Um duro recado do Exército e da Polícia fez as metralhadoras serem “devolvidas”

Polícia do Rio encontra 8 das 21 metralhadoras do Exército furtadas em São Paulo. Armas estavam na Gardênia Azul, na zona oeste da cidade

Metralhadoras pesadas seriam vendidas às facções no Rio

Marcelo Godoy
Estadão

A tática é uma velha conhecida nos meios policiais: o bandido entregar o que a polícia deseja para tentar evitar uma reação que atrapalhe em demasia os negócios das organizações criminosas. Foi assim que Erickson David da Silva – acusado de matar o policial Patrick Bastos Reis, da Rota– se entregou à polícia. A facção criminosa queria evitar o que veio depois: a Operação Escudo, que deixou um rastro de 28 mortes no Guarujá, em 30 dias de ações na Baixada Santista.

Logo que o furto das 13 metralhadoras Browning .50 e oito MAG, de calibre 7,62 mm, no Arsenal de Guerra, em Barueri, na Grande São Paulo, se tornou público, policiais civis do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), de São Paulo, começaram a usar seus contatos para tentar localizar quem estava por trás do crime. Também mandaram um recado a bandidos do Primeiro Comando da Capital (PCC): as armas tinham de aparecer. Enquanto isso não ocorresse, não iriam sossegar.

VENDA AO PCC – Um agente do Deic soube que o armamento estava enterrado na região oeste da Grande São Paulo. Um homem que já havia sido preso por roubo a banco estava em contato com os bandidos responsáveis pela guarda das metralhadoras. As investigações do Departamento, comandadas pelo delegado Fabio Pinheiro Lopes, mostravam que os criminosos estavam negociando a venda do armamento ao PCC.

Lopes manteve durante toda a semana contatos com o general Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste (CMSE). Na quarta-feira, a inteligência do Exército localizou parte das armas no Rio de Janeiro.

A Polícia Civil carioca obteve ainda um vídeo no qual quatro metralhadoras .50 e outras quatro MAG eram oferecidas a traficantes de drogas, cada uma por R$ 180 mil.

TERIAM DE “VOMITAR” – Foi quando militares e policiais fizeram chegar à cúpula do Comando Vermelho (CV) que a Força Terrestre não ia descansar enquanto o armamento não fosse recuperado. Na gíria policial, os bandidos teriam de “vomitar” as metralhadoras.

Isso significava que o Exército estava disposto a cercar comunidades, como fizera em março de 2006 quando, após 12 dias de atuação em 16 favelas cariocas, as tropas recuperaram os dez fuzis e a pistola roubados do Estabelecimento Central de Transportes do Exército.

Na época, o general Hélio Macedo, então chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Leste, traçou a tática da Operação Asfixia. Os militares não se limitaram a patrulhar e a ocupar os morros. Controlaram as vias de acesso, verificando documentação e revistando carros. Com isso, os consumidores de drogas não puderam chegar a seus fornecedores. Calculou-se que a ação fez o faturamento dos traficantes cair 70%.

DEU RESULTADO – A ameaça de uma nova asfixia fez com que na quinta-feira o CV abandonasse em um carro quatro metralhadoras .50 e quatro calibre 7,62 mm, na Gardênia Azul, na zona oeste do Rio, onde foram recuperadas pela Polícia Civil. Em São Paulo, enquanto o Exército apurava responsabilidades administrativas e criminais de seu pessoal no caso, o mesmo recado foi dado aos bandidos: “Devolvam as armas”.

Depois que o aviso chegou aos criminosos, policiais do 1.º Distrito de Carapicuíba foram informados de que os bandidos estavam transportando o armamento para uma área rural de São Roque, e que elas seriam guardadas ao lado do poço profundo Mombaça, da Sabesp.

Para lá os investigadores da delegacia se dirigiram e encontraram nove metralhadoras, depois de pescá-las em um lamaçal. Ali estavam cinco Browning .50 e quatro MAGs. Dois bandidos fugiram. Falta agora encontrar quatro metralhadoras de calibre .50.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Milicianos e traficantes só entendem a lei da força. As armas não foram encontradas, apenas entregues quase que a domicilio.  (C.N.)

Lula admite o fracasso político contra o crime organizado em grandes cidades

Ação de grupos milicianos afeta atividades de concessionários de setores  como transporte e gás - Jornal O Globo

Milicianos decretaram o caos na Zona Oeste do Rio de Janeiro

José Casado
Veja

Em agosto, Lula foi ao Rio e discursou: “O crime organizado está tomando conta do país”. Figuras de linguagem são recorrentes e úteis para se transmitir ideia ou sentimento de forma impactante. No entanto, há uma realidade que já não cabe na moldura da retórica política.

Lula tem razão sobre o avanço do crime organizado, como se vê no noticiário de cada dia do Oiapoque ao Chuí. O problema é que é ele quem governa, pela terceira vez neste início de século, o país onde o crime organizado está avançando.

ESTÁ AVANÇANDO – O domínio é visível, e crescente, não só em territórios marcados pela ausência do Estado, mas, também, em espaços institucionais do Estado — governo, Legislativo e Judiciário.

O Rio é a melhor tradução da simbiose das máfias de policiais e traficantes com interesses de grupos políticos, numa versão tropicalizada da guerra dos cartéis mexicanos pelo controle de comunidades relevantes nas rotas de drogas, armas e dinheiro.

Quando Lula falou sobre a expansão do crime organizado, em agosto, estava ao lado do governador fluminense Claudio Castro, do Partido Liberal. Castro é um reconhecido construtor de pontes para o futuro com o clã de Jair Bolsonaro, há três décadas uma frente de defesa das milícias fluminenses.

MENSAGEM DIRETA – Nesta segunda-feira (23/10), enquanto milicianos espalhavam pânico na Zona Oeste, incendiando três dezenas de ônibus e interditando o trânsito da cidade, o governador foi às redes sociais com uma mensagem direta aos chefes das máfias cariocas: “O crime organizado que não ouse desafiar o poder do Estado.”

Descontada a tortura do idioma, sobra a redundância dos efeitos especiais: no Rio o crime organizado não desafia o poder do Estado simplesmente porque há tempos é o poder real, ao menos em pedaços do território estadual como a Zona Oeste a Baixada Fluminense.

LEI ANTITERROR – Castro anunciou o enquadramento de milicianos presos na legislação antiterrorismo e imediato confinamento em presídios federais.

Equiparar mafiosos a terroristas pode ser bom assunto para discurso ou conversa de botequim. O risco é a perda de perspectiva da realidade. Os Estados Unidos souberam distinguir e fizeram lei específica para organizações criminosas (Rico, na sigla em inglês). Ela é usada em investigações sobre crimes de terrorismo, mas ninguém confunde uma coisa com outra. São diferentes.

Castro (PL) e Lula (PT) representam gerações diferentes, com três décadas de diferença na idade. Têm em comum o saldo na reconstrução da democracia e, também, a dívida na reorganização social, que inclui a Segurança Pública. De Lula a Castro, registra-se um fracasso político contra o crime organizado.

OMISSÃO ANTIGA – Lula atravessou dois governos repassando o “problema” da segurança aos governos estaduais. Agora, fala em “assumir a responsabilidade de ajudar os governadores” — um avanço, por enquanto limitado à retórica.

Castro está no segundo governo. Acaba de abdicar em privilégio da Assembleia Legislativa do poder de escolher e nomear comandos nas polícias civil e militar. Os deputados estaduais assumem, na prática, a execução da política de segurança pública no Rio. É notória a intimidade da Alerj com o assunto das milícias, uma evidência é que há mais policiais que deputados na sua folha de pagamentos.

O Rio é vitrine cosmopolita do avanço do crime organizado no país governado por Lula e no estado liderado por Castro.

Obama apoia Biden, mas critica a morte de milhares de crianças e civis palestinos

A coragem de Obama está em falta no Brasil – CartaCapital

Morte de crianças e civis é inaceitável, diz Barack Obama

Deu na Jovem Pan

Barack Obama utilizou suas redes sociais nesta segunda-feira, 23, para promover sua análise da guerra no Oriente Médio. No longo texto, o ex-presidente dos Estados Unidos aprova a postura de Joe Biden, o atual mandatário, no apoio a Israel. Ao mesmo tempo, o político também acredita que o governo israelense tem o direito de se defender dos ataques do Hamas.

