SAFRA – As tarifas chinesas sobre soja e milho dos EUA, mas não do Brasil, incentivam os agricultores brasileiros a expandir a área de produção ainda mais rapidamente do que o crescimento da linha de base.

A expansão é ampliada porque algumas áreas de terra no Brasil podem ser usadas para o cultivo de soja e milho no mesmo ano. E a terra transformada em área de produção no Brasil permanecerá em expansão.

Segundo os estudos, esses são os resultados se a China adotasse uma política de reciprocidade. Ou seja, aplicando uma tarifa de 60% contra produtos americanos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Desse jeito, precisamos agradecer aos céus pela eleição de Trump. Vai ser burro assim lá na China!!! (C.N.)

Mesmo sob nova direção, Congresso não dará a Lula a parceria esperada

Charge do Son Salvador (Jornal Folha de Londrina – PR) | Sobral em Revista

Charge do Son Salvador (Folha de Londrina)

Dora Kramer
Folha

Salvo um acontecimento de proporções oceânicas que mude o andar da carruagem, Hugo Motta (Republicanos) será eleito presidente da Câmara dos Deputados por aclamação no dia 3 de fevereiro de 2025 com mandato até 2027.

Período peculiar, pois no meio haverá o ano eleitoral de 2026. O deputado ungido por obra das astutas articulações do atual ocupante do posto terá mais poder que os antecessores levados ao cargo também com fartura de adesões.

Quando das eleições deles, Flávio Marinho (Arena), Ibsen Pinheiro (MDB), Michel Temer (MDB) e João Paulo Cunha (PT), o Congresso era uma instituição diferente de hoje.

NOVAS RELAÇÕES – Era diferente não apenas pela composição de forças, equivalente na quantidade, com prevalência do centro e da direita que ainda não dizia seu nome em voz alta.

A diferença é que antes lá havia uma submissão do Legislativo ao Executivo e agora a relação se inverteu.

Por mais que a sagração de Hugo Motta por uma composição articulada por Arthur Lira (PP) tenha sido pautada pela expectativa de uma distensão entre os dois Poderes em prol de uma convivência de temperatura moderada, não há hipótese de que a situação vá além da amabilidade formal.

EQUILÍBRIO DE FORÇAS – A ingerência do Parlamento sobre o Orçamento da União veio para ficar, a despeito das atenuantes — módicas, pela resistência aos critérios impostos pelo Supremo Tribunal Federal no manejo dos recursos do Orçamento.

Na política não existe poder conquistado que seja abandonado por obra da boa vontade, em nome de suposta pacificação de ânimos.

A escolha do comando será sempre pautada pela perícia do eleito em manter os ritos aumentados sobre emendas, vetos, medidas provisórias e manobras regimentais.

FIO CONDUTOR – Os presidentes das duas Casas, considerado também o Senado novamente sob a presidência de Davi Alcolumbre (União Brasil), podem até afetar proximidade com o Planalto, mas o fio condutor será o atendimento ao serviço que lhes cobram os pares.

O presidente Luiz Inácio da Silva (PT) pode até esperar dias mais amenos, mas terá sido imprudente se acreditou na hipótese de ter no Congresso um aliado incondicional. Foi-se o tempo.

Moraes corta visitas a “kid preto” após irmã tentar entrar com fone

Irmã de militar preso é flagrada tentando contrabandear itens em caixa de  panetone

Tenente-coronel estaria querendo ouvir música na cadeia

Pepita Ortega
Estadão

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou nesta segunda-feira, 30, a suspensão do direito de visitas ao tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo, preso e indiciado pela tentativa de golpe de Estado que incluía até um plano para matar o presidente Lula, seu vice Geraldo Alckmin e o próprio Moraes.

A suspensão ocorreu após a irmã do militar tentar visitar o tenente-coronel para entregá-lo uma caixa de panetone. Nela havia, na verdade, um fone de ouvido, que fez apitar o detector de metais do Batalhão de Polícia do Exército em Brasília, onde Azevedo está preso.

CONTRAGOLPE – Azevedo foi capturado no bojo da Operação Contragolpe e acabou indiciado pelos crimes de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e associação criminosa junto do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 38 aliados.

