Hipocondríacos poderão detectar se os possíveis amantes têm algum doença

Reprodução do Arquivo GoogleJoão Pereira Coutinho
Folha

Viajo para o Rio de Janeiro neste mês. Alguns amigos portugueses, preocupados com meu bem-estar, perguntaram se eu já tinha tomado a vacina contra a dengue. Que desastre! Nunca tinha pensado no assunto. Mas bastou escutar a palavra “dengue” para que o sono daquela noite fugisse para parte incerta.

Contemplando o teto do quarto, suando na cama, escutando zumbidos de mosquito na minha imaginação, já tinha todos os sintomas da doença, exceto a doença.

NAS MÃOS DA CIÊNCIA – No dia seguinte, como um morto-vivo que saiu da sepultura para enfrentar a ofuscante luz do dia, marchei para a “consulta do viajante” e entreguei-me nas mãos da ciência. A ciência não queria o meu corpo. Uma médica, levemente divertida, tentou serenar-me. “Já não é verão no Brasil, as temperaturas estão mais baixas”, disse ela. “Basta um bom repelente”, acrescentou.

Agradeci, educadamente, e depois me lancei a seus pés, implorando. No fim da consulta, já tinha tomado a vacina contra a dengue (no braço direito), contra a febre amarela (no esquerdo), contra as hepatites A e B (novamente no direito). Não tinha era braços, mas essa é outra história.

Também trouxe um repelente. Minto. Dois: um para o corpo, outro para a roupa. Quando exigi um equipamento de apicultor, fui expulso do consultório.

PROCURANDO DOENÇA – São assim os hipocondríacos. Felizes na ignorância. Infelizes na sabedoria. Razão pela qual preferem a ignorância: aquele clichê do hipocondríaco procurando na internet informações sobre a sua saúde é coisa de amador, não de profissional.

Um profissional sabe que, usando o Google para saber algo mais sobre sua “dor de cabeça”, o mais provável é terminar a leitura em pânico, redigir o testamento e rumar para o bloco operatório mais próximo, em busca de um trépano.

Essa é a razão pela qual não tenciono instalar lá em casa o banheiro do futuro. Você conhece? Li no Wall Street Journal a respeito. Afastem de mim esse cálice. No espaço de uma década, será possível acordar, entrar no banheiro e sair de lá com uma lista generosa de todas as doenças que habitam nosso corpo.

EXAME COMPLETO – Por enquanto, só alguns hotéis, hospitais e até apartamentos de luxo na China oferecem algo comparável. O vaso sanitário, por exemplo, será de uma sofisticação que transformará a Nasa numa caverna rupestre. Segundo o jornal, será possível avaliar, só pelos dejetos, se o cidadão está hidratado, se tem pedra no rim, se tem doença grave nas entranhas.

A ducha, para além da limpeza habitual, servirá para identificar e tratar, por luz infravermelha, qualquer sinal de inflamação. Mesmo o espelho, na sua inocência aparente, será de uma vigilância dermatológica assombrosa, fazendo um rastreio enquanto você contempla seu rosto.

Depois, escovando os dentes, a saliva permitirá o diagnóstico completo, fornecendo todos os vírus e bactérias que merecem extermínio.

CONTA DO ESTRAGO – No fim da experiência, uma pessoa normal recebe a conta do estrago: “Infecção urinária e sarna. Tenha um bom dia”. Valerá a pena?

Não vale, irmãos. Um mundo de hipocondríacos será penoso de ver: o que se ganha em detecção precoce perde-se em paz de espírito. Palavra de profissional.

Até porque uma pessoa saudável, como dizem os cínicos, é alguém que ainda não foi devidamente estudada. O que hoje são imperfeições toleráveis, e ignoradas, passarão a ocupar um tempo e um espaço dramáticos.

Mas as consequências nefastas não serão apenas pessoais. Serão interpessoais. As relações amorosas, por exemplo, dificilmente sobrevivem a um patrulhamento tão íntimo. Basta pensar num primeiro encontro:

DIÁLOGO AMOROSO – Antes de sairmos para jantar, você pode usar o meu banheiro?

– Obrigado, mas não estou precisando.

– Por favor, eu insisto.

Se as expectativas amorosas já são tão elevadas na vida moderna, elas serão delirantes quando for possível fazer a história clínica de um potencial parceiro. E que dizer nesses momentos? “Gosto de você, mas não da sua próstata”?

Posso ser antiquado. Mas quero o meu banheiro como lugar de silêncio, leitura e reflexão. E, em jeito de hai-kai, pergunto: Como apreciar um poema ou um aforismo / quando as máquinas só querem saber / do meu reumatismo?

Lula diz que vai viver até 120 anos para disputar mais 10 eleições “até de bengala”

CCJ convida Paulo Pimenta para explicar inquérito de fake news sobre  enchentes no Rio Grande do Sul - Estadão

Lula diz que agora passou a beijar os homens normalmente

Caio Spechoto e Gabriel de Sousa
Estadão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quarta-feira, 15, que vai viver até os 120 anos e disputará mais dez eleições – até quando estiver andando com o auxílio de uma bengala. Lula fez as declarações em cerimônia de anúncios sobre a calamidade no Rio Grande do Sul, em São Leopoldo (RS).

“Eu vou viver até os 120 anos, eu vou demorar. Já falei para o homem lá em cima: não estou a fim de ir embora. Preciso disputar umas dez eleições, mais uns 20 anos. O Lula de bengala disputando eleição”, disse o presidente.

FAKE NEWS E ANIMAIS – No discurso, Lula voltou a criticar disseminadores de fake news em meio à tragédia. Segundo Lula, ao citá-los como “vândalos que não querem argumento”, “esse tipo de gente um dia será banido da política”.

O chefe do Executivo também comentou que não tinha conhecimento que havia tantas pessoas negras no Rio Grande do Sul.

Já em tom de brincadeira, ele falou a um prefeito do evento para “mandar uma carta” ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para liberar recurso para cesta básica aos animais.

BALANÇO SINISTRO – As enchentes no Estado já deixaram ao menos 149 mortos e 108 desaparecidos até a manhã desta quarta. Em todo o território gaúcho, há cerca de 538 mil desalojados e 76 mil pessoas em abrigos públicos. Segundo a Defesa Civil estadual, 446 dos 497 municípios gaúchos foram afetados pelos temporais.

No evento desta quarta, Lula também disse que não sabia que havia tantas pessoas negras vivendo no Rio Grande do Sul. O Estado tem mais de 1,6 milhão de pessoas pretas ou pardas.

O presidente também afirmou que está ficando “moderno” e passou a cumprimentar com beijos os participantes de agendas do governo federal. “Pode ser homem ou mulher”, disse.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Decididamente, Lula não está bem, pois não consegue dizer coisa com coisa. É uma asneira atrás da outra, e sempre com a reeleição pelo meio. É triste assistir ao presidente da República ir caminhando para a segunda infância com tamanha velocidade. Essa de dar beijinho em homem mostra que Lula realmente está ficando moderno, mas espera-se que as demais modernidades parem por aí, porque não fica bem… (C.N.)

Para rebater críticas, Pimenta diz que não é inimigo do governador Eduardo Leite

Paulo Pimenta aciona Lewandowski contra fake news sobre Rio Grande do Sul - SBT News

Lula se livrou de Pimenta, que não ficará mais no Planalto

Igor Gadelha e Gustavo Zucchi
Metrópoles

Oficializado nesta quarta-feira (15/5) como ministro da Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta (PT) rebateu críticas de aliados do governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB), sobre sua nomeação para o cargo.

Desde que a indicação foi noticiada pela imprensa, na terça-feira (14/5), tucanos criticaram a escolha. Aécio Neves (PSDD-MG), por exemplo, classificou a decisão como uma “excrescência” e disse que ela politiza a tragédia.

PRÉ-CANDIDATO – A crítica dos aliados de Leite se deve sobretudo ao fato de Pimenta, que é gaúcho, ser apontado como pré-candidato ao governo gaúcho em 2026. O temor é de que o petista use o ministério para trampolim eleitoral.

“O povo gaúcho já escolheu, nas urnas, quem ele quer que governe o Estado”, provocou, nos bastidores, um aliado próximo de Leite.

Em conversa com a coluna, Pimenta disse não ser inimigo do atual governador gaúcho e revelou, inclusive, que votou em Leite no segundo turno das eleições de 2022, contra o ex-ministro bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL).

RESPEITO E PARCERIA – “Não sou inimigo do Leite. Nossa relação é ótima, de respeito e parceria institucional. Claro que temos diferenças, mas nada que impeça um ótimo trabalho conjunto. Eu votei pra governador e para presidente nos mesmos candidatos que ele e imagino que ele também votou nos mesmos que eu”, afirmou Pimenta à coluna.

A indicação de Pimenta para o ministério foi alvo de críticas até mesmo de correligionários do ministro no PT. O temor de alguns petistas é de que a nomeação prejudique a relação do governo federal com o governo gaúcho.

Para lideranças do PT, Lula também pode ter criado, com a indicação, pontos de atrito com aliados que também almejavam disputar o governo do Rio Grande do Sul em 2026 com o apoio do presidente da República.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Como dizia Machado de Assis, a confusão é geral. O presidente Lula da Silva, que se julga genial, achou que tinha arranjado um jeito de se livrar de Paulo Pimenta, porque atribui a um pretenso fracasso dele na Secretaria de Comunicação a queda da aprovação do governo nas pesquisas políticas. Realmente, Paulo Pimenta não trabalha mais no Planalto, terá de se mudar para Porto Alegre. Porém, o problema que Lula criou no Rio Grande do Sul é muito mais grave. Como dizia o simpático e eficiente robô Delcio Lima, essa bagaça não vai dar certo. (C.N.)