“Como afirmei numa publicação anterior, Israel tem o direito de defender os seus cidadãos contra tal violência desenfreada, e apoio totalmente o apelo do presidente Biden aos Estados Unidos para que apoiem o nosso aliado de longa data na perseguição do Hamas, no desmantelamento das suas capacidades militares, e facilitando o retorno seguro de centenas de reféns às suas famílias”, iniciou o democrata.

MORTES DE INOCENTES – Na carta, entretanto, Obama critica o cerco de Israel feito na Faixa de Gaza, que impossibilitou a entrada de alimentos, água, remédios e combustível para a população palestina. O ex-presidente dos EUA também lembrou que os ataques israelenses mataram milhares de crianças e inocentes. Assim, ele alertou para que o revide ao Hamas “não saia pela culatra”, fazendo com que o governo de Benjamin Netanyahu perca apoio internacional.

“Mesmo que apoiemos Israel, também devemos deixar claro que a forma como Israel conduz esta luta contra o Hamas é importante. Em particular, é importante — como o Presidente Biden enfatizou repetidamente — que a estratégia militar de Israel respeite o direito internacional, incluindo as leis que procuram evitar, na medida do possível, a morte ou o sofrimento das populações civis.

MORALMENTE JUSTO – Defender estes valores é importante por si só – porque é moralmente justo e reflete a nossa crença no valor inerente de cada vida humana. A defesa destes valores é também vital para construir alianças e moldar a opinião internacional — todos eles cruciais para a segurança de Israel a longo prazo”, disse.

“O mundo está observando atentamente o desenrolar dos acontecimentos na região, e qualquer estratégia militar israelita que ignore os custos humanos poderá, em última análise, sair pela culatra. Milhares de palestinos já foram mortos nos bombardeamentos de Gaza, muitos deles crianças. Centenas de milhares de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas”, assinalou.

“A decisão do governo israelita de cortar a alimentação, a água e a eletricidade a uma população civil ameaça não só agravar uma crise humanitária crescente; poderá endurecer ainda mais as atitudes palestinas durante gerações, minar o apoio global a Israel, fazer o jogo dos inimigos de Israel e minar os esforços a longo prazo para alcançar a paz e a estabilidade na região”, acrescentou Obama.

SEM PRECONCEITOS – Por fim, Obama pede para que a população rejeite ações preconceituosas, seja contra judeus ou muçulmanos.  “Ao lidar com uma situação extraordinariamente complexa, em que tantas pessoas sofrem e as paixões estão compreensivelmente exaltadas, todos nós precisamos de fazer o nosso melhor para expor os nossos melhores valores, em vez dos nossos piores receios”. afirmou.

“Isso significa se opor ativamente ao anti-semitismo em todas as suas formas. Significa rejeitar os esforços para minimizar a terrível tragédia que o povo israelita acaba de suportar, bem como a sugestão moralmente falida de que qualquer causa pode de alguma forma justificar o massacre deliberado de pessoas inocentes”, disse.

“Significa rejeitar o sentimento anti-muçulmano, anti-árabe ou anti-palestiniano. Significa recusar agrupar todos os palestinianos com o Hamas ou outros grupos terroristas. Significa prevenir-se contra a linguagem desumanizadora dirigida ao povo de Gaza, ou minimizar o sofrimento palestiniano – seja em Gaza ou na Cisjordânia – como irrelevante ou ilegítimo”, completou o ex-líder estadunidense.

Toffoli autoriza que ‘agressores’ de Moraes tenham acesso às imagens do Aeroporto

Imagens mostram suposta agressão a filho de Alexandre de Moraes no aeroporto de Roma | CNN Brasil

Nesta imagem, “parece que” é o rapaz que agride o idoso

Paolla Serra
O Globo

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou que peritos dos envolvidos em uma confusão com o também ministro Alexandre de Moraes tenham acesso à íntegra das imagens do Aeroporto de Roma, na Itália.

Na decisão, porém, o magistrado ressalta que os arquivos deverão ser franqueados a defesa desde que diante de registro e com acompanhamento de um servidor determinado dentro das dependências da sede do tribunal.

SEM CERCEAMENTO – “O acesso à mídia, portanto, está sendo integralmente franqueado à defesa, com algumas cautelas quanto à forma como se dará, incluindo a circunstância de ocorrer na sede do Tribunal, mediante registro de quem a acessa e sob acompanhamento de servidor designado”, disse Toffoli, acrescentando:

“A propósito, saliento que tais cautelas – notadamente para a preservação de direitos correlatos à privacidade, imagem e intimidade dos envolvidos e de terceiros que aparecem nas filmagens –, valem tanto para a defesa como para a Procuradoria-Geral da República e para as supostas vítimas, admitidas como assistentes de acusação, a indicar a paridade de armas, não se traduzindo em cerceamento de defesa”, escreveu Toffoli.

No despacho, o ministro afirma que as mídias poderão ser acessadas e analisadas por perito das partes e dos assistentes, com manuseio e pelo tempo que se mostrarem necessários, contanto que não sejam copiadas.

“É dizer, por outras palavras, que a única diferença em relação à análise que seria desenvolvida no escritório ou laboratório do perito (ou da pessoa indicada pela parte) é mesmo o local: ao invés de periciá-lo lá, periciará aqui, a fim de que se garanta sua singularidade e sua integridade”, assinalou.

SEM CÓPIAS – “Registro, a propósito e en passant que, ao contrário do que alega a defesa, a não autorização de cópia não se traduz em inviabilidade de análise; o exame, o manuseio e a extração de conclusões daí decorrentes não dependem da existência de cópia. Se assim fosse, provas ou corpos de delito impossíveis de serem duplicados – como armas, corpos humanos, objetos com digitais ou resíduos etc. -, não seriam periciáveis, o que sabidamente não é verdade, sendo extremamente comum a apresentação de laudos elaborados por peritos indicados pelas partes, a partir da análise de provas irrepetíveis, não copiadas ou duplicadas. paridade de armas, não se traduzindo em cerceamento de defesa”, ponderou.

Na mesma decisão, Toffoli concede a Moraes e a seus filhos e esposa o direito de atuarem no processo como assistentes de acusação. Conforme o artigo 268 do Código de Processo Penal, é permitida a atuação das próprias vítimas de crimes, seus companheiros, pais, irmãos e filhos como auxiliares do Ministério Público, propondo meios de prova.

PEDIDO DE PROVIDÊNCIAS – Em petição, o advogado Ralph Tortima Filho havia alegado que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) chegou a encaminhar um pedido de providências ao STF justamente por não sido franqueado o acesso as imagens. Ele reiterou os requerimentos de acesso aos vídeos captados pelas câmeras de segurança do aeroporto.

“Segundo a defesa, a não permissão de cópia inviabiliza qualquer trabalho dos advogados ou do assistente técnico. Como vamos poder nos manifestar sem poder utilizar as imagens? Como um assistente técnico poderá fazer seu trabalho, sem ter as imagens em mãos? A decisão, com todo respeito, consubstancia evidente cerceamento de defesa”, disse o advogado, em nota.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A proibição de fazer cópias é para evitar que o casal de idosos possa exibi-las na mídia, para se defender das acusações. O caso é cheio de mentiras, a começar pela afirmação de que o esquálido idoso teria dado um tapa no filho de Moraes e os óculos dele caíram no chão. Na imagem da fita, os óculos continuam no rosto do rapaz. E o pior é que laudo da Polícia está cheio de “parece que”. Sinceramente, Moraes deveria ter vergonha de se fazer de vítima. (C.N.)

Cerco à Faixa de Gaza é estratégia militar, que não inclui solução política do conflito

Biden se encontra com Netanyahu e aborda ataque a hospital: "parece que  foi obra do outro lado"

Biden deu a Netanyahu um conselho que não foi ouvido

William Waack
Estadão

Joe Biden exortou Israel a não se deixar consumir pela raiva trazida pelas atrocidades terroristas do Hamas. E, assim, evitar “erros” que os Estados Unidos cometeram depois do 11 de setembro. Foi um clássico conselho do faça o que eu digo mas não o que eu fiz. O então senador Joe Biden, que presidia a Comissão de Relações Exteriores do Senado americano, foi um dos 77 que autorizaram o presidente George W. Bush a empregar força militar no Iraque.