Neste domingo, 29, o general de Divisão Ricardo Piai Carmona, comandante militar do Planalto, informou a Moraes sobre uma ‘alteração’ em uma das visitas ao tenente-coronel.

Segundo Carmona, na tarde do dia 28 a irmã do militar, Dhebora Bezerra de Azevedo, tentou fazer uma visita e levava uma caixa de panetone a ser entregue ao tenente coronel preso.

DETECTOR DE METAIS – No entanto, quando a caixa passou pelo detector de metais o alarme foi acionado. Os militares então questionaram a irmã de Azevedo, que declarou que dentro da caixa havia um fone de ouvido.

Os militares então abriram a caixa e encontraram não só o fone, mas também um cabo USB e um cartão de memória. Tudo foi apreendido e a irmã do tenente coronel acabou não fazendo a visita ao irmão. O próprio Comando suspendeu o direito de visita de Dhebora a Azevedo até uma manifestação de Moraes sobre o caso.

Segundo o inquérito da Operação Contragolpe, o ‘kid preto’ Rodrigo Bezerra de Azevedo participou da ação clandestina que aliados de Bolsonaro colocaram nas ruas no dia 15 de dezembro para prender e executar Moraes.

COPA 2022 – A ação, batizada ‘Copa 2022′ foi abortada de última hora, após o STF adiar a votação que acabou derrubando o orçamento secreto.

A Polícia Federal aponta que missão que empregou até viaturas oficiais da Força foi acertada em uma reunião na casa do ex-ministro da Defesa Braga Netto, também preso por suposto envolvimento direto com a tentativa de golpe de Estado.

Os kids pretos que participaram da ação que visou Moraes tinham um grupo no aplicativo Signal para tratar da ofensiva clandestina. No ‘Copa 2022′, cada um tinha um codinome referente ao nome de países que participaram do campeonato. Azevedo, à época major de Infantaria e integrante do Comando de Operações Especiais, era ‘Brasil’.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Por ser um dos principais envolvidos no golpe, já se podia definir o tenente-coronel como um completo idiota. Agora, essa avaliação é confirmada ao pedir que a irmã levasse um fone de ouvido, um cabo USB e um cartão de memória. Qual a utilização pretendida? Algum plano maquiavélico ou simplesmente copiar músicas para o cartão de memória e curtir no fone de ouvido. Apostas pelo Bet. (C.N.)

É possível sentir um ambiente natalino mortiço no morro do Vidigal

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No Vidigal, este ano não fizeram a iluminação de Natal

Janio de Freitas
Poder360

Um sinal enigmático. Forte, por certo. Sem precedente, sem indício preliminar. Esse Natal encerrou a quarta década em que vi formar-se e crescer com o tempo um cenário luminoso, sobre o fundo escurecido da noite. Pontos luminosos, delicados, de muitas cores, uns estáticos, outros em piscar sem fim, ainda outros em vai e vem de corridas loucas.

Um jardim de luzes dado às noites de nossa classe média pelos vizinhos, nem tão perto nem distantes, moradores da desigualdade social.

Em quatro décadas, as poucas casinhas deixaram de ser o Tambá, nome legado pelos indígenas que aí catavam esse marisco miúdo, e se tornaram a favela do Vidigal. Construções projetadas pelo talento de Sérgio Bernardes (1919-2002) ficaram só nas primeiras, adotadas como moradias de Gal Costa, Lima Duarte, Sérgio Ricardo, muitos notórios.

A via principal ganhou o nome de av. Presidente João Goulart, a terra sumiu, as novas casas se erguem sobre as precedentes. Ainda envolta em mata, é a Comunidade do Vidigal, receptiva e festiva, “point” noturno da moçada de Ipanema e do anexo Leblon.

Menos de 10 pontos de luz comemorativa coloriram dezembro na parte mais decorativa do Vidigal nos anos anteriores. Mesmo na noite de Natal, só a iluminação utilitária invadiu a noite. Não parece que tenha sido frustração de intenções e providências por força de contingências. Não há explicação, ao menos por ora.

