Manuel Bandeira reviveu seu primeiro amor em três etapas da vida

Eu gosto de delicadeza. Seja nos gestos,... Manuel Bandeira - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O crítico literário e de arte, professor de literatura, tradutor e poeta Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (1866-1968), conhecido como  Manuel Bandeira,  no poema “Três Idades” lembra a sua primeira paixão.

TRÊS IDADES
Manuel Bandeira

A vez primeira que te vi,
Era eu menino e tu menina. 
Sorrias tanto… Havia em ti
Graça de instinto, airosa e fina.
Eras pequena, eras franzina…

Ao ver-te a rir numa gavota, 
Meu coração entristeceu. 
Por quê? Relembro, nota a nota,
Essa ária como enterneceu
O meu olhar cheio do teu.

Quando te vi segunda vez, 
Já eras moça, e com que encanto
A adolescência em ti se fez! 
Flor e botão…sorrias tanto… 
E o teu sorriso foi meu pranto…
Já eras moça…Eu, um menino…

Como contar-te o que passei? 
Seguiste alegre o teu destino…
Em pobres versos te chorei. 
Teu caro nome abençoei.
Vejo-te agora. Oito anos faz, 
Oito anos faz que não te via…
Quanta mudança o tempo traz 
Em sua atroz monotonia!

Que é do teu riso de alegria?
Foi bem cruel o teu desgosto. 
Essa tristeza ê que mo diz…
Ele marcou sobre o teu rosto 
A imperecível cicatriz: 
És triste até quando sorris…

Porém teu vulto conservou
A mesma graça ingênua e fina… 
A desventura te afeiçoou 
À tua imagem de menina.
E estás delgada, estás franzina…

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