A invasão de 2003 é considerada um dos maiores desastres estratégicos da história americana, e o preço é pago até hoje.

SEM OPÇÕES – O problema é que no momento atual não há boas opções para os Estados Unidos nem para Israel, a quem Joe Biden literalmente se abraçou. Os americanos são vistos na região como cúmplices dos israelenses, sem condições de atuar como “mediador honesto”. Mas dissociar-se de Israel está fora de cogitação.

Vetaram a resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre o conflito em Gaza pelo motivo que as grandes potências sempre seguem: para não terem as mãos amarradas. O texto vetado apresentado pelo Brasil pedia “pausas humanitárias” e corredores para entrega de ajuda. Esses dispositivos condicionariam as atuais operações de cerco e bombardeios israelenses.

O pano de fundo do veto, porém, é muito mais abrangente. A antecipada reação israelense às atrocidades terroristas do Hamas levaram os Estados Unidos a tentar salvar em regime de urgência o que ainda possuía de iniciativa no Oriente Médio.

CAUSA E CONSEQUÊNCIA – A mudança da ordem internacional (o fim da “pax americana”) é ao mesmo tempo causa e consequência da perda de influência relativa na região, na qual “aliados” seguros, como Turquia, Arábia Saudita e Egito, hoje têm jogo próprio.

Ocorre que o principal deles, Israel, também não dispõe de boas opções. O país é muito diferente daquele que os Estados Unidos defenderam em guerras anteriores. Está profundamente dividido por um governo irresponsável que é grande culpado pela espécie de “crise de identidade” da sociedade israelense – que agora “acordou” para seus dilemas essenciais traumatizada pelo terrorismo do Hamas.

Nas palavras de Lawrence Freedman, o cerco israelense de Gaza é a tentativa de desenvolver uma estratégia militar para lidar com o Hamas sem ter uma estratégia política. Os clássicos ensinam que isso nunca funciona.

Piada do Ano! Barroso afirma que o STF e o Congresso já estão “superpacificados”

Presidente do STF, Luís Roberto Barroso afirmou em evento em São Paulo que Congresso e STF estão superpacificados

Barroso está enxergando uma realidade que “non ecziste”

Heitor Mazzoco
Estadão

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luis Roberto Barroso, afirmou nesta segunda-feira, dia 23, considerar resolvidas as turbulências entre os Poderes Legislativo e Judiciário. “Estão superpacificados”, afirmou ao chegar para uma palestra oferecida pelo Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp), na região da Avenida Paulista.

A declaração de Barroso ocorre dois dias depois de o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) afirmar que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita ações dos ministros do STF, como decisões monocráticas, não será acelerada no Congresso.

OUTRA VERSÃO – Há pouco mais de uma semana, em um evento em Paris, o próprio Pacheco defendeu uma proposta para limitar a autoria de ações no STF. Segundo ele, isso evitaria que a Corte tivesse “ponto de contato constante com a sociedade em função das decisões que seja instado a fazer”. A proposta foi apoiada por diversos senadores, embora não tenha ficado claro quais tipos de ações seriam afetadas e quem seria limitado a acionar o STF.

Além disso, o Congresso tem resgatado vários projetos que podem diminuir o poder da Corte máxima do Judiciário.

Entre essas propostas estão o avanço da proposta que limita os Poderes do STF em decisões monocráticas, a que propõe mandatos para ministros do STF e o que permite aos parlamentares sustarem decisões já transitadas em julgado do Supremo que considerarem que “extrapole os limites Constitucionais”.

JUIZ ASSASSINADO – Barroso afirmou ainda que tudo indica que o juiz Paulo Torres Pereira da Silva, vinculado ao Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), foi morto pelo “desempenho de seu papel”.

“Isso é gravíssimo. Esperamos que se faça uma apuração rápida e tenha uma punição exemplar”, disse Barroso.

Juiz há 34 anos, Paulo Torres Pereira da Silva dirigia o próprio carro quando foi cercado por criminosos armados, que chegaram atirando e fugiram em seguida. Quando a equipe de socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou ao local do crime, o juiz já estava morto. A Polícia Civil iniciou a investigação do caso e apreendeu o carro do juiz para fazer uma perícia.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Barroso não sabe da missa nem a metade. A bancada ruralista é majoritária na Câmara e no Senado. É ela quem manda no Congresso e está um pote até aqui de mágoa com o Supremo. O senador Rodrigo Pacheco é apenas um detalhe. Acabou a brincadeira de ditadura do Supremo. Daqui para a frente, tudo será diferente, diria Roberto Carlos. (C.N.)

Mauro Cid implodiu Bolsonaro o tempo todo ao depor em sua delação premiada

Notícias sobre Mauro Cid | VEJA

Charge do JCaesar (Veja)

Bela Megale
O Globo

O tenente-coronel Mauro Cid implodiu Jair Bolsonaro em diversos trechos de sua delação premiada. A coluna apurou que o ex-ajudante de ordens da Presidência implicou diretamente o antigo chefe em todas as frentes investigadas pela Polícia Federal e não o poupou em nenhum relato.

Como revelou o jornalista Aguirre Talento, do “UOL”, Cid revelou em sua delação que partiu de Bolsonaro a ordem para fraudar os certificados falsos de vacinas da Covid-19 dele e sua sua filha, Laura.

ENTREGOU EM MÃOS – O ex-ajudante de ordens admitiu à PF que operacionalizou a falsificação dos cartões com aliados e disse que imprimiu os documentos falsos e os entregou em mãos para o então presidente da República, no ano passado.

Um investigador envolvido nas tratativas disse à coluna que, de fato, não é crível que a falsificação de um certificado de vacina da filha fosse realizada sem o conhecimento de seu pai, ainda mais quando se trata de Bolsonaro, que exerce uma postura controladora.

Cid respondeu em detalhes a todos os questionamentos feitos pela Polícia Federal envolvendo Jair Bolsonaro e relatou como o então presidente se comportou sobre assuntos como vacinas, reuniões para tratar de golpe de Estado e a aquisição de presentes que ganhou e que eram destinados à União, no caso das joias enviadas pelos sauditas.

CAINDO NA REAL… – Até a semana passada, os auxiliares do ex-presidente vinham fazendo investidas sobre a família de Cid para levantar detalhes sobre o acordo. O relato que receberam de um ministro da ala militar de Bolsonaro foi o de que o nome do ex-presidente sequer estaria citado. Parte de seus assessores acreditou, mas o próprio Bolsonaro permaneceu desconfiado.

Após a revelação de mais um trecho do acordo de Cid envolvendo diretamente o ex-presidente, Bolsonaro e seu entorno têm dado sinais de que agora creem que a delação do ex-ajudante de ordens o tem como figura central.

Sobre a questão de vacinas, a versão que o ex-presidente deu à PF é distinta da apresentada pelo ex-aliado. Bolsonaro declarou aos investigadores que não conhecia nem orientou fraudes em cartão de vacinação para seu uso ou de sua filha.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É mais um relato sobre o despreparo de Jair Bolsonaro. Ele realmente se julgava um mito, um superhomem. E os que acreditaram nele se deram mal, estão pegando de 12 a 17 anos de prisão por terem seguido fanaticamente um idiota, e são até considerados como “terroristas”, vejam só que absurdo. (C.N.)

Na chegada, peronismo leva Sergio Massa à vitória no primeiro turno

Massa defende governo de unidade e quer atrair eleitorado de Bullrich

Pedro do Coutto

Nos dias finais da campanha à Presidência da Argentina, o peronismo se movimentou e deu a vitória ao candidato Sergio Massa no primeiro turno, na minha opinião indicando também a sua vitória no dia 19 de novembro, segundo turno, pois dificilmente Javier Milei reunirá o apoio da terceira colocada, Patricia Bullrich, que terminou com 24% da votação.

Em números redondos, Sergio Massa alcançou praticamente 37 pontos contra 30% de Javier Milei, demonstrando que os demais candidatos e os votos nulos e brancos ficaram contidos numa fração muito pequena. Somando-se as votações de Massa, Milei e Bullrich, temos cerca dos 90% dos que compareceram às urnas argentinas.

RESISTÊNCIA – O peronismo deu quase 37% dos votos a Sergio Massa, apesar de ser ele o ministro da Fazenda num governo que se defronta com uma inflação de 134% para os últimos 12 meses. Mas o peronismo demonstrou, mais uma vez, que é o único movimento político que resistiu à passagem do tempo, após chegar ao poder em 1948.