Más condutas coletivas assim numerosas não nascem do vazio. Têm causa, em geral, com presença de emoções fortes. Está claro que o Vidigal tem condições inegáveis de representatividade, quase síntese, da maior parte da realidade social. Sua conduta col

etiva poderia valer, por si só, como um sinalizador amplo. Também por aí afora, no entanto, o Natal teria se alterado. Foi possível sentir, em pessoa e pelas vias jornalísticas, o ambiente natalino mortiço, a ausência coloquial dos temas correlatos, preteridos pela quantidade de fatos agitadores.

No mínimo, o Natal ofuscado terá sublinhado o cansaço que a população aparenta. Com alheamento sempre maior e em maior âmbito, nem as mudanças que atacam o seu bolso recebem um pouco de interesse. Mesmo a fúria evangelho-bolsonarista arrefece.

Coincidência ou não, completa-se uma década de fins/começos de anos emocionalmente desgastantes e de expectativas nebulosas. Em 2015, por inaceitação da vitória reeleitoral de Dilma Rousseff, inicia-se a conturbação que perdura ainda, sem ano de interrupção e sem alívio. São 10 anos de tensão nacional durante os 12 meses e de inquietação ao chegar do ano seguinte. Não há povo nem país que passe incólume por 10 anos assim. Sinais de um país em estado alterado não faltam. E talvez seja por aí a mensagem natalina mais original.

Reforma ministerial poderá enfraquecer Lula na eleição de 2026

 (Joédson Alves/Agência Brasil)

O que não falta a Lula são problemas, de todos os tipos

Carlos Pereira
Estadão

Acordos políticos de governos de coalizão não são fixos no tempo. Sua manutenção depende da dinâmica do jogo entre o Executivo e o Legislativo que podem alterar os cálculos tanto do presidente como dos parceiros de coalizão, gerando novas possibilidades de equilíbrio ou mesmo de quebra da coalizão.

Eleições estabelecem o tamanho dos partidos e a distribuição de suas preferências ideológicas no Congresso. O presidente, formateur da coalizão, faz uma oferta de recursos políticos e monetários a partidos em troca de apoio político sustentável no Legislativo e na sociedade.

REPOSICIONAMENTO – No entanto, o equilíbrio desse jogo é dinâmico e pode variar diante de choques exógenos (crises econômicas, desemprego, inflação, descoberta de recursos naturais etc.) ou endógenos (eleições de meio de mandato para prefeitos, escândalos de corrupção etc.).

Esses choques tendem a promover reposicionamento das forças políticas, que podem alterar os parâmetros da coalizão demandando ajustes nas recompensas para mais ou para menos.

A coalizão do presidente Lula em seu terceiro mandato presidencial possui 18 partidos (seus dois governos anteriores tinham oito e nove partidos, respectivamente), gerando um governo majoritário com 350 cadeiras na Câmara dos Deputados. O índice de heterogeneidade ideológica atual é de 56.04, enquanto nos governos passados era de 48.08 e 42.17. O índice de proporcionalidade na alocação de ministérios é de 32.60, enquanto nos seus governos anteriores era de 49.01 e 49.80.

DESPROPORCIONAL – Para se ter uma ideia, o PT, que ocupa 68 (13,26%) cadeiras na Câmara, tem 17 (43,59%) dos 39 ministérios, enquanto o União Brasil, que tem praticamente a mesma representação do PT no Legislativo 59 (11,50%), só tem 3 (7,69%) ministérios (Ver tabela abaixo.).

É a maior, mais heterogênea e mais desproporcional coalizão da história do presidencialismo brasileiro.

Uma coalizão tão grande e com esse perfil terá muita dificuldade de ser coordenada. É esperado baixo sucesso legislativo e alto custo de governabilidade. Além do mais, os parceiros sub recompensados tentarão reequilibrar esse jogo sempre que tiverem uma oportunidade.

CORRELAÇÃO – O bom desempenho de alguns parceiros do governo nas eleições municipais de 2024 reconfigurou a correlação das forças políticas e exige maiores recompensas.

Sem uma reforma ministerial que contemple adequadamente os parceiros, haverá cada vez mais pressão por parte deles para a extração de rendas controladas pelo Executivo sem que se comprometam com o governo no futuro.