Elon Musk vence disputa com Austrália e vídeo do esfaqueador é liberado no X

Polícia diz que ataque em igreja australiana foi ato terrorista

Bispo Emmanuel foi esfaqueado durante a missa em Sidney

Deu na agência Estado

Nesta segunda-feira (13), um juiz da Corte Federal Australiana decidiu não estender a ordem que proibia a plataforma X de Elon Musk de exibir um vídeo de um ataque a facadas em uma igreja em Sidney, capital da Austrália.

O juiz Geoffrey Kennett negou um pedido da comissária de eSafety do país, Julie Inman Grant, para estender as restrições ao vídeo, que ela havia considerado como material de “classe 1” relacionado à violência de alto impacto. O juiz ainda não forneceu explicações para sua decisão.

SEM VALIDADE – A proibição inicial do vídeo, imposta pela Corte Federal em Melbourne em 22 de abril, expirou na segunda-feira (13). A X se recusou a cumprir a ordem, que tornaria o vídeo inacessível aos usuários em todo o mundo. A plataforma concordou apenas em bloquear o conteúdo na Austrália.

Musk insistiu na época que nenhum país não deveria ter o poder de censurar a internet inteira. A comissária de eSafety argumentou que uma proibição total era necessária, já que os australianos ainda poderiam acessar o vídeo por meio de uma VPN.

A empresa de mídia social acredita que “a remoção global é razoável quando a X a faz porque a X quer fazer, mas se torna irrazoável quando é instruída a fazê-lo pelas leis da Austrália”, disse Walker ao juiz.

HIPROCRISIA DO X – A argumentação de Walker está certa, no sentido de apontar a hipocrisia do X, mas não é um argumento a favor da censura e sim da liberdade de expressão irrestrita.

No final de abril, o Bispo Emmanuel, que a principal vítima do esfaqueador australiano, apoiou Elon Musk durante um sermão, dizendo que queria que o vídeo do ataque contra ele permanecesse online, porque é “nosso direito dado por Deus à liberdade de expressão e liberdade religiosa”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Musk vai se dar bem e vencer todos esses tipos de embate, porque a censura é um dos mais odientos atributos das ditaduras, nenhum regime pode ser considerado democrático se exercer censura. Aqui no Brasil, onde o surrealismo reina, o próprio Supremo insiste em criar uma censura em defesa da democracia, vejam só que belíssima Piada do Ano. Na matriz USA, os deputados republicanos se prepararam para triturar Alexandre de Moraes. Vai ser divertido. Comprem pipocas. (C.N.)

Brasil já se tornou um dos piores países na adaptação às mudanças climáticas

Mudanças climáticas castigam a manezada | Charge | Notícias do dia

Charge do Ricardo Manhães (Jornal ND)

Diogo Schelp
Estadão

O Brasil é um dos piores países do mundo no quesito adaptação climática, ou seja, na resiliência a eventos extremos como secas, chuvas torrenciais e ondas de calor ou frio, e a na capacidade de agir para reduzir seus impactos humanos e econômicos. Na comparação com outras 184 nações, o Brasil está em 86º lugar no potencial de resistir e se adaptar aos efeitos das mudanças climáticas, segundo o índice ND-GAIN, elaborado pela Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos.

O ranking existe desde 1995 e já estivemos melhor posicionados — começamos a ficar abaixo do 85º lugar só a partir de 2010. Noruega, Finlândia e Suíça ocupam as primeiras posições.

DOIS INDICADORES – A nota que define a posição no ranking é composta pela combinação de dois indicadores. O primeiro é a vulnerabilidade do país a desastres naturais relacionados ao clima. Aqui são levados em conta fatores como infraestrutura, sistemas de saúde, moradia e acesso à água e alimentos — ou seja, às condições de sobrevivência — que podem ser impactados por eventos climáticos.

O segundo indicador é a prontidão, ou seja, a capacidade de investir de maneira efetiva e rápida em ações para se adaptar às consequências das mudanças climáticas.

Para usar o exemplo da atual tragédia causada pelas enchentes no Rio Grande do Sul, a vulnerabilidade estaria relacionada aos riscos representados pela combinação de chuvas intensas, da geografia do Estado, da localização das ocupações humanas, das características da produção agrícola e da infraestrutura de transportes e de distribuição de água, entre outros.

MOBILIZAÇÃO – Já a prontidão seria a capacidade de mobilizar recursos públicos e privados após as enchentes de setembro do ano passado para evitar ou reduzir o impacto de outras calamidades do mesmo tipo. Para isso ocorrer de maneira efetiva, entram em cena condições econômicas e fatores como estabilidade política, controle de corrupção, qualidade das leis, desigualdade social e capacidade de inovação.

Surpreendentemente, de acordo com o ranking da Universidade de Notre Dame, o Brasil não está entre os países mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas. Nesse quesito, o Brasil está em 58º lugar, quatro posições acima do Japão, por exemplo.

Nossos pontos positivos são a baixa dependência externa por alimentos, energia e recursos de saúde e o abundante acesso à água.

VULNERABILIDADE – Pelo lado negativo, aumentam nossa vulnerabilidade pela alta concentração urbana, com extensa malha de estradas de terra e o risco crescente de inundações e de mudanças nas condições para a produção de grãos, como o arroz.

O que de fato piora muito a adaptação climática brasileira — e aqui não há surpresa alguma — é a baixíssima capacidade de investir rápido e bem em ações contra os efeitos dos desastres naturais.

Pelo indicador de prontidão para adaptação às mudanças no clima, o Brasil está em 125º lugar no ranking, ao lado de países como Somália e Senegal. Isso está relacionado, segundo os critérios do ranking, a um alto índice de desigualdade social, ao baixo grau de inovação, a um ambiente de negócios hostil e à má qualidade da governança pública.

GASTANDO MAL – Não é novidade que, no Brasil, o poder público gasta muito e gasta mal. O Estado é ineficiente em todos os níveis: no governo federal, nos Estados e nos municípios.

Órgãos internacionais como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o Banco Mundial e a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) fizeram estudos sobre a baixa qualidade dos gastos públicos no Brasil.

As estimativas do impacto dessa ineficiência variam entre 3,9% e 7% do PIB nacional. Um dos motivos para a gastança de má qualidade é a falta de critérios técnicos para a alocação de recursos.

ERRO DE DIREÇÃO – Em vez de ir para onde é mais necessário, muitas vezes o dinheiro é direcionado para onde trará mais dividendos políticos, sem falar no que é desviado no caminho.

A crescente influência do Congresso sobre o orçamento da União está agravando esse problema. Estima-se que 30% das verbas para obras e investimentos de sete ministérios do governo Lula estão nas mãos dos parlamentares.

Enquanto houver um arranjo político que favorece o desperdício de dinheiro público e enquanto a governança do Executivo não for aprimorada em todos os níveis da federação, de nada adiantará o Brasil discutir planos nacionais de mitigação e adaptação climática. Haverá um diagnóstico e um pacote de soluções, mas não haverá condições para agir. Estaremos fadados a uma incapacidade estrutural de lidar com as próximas catástrofes naturais.

Estudantes americanos correm risco de repetir Jane Fonda na guerra do Vietnã

A foto de Jane Fonda que causou polêmica

Na guerra, Jane Fonda na bateria antiaérea norte-vietnamita

Demétrio Magnoli
O Globo

A foto, de autoria anônima, correu mundo em julho de 1972. Jane Fonda, sentada numa bateria antiaérea norte-vietnamita, tornou-se “Hanói Jane”. Mais tarde, a protagonista de “Barbarella” (1968) pediria desculpas pela imagem “que me machucará até eu morrer”. Na Rússia de Putin, empregar a palavra “guerra” para fazer referência à invasão imperial da Ucrânia pode dar cadeia. Nas democracias, não é proibido criticar o próprio governo, e até a própria nação, mesmo fazendo propaganda de um inimigo.

A história da foto começou no início de 1968 com a Ofensiva do Tet, no Vietnã, que galvanizou o movimento antiguerra nos Estados Unidos, seguida pelo assassinato de Martin Luther King, em abril, fonte direta da rebelião negra no Harlem e indireta da ocupação estudantil do Hamilton Hall, na Universidade Columbia.

MORRE BOB KENNEDY – Foi durante o ápice da agitação universitária, mas sem conexão com ela, que o palestino Sirhan Sirhan assassinou Robert F. Kennedy, estreitando a disputa pela indicação democrata ao vice Hubert Humphrey e ao candidato antiguerra Eugene McCarthy.

Na volta seguinte do parafuso, os líderes da organização Estudantes por uma Sociedade Democrática (SDS) aliaram-se ao movimento Black Power, imaginaram que a guerra de libertação vietnamita e a luta antirracista nos Estados Unidos eram lados de uma única moeda e trocaram a ideia de “resistência” pela de “revolução”.

A Convenção Democrata em Chicago, em agosto, realizou-se sob o ruído de uma batalha campal de dias entre manifestantes e policiais. O SDS uniu forças com o Youth International Party (YIP), que incutiu a política na contracultura dos hippies. Abbie Hoffman, líder do YIP, ameaçou contaminar com LSD as águas da cidade e enviar as hippies mais gatas para dentro da Convenção, a fim de seduzir os delegados.

NIXON SE ELEGE – O prefeito acreditou no deboche e reagiu intensificando a repressão. No fim, McCarthy perdeu e, em novembro, exibindo-se como candidato da lei e da ordem, o republicano Richard Nixon bateu Humphrey.