Quando digo que Massa deve ser vitorioso no segundo turno, é porque tenho a impressão de que Patricia Bullrich dificilmente poderá apoiar Javier Milei. Inclusive porque qualquer negociação política torna-se mais fácil com Alberto Fernandez na Casa Rosada, do que com Milei numa perspectiva remota. As forças políticas devem isolar a extrema direita, como tem acontecido em várias eleições em diversos países.

Na GloboNews, vi filmes de propaganda de Milei, com ações exacerbadas, violentas e desnecessárias. Milei afirmou na campanha que o governo brasileiro de Lula da Silva é um governo comunista. Anunciou que cortaria relações com o Brasil e com a China. Portanto, as duas principais economias que se encontram no comércio com a Argentina.

PROPOSTAS – A privatização do ensino, também proposta por Milei, isolaria os estudantes de colégios oficiais, levando as famílias a terem que pagar pelos seus estudos. A privatização da Previdência Social, outra de suas propostas, causou impacto entre os que pretendem se aposentar e os que já se encontram aposentados. Milei, inclusive, assustou profundamente os empresários, sobretudo os investidores financeiros. Uma sequência de excentricidades e agressões que se refletiram nas urnas.

Milei não ofereceu nenhuma melhoria de vida e também anunciou a dolarização absoluta da moeda argentina. Lance arriscadíssimo, uma vez que a Argentina não emite dólares. Enfim, o destino do poder na Argentina está traçado.

ADIAMENTO – Na manhã desta segunda-feira, a GloboNews noticiou que o presidente Joe Biden sugeriu ao primeiro-ministro Netanyahu que o governo de Israel adiasse a invasão por terra ao território palestino, uma vez que tal incursão abalaria o socorro humanitário que começou a ser realizado a partir do ingresso na Faixa de Gaza de caminhos com água, alimentos e remédios.

Tenho a impressão de que a sugestão terá que ser aceita, pois não é provável que o governo de Tel Aviv não aceite a indicação de seu principal aliado, o governo dos Estados Unidos. Entretanto, de outro lado, como a Folha de S. Paulo destacou em sua edição de ontem, Israel aumentou os ataques aéreos na Faixa de Gaza.

Num artigo muito bom publicado ontem no O Globo, Fernando Gabeira destaca a posição do Brasil em relação à guerra e elogia a iniciativa de o Conselho de Segurança da ONU ter convocado para hoje uma reunião bastante ampla em Nova York. O Brasil está enviando seus esforços para fazer cessar a guerra no Oriente Médio.

Milicianos incendiários são “terroristas” de verdade e merecem penas rigorosas

Zona Oeste do RJ tem 35 ônibus queimados após membro da milícia morrer em  confronto com a polícia

Os milicianos afrontam e menosprezam as autoridades no Rio

Vicente Limongi Netto

País sem lei. Bagunçado. Entregue aos bandidos. Deitam e rolam nas barbas das tontas e incapazes autoridades. O povo que se vire, amedrontado e refém dos criminosos. Milicianos queimaram 35 ônibus e um trem, no Rio de Janeiro, em apenas poucas horas. Onde estão, o que dizem o espaçoso e falastrão ministro da Justiça, Flávio Dino, e o secretário-geral do ministério, Ricardo Cappeli, cujo esporte predileto é deitar falação sobre estratégia de inteligência?

Quais serão as novas desculpas da formidável dupla? E as forças de segurança, que o governo Lula mandou para o combalido Rio de Janeiro, escafederam-se na fúnebre brisa carioca? Igualmente inerte o governo do Rio de Janeiro. E a escória da criminalidade avança na destruição do cartão postal Rio de Janeiro.

12 FORAM PRESOS – Segundo o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), 12 elementos foram presos por participar de ataques a ônibus nesta segunda-feira (23). E vão responder pelo crime de terrorismo. Eles foram encaminhados para prisões federais.

Bem, esses bandidos são muito mais terroristas do que os que invadiram a Praça dos Três Poderes e estão sendo condenados a 17 anos de prisão.

O ímpeto incendiário foi provocado pela morte de Matheus da Silva Rezende, o Faustão, durante uma ação da Polícia Civil na comunidade Três Pontes, na zona oeste da cidade. Segundo denúncias à Justiça, Faustão era a segunda liderança da maior milícia do Rio, que tem como chefe seu tio, Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho.

IRMÃOS NORDESTINOS – Línguas de trapo gostam de falar mal dos nordestinos. Pilantras sem a fibra e decência dos excelentes irmãos do Norte.  Com destemido sangue pernambucano nas veias, a jornalista Ana Dubeux, certa feita, em artigo no Correio Braziliense, condenou os pérfidos, rancorosos e mal amados de plantão: “Quem vive de ódio não tem lugar no Nordeste”.

Perfeito. Ana Dubeux aconselhava, ” não sopre a fogueira, apague as fagulhas divulgando seu amor por esta região tão rica e linda”.

Nordestinos são guerreiros e desbravadores. Estão em todo lugar, do Brasil e no exterior. Ocupam cargos de todos os tamanhos. Não se abatem diante dos problemas. O governador reeleito de Brasília é piauiense. Minha amada mulher é cearense. Minha sogra e meus 9 cunhados, também. Assim como todos os 10 irmãos do respeitado e vitorioso clã Campelo Bezerra. Na minha “pelada”, 70% dos craques são nordestinos. Na política, tenho amigos alagoanos. Meu competente médico oncologista, Gustavo Fernandes, é paraibano.

Glenn Greenwald e seu marido David Miranda foram espionados pela Abin

Miranda e lideram a lista dos investigados

Miranda e Greenwald  lideravam a lista dos investigados

Deu em O Globo

O jornalista Glenn Greenwald e o ex-deputado federal David Miranda (PDT-RJ), que morreu em maio deste ano, foram espionados ilegalmente pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL).

A informação é do jornal O Globo. De acordo com a publicação, os dois estão na lista de jornalistas, advogados e políticos adversários de Bolsonaro entre 2019 e 2021. À época, estava à frente da agência Alexandre Ramagem, hoje deputado federal (PL-RJ).

RASTREAMENTO – A investigação da PF (Polícia Federal) dá conta de um sistema secreto de monitoramento de celulares por um software de rastreamento, segundo a reportagem.

Na relação, estariam 1.800 telefones, que foram entregues pela atual gestão da Abin, do governo Lula (PT), ao STF (Supremo Tribunal Federal), por determinação do ministro Alexandre de Moraes.

“Os mais burros e inofensivos americano liberais de esquerda —que nunca incomodam ninguém no poder e nunca arriscam nada pela causa banal deles— alegaram que eu queria a vitória de Bolsonaro. Hoje, O Globo reportou que David e eu fomos ilegalmente espionados pela Abin, a CIA do Brasil, de 2019 a 2021”, disse o jornalista, na rede social X, antigo Twitter. Glenn e David eram casados.

OPERAÇÃO DA PF – Na última sexta-feira (20), a PF deflagrou uma operação para investigar o rastreio irregular da geolocalização de oponentes do governo Bolsonaro. Foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão e dois de prisão preventiva nos estados de São Paulo (2), Santa Catarina (3), Paraná (2) e Goiás (1), além do Distrito Federal (17).

Dois servidores suspeitos de coerção foram presos —Rodrigo Colli e Eduardo Arthur Yzycky.MAlém de buscas e prisões, o ministro Alexandre de Moraes determinou o afastamento de Paulo Maurício Fortunato Pinto, atual número 3 da Abin, e de outros quatro servidores.

Fortunato foi ainda alvo de uma busca e apreensão em sua casa. Na ocasião, os investigadores encontraram US$ 171 mil em espécie. A PF vai investigar a origem do dinheiro, já que mantê-lo em casa em si não é crime.

BUSCAS NA ABIN – A sede da Abin também foi alvo de buscas nesta sexta-feira. Segundo relatos, a PF levou os computadores de todos os suspeitos, incluindo as máquinas usadas por Fortunato.

Abin divulgou nota, na sexta-feira, em que afirma que os servidores na mira da PF foram afastados de forma cautelar e que o sistema secreto de monitoramento deixou de ser usado em maio de 2021.

Segundo a agência, o processo interno aberto pela corregedoria-geral sobre o uso do software espião foi concluído em 23 de fevereiro deste ano. A partir das conclusões, foi instaurada uma sindicância investigativa em 21 de março.