Se os aliados continuarem sub recompensados, podem até não sair da coalizão, mas provavelmente não estarão com o governo em 2026.

O conflito entre Supremo e Câmara não é recente nem tem solução

Após Dino bloquear emendas, Lira convoca líderes da Câmara para reunião  política #charge #cartum #cartoon #humor #política #humorpolitico #desenho  #art #caricatura #caricature #jornal #opovo #jornalismo #illustration  #ilustração #editorialcartoon ...

Charge do Clayton (O Povo)

William Waack
Estadão

Papel do Executivo na bagunça institucional é a melhor tradução da falta de liderança do presidente. Assim, é mais fácil criar uma nova Assembleia Constituinte do que tentar resolver via Judiciário nosso sistema de governo.

Essa geringonça que não funciona é ao mesmo tempo causa e consequência da deterioração da ordem institucional. As raízes são históricas e culturais em sentido amplo, mas sua face mais evidente é a da profunda distorção no equilíbrio entre os Poderes.

CASO DE POLÍCIA – Não é algo que possa ser resolvido pelo que pensam ministros do Supremo. E o que um bom número deles pensa foi escancarado pelo ministro Flavio Dino ao mandar a Polícia Federal investigar a liberação de emendas parlamentares.

Em conversas particulares vários ministros qualificam a direção coletiva da Câmara como “caso de polícia”. E, ao comentar a queda de braço política entre os poderes, afirmam que não se trata de disputa por “princípios republicanos”. “É apenas pela grana”, diz um deles, sem rodeios.

De fato, o único princípio realmente em jogo no momento é o de quem manda. Cada um dos poderes tem avançado nas prerrogativas do outro, e o que tem exibido menos musculatura é o Executivo.

PLENOS PODERES – O STF já é por definição o supremo poder e comanda um inquérito desde 2019 que permite interferir no dia a dia da política. Com uma enorme diferença em relação aos outros poderes que fazem política, o Supremo manda fazer.

E entende que cabe a ele “dirigir” a sociedade brasileira para onde ela mesma não sabe que tem de ir (exemplo mais recente é a regulação das redes sociais).

O Legislativo abocanhou parte significativa da prerrogativa do Executivo, isto é, a alocação de recursos via orçamento público. Na prática, está virando o jogo: de “refém” do Executivo, situação que assim viam seus líderes antes das emendas impositivas, na prática fez do Executivo seu refém (até com apoio eventual da AGU).

SEM LIDERANÇA – Quanto ao papel do Executivo na bagunça institucional, é a melhor tradução da falta de liderança de seu chefe. Sua mais recente tentativa de mostrar “quem manda”, via decreto instituindo como devem se comportar as polícias, virou mais uma disputa em torno do pacto federativo em matéria de segurança pública — setor no qual o principal partido do governo tem pouquíssimo a mostrar.

Na prática o País respira um clima insalubre de paralisia e incapacidade decisiva em torno de seus principais problemas. Sem perspectivas de atacar qualquer um deles “por dentro”, isto é, por algum tipo de ação concertada entre as forças políticas. Quem sabe acaba sendo resolvido dependendo do choque de uma crise fiscal.

Usar o ‘banking’ é cair no novo círculo do inferno pós-Dante

Itaú pressiona bancários do grupo de risco a retornarem ao trabalho  presencial | Sindicato dos Bancários

Charge do Francisco (Arquivo Goggle)

Luiz Felipe Pondé
Folha

Sim, novos demônios nascem a cada minuto. Um novo tipo disruptivo é o demônio do “banking”. Aquela entidade que você, cliente mortal, nunca tem acesso, mas que decide tudo que cairá do inferno sobre sua cabeça. O pressuposto de partida da descrição dessa figura icônica do século 21 é que o “banking” é um dos novos círculos do inferno pós-Dante.

Uma primeira lei organizadora do universo em que se movem esses demônios do “banking” é que eles operam de costas para o cliente mortal. Um reparo fundamental: existem clientes imortais —ou relevantes—, aqueles que têm muito, mas muito, muitíssimo dinheiro. O resto é irrelevante.