A volta derradeira do parafuso resultou na cisão no SDS, da qual nasceu, em 1969, o Weather Underground, nome derivado de uma célebre canção de Bob Dylan. O grupo almejava derrubar o governo dos Estados Unidos por meio de uma “guerra revolucionária”. Três de seus militantes morreram pela explosão acidental da bomba que fabricavam, em 1970.

Depois, os weathermen praticaram atentados com bombas rudimentares contra o Capitólio (1971) e o Pentágono (1972), sem fazer vítimas.

DEBRAY E GUEVARA – Mark Rudd, líder do grupo, explicou numa entrevista de 2004 seus motores ideológicos: os livros de Régis Debray sobre imperialismo e foco guerrilheiro e a figura de Che Guevara. Ele jamais revisou suas crenças básicas, mas reconheceu o efeito das ações do Weather Underground: “As pessoas abandonaram o movimento antiguerra porque não queriam envolvimento com uma revolução armada”.

Também revelou-se perplexo sobre o desvio de “movimentos de libertação nacional” rumo ao “fascismo clerical”, como classificou as organizações fundamentalistas islâmicas.

As manifestações antiguerra nas universidades americanas de hoje não são simples reedição do movimento deflagrado em 1968. Falta-lhes a contracultura, um Abbie Hoffman, os hippies e uma Barbarella convertida em “Hanói Jane”.

POLÍTICAS IDENTITÁRIAS -O Black Power foi substituído por políticas identitárias oficialistas, articuladas nas reitorias e nos gabinetes parlamentares. Mas a inspiração ideológica é semelhante: a noção de que as democracias ocidentais são muito piores que os movimentos “decoloniais”.

E, como reflexo de um nítido declínio intelectual, os líderes estudantis atuais parecem não se preocupar em estabelecer cooperação tácita com o “fascismo clerical” do Hamas.

Nos Dias de Fúria de outubro de 1968, o lema de um SDS já radicalizado, escrito por John Jacobs, fundador dos weathermen, era “trazer a guerra para casa”. O manifesto deles dizia: “As eleições nada significam — vote onde o poder está — nosso poder está nas ruas”. Nixon, porém, mostrou-lhes “onde o poder está” e prosseguiu a guerra indochinesa até 1973. A história se repete? Donald Trump certamente aposta nisso.

No Dia das Mães,Lula devia ter agradecido ao STF, que tem sido uma mãe para ele

Para os Três Poderes, a Constituição é apenas um detalhe

Dora Kramer
Folha

Quando começou a circular, a ideia de que o Executivo pretendia firmar uma aliança com a instância máxima do Judiciário a fim de criar um atalho de ultrapassagem às dificuldades do Planalto no Legislativo pareceu muito esquisita. Mais que isso. Institucionalmente inexequível, social e politicamente inaceitável. Por uma questão básica: o preceito republicano da harmonia pressupõe a independência entre os Poderes. Cláusula pétrea.

O Supremo Tribunal Federal poderia se manter distante de acertos feitos sob a égide das conveniências políticas sem criar crise alguma e muito menos deixando de se manter fiel à função de guardião da Lei Maior.

VAREJO DA POLÍTICA – Não foi essa, no entanto, a escolha do STF. A maioria preferiu descer ao patamar do varejo da política para dar a mão e ser uma verdadeira mãe na resolução de problemas que o Planalto não conseguiu resolver pela via da negociação parlamentar. Os ministros prestaram-se ao serviço do socorro em várias ocasiões.

As duas mais recentes são particularmente espantosas, para não dizer desonrosas para a credibilidade da corte. A liminar e outros quatro votos a favor da cobrança de tributos das folhas de pagamentos de prefeituras e mais 17 setores privados levaram o Congresso a aceitar um acordo de meio-termo até então rejeitado em votações de clareza inequívoca.

Na ação de constitucionalidade da Lei das Estatais, os juízes abriram uma janela de admissão das indicações dadas por eles mesmo como inconstitucionais em cargos de conselhos e direção nas empresas feitas pelo atual governo, ao arrepio da Constituição.

GAMBIARRAS – Em ambos os casos o STF prestou-se a gambiarras muito semelhantes àquela que preservou os direitos políticos de Dilma Rousseff na decisão do impeachment.

Assim, o toma lá dá cá entre Legislativo e Executivo está incorporado como normal.

Já a entrada do Supremo no jogo em cena aberta sinaliza um novo anormal.

Por que é patológico e até ridículo querer exterminar as fake news?

Charge: Combate às Fake News. - Blog do AFTM

Charge do Cazo (Blog do AFTM)

Mario Sabino
Metrópoles

Ao lado dos interesses político-ideológicos e corporativos em colocar na difusão de fake news a culpa pelos males do país e em transformar o que é opinião contrária em inverdade a ser punida, há uma crescente obsessão psicológica pela criação de uma sociedade limpa de mentiras.

É uma patologia desprovida de qualquer princípio de realidade. O ser humano mente, inventa e aumenta como respira, anda e dorme. A verdade é tão antinatural, que precisamos ser educados para não mentir. Ou, pelo menos, para não mentir tanto.

SEM MORDAÇA – Não estou aqui fazendo apologia da mentirinha ou da mentira cabeluda, daquelas que prejudicam o semelhante. Viu-se muita mentira cabeluda durante a pandemia, mentira que causou mortes, para ficar no exemplo mais extremo.

Estou apenas dizendo que o combate às fake news não pode pretender uma assepsia hospitalar da sociedade — e muito menos usar o conceito para amordaçar adversários. Porque é, antes de mais nada, uma cruzada inútil.

Na política, a mentira integra a job description do profissional da área, seja para golpear oponentes, como para fazer promessas impossíveis. Se todo ser humano mente, no político a mentira é atributo essencial. Inclusive, ou principalmente, porque ele tem de vender a ilusão de que tem solução para tudo — ilusão que alcança o seu ápice nas campanhas eleitorais. Como exigir, então, que torcidas políticas não lancem mão de fake news?

MENTIRA NO MARKETING – Outro campo onde impera a mentira: no da publicidade de produtos. Ou você acredita mesmo que tudo o que nos é vendido tem as qualidades anunciadas nos comerciais?

A história é o império das versões dos vencedores — e, com o politicamente correto, está passando a ser o reino das versões dos perdedores. Existe uma discussão antiga sobre se o grego Heródoto é o pai da história ou o pai da mentira, por exemplo.

Há muita lorota no seu clássico, como o de que havia na Índia formigas maiores do que raposas, mas menores do que cachorros, que devoravam seres humanos. Ele ouvia historietas que lhe pareciam interessantes, passava adiante e não lhe ocorria verificar a sua veracidade. Se houvesse STF em Atenas, Heródoto estaria perdido. O dado curioso é que alguns episódios contados por ele que eram considerados mentiras revelaram-se verdades graças a descobertas arqueológicas.

HERÓDOTO E TUCIDIDES – Certo nível de verificação só começou uma geração depois, com Tucidídes, que descreveu meticulosamente a Guerra do Peloponeso, entre Atenas e Esparta. Mas, como disse o inglês Tom Griffith, especialista em ambos, você pode se imaginar amigo de Heródoto, um sujeito fantasioso e divertido, mas não amigo de Tucídides, analítico e frio.

As pessoas têm mais atração pela mentira, inofensiva ou não, do que pela verdade, e é por isso que as fake news se espalham com rapidez. Isso é desde sempre, as redes sociais só aumentaram exponencialmente a velocidade de divulgação. Não é que elas sejam intrinsecamente mentirosas. Nós é que somos.

Na filosofia, o arauto da verdade absoluta foi o alemão Immanuel Kant. Para ele, não bastava dizer a verdade e ser honesto. A verdade e a honestidade tinham de ser desprovidas de qualquer interesse para serem absolutamente morais. Kant chegou ao ponto de afirmar que mentir para salvar um amigo de ser assassinado era crime.

CONSTANT REAGIU – O francês Benjamin Constant se insurgiu contra essa concepção dogmática e entrou em polêmica com Immanuel Kant. Defendeu o direito de mentir para fazer o bem, dizendo que os princípios absolutos tinham de ser moldados pelas circunstâncias. Estou lendo o bate-boca entre os dois.

Fim da digressão. Fiquemos assim – nas expedições punitivas às fake news, não nos deixemos levar pela obsessão patológica.

É inútil buscar a assepsia total, e quem é obcecado com o extermínio das fake news acaba se achando dono de todas a verdades — o que é uma grande lorota.

Com Magda Chambriard na Petrobras, prevê-se uma gestão mais nacionalista

Magda Chambriard

Magda Chambriard é funcionária de carreira da empresa

Deu na Folha

A saída de Jean Paul Prates do comando da Petrobras nesta terça-feira (14) fará com que a estatal tenha seu sexto presidente em pouco mais de três anos. Desde abril de 2021, a petroleira foi presidida por Roberto Castello Branco, Joaquim Silva e Luna, José Mauro Coelho, Caio Paes de Andrade e Jean Paul Prates.

A substituta de Prates, Magda Chambriard, é engenheira e ex-funcionária da estatal. Comandou a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) durante o governo Dilma Rousseff. É vista pelo mercado como um quadro de perfil mais nacionalista do que Prates, que tentou equilibrar sua gestão atendendo a promessas de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas sem assustar investidores privados.

JEAN PAUL PRATES (JAN.23 A MAI.24)

Demitido nesta terça-feira (14), Prates sofreu forte processo de fritura nos últimos meses, após críticas de Silveira à sua abstenção em votação de proposta do governo para reter dividendos extraordinários referentes ao resultado de 2024, medida que havia sido negociada com Lula.

