Lula, Meirelles e Lara Rezende deviam ter vergonha de criticar os “altos juros” atuais

Jeferson Miola: Juros altos do BC custarão ao Tesouro R$ 203 bilhões a mais que o recorde alcançado em 2022 - Viomundo

Ilustração de Jota Camelo (Facebook)

Carlos Newton

Mudar o foco da discussão é uma arma que debatedores sempre usam, quando os fatos lhes são desfavoráveis. No caso da celeuma criada por Lula da Silva em relação à autonomia do Banco Central, ninguém deve ousar fazer a defesa da política adotada pelo Conselho de Política Monetária, que tem oito integrantes e manteve os juros de 13,75% na última reunião.

Quem tenta ver competência numa política monetária que possibilitou o Brasil crescer mais que a China em 2023, com inflação inferior aos Estados Unidos e à Alemanha, logo passa a ser destratado como “defensor” dos juros altos.

MÁS COMPARAÇÕES – O mais inquietante é que os adoradores de Lula levantam os mais patéticos argumentos, como classificar de “bolsonarista” o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao invés de discutir apenas o que interessa — a política monetária.

Outro argumento ardiloso é alegar que o Brasil está praticando os mais elevados juros reais do mundo, como se isso fosse alguma novidade e não tivesse ocorrido nos governos de FHC, Lula, Dilma, Temer, Bolsonaro etc.

Então, que tal debater por que os juros reais brasileiros são os maiores do mundo? Conheço uma tese muito interessante, que poderia enriquecer a discussão. Mas quem se importa?

SEM OPÇÃO – O mais importante para os petistas é enaltecer Lula e esculhambar Campos Neto. Não cabe outra opção. Até o veterano André Lara Rezende entre na nova onda, como se a gente tivesse esquecido o que ele fez no verão passado.

Aqui na Tribuna da Internet, conversa fiada não nos engana. O sempre atento comentarista Victor Feres chamou atenção para os juros reais quando Lara Rezende presidia no BC em 1995. A Selic estava em 38,71%, com inflação de 22,41%. Ou seja, os juros reais de Lara Rezende eram se 16,3%, praticamente o dobro dos juros reais hoje praticados por Campos Neto, de 7,88%.

E o próprio Lula nem poderia piar sobre o assunto, pois o passado lhe condena. Quando assumiu o governo em janeiro de 2003, a Selic estava em 25%; em fevereiro, o BC de Henrique Meirelles subiu a taxa para 26,5%, com inflação de 14,47%. Logo, juros reais de 12,03%, e Lula concordou prazerosamente…

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P.S. 1 – Bem, Lula deveria parar de faniquitos e chiliques, para acalmar seus seguidores. E que tal começarmos a discutir por que o Brasil pratica os juros reais do mundo? É um assunto tabu, mas eu adoraria discutir. Querem saber minha tese? Depois eu conto, como dizia nosso amigo Maneco Müller, o genial cronista Jacinto de Thormes.

P.S. 2 – Esses destemperos de Lula e seus adoradores estão dando uma tremenda visibilidade a Roberto Campos Neto, que pode e deve entrar na política em 2026.

P.S. 3 – Por fim, conheci muito o avô dele, quando era senador por Mato Grosso. Roberto Campos era um personagem interessantíssimo. Vivia sendo acusado de americanófilo e entreguista, mas trabalhei junto com ele num projeto altamente nacionalista, que foi vitorioso no Congresso e criou a reserva de mercado para informática nacional. Mas isso já é outro departamento. (C.N.)

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