Torna-se relevante se você somar todos os irrelevantes juntos, mas cada um deles em sua miserável existência única permanece irrelevante. Feito esse reparo, sigamos adiante a investigar esse que se constitui como o novo círculo do inferno pós-Dante.

SEGURANÇA DO BANCO – A dinâmica que opera de costas para o irrelevante individualizado é a seguinte: tudo o que importa para o “banking” é garantir a segurança do banco —não a do cliente—, ao mesmo tempo em que reduz custos, reduzindo o gasto com pessoal, à medida que aumenta a dependência da operação dos recursos digitais que são, em si, ao contrário das mentiras do marketing, desumanizadoras.

Ao redor desse processo, cria-se uma névoa de enganação via comunicação institucional da marca e dos brinquedinhos coloridos digitais para o universo infinito de adultos regredidos que caracteriza o ridículo século 21.

O objetivo dessa estratégia de marketing e branding é fazer você, irrelevante, achar que sua existência, e seu dinheirinho, estão no centro da atenção dos bancos.

CRIAR PROBLEMA – Você só estará nesse centro enquanto variável que deve ser neutralizada a tempo, antes que crie algum problema. Mas, lembre-se, um irrelevante só não faz verão. Essa máxima guia a indiferença que move as técnicas de “banking” no século 21.

Vejamos um exemplo didático. A tendência dos bancos é concentrar cada vez mais os processos de “banking” em recursos digitais a fim de otimizar o controle de danos, para eles, os bancos, não para você, mortal e irrelevante.

No momento, esse recurso gira ao redor dos tais aplicativos. Poderá mudar no futuro e cada cliente terá uma IA para chamar de sua ao sabor do gênero que o/a cliente — faltam-me artigos para dizer o que tenho em mente, que tragédia! — desejar.

REFUGO DOS BANCOS – Esse passo será um daqueles que fará você de idiota, enquanto você continuar achando que o “banking” é “inclusivo”. Que digam os idosos, esse refugo dos bancos.

Se ser “inclusivo” funciona para os bancos é porque ser “inclusivo” custa dinheiro de pinga. Mas no Brasil do crime em que vivemos —e que o governo Lula se apressa em garantir que iremos para o fundo do poço fingindo que é “progressista”, essa expressão cunhada para idiotas em política —, quem pode não anda com o “celular do banco” na rua. Deixa em casa por segurança.

Portanto, qualquer agilidade digital se perde nas horas seguidas do cotidiano. E você, mortal e irrelevante, que fique às cegas quanto aos golpes digitais que sofrerá.

GOLPES DIGITAIS – Assim sendo, a tendência cada vez maior é que os demônios do “banking” construam situações em que golpes digitais na sua conta ou no seu cartão sejam problema unicamente seu e que eles estejam cobertos juridicamente.

Inclusive, porque ter advogados é coisa de gente com grana ou que tem duas encarnações para esperar a justiça ao alcance de todos os pobres e miseráveis dessa terra liderada por delinquentes.

Sabemos que em meio aos demônios do “banking” existem os funcionários do banco que nada têm a ver com as artimanhas digitais diabólicas feitas para que os bancos fiquem cada vez mais protegidos das desgraças que podem cair sobre a sua cabeça.

INFERNO PÓS-DANTE -Demônios do “banking” operam “top down” como se costuma falar nessa grande distopia que é o mundo corporativo — palavras em inglês assim usadas sempre soam brega. Os funcionários mortais —porque os demônios do “banking” são imortais na medida em que logo serão substituídos por uma IA diabólica, múltipla, plural, inclusiva e sustentável — não apitam nesse novo ciclo do inferno pós-Dante.

Ficam entre os clientes e os demônios acima deles, quando não têm uma validade funcional curtíssima, ou são mandados embora ou promovidos para seguirem sua carreira dentro da estrutura que são obrigados a “defender” para sobreviver.

E você, como um ator, corre de um lado para o outro do palco, seguindo um roteiro escrito por um idiota que você nunca saberá quem é. Tudo regado a muito som, muita fúria, apesar de não significar nada. “Banking” é pura barbárie no século 21.

