Na saideira de Lira, Cunha abençoa Hugo Motta na direção da Câmara

Eduardo Cunha foi atração na festa de Arthur Lira

Raquel Landim e Carla Araújo
do UOL

Era quase meia-noite quando Eduardo Cunha chegou à residência oficial da Câmara dos Deputados nesta sexta-feira (1). Bastante magro e vestindo uma calça jeans e uma camisa quadriculada, ele foi recebido com abraços e risadas pelo atual presidente da casa, Arthur Lira (PP), e por outra estrela da noite: Hugo Motta (Republicanos).

“Ele aprendeu muito, conviveu com todo mundo”, disse Cunha ao UOL ao ser questionado sobre o que espera de Motta como presidente da casa que ele presidiu entre 2015 e 2016 antes de renunciar ao cargo acusado de corrupção.

PLACAR ALTO – Cunha não quis arriscar quantos votos Motta terá neste sábado, mas assim como todos os parlamentares da festa apostava em um placar alto.

Com uma coalizão que vai do PT ao PL, Motta é considerado um pupilo político de Cunha, o algoz do impeachment de Dilma Rousseff. O jovem deputado presidiu a CPI da Petrobras, que ajudou a desgastar a presidente.

Hoje Motta tem a confiança do PT, que o considerou uma opção mais palatável do que Elmar Nascimento (União Brasil), o preferido de Lira.

FESTA DE ARROMBA – Na noite de ontem, também estavam na festa de despedida de Lira, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o deputado Zeca Dirceu, e o deputado Lindenberg Farias, entre outras figuras importantes do partido do presidente Lula.

O próprio Motta só chegou no jantar, que começou às 20 horas, quando já se aproximava das 23 horas. Alguns diziam que era para não roubar os holofotes de Lira.

Várias apostas de placar circulavam entre os presentes e alguns chegavam a dizer que Motta pode ter 490 votos – mais do que os 464 alcançados por Lira.

CLIMA DE ARTICULAÇÃO – Lira não se queixava e comentava com um grupo de deputados que Motta pode mesmo bater seu recorde, já que, quando ele foi eleito dois anos atrás, alguns petistas ainda estavam receosos. Hoje o clima ruim com o PT já passou.

Cunha concorda que o placar vai ser amplo e diz que a eleição da Câmara não é um pleito “normal”, mas de “articulação”.

Questionado sobre como deve ser a relação de Motta com Lula, o autor do impeachment de Dilma diz que vai ser “boa”. “Quem vem do consenso, não consegue ir para o conflito”. Cunha foi do conflito, Motta, provavelmente, vai ser do consenso.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGNada mudou, sem mudará. Reina a esculhambação em Brasília, onde corruptos de carteira assinada, como Eduardo Cunha, são festejadas publicamente. “Que país é esse?”, perguntou Francelino Pereira, no regime militar. E até hoje ninguém soube responder. (C.N.)

Lula está trilhando uma rota fiscal insustentável e atraindo a crise

“Lula 3” título da charge. O desenho mostra Lula ao volante do Rolls Royce presidencial. No banco de trás, há um grande pacote. Do lado de fora, na frente do carro, aparecem empurrando o veículo os ministros Simone Tebet, do Planejamento, e Fernando Haddad, da Fazenda. Uma seta apontada para Lula tem o texto “Equipe econômica”. Uma seta apontada para Tebete Fernando Haddad indica “Equipe de contenção de danos”. Todos estão à beira de um abismo e os ministros seguram o Rolls Royce presidencial com Lula dentro.

Charge do Cláudio Oliveira (Folha)

William Waack
Estadão

Desde sempre historiadores tentaram resumir em poucas palavras o fenômeno de decisões políticas (e/ou militares) que levaram a grandes desastres, embora claramente previsíveis. Duas obras de enorme sucesso foram “A Marcha da Insensatez”, de Barbara Tuchman (de Tróia ao Vietnã), e “Os Sonâmbulos”, de Christopher Clark (como a Europa “tropeçou” para dentro da Primeira Guerra Mundial).

Não há nada de sonâmbulo na marcha de Lula no caminho da insensatez fiscal, que arrisca provocar uma crise política justamente quando seria menos desejável – isto é, num cenário eleitoral. Ao contrário, o presidente não transmite em privado ou em público qualquer sinal de que entenda a questão fiscal como insustentável.

FALSAS AVALIAÇÕES – A principal assessoria econômica do Ministério da Fazenda produz avaliações do seguinte teor: “Nós estamos no caminho certo da consolidação, uma consolidação fiscal feita com baixíssimo desemprego, crescimento econômico, distribuição de renda e combate à pobreza. Sempre foi nosso objetivo: conduzir uma política econômica capaz de consolidar as contas públicas ao mesmo tempo que promove o crescimento e a distribuição de renda”.