Defendida por Silveira e Costa, a retenção foi aprovada no início de março e derrubou o valor de mercado da estatal. O governo acabou recuando semanas depois e aprovou a distribuição de 50% dos dividendos extraordinários em assembleia no fim de abril.

Embora tenha conseguido “abrasileirar” o preço dos combustíveis, como prometeu Lula, o executivo vinha sendo questionado também pela demora em anunciar investimentos prometidos pelo presidente em expansão da capacidade de refino e estaleiros, por exemplo.

CAIO PAES DE ANDRADE (JUN.22 A JAN.23)

Nome que enfrentou maior resistência interna na estatal, Caio Paes de Andrade ocupava uma secretaria no Ministério da Economia quando foi indicado por Bolsonaro para “dar nova dinâmica” aos preços dos combustíveis no país.

Sua nomeação foi questionada pelos órgãos internos de controle, diante da falta de experiência no setor de petróleo ou em empresas do mesmo porte, requisitos exigidos pela Lei das Estatais, mas Bolsonaro também elegeu um conselho de administração mais alinhado, que aprovou seu nome.

Sua gestão foi a que mais atuou em favor do governo. Ajudada pela queda nas cotações internacionais do petróleo, a Petrobras passou a anunciar uma série de reduções nos preços dos combustíveis em meio ao processo eleitoral.

JOSÉ MAURO COELHO (ABR.22 A JUN.22)

Ex-secretário do MME (Ministério de Minas e Energia) sob Bolsonaro, José Mauro Coelho não foi a primeira aposta para substituir Silva e Luna, mas acabou ficando com o cargo após a desistência do consultor Adriano Pires, questionado por prestar serviços a clientes e concorrentes da estatal.

Mais uma vez, um presidente indicado por Bolsonaro assumiu o posto defendendo a política de paridade dos preços dos combustíveis em relação às cotações internacionais, embora o presidente da República tenha passado boa parte de seu mandato criticando a alta de preços.

“Temos que ter os preços no mercado doméstico relacionados aos preços de paridade de importação. Se assim não fosse, não teríamos nenhum agente econômico com aptidão, ou com vontade de trazer derivados para o país. E teríamos risco de desabastecimento”, afirmou, ainda em 2021.

JOAQUIM SILVA E LUNA (ABR.21 A ABR.22)

O segundo presidente da Petrobras sob Bolsonaro foi também o segundo mais longevo. O general Joaquim Silva e Luna presidia Itaipu Binacional quando foi convidado para substituir Castello Branco, em um momento de ampliação da presença militar no setor de energia.

Sua indicação animou apoiadores do presidente, que esperavam uma guinada na gestão da empresa. Logo em sua posse, porém, Silva e Luna afagou um mercado financeiro que temia mudanças na estratégia de preços dos combustíveis, ao dizer conciliar interesses de consumidores e acionistas.

Silva e Luna manteve o ritmo do programa de venda de ativos e, embora tenha reduzido a frequência de reajustes de preços dos combustíveis, foi responsável pelos mega-aumentos de março de 2021, em resposta à disparada das cotações internacionais após o início da Guerra na Ucrânia.

ROBERTO CASTELLO BRANCO (JAN.19 A ABR.21)

Mais longevo presidente da Petrobras sob Bolsonaro, Castello Branco foi indicado ainda no período de transição pelo então futuro ministro da Economia Paulo Guedes, com quem compunha um grupo batizado ironicamente de “Chicago Oldies”, por terem estudado na Universidade de Chicago.

Defensor da privatização da estatal, Castello Branco aprofundou estratégia iniciada no governo Michel Temer, que previa foco no pré-sal, venda de ativos em áreas consideradas não estratégicas e melhor remuneração ao acionista.

Alterou sua política de dividendos, permitindo o pagamento mesmo em caso de prejuízo, em processo que justificou os reajustes recordes pagos em 2022. Ele entrou na mira do ex-chefe na saída do período mais turbulento da pandemia, no fim de 2020, quando a recuperação das cotações fez os preços dos combustíveis dispararem no país.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Se é mais nacionalista do que Jean Paul Prates, a engenheira Magda Chambriard deve ser saudada com efusão. Chega de entreguistas na mais estratégica empresa nacional. Vamos trabalhar pelo Brasil, só para variar um pouco, inclusive extraindo petróleo da margem equatorial da Amazônia, possibilidade que provoca chiliques e faniquitos no Ibama. (C.N.)

Pesquisa é ruim para Lula e péssima para Bolsonaro. E o centro, já morreu?

Charge do Babu (A Estância do Guarujá)

Eliane Cantanhêde
Estadão

Pesquisas de opinião são retratos do momento e cada um olha como bem entende, mas a última rodada da Genial/Quaest é clara: não chega a ser péssima, mas boa também não é para o presidente Lula. O copo está meio cheio e meio vazio, mas parece mais vazio do que cheio para Lula, inclusive porque ele tem o governo, a caneta, os recursos e a visibilidade inerentes ao cargo.

São trunfos poderosos, mas também faca de dois gumes, depende de como a população vê o governo, de como o presidente e seus ministros usam a caneta e os recursos e se a visibilidade reverte a favor ou contra. Não adianta só aparecer, é preciso aparecer bem. Aliás, como Lula agora, mas não sempre.

MOSTRANDO SERVIÇO – A reação do governo tem sido rápida e efetiva diante da tragédia do Rio Grande do Sul, que atrai as atenções e a solidariedade do Brasil inteiro e até do exterior. São viagens, reuniões, seguidos anúncios para a população, as empresas, os produtores rurais e o Estado, com liberação de verbas vultosas e suspensão das dívidas estaduais com a União e dos juros do estoque dessa dívida.

A pior notícia para Lula na Quaest — que entrou em campo em 2 de maio, segundo dia das enchentes gaúchas, quando Lula já tinha ido Estado — é que 55% dos ouvidos são contra a chance de um quarto mandato para ele em 2026 e só 42%, a favor.

Esses 55% vão além do núcleo duro da oposição, que não vota em Lula de jeito nenhum. Logo, aponta um certo cansaço com ele, ou com “os mesmos de sempre”, em grupos de indecisos.

AINDA LÍDER – A boa notícia para Lula é que 47% votariam nele na reeleição em 2026, num percentual melhor do que o de todos os nomes incluídos na pesquisa. Mas, se 47% votariam, 49%, não. Será tão boa assim?

É como um hipotético embate entre Lula e o governador Tarcísio Gomes de Freitas (SP), um dos candidatos a candidato de Jair Bolsonaro. Parece boa notícia para Lula, mas será?

Se a eleição fosse hoje, Lula teria 46% contra 40%, com duas desvantagens: Tarcísio tem 30% de rejeição, razoavelmente baixa, e 39% de desconhecimento, bastante alto. Logo, ele tem muito horizonte, muito a crescer, desde que use o tempo a favor da sua aprovação, driblando um risco muito comum para os políticos, especialmente os que ocupam cargo executivo: quanto mais conhecido, mais rejeitado.

OUTROS DADOS – Se Lula está longe de soltar fogos com a pesquisa, o outro lado menos ainda: se 39% votariam em Bolsonaro (declarado inelegível pelo TSE), sua rejeição vai a 54%, assim como a de Michele Bolsonaro é de 50%, igual à de Fernando Haddad, ex-candidato em 2018 e uma das cartas na manga para o caso de Lula não disputar o quarto mandato.

Moral da história: a dois anos e meio da eleição, uma eternidade na política, a polarização está cristalizada, os nomes são óbvios, estão embolados e não há alternativas.

O Brasil sempre foi um país do centro, mas cadê o centro? Morreu sem choro nem vela?

Ao invés de “culpar” fake news, é melhor debater projetos já existentes em Porto Alegre

Afinal, onde fica a Lagoa dos Patos e por que tem esse nome? - NSC Total

Já existem estudos para construir três canais de escoamento

Luís Ernesto Lacombe
Gazeta do Povo

Não, não estamos num concurso para saber quem ajuda mais e quem atrapalha mais no socorro ao Rio Grande do Sul. Que bom que a verdadeira sociedade civil está empenhada, entregando-se à solidariedade. Se há dificuldades impostas pela tragédia em si, parece claro que há também obstáculos que poderiam ser evitados.

É um absurdo que tentem impedir que haja relatos contra a burocracia estatal, que haja denúncias de uso político da tragédia, críticas ao trabalho de resgate, acolhimento e proteção dos atingidos. É preciso que entendam que o povo gaúcho tem pressa, que a resposta de todos, de todos, tem de ser rápida.

COBRAR SOLUÇÕES -Apontar possíveis erros, falhas, equívocos, omissões, falta de comprometimento, de organização e planejamento, de qualquer um, em qualquer situação, é uma forma de conduzir a soluções.

Esse movimento é essencial para que o sofrimento dos atingidos pelas enchentes seja reduzido, nesse cenário terrível de calamidade completa.

O que se deve fazer, portanto, é não considerar que as críticas são levianas e têm como objetivo atacar um grupo político, atacar o Estado. Toda denúncia deveria ser investigada, e não descartada como fake news ou, pior, criminalizada. Se a acusação não procede, que se prove o contrário, com informações claras, fundamentadas.

NOTÍCIAS REAIS – Não era mentira que caminhões com mantimentos para o Rio Grande do Sul estavam sendo multados pela Agência Nacional de Transportes Terrestres. Foi a partir da reportagem do SBT que a ANTT baixou portaria para acabar com esse absurdo.

Não é mentira que a ministra do Planejamento disse que “o dinheiro vai chegar no tempo certo, que não é agora”. Não é mentira que Simone Tebet afirmou que “os prefeitos não sabem o que pedir porque a água não baixou”.