Piada do Ano! Criticar gastos feitos por Janja é “machismo”, diz PT

COMENTE "JANJA" PARA RECEBER O LINK DO JANJÔMETRO NA SUA DM! A  primeira-deslumbrada do Brasil ficou PISTOLA com o meu Janjômetro, me  bloqueou e depois me desbloqueou. Pode chorar o quanto quiser,

Oposição criou o Janjômetro para medir os gastos

Israel Medeiros
Correio Braziliense

A bancada feminina do PT no Congresso disse, neste sábado (28/12), que os questionamentos na imprensa aos gastos da primeira-dama Janja com assessores são “ataques da extrema-direita” carregados de “machismo”. O posicionamento foi divulgado em uma nota publicada no site do PT na Câmara.

Janja virou assunto nos principais jornais do país depois que o Estadão revelou na quinta-feira (26) que uma equipe de assessoria da primeira-dama já gastou R$ 1,2 milhão em viagens. Segundo o jornal, os salários da equipe custam cerca de R$ 160 mil mensais aos cofres públicos.

CONCEITO MACHISTA – “Ao ressignificar o papel de Primeira-Dama, Janja rompeu com o conceito arcaico e machista de subserviência e passividade. Ela mostra coragem, dignidade e compromisso com a transformação social”, diz a nota.

A bancada também argumenta que Janja “desempenha um papel importante em causas essenciais para o país” e cita a defesa dos direitos das mulheres e o combate à violência. Por isso, argumenta, é “legítimo que ela conte com assessoria” para desempenhar seu papel.

“Não toleramos os ataques da extrema direita, carregados de machismo, que buscam desqualificar o trabalho e a força de uma mulher em posição de protagonismo. Em uma sociedade que desqualifica o trabalho de uma mulher, não há espaço para uma democracia plena”, conclui a bancada feminina.

TCU PODE INVESTIGAR – Na quinta-feira (26/12), o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) prometeu acionar o Tribunal de Contas da União (TCU) para investigar a licitude dos gastos da primeira-dama. O bolsonarista também afirmou que acionará o Ministério Público Federal (MPF) para averiguar casos de improbidade administrativa.

“Além de promover shows com dinheiro público e gastar milhões em viagens e hotéis luxuosos, Janja também possui um gabinete próprio bancado com os impostos dos brasileiros. Servidores públicos estão sendo utilizados por Janja para alavancar as redes sociais da primeira-dama em um nítido caso de desvio de função”, escreveu o deputado nas redes sociais.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Dona Janja da Silva não está nem aí. Sua equipe é informal. Se fosse formal, sairia mais barato. Mas o preço alto não faz diferença. Basta lembrar a compra de móveis luxuosos para acomodar o casal presidencial após a mudança. A ex-segunda-dama Rosemary Noronha era muito mais discreta no uso do cartão corporativo, lembram? (C.N.)

Uma mulher-meninazinha chamada Esperança surge no poema de Quintana

AS MAIS LINDAS FRASES SOBRE A VIDA - MARIO QUINTANA (frases,citacões,uma linda reflexão de vida) - YouTubePaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, tradutor e poeta gaúcho Mário de Miranda Quintana (1906-1994), constrói o poema no 12º andar do prédio, numeral que significa o mês de dezembro, no local onde uma mulher/criança espera o Ano Novo, simbolizado por seus olhos verdes, de um verde que significa esperança, a esperança de uma vida melhor. 

O poema de Quintana é baseado em um caso ocorrido na vida real, no final do ano, quando aumenta o número de suicídios. A mulher serviu uma mesa, preparou o jantar como se fosse receber várias pessoas, abriu a garrafa de vinho, tomou um taça, e depois se tornou Esperança…

ESPERANÇA
Mário Quintana

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
– Ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…

E em torno dela indagará o povo:
– Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
– O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…

Apoio da ABI à eleição de Maduro subverte princípios do jornalismo

Octávio Costa analisa a imprensa brasileira em entrevista | Variedades

Octavio Costa levou a ABI a apoiar o tirano Maduro

Lygia Maria
Folha

Uma imprensa livre é condição sine qua non para a democracia. Não à toa, é um dos setores que mais sofre repressão na vigência de regimes autoritários. Assim, jornalistas que apoiam ditaduras são como cordeiros celebrando o próprio abate. E, por incrível que pareça, eles existem, como mostra a Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

A entidade, por meio de sua Comissão de Relações Internacionais, foi um dos 19 signatários de uma carta enviada a Lula (PT) solicitando que o governo brasileiro reconheça a eleição de Nicolás Maduro na Venezuela.