Na poesia de Ribeiro Couto, o drama da prostituta que precisa voltar para casa

Retratado por Vicente do Rego Monteiro

Retratado por Vicente do Rego Monteiro

Paulo Peres
Poemas & Canções

O magistrado, diplomata, jornalista, romancista, contista e poeta paulista Rui Ribeiro de Almeida Couto (1898-1963), da Academia Brasileira de Letras, no poema “Fado de Maria Serrana”, expõe o pedido da prostituta que trocou a vida serrana pela cidade grande.

FADO DE MARIA SERRANA
Ribeiro Couto

Se a memória não me engana,
Pediste-me um fado triste:
Triste Maria Serrana,
Por que tal fado pediste?

Na serra, a fonte e as ovelhas
Eram só os teus cuidados;
Tinhas as faces vermelhas,
Hoje tens lábios pintados.

Hoje de rica tens fama
E toda a cidade é tua;
Tens um homem que te chama
Ao canto de cada rua.

Mas ai! pudesses de novo
Tornar à serra, Maria!
Se não te perdoasse o povo,
A serra te perdoaria.

Lá te espera o mesmo monte,
E a casa junto ao caminho,
E a água da mesma fonte
Que diz teu nome baixinho.

Secos teus olhos de mágoa,
Se não tivessem mais pranto,
Choraria aquela água
Que já por ti chorou tanto.

OCDE não aceita o Brasil, por considerá-lo o país mais corrupto do mundo

OCDE está preocupada e vai monitorar impactos da decisão de Toffoli sobre Odebrecht | CNN Brasil

Ilustração reproduzida do site da CNN

Carlos Newton

Existem perguntas que não querem calar e o governo não se interessa em responder, muito pelo contrário. Por exemplo: qual a diferença entre o Brasil e outros países menos importantes, como Peru, Chile, Colômbia, Costa Rica, Eslovênia, México, Polônia e Turquia? Por que essas nações fazem parte da importantíssima OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e o Brasil continua barrado no baile.

Bem, a diferença é que esses países demonstram que estão realmente tentando reduzir a corrupção, enquanto o Brasil continua a acreditar que a promiscuidade entre governantes e empresários engorda e faz crescer. Justamente por isso, o Brasil é o único país onde a leniência à corrupção é monitorada de forma permanente pela OCDE, através de uma comissão especial, que acaba de lançar mais um de seus temidos relatórios.

PIADA DO ANO – Aliás, foi por essas circunstâncias que consideramos Piada do Ano a declaração do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no início do governo, quando foi logo anunciando que estava tudo certo para o Brasil ingressar na OCDE,

Haddad vem sempre usando o nome da organização internacional para justificar seus atos de ministro. Chegou a atribuir à OCDE a recomendação para criar o voto de minerva (ou voto de qualidade) no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, o CARF)

Era “menas verdade”, como antigamente dizia Lula da Silva. A carta que recebeu em março da diretora da OCDE para políticas tributárias, Grace Perez-Navarro, era uma resposta a uma indagação do próprio Haddad sobre o CARF, e não uma recomendação do órgão.

RELATÓRIO NEGATIVO – Nesse final de ano, o mais recente relatório da OCDE é altamente negativo, porque aponta diretamente o retrocesso no combate à corrupção, citando a prescrição das penas antes que os processos transitem em julgado, e criticando também a Lei do Abuso de Autoridade, feita sob medida para intimidar juízes e procuradores que se atreverem a enfrentar os corruptos.

O mais importante, porém, foi o elogio ao ex-juiz Sérgio Moro, hoje ameaçado de cassação por ter mantido relações informais com outros países, sem autorização oficial. O relatório da OCDE afirma que, pelo contrário, Moro agiu acertadamente, porque essa colaboração informal é uma maneira efetiva de avançar nas investigações sem que a burocracia as atrase.

Segundo a OCDE, Moro usoué uma “boa prática crucial e internacionalmente aceita para navegar com sucesso nos requisitos formais de cooperação legal mútua”.

###
P.S.
– Moro f
oi um juiz que cumpriu seu dever, enfrentando alguns dos grupos econômicos e políticos mais importantes do país. Mas nada disso importa. A imprensa amestrada vai continuar exigindo a cassação dele, por ter enfrentado a corrupção endêmica. Esses jornalistas querem se vingar dele por ter colocado na cadeia o corrupto e corruptor Lula da Silva. E o mais incrível é a “justificativa” que apresentam. Alegam que a corrupção é um mal necessário para que haja desenvolvimento econômico. Sinceramente, minha ironia não chega a tanto. (C.N.)

Campos Neto elogia o Congresso por ter compromisso com reformas econômicas

roberto-campos-neto

Campos Neto sabe como agradar aos banqueiros e ao governo

Fábio Matos
Metrópoles

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira (23/10) que o Congresso Nacional tem compromisso com reformas econômicas e que deve continuar se comportando dessa forma para que o país avance.

Campos Neto participou de um evento promovido pela Bolsa de Valores do Brasil (B3) e o jornal O Estado de S. Paulo, na capital paulista.

REFORMA TRIBUTÁRIA – “Acho importante que o Congresso aprove as medidas de receita. Mas eu vejo o Congresso como bastante reformista. Fez bastante coisa. Inclusive, temos uma reforma tributária que está andando. Notícias de hoje indicam que ela provavelmente será aprovada ainda neste ano. O Marco Fiscal foi votado”, afirmou o presidente do BC.

Segundo Campos Neto, algumas das reformas aprovadas pelo Parlamento nos últimos anos, como a trabalhista (2017), a da Previdência (2019) e a tributária (aprovada pela Câmara dos Deputados em 2023), contribuíram para que o Produto Interno Bruto (PIB) potencial do país aumentasse.

“Quando falamos que o crescimento brasileiro está estruturalmente mais alto, é porque tivemos todas as micro e as macro reformas. Tudo isso, coletivamente, faz com que você tenha uma capacidade de crescer mais”, concluiu Campos Neto.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Depois do primeiro e único encontro que teve com Lula, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, parou de receber críticas de Lula e do PT, conforme José Carlos Werneck já assinalou aqui na Tribuna. “Quem terá mudado?”, perguntaria Machado de Assis. “Lula, o PT ou Campos Neto?”. Eis a questão. (C.N.)

Uma pausa para relembrar “Os Maias”, a obra maior do escritor Eça de Queirós

Frases Eça De Queiroz - ENSINOJosé Carlos Werneck

Eça de Queiroz, que depois passou a assinar Eça de Queirós, é sem dúvida alguma, um dos maiores nomes da literatura luso-brasileira. O escritor português, filho do brasileiro José Maria de Almeida Teixeira de Queirós e da portuguesa Carolina Augusta Pereira d’Eça, é autor de muitos romances, porém, “Os Maias” é considerada sua obra maior.

A narrativa de Os Maias passa-se em Lisboa, na segunda metade do século XIX, e conta a história de três gerações da família.

NO RAMALHETE – Começa no Outono de 1875, quando Afonso da Maia, nobre e rico proprietário, se instala no Ramalhete com seu neto recém-formado em Medicina. Neste momento faz-se uma longa descrição da casa , “O Ramalhete”, cujo nome deriva de um painel de azulejos com um ramo de girassóis.

Afonso da Maia é o personagem mais simpático do livro e aquele que Eça mais valorizou, pois não se lhe colocou defeitos. Descrito como um homem de caráter, culto e requintado. Quando jovem, aderiu aos ideais do Liberalismo e foi obrigado, por seu pai, a sair de casa e a instalar-se em Inglaterra. Após a morte do pai, regressa a Lisboa para se casar com Maria Eduarda Runa, mas pouco tempo depois escolhe o exílio por força de motivos políticos.

Do casamento nasceu apenas um filho, Pedro da Maia, que tinha um temperamento nervoso, fraco e grande instabilidade emocional.

CRISES DE MELANCOLIA – Afonso queria educá-lo à inglesa, mas Maria Eduarda, católica fervorosa, cujo fanatismo mais se exacerba ao viver na Inglaterra, país protestante, não permite e Pedro é educado por um padre mandado vir de Lisboa.