Também não é mentira que a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, queria priorizar o socorro a ciganos e quilombolas. Está no artigo 5.º da Constituição, que já tinha sido rasgada e agora deve estar debaixo d’água: “Todos são iguais perante a lei”.

PRECISAM DE AJUDA – A turma que veste colete, mesmo que num gabinete refrigerado, que faz pose para fotos, que grava vídeos dispensáveis, que troca a imagem de perfil nas redes sociais precisa abandonar a autopromoção, seus interesses políticos, e entender que todos os atingidos precisam de ajuda. E, sem a liberação rápida de verbas, tudo se torna muito difícil.

Os pagadores de impostos, certamente, não querem bancar o Congresso mais caro do mundo, o segundo Judiciário mais caro do mundo…

Só o TSE consome quase R$ 12 bilhões por ano, mesmo quando não há eleições… O fundo eleitoral carrega quase R$ 5 bilhões. O Fundo Partidário arrasta R$ 1,2 bilhão. O Estado gasta muito, e gasta mal.

EXISTEM SOLUÇÕES – E os “ambientalistas” que anunciam o fim do mundo para daqui a dez anos, renováveis por mais dez indefinidamente, não deveriam se opor aos estudos que apontam soluções para as enchentes na região de Porto Alegre.

Hoje, a única ligação da Lagoa dos Patos com o oceano é um estreito canal na sua extremidade sul. Há um projeto para a construção de três canais em outros pontos da lagoa, com comportas que seriam abertas quando houvesse temporais e a água subisse rapidamente.

É preciso que haja prevenção, é preciso que se fale sobre isso. Certamente, a interdição do debate, seja qual for o tema, vai sempre nos condenar, sem distinção, ao flagelo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Importante o artigo enviado por Mário Assis Causanilhas. Mostra que já existem estudos para escoadouros. Além disso, é preciso haver desassoreamento permanente do complexo hídrico, uma medida barata e eficaz. (C.N.)

Filme sobre Paulo Guedes é exibido em Nova York em sessão só para brasileiros…

ESTREIA HOJE EM NOVA IORQUE FILME SOBRE AS REFORMAS DE PAULO GUEDES - YouTubePaulo Silva Pinto
Poder360

O filme “The path do prosperity: the great legacy of Paulo Guedes” (“O caminho da prosperidade: o grande legado de Paulo Guedes”) foi lançado nesta terça-feira (dia 14), às 19 horas, em uma sessão para convidados num teatro de Nova York.

Na segunda-feira ( dia 13), às 18 horas, já tinha sido apresentado um trailer de 9 segundos do filme, em um telão na Times Square, praça na região central de Nova York.

Há vários eventos promovidos por empresas brasileiras na cidade até quarta-feira (dia 15). Guedes foi ministro da Economia no governo de Jair Bolsonaro (PL) de 2019 a 2022. O filme de 1h17min foi dirigido por Paulo Moura e produzido pela Ema Conteúdo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É claro que não se trata de mera coincidência. A Ema Conteúdo aproveitou a excursão de vira-latas brasileiros para lançar o filme, que não tem finalidade de ganhar dinheiro, mas apenas de divulgar o economista Paulo Guedes, aquele que enriqueceu ilicitamente e foi intensamente procurado pela Polícia Federal para explicar suas aplicações financeiras, mas nunca foi encontrado para receber a intimação, virou ministro da Economia e deixou de ser incomodado pelos oficiais de justiça, porque no Brasil o título de ministro é tremendo salvo-conduto para a impunidade. É o primeiro filme da Ema, e poderá ser assistido gratuitamente pelo Youtube. Se você não tem mais o que fazer e quer dormir sem tomar sonífero, eis uma oportunidade de ouro. Compre pipocas e não perca o “Caminho da Prosperidade”, título do filme em português, que deverá concorrer ao Oscar de Efeitos Especiais. (C.N.)   

Por que Bolsonaro não se anima com as pesquisas de Michelle bem colocada?

Michelle Bolsonaro critica juíza que associou uso da bandeira do Brasil a  propaganda eleitoral: 'Ativismo político ou insanidade mental?'

Michelle pegou gosto pela política e está se saindo bem

Malu Gaspar
O Globo

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, está rindo à toa com as pesquisas eleitorais que mostram Michelle Bolsonaro muito bem colocada nas intenções de voto contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma hipotética disputa em 2026.

No levantamento da Genial/Quaest divulgada nesta segunda-feira, por exemplo, mostra que Michelle teria 33% dos votos e iria para um segundo turno com Lula, que teria 47%. É mais até do que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que aparece com 28% da preferência.

OUTRAS PESQUISAS – O dado é tão promissor quanto o das pesquisas internas do PL, em que Michelle aparece até empatada com o presidente da República, conforme informou a colunista Bela Megale.

A ex-primeira-dama também sai na frente quando a Quaest pergunta quem seria melhor para enfrentar Lula em 2026, caso Bolsonaro não possa concorrer. Para 28% dos entrevistados, ela é a melhor opção, contra os 24% conseguidos pelo governador de São Paulo. Considerando apenas os eleitores de Bolsonaro, a performance de Michelle é ainda melhor – 41% contra 33% de Tarcísio.

Ainda assim, nem Valdemar nem Bolsonaro querem saber de discutir uma candidatura presidencial de Michelle neste momento. O motivo: ambos ainda alimentam a esperança de que Bolsonaro, inelegível até 2030, recupere seus direitos políticos até lá. Nesse caso, obviamente, seria ele mesmo o candidato do PL e da direita contra Lula.

DIZ UM ALIADO – “As chances de ele conseguir são mínimas e quase ninguém no partido acredita que seja possível, mas Valdemar e Bolsonaro acreditam, então por ora não se fala em candidatura de Michelle ou de Tarcísio para valer”, diz um interlocutor muito próximo do ex-presidente da República.

Como o Globo noticiou, Valdemar tem procurado os candidatos a presidência da Câmara e do Senado para condicionar o apoio do PL à disposição de encampar um projeto de lei que dê anistia a Bolsonaro e permita que ele se candidate em 2026.

As conversas ainda estão em um estágio inicial, mas o presidente do PL tem se demonstrado empolgado nos bastidores. Outra esperança que Valdemar e Bolsonaro também alimentam é a de conseguir tirar os processos contra o ex-presidente da jurisdição do Supremo Tribunal Federal (STF) e portanto das mãos de Alexandre de Moraes.

PEDIDOS PARADOS – No momento há dois pedidos parados no gabinete do presidente do STF, Luís Roberto Barroso. No entorno de Bolsonaro, essa é considerada uma possibilidade ainda mais remota do que a anistia. Mesmo assim, a esta altura, ninguém descarta nenhuma hipótese.

“A gente também já acreditou que Lula nunca mais voltaria a se candidatar e ele conseguiu, então ninguém no PL vai dizer a Bolsonaro para não continuar tentando”, diz um aliado de primeira hora do ex-presidente.

Enquanto houver alguma chance de Bolsonaro recuperar os direitos políticos, o PL vai continuar patrocinando suas andanças pelo Brasil e estimulando os seguidores do ex-presidente a acreditar que ele ainda pode voltar em 2026. Até quando essa estratégia continua, só o próprio Bolsonaro sabe.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Uma Isabelita Perón no Brasil? Era só o que faltava. Como dizem Chico Buarque e Milton Nascimento, afasta de mim esse cálice! Foi Isabelita que iniciou a decadência da Argentina, lembrem-se disso. (C.N.)

Por trás da guerra na Ucrânia, a disputa pelo mais rico agronegócio da Europa

Invasão russa já causou R$ 22 bilhões em danos agrícolas à Ucrânia - Forbes

Guerra já destruiu um quarto das terras agricultáveis

Frédéric Mousseau e Eve Devillers
Site Resistir

Desde a invasão russa em fevereiro de 2022, a guerra na Ucrânia tem estado no centro das atenções da política externa e da mídia. No entanto, pouca atenção tem sido dada a uma grande questão que está no centro do conflito:   quem controla as terras agrícolas no país conhecido como “o celeiro da Europa”?

Preenche-se esta lacuna identificando os interesses que controlam as terras agrícolas ucranianas e apresentando uma análise das dinâmicas que atuam em torno do regime fundiário no país. Isto inclui a reforma agrária altamente controversa que teve lugar em 2021 como parte do programa de ajustamento estrutural lançado sob os auspícios das instituições financeiras ocidentais, após a instalação de um governo pró-União Europeia (UE) na sequência da revolução Maidan em 2014.

NOVOS OLIGARCAS – Com 33 milhões de hectares aráveis, a Ucrânia possui algumas das terras agrícolas mais férteis do mundo. Desde o início da década de 1990, privatizações mal orientadas e uma governação corrupta concentraram as terras nas mãos de uma nova classe oligárquica.

Cerca de 4,3 milhões de hectares estão afetados à agricultura industrial, a maior parte dos quais, ou seja, três milhões de hectares, nas mãos de uma dúzia de grandes empresas agroalimentares. Além disso, segundo o governo, cerca de cinco milhões de hectares – o tamanho de duas Crimeias – foram “roubados” ao Estado ucraniano por interesses privados.

A área total de terras controladas por oligarcas, indivíduos corruptos e grandes empresas agroindustriais eleva-se, em consequência, a mais de nove milhões de hectares, ou seja, mais de 28% das terras aráveis do país. O resto é utilizado por mais de oito milhões de agricultores ucranianos.

EMPRESAS ABUTRES – Aqueles que hoje controlam as terras ucranianas são uma mistura de oligarcas e interesses estrangeiros diversos – principalmente europeus e norte-americanos, inclusive um fundo de investimento privado com sede nos EUA e o fundo soberano da Arábia Saudita.