FARSA ELEITORAL – Mas Maduro é um ditador. O pleito realizado em 28 de julho foi uma farsa. Ao assinar o documento, portanto, a ABI achincalha não só a atividade jornalística como os direitos humanos.

Em 2012, um ano antes de o caudilho chegar ao poder, a colocação do país no ranking mundial de liberdade de imprensa da organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) era a já preocupante 117ª. Em 2023, despencou para a 156ª —numa lista de 180 nações.

Para compor a nota final, a RSF avalia cinco indicadores (político, econômico, legislativo, social e de segurança). No primeiro, que trata do respeito à autonomia dos veículos ante pressões do Estado e de outros atores políticos, a Venezuela está na 170ª posição.

ABUSOS E VIOLÊNCIA – A brutalidade de Maduro é notória. O Tribunal Penal Internacional levantou mais de 1.500 denúncias de abusos das forças de segurança. Revelou tortura, desaparecimentos, assassinatos e centenas de presos pelo regime, inclusive menores de idade, entre setembro de 2023 e 31 de agosto de 2024.

Tanto a ONU como o Carter Center apontam que a alegada vitória de Maduro carece de credibilidade. Dados analisados pelo Carter Center mostram que seu adversário, Edmundo González, obteve muito mais votos.

A carta assinada pela ABI até deturpa informações, ao dizer que González reconheceu o resultado do pleito, quando na verdade ele afirma ter sido coagido a acatá-lo para poder sair do país. É surreal que a ABI respalde tantas violações ao jornalismo e à democracia. Por tal feito, já pode ser chamada de Associação Brasileira de Incoerência.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Fui Conselheiro da ABI e tinha orgulho. Agora, fiz uma promessa. Jamais pisarei novamente naquele prédio histórico. (C.N.)

Brasil caminha para a grave crise, que Haddad chama de “desarranjo”

Esquerda do PT venceu Haddad, que está desarranjado

Vinicius Torres Freire
Folha

“Eu sei que esse discurso desagrada à esquerda e à direita… porque um lado não quer contenção de gastos e outro não quer pagar imposto. Aí, fica difícil, né. A direita não quer pagar os impostos que deve. A esquerda não quer conter gastos. Como é que fecha as contas?”.

Com aspecto de exausto e em tom desconsolado, foi o que disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na entrevista coletiva que concedeu no dia 20 de dezembro.

FARIA LIMA? – O que o comando do PT e esquerda em geral pensam dessas frases de Haddad? O ministro teria sido abduzido pela direita, pela “Faria Lima”? Foi convertido à adoração do “deus mercado” (como escreve nas redes tanta gente de poucas letras e números)? Teria passado por lavagem cerebral em reuniões com donos do dinheiro grosso?

Haddad tenta implementar um programa de esquerda razoável, dada a conjuntura. Goste-se ou não do que propõe, é um plano que pode ser debatido em termos racionais e informados.

No governo e na esquerda, porém, o ministro perdeu o “debate interno”, nome que se dá a uma algaravia ignara e contraproducente até para os objetivos políticos mais imediatos da esquerda.

VÃ TEORIA – Nem se trata aqui da ideia de muitos (todos?) economistas de esquerda de que, quase em geral, aumentos de gasto público acabarão por produzir crescimento do PIB e da receita do governo bastantes para evitar crise financeira (alta sem limite de juros e da dívida, fuga de capitais, desvalorização da moeda, inflação etc.).

É ideia de fundamento duvidoso (em teoria, modelos, planos práticos ou mesmo aritmética). O buraco é ainda mais para baixo, porém.

Muita gente tristemente desinformada, com faculdade, “formadores de opinião”, influenciadores da bolha culturete e até amigos, acredita que “o mercado” (donos da maior parte da poupança financeira) prega a contenção da dívida a fim de “tirar os pobres do Orçamento” e ficar com o dinheiro.