Pedro cresce, muito ligado à mãe e após a morte dela, ficou inconsolável, tendo crises de melancolia, só se recuperando quando conhece a bela Maria, Monforte. Apaixona-se e, apesar da oposição do pai, devido a rivalidade entre as famílias Maia e Monforte, casa-se, o que o afasta do convívio paterno

O casal parte para Itália e com dois filhos: Maria Eduarda e Carlos Eduardo, vivem em meio a muito luxo e requinte. Logo depois do nascimento do segundo filho, Maria Monforte apaixona-se por um príncipe italiano que estava abrigado na casa, após Pedro ferí-lo acidentalmente num acidente de caça, e um dia, Pedro chega em casa e descobre que a mulher fugiu com o italiano, levando a filha. Desesperado, refugia-se em casa do pai, levando o filho, ainda bebê. Nessa mesma noite, depois de escrever ao pai uma longa carta, se suicida com um tiro.

DEDICADO AO NETO – Afonso da Maia então dedica a sua vida ao neto a quem dá a educação inglesa, forte e austera, como a que sonhara para o filho. Num capítulo do livro, essa educação, considerada a ideal, é contraposta à que umas vizinhas, as senhoras Silveira dão ao filho e sobrinho Eusébio.

Passados alguns anos, Carlos contra a vontade de todos, exceto de seu avô, tornou-se médico (profissão que, ainda nos finais do século XIX, era considerada suja e indigna de um homem de bem), monta um luxuoso consultório e manda construir um laboratório, onde pretende dedicar-se à pesquisa.

Após várias aventuras, um dia conhece uma mulher chamada Maria Eduarda e apaixona-se por ela, mas supõe que fosse casada com um cavalheiro brasileiro, Castro Gomes.

AMANTES – Carlos e Maria tornam-se amantes. Carlos, com exceção da sua viagem no fim do curso, viveu sempre em Portugal, pensando que a sua irmã e a mãe morreram, e Maria Eduarda apenas se lembra de que teve uma irmãzinha, que morreu em Londres.

De volta a Lisboa e desagradado com os boatos de que a sua «mulher seria amante de Carlos, Castro Gomes revela a este que Maria não era sua esposa, mas apenas uma mulher a quem ele paga para viver com ele. É assim que Carlos descobre que Maria lhe mentiu sobre o seu passado.

Ela conta-lhe o que sabe sobre a sua vida e ele a perdoa. Resolvem fugir, mas vão adiando o projeto, pois Carlos receia magoar o avô, que já velho passa o tempo em conversas com os amigos, lendo, com o seu gato, o “Reverendo Bonifácio”, a seus pés, opinando sobre a necessidade de renovação do país.

PRINCÍPIOS MORAIS – Afonso é generoso para com os amigos e os necessitados, ama a natureza. Tem altos e firmes princípios morais, quer ajudar quem é pobre.

A verdade surge, quando um tio de um amigo de Carlos, Guimarães, por acaso revela a Ega, o grande amigo de Carlos, que Maria é irmã deste. Embora Ega seja cauteloso ao dar a notícia a Carlos, este leva um grande choque, mas não consegue imaginar Maria como irmã e continua a ser seu amante. Ao descobrir a verdade, Afonso morre de um AVC. Carlos e Maria separam-se e ele vai dar uma volta ao mundo.

O romance termina quando Carlos, depois de 10 anos, retorna, de visita, a Lisboa. O final é ambíguo, como foi a ação de Carlos e João da Ega ao longo da história, pois embora ambos afirmem que “não vale a pena correr para nada” e que tudo na vida é ilusão e sofrimento, acabam por correr desesperadamente para apanhar um transporte público que os leve a um jantar para o qual estão atrasados.

PF apura se o general Etchegoyen atuou na compra do equipamento-espião da Abin

Sérgio Etchegoyen – Wikipédia, a enciclopédia livre

Etchegoyen era ministro do GSI na época da aquisição

Guilherme Amado e Thalys Alcântara
Metrópoles

A Polícia Federal quer saber se o general Sérgio Etchegoyen, que foi ministro do Gabinete de Segurança Institucional de Michel Temer, sabia da compra pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) do equipamento para monitoramento de alvos por meio de geolocalização.

A ferramenta foi comprada no fim do governo Temer, e usada de maneira ilegal, segundo a PF, no governo Bolsonaro. A PF quer saber se Etchegoyen sabia do uso que seria feito, e se o equipamento começou a ser utilizado no governo Temer.

PAI DO OFICIAL – Edson Izycki, pai do oficial Eduardo Arthur Izycki, da Abin, que foi preso e demitido, é dono de uma empresa que tentou contrato com o Exército Brasileiro. Eduardo Arthur foi investigado internamente por causa dessa empresa no nome do pai e teria chantageado colegas para não ser demitido.

O oficial da Abin foi preso nesta sexta-feira (20/10) pela Polícia Federal (PF), em uma operação sobre um esquema de espionagem ilegal. A empresa Icciber Segurança Cibernética, do pai de Eduardo, tentou contrato com o Exército em 2018, para prestar um serviço na área de soluções de exploração cibernética e web intelligence, justamente áreas de atuação de Eduardo dentro da Abin.

PROCESSO ADMINISTRATIVO – Por causa dessa situação, Eduardo passou a responder a um processo administrativo dentro da Abin.

Ele estava prestes a ser demitido e teria tentado reverter essa situação ameaçando colegas de vazar a existência de um esquema de espionagem ilegal dos celulares de autoridades, segundo a PF.

A Polícia Federal deflagrou a Operação Última Milha para investigar o uso indevido de sistema de geolocalização de celulares sem autorização da Justiça por servidores da Abin.

Guerra urbana, com 24 ônibus incendiados após morte do herdeiro de miliciano no Rio

Ônibus são incendiados após morte de miliciano no Rio de Janeiro. — Foto: GloboNews/Reprodução

Terror in Rio, em plena luz do dia, nos guetos da milícia carioca

Leslie Leitão, Henrique Coelho, Raoni Alves
TV Globo e g1 Rio

A morte de um chefe da milícia provocou um caos na Zona Oeste do Rio na tarde desta segunda-feira (23). Ao menos 24 ônibus foram queimados a mando de criminosos na região. Outros veículos e pneus também foram incendiados, fechando diversas vias.

Segundo as primeiras informações, os ataques são em represália à morte do sobrinho do miliciano Zinho, na comunidade Três Pontes.

NÚMERO 2 – Matheus da Silva Rezende, conhecido como Teteu e Faustão, era apontado como o número 2 na hierarquia da milícia comandada pelo tio, e foi morto durante uma troca de tiros com a Polícia Civil.

Segundo a MobiRio, empresa pública que opera o sistema BRT, no corredor Transoeste estavam circulando, por volta das 16h, apenas as linhas 13 (Alvorada x Mato Alto – Expressso), 25 (Alvorada x Mato Alto – Parador) e 22 (Jd. Oceânico x Alvorada – Parador).

O Centro de Operações Rio (COR-Rio) informou que o primeiro ônibus que pegou fogo estava na Rua Felipe Cardoso, na altura do BRT Cajueiros, em Santa Cruz.

FAMÍLIA DO CRIME – Faustão morreu após ser baleado em uma troca de tiros com agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE) e da Polinter.

O miliciano é o terceiro da família a morrer em confrontos com a Polícia Civil do Rio. Em 2017, outro tio dele, Carlos Alexandre da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes, morreu em operação da Delegacia de Homicídios da Capital.

Em 2021, mais um tio, Wellington da Silva Braga, o Ecko, morreu depois de reagir à prisão em uma casa em Paciência, na Zona Oeste do Rio. Depois disso, seu irmão, Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, assumiu a maior milícia do Rio.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Nada de novo no front ocidental.    A milícia surge e ganha espaço quando o Estado se omite e não se faz presente. Acontece no Brasil e em outros países subdesenvolvidos. No Rio e nas demais grandes cidades, existem bairro ricos, de classe média, de classe média baixa e os guetos, com as favelas e comunidades dominadas pelas milícias e pelo narcotráfico. Enquanto houver riqueza total em meio à miséria absoluta, nada mudará. (C.N.)