Com exceção de uma, as dez empresas que controlam a maior parte das terras estão registadas no estrangeiro, sobretudo em paraísos fiscais como Chipre ou Luxemburgo. Mesmo quando são geridas e ainda largamente controladas por um oligarca fundador, algumas destas empresas entraram em bolsa, com bancos e fundos de investimento ocidentais a controlarem desde então uma proporção significativa das suas ações.

Existem numerosos investidores importantes, nomeadamente o Grupo Vanguard, Kopernic Global Investors, BNP Asset Management Holding, NN Investment Partners Holdings (uma filial da Goldman Sachs) e Norges Bank Investment Management, que gere o fundo soberano da Noruega.

OUTROS DONOS – Vários grandes fundos de pensões, fundações e fundos de dotações universitárias dos EUA também investiram em terras ucranianas por intermédio da NCH Capital, um fundo privado com sede nos EUA que é o quinto detentor fundiário da Ucrânia.

A maior parte destas empresas estão endividadas junto a instituições financeiras ocidentais, em especial o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BERD), o Banco Europeu de Investimento (BEI) e a Sociedade Financeira Internacional (SFI) – o ramo do Banco Mundial dedicado ao sector privado.

Em conjunto, estas instituições têm sido financiadores importantes do setor agroindustrial na Ucrânia, com quase 1,7 mil milhões de dólares emprestados a apenas seis das maiores empresas agro-industriais nos últimos anos.

DÍVIDA AMEAÇADORA – Outros grandes credores são uma mistura de instituições financeiras, sobretudo europeias e norte-americanas, tanto públicas como privadas. Esta dívida não só dá aos credores uma participação financeira nos resultados das empresas agro-alimentares, como também lhes confere um efeito de alavancagem significativo.

A reestruturação da dívida da UkrLandFarming, uma das sociedades que detém mais terras na Ucrânia, é prova disso. Envolveu credores como as agências públicas de importação e exportação dos Estados Unidos, Canadá e Dinamarca, entre outros, e levou a grandes mudanças organizacionais, incluindo  demissão de milhares de trabalhadores.

FAVORECIMENTOS – Este financiamento internacional beneficia diretamente os oligarcas, vários dos quais foram acusados de fraude e corrupção, bem como fundos estrangeiros e empresas associadas como acionistas ou credores.

Durante este tempo, os agricultores ucranianos têm de trabalhar com terras e financiamentos limitados, muitos dos quais se encontram atualmente no limiar da pobreza. Os dados mostram que estes agricultores não recebem praticamente qualquer apoio do agronegócio e dos oligarcas.

O Fundo de Garantia Parcial de Crédito criado pelo Banco Mundial para apoiar os pequenos agricultores ascende a apenas 5,4 milhões de dólares, um montante insignificante em comparação com os milhares de milhões atribuídos às grandes corporações do agronegócio.

AJUDA EXTERNA – Nos últimos anos, os países ocidentais e as suas instituições têm prestado uma assistência militar e económica maciça à Ucrânia, que se tornou o maior beneficiário da ajuda externa dos EUA – é a primeira vez desde o Plano Marshall que um país europeu ocupa esta posição de topo.

Em dezembro de 2022, menos de um ano após o início da guerra, os EUA concederam mais de 113 mil milhões de dólares à Ucrânia, incluindo 65 mil milhões de dólares em ajuda militar, ou seja, mais do que o orçamento total do Departamento de Estado e da USAID (58 mil milhões de dólares).

A ajuda ocidental está condicionada a um drástico programa de ajustamento estrutural, que inclui medidas de austeridade, cortes nas redes de segurança social e a privatização de sectores-chave da economia. Uma das condições essenciais foi a criação de um mercado fundiário, introduzido em 2020 pelo Presidente Zelenskyy, apesar da oposição da maioria dos ucranianos temerosos de que isto exacerbasse a corrupção no sector agrícola e reforçasse o seu controlo por interesses poderosos.

DÍVIDA SEM CONTROLE – Estas inquietações são exacerbadas pela dívida externa vertiginosa e crescente da Ucrânia, contraída em prejuízo das condições de vida da população devido às medidas impostas pelo programa de ajustamento estrutural.

O fim da guerra deveria ser o momento e a oportunidade para fazer exatamente o contrário, ou seja, redefinir um modelo económico que não fosse mais dominado pela oligarquia e pela corrupção, mas em que a terra e os recursos fossem controlados por e para os ucranianos. Isto poderia constituir a base para transformar o setor agrícola, tornando-o mais democrático e sustentável económica e socialmente.

A política internacional e o apoio financeiro devem ser orientados para esta transformação, a fim de beneficiar as pessoas e os agricultores ao invés dos oligarcas e dos interesses financeiros estrangeiros.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente artigo, enviado por José Guilherme Schossland. Mostra que por trás de toda guerra sempre existem poderosos interesses econômicos. E as minas e bombas estão destruindo o celeiro da Europa. A quem interessa isso? Certamente, interessa ao maior exportador agrícola de mundo, a matriz USA, e à sua filial Brazil… (C.N.)

A verdade pura e simples é que ter filhos atrapalha muito a carreira das mulheres

Ilustração de Ricardo Cammarota (Folha)

Luiz Felipe Pondé
Folha

E os inteligentinhos descobriram a queda da natalidade. E, como sempre, justificam o fenômeno sabido há anos, com suas obsessões ideológicas: desigualdade social, aquecimento global, preconceitos estruturais e outros quebrantos.

O problema com os inteligentinhos não é só de repertório, é cognitivo. Assim como o politicamente correto e os “wokes”, a condição inteligentinha danifica a capacidade semântica e lógica do entendimento.

OPÇÃO SEM FILHOS – Mas, para além dessas taras, o fato é que só quem tem filho hoje largamente são mulheres de adesão religiosa estrita ou pobres —logo, a desigualdade social funciona a favor da natalidade e não contra, mas vá explicar isso para quem pensa a partir de ideologias. Quem tem opção, não tem filhos.

Mas, como nossa sensibilidade hoje é moldada pela intencionalidade do marketing, mente-se para negar que no fundo dessa caixa de pandora encontramos a principal causa para não se ter filhos ou tê-los em “unidades isoladas”: o velho pecado da preguiça.

“Crianças são um saco”, confessam as mulheres mais honestas nesse assunto. “Ter filho com uma mulher é sinistro na certa”, confessam os homens mais honestos nesse assunto.

MAIS LIBERDADE – A “culpa” da baixa natalidade são os “avanços modernos” no comportamento causado pela liberdade de escolha. Quanto mais educação, mais sucesso profissional, mais opção a mulher tem, menos filho. E aí vem a mãe de sucesso na carreira postando o suposto amor dela pela sua única criança como contra argumento ao fato demográfico inquestionável e suas causas objetivas. Ou pior: acusa a demografia de ser misógina.

A liberdade de escolha, valor liberal por excelência, é sustentada pelo enriquecimento da sociedade capitalista e industrial. A acessibilidade a educação formal, ao voto, enfim, a acessibilidade as ferramentas sociais, políticas e científicas dão as mulheres e aos homens a possibilidade de dizer “não”. E os argumentos do marketing de comportamento progressista empacotam a negativa para presente e para ninguém se sentir egoísta ou narcisista.

A verdade pura e simples é que ter filhos atrapalha a carreira das mulheres, mesmo que reportagens para mulheres mostrem uma bem sucedida CEO, mãe de três filhos, ainda linda aos 55 anos de idade, sorrindo e mandando em homens. O jornalismo, passo a passo, se transforma numa profissão entre o marketing ideológico deslavado e a pura e simples moda de comportamento que agrade os seguidores da marca.

CUSTAM CARO – Filhos dificultam se livrar de ex-parceiros, aumentam custos de contenciosos jurídicos, complicam a vida afetiva posterior, mesmo que gente do mercado da saúde mental escreva sobre novas formas de afetividade, família e parentalidade. Normalmente, quando se inventa um nome com ares científicos para condições humanas atávicas, estamos diante do mercado das quinquilharias que tudo curam.

E aí, a gritaria: a sociedade será de velhos —Vusando-se nomes politicamente corretos. Elogia-se pessoas de 60 que parecem ter 40 como “combate ao etarismo”, mas o fato é que vem como pesadelo a ideia de que não existirão jovens para pagar a previdência, nem sustentar o Brasil em algumas décadas.

Gente aparece culpando o patriarcalismo, como sempre, o neoliberalismo, o cristianismo, o sexismo, enfim, os suspeitos de sempre. Ou: não tenho filhos porque já tem demais no mundo.

NOS MAIS RICOS – O duro mesmo é perceber que a liberdade de escolha e a busca da felicidade no mundo contemporâneo estão pondo a pique a sustentação demográfica da espécie nos seus setores “mais ricos”.

Interessante ver como a racionalidade moderna não consegue lidar com as contradições engendradas pela aplicação em larga escala dessa mesma racionalidade em nível institucional. Fica correndo atrás do próprio rabo tentando achar uma saída que reforce o mito do progresso moderno em si.

O fato é que quase ninguém se suporta mais e que crianças não desmancham no ar ao sabor das modas de comportamento. Gritam, custam caro, crescem e dão trabalho. Quem quer isso? Para gente como eu, que considera o Sapiens intrinsecamente psicótico, fica fácil entender o suicídio esclarecido da espécie.

Moraes põe um freio na ofensiva contra bolsonarismo e reduz tom em decisões

Escritório de família de Moraes atua em ações no Supremo - 10/02/2017 - Poder - Folha de S.Paulo

Moares sepultou o Xandão e agora surgiu o Xandinho…

José Marques
Folha

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes pôs um freio nos últimos meses na rigidez de decisões que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados. O movimento, segundo pessoas com interlocução com o Supremo, reduz o risco de ampliação dos atritos da corte com o Congresso e também dos ataques de apoiadores de Bolsonaro contra o Judiciário.