MENOS IMPOSTOS – De fato, a direita e quase qualquer rico (ou qualquer um) querem pagar menos imposto. Mas, com dívida crescente, “o mercado” fica com ainda mais dinheiro (até dar o fora do país).

Imagine-se que as contas do governo chegassem ao equilíbrio ou perto disso, como em 2007: que a receita cobrisse o gasto total, inclusive com juros. O governo precisaria de pouco ou nenhum empréstimo para as despesas correntes.

“O mercado” teria de se virar: emprestar a taxas menores ao Tesouro ou também por prazos mais longos ou também mais ao setor privado, a taxas relativamente menores. Poderia ganhar com o aumento do volume, com a economia crescendo mais.

E O SOCIAL? – Acredita-se ainda que, se o governo reduzisse na marra a conta de juros, sobraria mais para “o social” ou o que seja. Não sobra, além de criar mais problemas graves. A receita do governo não dá nem para pagar despesas primárias (Previdência, servidores, Bolsa Família, saúde, educação etc.).

Os juros da dívida (e a rolagem, a renovação, da dívida antiga que vence) são pagos com mais empréstimos, com mais dívida.

No momento, o aumento obrigatório da despesa é cronicamente inviável, mesmo com alta sem limite de impostos, assim como é inviável a alta da dívida e da despesa com juros. Estamos a caminho de recorde insustentável, crise grave, o que Haddad chamou diplomaticamente de “desarranjo” no dia 20.

Idade avançada é problema cada vez mais complicado para Lula

Cotação do dólar: disparada da moeda americana é sinal que Lula perdeu a mão na economia? - BBC News Brasil

Na eleição de 2026, Lula já estará fazendo 81 anos

Bruno Boghossian
Folha

Nas primeiras semanas de governo, Lula confidenciou a um amigo que teria que passar por uma cirurgia no quadril. O presidente sentia as dores de uma artrose desde a campanha eleitoral e vinha passando por sessões de infiltração às escondidas. Decidira, no entanto, adiar a operação e o processo de recuperação por uma questão de imagem.

Aos 77 anos, Lula confessou naquela conversa que não gostaria de deflagrar questionamentos sobre sua idade. Ele reconheceu aquelas razões oito meses depois, quando resolveu fazer a cirurgia. “Eu queria operar logo depois das eleições, mas eu falei: ‘Bom, se operar agora, vão dizer que o Lula está velho, ganhou as eleições e já está internado’.”

PREOCUPAÇÃO – O tópico da idade é uma preocupação pública de Lula. Em diversas declarações desde que voltou ao poder, o presidente citou esse fator como escala ao declarar seu vigor para governar. Ainda que o tema seja alvo frequente de exploração política além dos limites da sordidez, o petista deu poucas demonstrações de que trataria a questão como tabu.

A internação deste mês de dezembro pode não mudar muita coisa, mas força o assunto a ser tratado com mais naturalidade, mesmo dentro do governo. Ministros que despacham diariamente com o presidente admitem que já se adaptaram à rotina de um Lula que não tem, é claro, a mesma energia de 20 anos atrás.

O petista terceirizou decisões e negociações a que se dedicava com desenvoltura nos dois mandatos anteriores.

RUI COSTA CRESCE – Uma das consequências práticas foi o aumento gradual e contínuo da influência interna do ministro Rui Costa. Na avaliação de petistas, esse processo tende a se aprofundar, provocando a repetição de atritos entre o chefe da Casa Civil e outros integrantes do primeiro escalão, em especial Fernando Haddad (Fazenda).

No foro eleitoral, o próprio Lula não parece ter interesse em ignorar o aspecto idade, motivado por um cálculo político puro.

Confidente do petista, o senador Jaques Wagner resumiu um raciocínio que leva em conta esse elemento: se o presidente estiver “nadando de braçada” em popularidade, Lula tenderia a abrir caminho para a renovação no PT em vez de disputar a reeleição.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG Com a idade avançada, Lula precisará de um petista com vice, para substituí-lo numa eventualidade. (C.N.)