Um réu (que pode ser inocentado) saiu para comprar chinelo e foi preso no 08/01

Médico e nutricionista do DF estão entre 100 primeiros denunciados por atos  de 8/1 | Metrópoles

Felipe deu sorte, porque guardou o recibo do Uber

Francisco Leali
Estadão

O nutricionista Felipe Feres Nassau pode se tornar um dos primeiros réus do 8 de janeiro a pegar uma pena menor do que o Supremo Tribunal Federal (STF) tem imposto aos extremistas e ainda ficar liberado. Da caneta do ministro Alexandre de Moraes já saíram penas e 12 a 17 anos de prisão. Felipe pode pegar três anos, mas já ter direito a ficar em liberdade.

O processo dele dá uma amostra de que Moraes pode aliviar o peso da pena até por motivos prosaicos, como é o caso do nutricionista que tem quase 70 mil seguidores no Instagram e, antes de ser preso, dava receitas na rede social de como manter dieta e saúde em dia.

COMPRAR CHINELO – Com 37 anos, Felipe mora no Lago Norte, bairro nobre da capital federal. No fatídico 8 de janeiro, diz que resolveu sair de casa para comprar um chinelo. Dali a três dias, tinha viagem marcada para o Rio de Janeiro e o item faltava para sua ida à praia.

Quando chegou no Conjunto Nacional, viu uma multidão passando pelo Eixo Monumental em direção ao Congresso. Alega que disseram a ele que era um ato “por Deus e pela família” e foi se juntar a eles. No depoimento prestado ao Supremo, Felipe admite que foi parar dentro do Palácio do Planalto, invadido e depredado. Mas jura que ele mesmo não quebrou nada. Só entrou lá para se refugiar das bombas que explodiam na Praça dos Três Poderes.

O relato do nutricionista não difere muito dos já ouvidos pelo STF até o momento. A maioria alega não ter quebrado nada e só entrou nos prédios porque a porta ou estava aberta ou já tinha sido arrombada por outros. Ainda assim, as penas já firmadas superam os dez anos de prisão.

RECIBO DO UBER – O caso de Felipe, no entanto, fez o ministro Alexandre de Moraes rever o tamanho da punição. Moraes absolve o nutricionista dos crimes mais graves, como tentar dar golpe de Estado mediante ato violento. Sobrou a depredação do patrimônio público e preservado pelo Patrimônio Histórico.

Um item inusitado, anexado pela defesa ao processo, parece ter convencido Moraes de que o nutricionista poderia ser um golpista acidental. Os advogados incluíram a cópia de um recebido de Uber. Nele aparece o trajeto e o horário percorrido por Felipe no 8 de janeiro.

Ele pegou um carro às 14h56 em sua casa e o motorista o deixou no shopping Conjunto Nacional às 15h07. A essa altura a multidão estava mesmo a caminho do Congresso.

FALTARAM PROVAS – Para Moraes, o fato de não estar entre os acampados no QG do Exército seria indicação de que não dá para ter certeza que o nutricionista nutria o desejo de golpe e agiu para isso. Faltaram provas, sustentou o ministro. E propôs pena de 3 anos apenas pelos crimes de depredação ao patrimônio, podendo já começar a cumprir a sentença em regime aberto.

Ou seja, não volta para a cadeia. Em agosto, ele já tinha recebido uma ordem de liberdade provisória com direito a usar tornozeleira eletrônica.

O voto de Moraes está disponível para leitura no plenário virtual do STF. Outros ministros ainda vão votar e selar o destino de Felipe.

O ERRO MATERIAL – Além do caso de Felipe, um outro processo segue na mesma toada. O réu se chama Orlando Ribeiro Junior. Tem 57 anos, mora em Londrina.

Como o nutricionista brasiliense, Orlando também foi detido dentro do Planalto no 8 de janeiro.

No voto que inseriu no plenário virtual para os demais colegas apreciarem, Moraes tinha usado o mesmo argumento para impor a pena de 3 anos. Chegou a citar que o paranaense pegou um Uber para ir ao local da manifestação, apesar de isso não estar no processo de Orlando.

STF ADMITE ERRO – Procurado pelo Estadão, o STF admitiu o erro no voto. Mas alegou ser apenas de ordem “material”.

 Na quinta-feira, 19, o texto assinado pelo ministro Alexandre de Moraes no plenário virtual foi modificado, mas só percebe quem leu a versão original.

O novo voto não tem mais a referência ao Uber. Mas foi mantido o entendimento de que em relação a Orlando também não havia prova da intenção golpista. Se os demais ministros confirmarem o que propõe o relator, Orlando, como Felipe, também começa a cumprir pena em liberdade.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
São execráveis e desumanas essas sentenças do Supremo. Pela primeira vez na História do Direito, vê-se uma Supremo Corte desconhecer “presunção de inocência” e condenar réus em série com base em “presunção de culpa”, algo inexistente no Direito Universal. É vergonhoso. (C.N.)

Com punição coletiva, Hamas e Israel trilham a mesma estrada da barbárie

Israel destrói distrito de Gaza e atinge igreja ortodoxa – Tribuna Norte  Leste

Israel destruiu um bairro inteiro e uma igreja ortodoxa

Demétrio Magnoli
Folha

Punição coletiva é o corolário lógico da noção de responsabilidade coletiva, que imputa a uma sociedade inteira a culpa por atos de um Estado ou governo. Os atentados de 7/10 que deflagraram o atual conflito e a represália militar na Faixa de Gaza inscrevem-se nessa lógica bárbara.

A operação do Hamas não teve nenhum objetivo militar. O massacre deliberado de 1.300 civis israelenses, inclusive crianças, numa orgia macabra de violência, desnuda a alma da organização terrorista. Do ponto de vista dela, inexiste diferença entre civis e militares, pois todos seriam “soldados da ocupação”.

FALSO EXEMPLO – Na guerra de independência da Argélia (1954-62), a Frente de Libertação Nacional promoveu ataques a civis, lembram vozes prontas a oferecer uma justificativa anticolonial para o terror do Hamas. O argumento, em si mesmo problemático, delineia um paralelo falso – e, por isso, revelador.

Os colonos de origem francesa na Argélia pertenciam a um empreendimento imperial. Os israelenses agora massacrados, por outro lado, não se perfilavam sob a bandeira de um poder estrangeiro: Israel nasceu da imigração de judeus perseguidos por pogroms e pela máquina genocida nazista. Só se pode legitimar a barbárie do 7/10 pela adoção do objetivo político do Hamas: a destruição do Estado judeu.

O antissemitismo vive – e, na hora da guerra, rasga a fantasia esperta de antissionismo. “Morte aos judeus”, gritaram manifestantes em Nova York, Paris, Londres e até Berlim.

PUNIÇÃO COLETIVA – O discurso “decolonial” de raiz identitária ajusta-se como luva ao conceito abominável de punição coletiva. Israel seria parte do sedimento “ocidental”, “europeu”, “branco”, depositado no mundo ao longo dos últimos séculos. Inexistiria, portanto, distinção entre o colono da Argélia e o civil israelense. Em nome da caricatura “decolonial”, o Estado judeu deveria desaparecer.

As leis internacionais conferem ao Estado de Israel o direito de autodefesa, o que inclui uma represália suficiente para desmantelar o aparato militar e governamental do Hamas. Contudo, o direito humanitário estabelece condicionalidades, expressas pelas leis de guerra. Israel não tem o direito de enveredar pela punição coletiva.

De fontes insuspeitas, emergem indícios de que a tragédia no hospital de Gaza decorreu de foguetes errantes da Jihad Islâmica, não de bombas israelenses (shorturl.at/aCDE0). Entretanto, a eventual prova de inocência não exime Israel da responsabilidade pela interrupção total de fornecimento de água, eletricidade e alimentos à Faixa de Gaza e por bombardeios indiscriminados que causam milhares de vítimas civis.

CRIMES DE GUERRA – Tais atos configuram crimes de guerra – como, aliás, apontam familiares de israelenses trucidados ou tomados como reféns no 7/10.

Uma linha invisível divide a sociedade israelense. “Não tenho necessidade de vingança, nada ressuscitará os mortos”, escreveu Ziv Stahl, diretora do grupo de direitos humanos Yesh Din, que escondeu-se num porão de seu kibutz durante os atentados. Ela alerta para a necessidade pragmática de uma “solução política”. Contudo, do outro lado da linha, a pulsão de vingança nutre-se da ideia exterminista de que a população civil palestina é parte do conflito.