Diminui também a possibilidade de que a opinião pública passe a enxergar o ex-presidente como vítima de perseguição pelo STF.

AMACIAMENTO – A adoção de maior cautela sobre esses casos partiu não apenas do próprio Moraes, mas também de outras autoridades com atuação em tribunais superiores que são próximas ao magistrado, como o ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Floriano de Azevedo Marques e o procurador-geral da República, Paulo Gonet.

No ano passado, senadores chegaram a aprovar uma PEC (proposta de emenda à Constituição) que limita as decisões individuais de ministros do STF, em reação a pautas votadas pela corte.

Além disso, desde seu período à frente do Executivo, Bolsonaro se apresenta como alguém que é perseguido pelos integrantes do Supremo.

SEM PASSAPORTE – Em fevereiro deste ano, Bolsonaro teve o passaporte apreendido pela Polícia Federal por ordem de Moraes na operação Tempus Veritatis, que mirou o ex-presidente, ex-assessores e aliados, incluindo militares de alta patente.

Depois dessa operação, etapa da investigação sobre a tentativa de um golpe de Estado após a derrota de Bolsonaro para Lula (PT) em 2022, não houve medidas mais drásticas contra o ex-presidente.

O episódio que levantou a possibilidade de que Moraes determinasse a prisão de Bolsonaro foi a revelação em 25 de março, pelo jornal The New York Times, de que o ex-presidente passou dois dias na embaixada da Hungria logo após a apreensão do passaporte. Na ocasião, deputados de oposição chegaram a acionar o Supremo e a PGR com pedidos de prisão preventiva (sem tempo determinado).

PEDIU EXPLICAÇÃO – Já Moraes foi rápido em abrir um procedimento no STF e pedir que o ex-presidente explicasse por que se hospedou na embaixada. Não houve, porém, consequências mais drásticas contra ele. No dia 9 de abril, Gonet se manifestou contra a imposição de medidas mais duras a Bolsonaro pelo episódio.

Ao Supremo o PGR disse que a estadia não infringe as medidas que ele já cumpre e que a suposta tentativa de busca de refúgio esbarraria “na evidente falta de pressupostos do instituto de asilo diplomático dadas as características do evento”.

Moraes decidiu sobre o caso apenas no dia 24 de abril, quase um mês depois da reportagem do jornal americano. Ele argumentou que não ficou comprovada a intenção de evasão do país por Bolsonaro.

SOLTURAS – No início de maio, Moraes soltou o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que estava preso desde 22 de março, um dia após a revista Veja revelar áudios em que ele atacava o ministro e colocava em xeque a lisura do seu acordo de colaboração premiada e a investigação da Polícia Federal.

Além de soltar Cid, o ministro também manteve integralmente o acordo de colaboração do tenente-coronel. Segundo ele, “foram reafirmadas a regularidade, legalidade, adequação dos benefícios pactuados e dos resultados da colaboração à exigência legal e a voluntariedade da manifestação de vontade”.

Moraes aceitou pedido da defesa do militar após a PF analisar material apreendido durante a prisão e ouvir o próprio Cid. A Procuradoria-Geral da República foi favorável à soltura e à manutenção do acordo.

OUTROS CASOS – No TSE, tribunal presidido por Moraes, bolsonaristas também tiveram uma situação, por ora, favorável, com a suspensão do julgamento sobre o senador Jorge Seif (PL-SC), que corria o risco de perder o mandato.

Na sessão do TSE no último dia 30, o relator do caso, Floriano de Azevedo Marques, pediu a produção de mais provas no processo e suspendeu o julgamento.

A maioria do tribunal concordou com o relator. Só o ministro Raul Araújo, que é visto como mais simpático aos bolsonaristas, divergiu. Araújo afirmou que a corte estaria reinaugurando a instrução processual no caso, algo que já foi feito por instâncias inferiores.

MENOS ATRITOS – Como a Folha mostrou, a decisão foi uma forma de Moraes evitar mais atrito com o Congresso e ganhar tempo antes de dar desfecho ao caso.

Com isso, o TSE poderia conseguir mais prazo para construir uma espécie de acordo nos bastidores com bolsonaristas para que eles parem de atacar o tribunal.

O próprio Bolsonaro continua na mira de inquéritos que tramitam no Supremo sob a relatoria de Moraes, como o das milícias digitais e o dos incitadores e autores intelectuais dos ataques de 8 de janeiro. Ambos os inquéritos foram recentemente prorrogados pelo ministro até o segundo semestre deste ano.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Quem te viu, quem te vê… Depois de se tornar o homem mais odiado do país, no dizer do desembargador aposentado Sebastião Coelho, o ministro Alexandre de Moraes agora decidiu abandonar o radicalismo. É um sinal dos tempos? Ou simplesmente caiu na real? (C.N.) 

Ministros e autoridades caem na real e desistem de viajar “a trabalho” ao exterior

Acusado de "ditador" por Bolsonaro, Moraes deve manter | Política

Moraes foi um dos que desistiram de bancar “vira-latas”

Deu no Terra Brasil

Várias autoridades que estavam programadas para participar de eventos em Nova York nesta segunda-feira (13 de maio de 2024) optaram por não viajar para os Estados Unidos. João Doria, ex-governador de São Paulo e um dos fundadores do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), havia anunciado a presença de Alexandre Moraes, ministro do STF, e Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, porém ambos cancelaram sua participação, posteriormente.

Outro evento, organizado pelo Esfera Brasil, considerou a presença de três ministros: Alexandre Silveira (Minas e Energia), Juscelino Filho (Comunicações) e Renan Filho (Transportes), mas suas presenças não foram confirmadas. Muitas autoridades precisaram permanecer no Brasil devido às medidas adotadas para lidar com as enchentes no Rio Grande do Sul.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Antes tarde do que nunca. Como dizia o grande historiador Capistrano de Abreu em sua Constituição de apenas dois artigos, “todo brasileiro precisa ter vergonha na cara”, e “revogam-se as disposições em contrário”. Chega de autoridades tipo gentalha, com complexo de vira-latas, sempre curvadas ao estrangeiro! Tragam-me um balde. (C.N.)

Destruir as florestas é acelerar o fim do mundo, na concepção de Aílton Krenak

Ecologia dos Saberes - Alfabetização e Descolonização Culturais - AILTON KRENAK Ver mais: https://educezimbra.wordpress.com/2017/12/18/citacoes- frases-e-designs-da-ecologia-dos-saberes/ | FacebookLuiz Carlos Azedo
Correio Braziliense

Num país democrático e multiétnico como nosso, coexistem diferentes formas de pensar e de viver, embora nem sempre em harmonia. Uma delas merece cada vez mais atenção, pela contribuição que pode dar ao planeta, sobretudo à ciência, nesse momento de emergência climática: a cosmologia indígena. Diante da destruição das florestas e consequente aquecimento global, da frequência e escala crescentes dos desastres naturais, os saberes indígenas ancestrais começam a ganhar corações e mentes na sociedade.

Precisamos dar mais atenção às vozes dissonantes desses setores, como a de Aílton Krenac, o filósofo indígena, recém-empossado na Academia Brasileira Letras (ABL). Ativista do movimento socioambiental, Doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Krenak nasceu na região do vale do rio Doce, Minas Gerais. Exerceu um papel crucial na organização e conquista dos Direitos Indígenas na Constituinte de 1988.

CABEÇA DA TERRA – O nome Krenak significa cabeça (kre) da terra (nak). Os Krenak ou Borun são os útimos “Botocudos do Leste”, nome atribuído pelos portugueses no fim do século 18 aos grupos que usavam botoques auriculares ou labiais. São conhecidos também por Aimorés e se auto-denominam Grén ou Krén.

Em 2015, a catástrofe de Mariana (MG), devastou toda a fauna e vegetação do Rio Doce, atingindo a principal fonte de subsistência dos Krenak, representados por pouco mais de 600 sobreviventes que ainda ocupam a região.

Lançado em 2019 pela Companhia das Letras, “Ideias para adiar o fim do mundo” é o livro mais famoso de Krenak. A obra critica a ideia de humanidade como um conceito separado da natureza. Essa premissa seria baseada no desastre socioambiental da nossa era, o Antropoceno.

DIZ KRENAC – Somente através do reconhecimento da diversidade e da recusa da ideia do humano como superior aos outros seres, é possível dar outro significado às nossas existências e frear a caminhada para o colapso ambiental.

Sua obra filosófica sustenta-se na cosmologia indígena. “O amanhã não está à venda”, de abril de 2020, sobre como a pandemia de Covid 19, nos fez refletir sobre o que é a “normalidade” e o que significaria voltar para esse status após a crise social, econômica e sanitária.

Publicado no final de 2020, “A vida não é útil” é um diálogo sobre o cenário pandêmico, no qual aponta as tendências destrutivas da civilização, durante um governo negacionista de extrema-direita.

FUTURO ANCESTRAL -Mais recente, seu livro “Futuro ancestral” confronta o senso comum ao explorar a ideia de futuro: “Os rios, esses seres que sempre habitaram os mundos em diferentes formas, são quem me sugerem que, se há futuro a ser cogitado, esse futuro é ancestral, porque já estava aqui.”

Esse raciocínio nos remete à tragédia do Rio Grande do Sul. Uma árvore derrubada na Amazônia, como num efeito borboleta, impacta o clima dos pampas. Esse entendimento já tem um consenso científico, mas não tem a devida tradução nas políticas públicas, que vão na contramão.

