Luiz Henrique Gomes
Estadão
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, declarou apoio ao Irã na defesa da “soberania, segurança e dignidade nacional” em meio à tensão do Oriente Médio com Israel. O posicionamento foi externado durante uma conversa diplomática do chanceler chinês com o equivalente iraniano interino, Ali Bagheri Kani, no domingo, 11, e publicado na imprensa oficial chinesa.
A princípio, a declaração chinesa apenas condena o assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã, sem fazer menções a Israel, e diz que apoia o Irã nos “esforços para manter a paz e a estabilidade regional”. “China apoia o Irã na defesa de sua soberania, segurança e dignidade nacional de acordo com a lei, e apoia o lado iraniano em seus esforços para manter a paz e a estabilidade regionais”, diz o texto.
ACUSAÇÕES A ISRAEL – Segundo o comunicado, Wang Yi e Bagheri Kani conversaram sobre a situação geopolítica na região, que piorou desde o assassinato de Haniyeh, atribuído a Israel, embora o país não tenha assumido a autoria de maneira aberta. Desde então, o Irã diz que a ação feriu a soberania nacional, acusa Israel de promover a violência na região e promete uma retaliação contra o país nos próximos dias.
As ameaças levaram os Estados Unidos, maior aliado de Israel, a deslocar um submarino e um porta-aviões para reforçar a defesa israelense e dissuadir o conflito. Um grupo de países do Ocidente também pressiona o Irã a não prosseguir com a retaliação, mas o país rejeitou o apelo em um comunicado oficial nesta terça, dia 13.
A declaração da China cita o Irã como um “parceiro estratégico” no Oriente Médio e diz que o assassinato de Haniyeh no território iraniano violou as normas das relações internacionais. “A China se opõe firmemente e condena fortemente o ato de assassinato (de Ismail Haniyeh) e o considera uma violação grave das normas básicas das relações internacionais, uma grave violação da soberania, segurança e dignidade do Irã e enfraquecimento direto do processo de negociação de cessar-fogo em Gaza, bem como um impacto na paz e estabilidade regionais”, diz o texto.
DIZ CHANCELARIA – O Ministério das Relações Exteriores do Irã também emitiu um comunicado sobre a conversa entre os dois chanceleres e afirmou que os dois também conversaram sobre o ataque israelense na Escola Al-Tabin, que matou mais de 90 palestinos na Faixa de Gaza no sábado. A China, no entanto, não fez menção oficial a esse episódio.
Na declaração, o Irã agradece o apoio chinês e o papel exercido por Pequim na crise Israel-Palestina, que considera imparcial. A China tem reiterado o pedido para a comunidade internacional para aumentar a pressão sobre as partes envolvidas para implementar resoluções do Conselho de Segurança da ONU e criar condições para um cessar-fogo permanente na Faixa de Gaza.
Ainda segundo o comunicado oficial iraniano, Bagheri Kani reiterou a Wang Yi a posição oficial do país de retaliar a ação de Israel. “A República Islâmica do Irã tem o direito inerente e legítimo de defender sua integridade territorial e soberania contra a agressão do regime sionista”, diz a declaração.
COM OUTROS PAÍSES – A conversa entre Bagheri Kani e Wang Yi fez parte de uma série de telefonemas diplomáticos do Irã após o assassinato de Haniyeh, que o país atribui a Israel. Bagheri Kani também conversou com os chanceleres da Itália, Holanda e Indonésia nos últimos dias e fez uma declaração para rejeitar o apelo de França, Reino Unido e Alemanha de não prosseguir com uma ação contra Israel.
De acordo com os comunicados oficiais do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Bagheri Kani reiterou a todos os chanceleres que o país teve a segurança e a soberania nacional violadas e por isso tem o direito de retaliar Israel.
Nesta terça-feira, a agência de notícias iraniana Mehr afirmou que o país está realizando exercícios militares no norte em preparação para a retaliação.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Sem meias palavras, a retaliação significará uma guerra contra Israel, cujo governo age como aquele garoto folgado, que bate nos meninos mais fracos, porém pede socorro ao irmão mais velho quando tem de enfrentar um adversário mais forte. No domingo, os americanos já comunicaram que vão lutar ao lado dos israelenses. E agora a China diz que está ao lado dos países liderados pelo Irã, por se tratar de parceiro estratégico, vejam bem a gravidade da situação. Ainda bem que estamos longe do teatro das operações. (C.N.)