Reformas de Francisco mudaram muito pouco a Igreja e foram quase simbólicas

Imagem de um homem idoso, vestido com vestes brancas, que está levantando uma mitra branca da cabeça. Ele tem um sorriso suave e está em um ambiente com pessoas ao fundo, vestidas de preto.

Francisco suportou o celibato e a exclusão das mulheres

Demétrio Magnoli
Folha

“Mãe não é estado civil”, explicou, deplorando os preconceitos contra mães solteiras. “Quem sou eu para julgar?”, indagou, referindo-se à prática da Igreja de emitir condenações aos gays. Francisco será lembrado como um papa que cultivou a empatia com as pessoas comuns, com a vida humana como ela é. No lugar de editos imperiais sobre o céu e o inferno, a virtude e o pecado, escolheu a humildade da dúvida.

Quis empurrar a Igreja para fora do Palácio, na direção das ruas. Suas reformas, contudo, ficaram quase circunscritas ao âmbito simbólico ou cenográfico.

AVESSO À SANTIDADE – Francisco enfrentou a resistência dos tradicionalistas para, com sucesso parcial, abrir caminho à comunhão de divorciados que voltam a se casar. Empenhou-se na missão espinhosa de curar a ferida dos escândalos de pedofilia na Igreja, mas não atacou as raízes da abominação. Seu reformismo morno contrasta com as emoções suscitadas pela figura de um papa avesso à santidade ostentatória.

O “bispo das favelas”, como Bergoglio ficou conhecido na sua Buenos Aires, nunca desejou destruir as muralhas históricas que a Igreja ergueu em torno de seu castelo.

O celibato clerical e o veto à ordenação de mulheres, temas essenciais para o futuro do catolicismo oficial, permaneceram no pátio reservado aos tabus.

REGRAS ARCAICAS – Nenhum dos dois pertence à esfera dos dogmas ou da doutrina. São regras de disciplina organizacional estabelecidas na hora em que Roma alçava o cristianismo ao estatuto de religião imperial. O Sínodo de Elvira (circa 305) impôs o celibato e, pouco mais tarde, o Primeiro Concílio de Niceia (325) proibiu a ordenação sacerdotal feminina.

A “família da Igreja” separava-se das famílias, formando um corpo hierárquico masculino apartado da sociedade. Naquelas decisões encontram-se, por sinal, as fontes profundas do crônico abuso de menores no meio eclesiástico.

Como interpretar o sentido das deliberações de Elvira e Niceia? Sob a influência da visão marxista, uma corrente teórica sugere que sua finalidade era impedir que os filhos dos clérigos herdassem patrimônios da Igreja, formando dinastias privadas.

SÓLIDA EXPLICAÇÃO – A tese parece uma sólida explicação para a perenização das duas disciplinas, mas não passa no teste das circunstâncias históricas nas quais surgiram.

O Sínodo de Elvira foi uma reunião precária de 19 bispos e 36 presbíteros da atual Andaluzia. Niceia congregou mais de 200 bispos, mas realizou-se sob o patrocínio do imperador Constantino I. A Igreja que começava a se organizar carecia de patrimônios significativos.

Uma tese alternativa derrama luzes mais nítidas. Nos primeiros séculos, o cristianismo foi um movimento revolucionário: uma contestação popular das estruturas de poder de Roma.

NÃO HAVIA CELIBATO – Na época, não faltavam pregadores casados e as mulheres ocupavam as linhas de frente na difusão da nova fé. Mas, com a conversão de Constantino, o que era revolução sedimenta-se como instituição.

No início do quarto século, a Igreja submete à ordem o povo cristão, ergue as basílicas romanas e incorpora a cultura patriarcal do Império Romano.

A Igreja, monarquia de ambições imperiais, sobreviveu a Roma, à fragmentação medieval, à primazia do Estado-nação, ao tumulto da modernidade. O papa que se apaga pertence a uma tradição de mudanças adaptativas multisseculares. O passado esmaga o presente: Elvira e Niceia estão entre nós.

6 thoughts on “Reformas de Francisco mudaram muito pouco a Igreja e foram quase simbólicas

  1. Demétrio falando do Papa é dose cavalar.

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    Lula age como se o crime no INSS nada tivesse a ver com ele

    Lupi está sendo mantido no cargo como “cordão sanitário”, numa tentativa de evitar que a crise do INSS chegue até Lula, que faz de conta que a roubalheira de dinheiro dos aposentados nada tem a ver com ele.

    Bolsonaro, na condição de neófito em administração pública, seria inimputável no caso, iniciado no seu mandato?

    • Está falando sério ou de má fé, as usual ?


      A Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram nesta quarta-feira, 23, a Operação Sem Desconto, para investigar um esquema criminoso que promoveu desvios
      bilionários de proventos de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). A operação levou à demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto.

      Segundo a CGU e o Ministério da Justiça, os descontos começaram em 2016, mas escalaram em 2023 e 2024. Entidades de classe, como associações e sindicatos,
      formalizavam Acordos de Cooperação Técnica (ACT) com o INSS, o que permitia o desconto em folha dos beneficiários do órgão. A autorização para o desconto, contudo, em muitos
      casos, era fraudada.

      (Vem aí, agora, o pessoal da NARRATIVA, que jurará de patas juntas que Painho mandou a CGU verificar as cobranças só pra sacanear o irmão “frei”. É ruim, hein ?)

      Veja MP 871/2009, tornada Lei 13.846/2019, cuja ementa informa nstitui o Programa Especial para Análise de Benefícios com Indícios de Irregularidade, o Programa de Revisão de Benefícios por Incapacidade, o Bônus de Desempenho Institucional por Análise de Benefícios com Indícios de Irregularidade do Monitoramento Operacional de Benefícios e o Bônus de Desempenho Institucional por Perícia Médica em Benefícios por Incapacidade …

      O Congresso Nacional, em 2022, pressionado pelos sindicatos e sindicalistas, revogou em parte a lei e não houve mais a exigência de se verificar se o beneficiário não estaria submetido à roubalheira. Leia a lei. Gelo também queima.

  2. Está falando sério ou de má fé, as usual ?


    A Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram nesta quarta-feira, 23, a Operação Sem Desconto, para investigar um esquema criminoso que promoveu desvios
    bilionários de proventos de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). A operação levou à demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto.

    Segundo a CGU e o Ministério da Justiça, os descontos começaram em 2016, mas escalaram em 2023 e 2024. Entidades de classe, como associações e sindicatos,
    formalizavam Acordos de Cooperação Técnica (ACT) com o INSS, o que permitia o desconto em folha dos beneficiários do órgão. A autorização para o desconto, contudo, em muitos
    casos, era fraudada.

    (Vem aí, agora, o pessoal da NARRATIVA, que jurará de patas juntas que Painho mandou a CGU verificar as cobranças só pra sacanear o irmão “frei”. É ruim, hein ?)

    Veja MP 871/2009, tornada Lei 13.846/2019, cuja ementa informa nstitui o Programa Especial para Análise de Benefícios com Indícios de Irregularidade, o Programa de Revisão de Benefícios por Incapacidade, o Bônus de Desempenho Institucional por Análise de Benefícios com Indícios de Irregularidade do Monitoramento Operacional de Benefícios e o Bônus de Desempenho Institucional por Perícia Médica em Benefícios por Incapacidade …

    O Congresso Nacional, em 2022, pressionado pelos sindicatos e sindicalistas, revogou em parte a lei e não houve mais a exigência de se verificar se o beneficiário não estaria submetido à roubalheira. Leia a lei. Gelo também queima.

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