É prosseguindo nessa trilha que o governo bateu um recorde histórico na terça feira, quando passou a pagar IPCA + 7,94% para remunerar papéis de dívida de curto prazo.

Com números dessa ordem, não espanta que agentes de mercado (sim, esses vilões) considerem que a atual situação política impeça Lula de adotar medidas capazes sequer de estabilizar a dívida pública, quanto mais reverter sua trajetória de crescimento.

COMBINAÇÃO PERIGOSA – Por “situação política” leia-se a cabeça de Lula e o que faz do “Zeitgeist” (espírito de uma época) ou “vibe” ou como se queira chamar o momento político e sua direção.

A combinação de descrédito quanto às políticas do governo e o enorme tsunami representado por Trump (do comércio à geopolítica, passando pela guerra cultural) são componentes bastante visíveis de uma realidade política extraordinariamente difícil e desafiadora para qualquer governante.

Realidade tornada ainda mais grave quando tudo é visto sob a perspectiva do marketing, uma ferramenta política capaz de produzir resultados apenas localizados, e da qual agora tudo se espera. Nesse sentido, Lula piorou a tarefa de seu chefe de propaganda política. O que tem a oferecer é mais do mesmo (gasto é vida) e promessas pontuais de “intervenção” para mitigar inflação de preços de alimentos, e seu devastador efeito na popularidade de qualquer governo.

O que o Supremo tanto esconde nos seus sinistros processos sigilosos? 

Fotos: O mensalão em charges - 19/09/2013 - UOL Notícias

Charge do J.Bosco (O Liberal)

André Marsiglia
Poder360

Dos abusos corriqueiros dos inquéritos sigilosos, em trâmite no STF desde 2019, destacam-se os vazamentos seletivos de informações à imprensa e o tribunal não permitir às partes e à defesa acesso à íntegra dos autos. À imprensa entregam o que é das partes, às partes, quase nada entregam.

Para não dizer que as ilegais ocorrências se dão em 100% das vezes, pode-se dizer que foram noticiadas em casos como de Filipe Martins, Daniel Silveira e, mais recentemente, no impedimento de acesso aos autos da defesa do general Braga Netto e no vazamento da delação de Mauro Cid.

“AMIGO DO AMIGO” – Eu mesmo passei por idêntica situação, tendo sido o primeiro advogado a atuar no inquérito das fake news, defendendo uma revista chamada Crusoé, que publicou à época uma reportagem cujo título era “O amigo do amigo de meu pai”, e foi censurada.

Não sabendo que a restrição se tornaria um modus operandi do Supremo, recordo-me de ficar surpreso com a negativa de acesso aos autos, pois havia – e ainda há – a súmula vinculante de número 14 do STF, garantindo acesso aos autos às partes e aos advogados.

Como levar a sério uma súmula que nem o próprio tribunal que a fez a respeita? Além disso, quando a censura foi levantada, soube primeiro pela imprensa e, muito depois, por vias oficiais.

LIVRO SOBRE CENSURA – Todo esse calvário jurídico está detalhado em meu livro “Censura por toda parte: os bastidores jurídicos dos inquéritos das fake news”.

As alegações do STF e ministro Alexandre de Moraes são sempre as mesmas. Dizem que os advogados falseiam a verdade, que recebem o que importa a seus clientes e que isso é o bastante.

Não, não é o bastante. Não se constrói uma defesa com base em um conteúdo editado. Não há, dessa forma, paridade de armas, pois o advogado defenderá seu cliente com base em um arremedo, mas seu cliente será julgado com base na íntegra dos autos, que são de conhecimento do juiz. 

ACUSAÇÕES SECRETAS – No meu caso, cheguei a receber certa vez, por WhatsApp, mais do que entendiam ser a parte que me cabia do latifúndio inquisitorial dos inquéritos e, sem querer, acabei descobrindo que o STF, a pedido da Procuradoria-Geral da República, estava investigando até mesmo os leitores da revista.

Como fazer a defesa de acusações sem sentido, lançadas de surpresa no colo de advogados? 

O STF e seus ministros sabem muito bem que isso não está certo e, quanto mais tiram as investigações da vista das partes e dos advogados, mais fica no ar uma indigesta pergunta: o que tanto escondem?

ILEGALIDADE – E mais, será que mostram à imprensa a totalidade do que escondem das partes? Duvido muito.

Por que pararam de cumprir a importantíssima Súmula 14, que garante o acesso da defesa à íntegra dos autos?

O que há de tão secreto nas investigações e julgamentos da Corte, que sua revelação causaria ao país um mal maior do que soterrar o direito à ampla defesa de tantas pessoas, soterrando no final a própria democracia?