Bem antes do 7/10, Bezalel Smotrich, um dos fanáticos que ocupam pasta ministerial no governo de Israel, dirigiu aos cidadãos árabes-israelenses as seguintes palavras: “Vocês estão aqui por engano, porque Ben-Gurion [primeiro chefe de governo israelense] não concluiu o serviço em 1948 e não os chutou para fora”. Assim, os extremistas abrigados sob o guarda-chuva de Netanyahu tentam aproveitar a oportunidade oferecida pelo Hamas para “concluir o serviço”.

Tanto o Hamas quanto Israel trilham a estrada da punição coletiva. Paralelo perfeito? Não: Ziv Stahl assina textos no Haaretz, enquanto oponentes palestinos do Hamas são torturados e executados em Gaza.

Projeto de Mourão tenta anistiar os falsos terroristas condenados pelo 8 de Janeiro

Senador Hamilton Mourão.

Vandalismo é uma coisa diferente de terrorismo, diz Mourão 

Deu em O Globo

O senador Hamilton Mourão (Republicanos -RS), ex-vice-presidente no governo de Jair Bolsonaro (PL), apresentou um projeto de lei que concede anistia a envolvidos nos ataques golpistas do 8 de janeiro. Segundo o texto protocolado no Senado, seriam absolvidos de seus crimes quem fosse condenado por golpe de Estado ou abolição violenta do Estado Democrático.

Na justificativa para a iniciativa, Mourão avalia como injustas as impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) aos envolvidos com os atos. Para o parlamentar, a maioria das pessoas estava na Praça dos Três Poderes “somente para protestar”.

SEM DOLO ESPECÍFICO – “A maioria não agiu em comunhão de desígnios e estava ali somente para protestar, sem a presença do dolo específico que esses crimes exigem. As condenações que o Supremo Tribunal Federal vem aplicando aos acusados são, data vênia, desproporcionais e, por isso mesmo, injustas”, diz parte do texto.

O senador ressalta ainda que a proposta não prevê uma anistia ampla aos condenados pela participação nos atos de vandalismo. As penalidades aplicadas por deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa, por exemplo, continuariam em vigor.

“Para que não haja dúvidas, não estamos propondo uma anistia ampla, mas apenas para esses crimes específicos, dada a impossibilidade de identificar objetivamente a intenção de cometê-los. Remanescem, todavia, as acusações e condenações pelos crimes de dano, deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa, pois são condutas que podem ser individualizadas a partir das imagens de vídeos que mostraram toda aquela manifestação”, justifica Mourão.

PLENÁRIO VIRTUAL – Os julgamentos dos acusados de participação nos ataques do 8 de Janeiro no Supremo Tribunal Federal (STF) completaram um mês no último sábado, com seis condenações e a perspectiva de que mais 14 réus venham a ter o mesmo destino em breve. Um dos objetivos do novo presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso, é de que ao menos quatro novos julgamentos ocorram até o fim do ano.

Após a análise dos casos no plenário físico do STF, que condenou os três primeiros réus a penas entre 14 e 17 anos de prisão, os demais julgamentos passaram a ocorrer na modalidade virtual, quando os ministros não debatem publicamente, apenas depositam os seus votos.

A diretriz para julgamentos no plenário virtual foi dada por Moraes, que fez os pedidos inicialmente à ministra aposentada e ex-presidente do STF Rosa Weber. A ideia é dar celeridade às análises, uma vez que mais de 1.300 pessoas foram denunciadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É um projeto importante e necessário. Considerar como perigoso terrorista quem estava na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro é um erro judiciário inaceitável e revoltante. Como diz o senador Mourão, é preciso condenar os manifestantes por vandalismo, mas desde que haja provas concretas, e isso não está sendo observado. É decepcionante ver o Supremo criar uma fábrica de falsos terroristas, condenando a 17 anos os manifestantes que faziam um protesto e nem participaram do vandalismo. Não se pode aceitar condenações por “presunção de culpa”, uma possibilidade que nem inexiste no Direito Universal. (C.N.)

OCDE e Financial Times criticam o Brasil pelo “retrocesso” no combate à corrupção 

Moro também cogita se candidatar ao Senado nas eleições de 2022

Relatório da OCDE faz elogio à atuação do ex-juiz Sérgio Moro

Merval Pereira
O Globo

A dúvida sobre o combate à corrupção no Brasil volta a dominar a análise internacional, especialmente depois que a OCDE (Organização para a Cooperação e desenvolvimento Econômico) divulgou um relatório em que chama a atenção para retrocessos que estariam ocorrendo com a desativação das forças-tarefas como a Operação Lava Jato e medidas tomadas pelo Congresso e pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Ao mesmo tempo, o jornal inglês Financial Times publicou ontem um longo artigo de seu correspondente no Brasil, Bryan Harris, afirmando que ações consecutivas do Supremo Tribunal Federal (STF) mostram que há “pouco apetite, ou nenhum” para investigações sobre corrupção envolvendo a classe política.

GILMAR E TOFFOLI – O jornal inglês cita a decisão do ministro Gilmar Mendes de arquivar uma investigação da Polícia Federal envolvendo aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira, e também a do ministro Dias Toffoli de anular as provas do acordo de leniência da Odebrecht na Operação Lava-Jato, que o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos considerou “o maior caso de corrupção internacional da história”.

O destaque para a constatação do relatório da OCDE de que o então juiz Sergio Moro e os procuradores de Curitiba tiveram uma atuação politicamente tendenciosa, segundo o Supremo Tribunal Federal (STF), não resume o documento, que se desdobra em análises e informações sobre o retrocesso que aconteceu no país depois que as punições da Lava Jato foram sendo anuladas.

PRESCRIÇÃO DE PENAS – O relatório critica a anulação de condenações pela prescrição das penas, ressaltando que ninguém foi condenado até o momento de forma definitiva, e que a legislação sobre prescrição precisa ser revista. Dos 60 casos de corrupção investigados, ressalta o relatório, apenas 28 tiveram conclusão. O relatório chama também a atenção para diversas decisões recentemente tomadas pelo Congresso e pelo STF que colocam em risco os investigadores, citando especificamente a Lei de Abuso de Poder.

Embora possa ser considerada um avanço, essa lei tem tido o efeito de atemorizar os investigadores, de acordo com diversas fontes ouvidas em Brasília e em São Paulo pelos funcionários da OCDE.

Sem dar nomes, ressaltam a preocupação de que as punições disciplinares sejam usadas como retaliação aos investigadores, numa referência às sanções dadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e Conselho Nacional do Ministério Público aos procuradores de Curitiba.

INTIMIDAÇÃO – Mencionam o receio de que a lei se transforme em instrumento de intimidação de juízes e investigadores que atuam contra a corrupção.

Mesmo reconhecendo os esforços brasileiros, os membros da OCDE que estiveram no Brasil demonstram preocupação com o fato de que o país não atingiu ainda um patamar sustentável de combate à corrupção equivalente a seu perfil econômico, e com o tamanho do papel que grandes empresas brasileiras tiveram em alguns dos maiores escândalos da última década.

Nesse ponto, é bom destacar que o relatório cita a decisão do ministro do Supremo Dias Toffoli de anular as provas no acordo de leniência da Odebrecht, e sugere que as consequências dessa decisão podem enfraquecer a segurança jurídica de outros acordos e dificultar a colaboração internacional no combate à corrupção.

ELOGIO A MORO – O relatório chama a atenção, aliás, para o fato de que o ex-juiz Moro foi acusado de manter relações informais com outros países, sem autorização oficial.

Os funcionários da OCDE ressaltam que essa colaboração informal é uma maneira efetiva de avançar nas investigações sem que a burocracia as atrase. Segundo o relatório, essa é uma “boa prática crucial e internacionalmente aceita para navegar com sucesso nos requisitos formais de cooperação legal mútua”.

O relatório da OCDE, comemorado pelo governo petista e seus satélites da esquerda como se fosse confirmação oficial da má conduta do então juiz Sérgio Moro, é muito mais que isso. É uma advertência ao cerceamento do combate à corrupção por parte do establishment político-jurídico nacional. Uma barreira a uma eventual entrada, que o Brasil deseja, na organização dos países com as melhores práticas de boa governança.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Essa foi boa, não é? Moro ganha elogio no relatório da OCDE, mas no Brasil a campanha para cassá-lo aumenta cada vez mais. Como dizia o célebre historiador Capistrano de Abreu, aqui no Brasil as autoridades precisam ter vergonha na cara. (C.N.)