O Congresso derrubou o veto do presidente Lula a itens da Lei dos Agrotóxicos que deram ao Ministério da Agricultura competência exclusiva para registrar agrotóxicos, esvaziando Ibama e Anvisa. Outros 25 projetos estão prontos para votação com objetivo de enfraquecer a legislação ambiental e “passar a boiada”.

LIBERAÇÃO AMBIENTAL – Os deputados Lucas Redecker (PSDB-RS) e Jerônimo Goergen (PP-RS), além do senador licenciado Luis Carlos Heinze (PP-RS), gaúchos, estão entre os autores de leis favoráveis a flexibilização de áreas de preservação ambiental.

O próprio governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), promoveu cortes no orçamento da Defesa Civil e nos projetos de resposta a desastres ambientais. Em 2019, propôs um projeto que alterou 480 pontos do Código Florestal estadual. A prefeitura de Porto Alegre nada investiu na prevenção contra enchentes em 2023.

Em março, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou, com 38 votos a favor e 18 contra, um projeto que permite devastar campos nativos do tamanho do Rio Grande do Sul e do Paraná juntos. É isso que queremos?

Suprema Corte dos EUA já criou código de conduta. Enquanto isso, no Brasil…

Juiz da Suprema Corte dos EUA vendeu imóveis não declarados a magnata republicano, diz agência

Clarence Thomas vendeu imóveis não declarados e se sujou

José Marques
Folha

Uma investigação jornalística sobre a relação de integrantes da Suprema Corte dos Estados Unidos com bilionários se tornou referência em discussões sobre a necessidade de transparência do Judiciário e de prevenção de potenciais conflitos de interesse.

A série de reportagens “Friends of the Court” (Amigos da Corte), publicada ao longo de 2023 pelo site ProPublica, mostrou como os magistrados do Supremo americano (chamados por lá de “justices”) ganharam viagens e presentes de magnatas e não divulgaram os benefícios.

PRÊMIO PULITZER – “Friends of the Court” ganhou o prêmio Pulitzer dias atrás, depois de ter forçado o tribunal a elaborar pela primeira vez um código de conduta, com regras para o recebimento de presentes e também padrões para que os juízes recusem benefícios que possam influenciar em suas decisões.

O código foi visto como um marco para o tribunal. No entanto, especialistas apontaram que ele esbarra na falta de explicação sobre como essas regras serão aplicadas na prática e quem pode determinar que elas foram descumpridas.

As principais revelações da série da ProPublica são que um bilionário do ramo de imóveis, Harlan Crow, comprou propriedades no estado da Georgia para a família do magistrado Clarence Thomas. Também bancou os estudos de um dos filhos de Thomas em uma escola privada.

VIDA DE RICO – O magistrado fez ao menos 38 viagens de férias com ricos empresários a bordo de iates e jatinhos, além de ter recebido ingressos para áreas VIP de eventos esportivos profissionais e de universidades.

As reportagens são acompanhadas de fotos de magistrados com milionários e detalhes das viagens que eles fizeram, a partir de documentos e entrevistas feitas com dezenas de pessoas.

Uma das imagens pitorescas publicadas na primeira reportagem sobre o tema é uma pintura realista exposta dentro do resort privado de Crow, que fica à beira de um lago no estado de Nova York. A pintura representa uma conversa entre Thomas, Crow e outros personagens ligados a políticos conservadores. Eles estão sentados, fumando charutos, em frente a uma estátua de um indígena de braços abertos.

PESCARIA NO ALASKA – Além de Thomas, a série de reportagens mostra que outro juiz da Suprema Corte, Samuel Alito, voou para uma viagem de pescaria no Alasca em 2008 no jatinho particular de um investidor que é um importante doador do partido Republicano. Nos anos seguintes, o fundo desse bilionário, Paul Singer, ingressou com ações na corte pelo menos dez vezes.

A Suprema Corte dos EUA tem nove integrantes. Thomas foi escolhido por George H. W. Bush, o pai, em 1991, e Alito por George W. Bush, o filho, em 2006.

Esses benefícios não eram tornados públicos pelos magistrados, e parte deles descumpre uma lei federal aprovada após o escândalo de Watergate, nos anos 1970.

AMIGOS QUERIDOS – Após as primeiras reportagens, Thomas disse que os Crows estavam entre os seus “amigos mais queridos”. “Como amigos que somos, nos juntamos a eles em uma série de viagens familiares”, afirmou.

Já Alito disse ao Wall Street Journal que, quando as companhias de Singer acionaram a corte, não estava ciente da conexão do bilionário com os casos. Ele disse que nunca discutiu negócios ou assuntos relacionados à corte e que falou com Singer em poucas ocasiões.

O Pulitzer justificou o prêmio afirmando que as reportagens foram ambiciosas e inovadoras e que romperam o “grosso muro de sigilos em torno da Suprema Corte” ao revelar como um pequeno grupo de bilionários com influência política cortejaram os magistrados com “presentes e viagens de luxo”. Também destacou como resultado das reportagens a criação do código de conduta da corte.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Enquanto isso, aqui na filial Brazil, a promiscuidade entre políticos, magistrados e empresárias é cada vez maior, transformando Brasília numa lixeira, e a fedentina aumenta progressivamente, em meio à falsidade, aos rapapés e às firulagens que abundam na capital do país, justamente apelidada de Ilha da Fantasia, boiando num mar de sargaços. (C.N.)

Novo ópio estudantil, o “decolonialismo” agrada a professores e aos universitários 

Estudantes da Universidade Brown iniciam acampamento pró-Palestina e antissemita - Gazeta Brasil

Esstudantes mantêm seus protestos nas universidades

Demétrio Magnoli
Folha

“O Ópio dos Intelectuais”, obra do filósofo Raymond Aron publicada em 1955, referia-se ao marxismo e brincava com a caracterização da religião, por Karl Marx, como o “ópio do povo”. A religião laica dos intelectuais fez seu caminho até os estudantes e, bem diluída nos líquidos do pacifismo e do terceiro-mundismo, deixou uma marca nas manifestações contra a Guerra do Vietnã. De lá para cá, porém, foi substituída por outra doutrina dogmática: a tese “decolonial”.

Assim como o marxismo, a nova doutrina espalhou-se entre professores universitários, gotejou para as salas de aula e, finalmente, emergiu no palco das manifestações contra a guerra em Gaza nos campi dos EUA. Sua síntese aparece num cartaz exposto no acampamento de protesto da Universidade George Washington: “Palestina livre. Os estudantes voltarão para casa quando os israelenses voltarem para a Europa, os EUA etc (seus lares verdadeiros)”.

RUMO PARALELO – Aron apontava o fracasso moral dos intelectuais marxistas, que desprezavam a “democracia burguesa” enquanto condescendiam com os regimes totalitários do “socialismo real”. O movimento “decolonial” segue rumo paralelo, eximindo governos autoritários e organizações antidemocráticas que se apresentam como rivais do Ocidente. Nos campi dos EUA, brados estudantis misturam a reivindicação de interrupção da guerra com lemas clássicos do Hamas.

As religiões invocam a palavra sagrada: razão transcendental. Os marxistas e os “decoloniais” invocam a História, com H maiúsculo: as “leis históricas”, no primeiro caso, ou a justiça histórica reparatória, no segundo. Mas, como as religiões tradicionais, as religiões políticas almejam a redenção – e é isso que as torna sedutoras.

O triunfo do proletariado e o advento do socialismo assinalam a redenção marxista. A tese “decolonial”, um estilhaço da política identitária, enxerga o mal absoluto na expansão global europeia (isto é, “branca”), fonte da opressão sobre os “povos originários” e a “diáspora africana”. Para eles, a redenção não está no futuro, mas num passado mítico que precisaria ser restaurado.

NAÇÕES ILEGÍTIMAS – O grupo dirigente dos protestos na Universidade Columbia declara os EUA e o Canadá nações ilegítimas, formadas por colonos europeus que oprimem os negros e ocupam terras indígenas.

O cartaz do acampamento na George Washington exige que os “invasores” judeus saiam do Oriente Médio. Daí, os cânticos de “Palestina livre do rio até o mar” (e, ainda, “por qualquer meio necessário”, uma senha costumeira destinada a legitimar o terror do 7 de outubro).

A derrapagem “decolonial” dos protestos limitou o alcance da mobilização estudantil. Sonhava-se reeditar o movimento contra a Guerra do Vietnã. Não por acaso, invadiu-se o Hamilton Hall, palco de uma célebre ocupação em 1968.

NOVA REALIDADE – Há 56 anos, o movimento dos estudantes gerou passeatas imensas e uma crise política nacional. Os acampamentos atuais, pelo contrário, reuniram apenas minorias significativas. A nódoa do antissemitismo afastou a maioria dos estudantes, mesmo diante da criminosa punição infligida por Israel aos civis de Gaza.

A tese “decolonial”, como o marxismo, oferece uma explicação unívoca sobre as injustiças sociais. Intelectuais adoram o poder de reduzir tudo a uma equação totalizante bastante simples –e os jovens, mais ainda. Contudo, o vício no marxismo tinha uma porta de saída que inexiste no ópio “decolonial”.

O que fazer quando fica claro que a promessa brilhante do socialismo conduzia, inexoravelmente, à cinzenta realidade do totalitarismo? Havia uma saída consistente com o núcleo moral das ideias socialistas: o reformismo social-democrata. Mas para onde podem ir os jovens ativistas “decoloniais” ao descobrirem a impossibilidade de reverter a seta do tempo e cancelar o mundo nascido da expansão europeia? Resta-lhes, somente, angústia, desespero e cinismo.