Carlos Newton
Escolhido pelo presidente Lula para ocupar uma vaga no Supremo em 2006, por seu notório saber jurídico e reputação ilibada, como disposto na Constituição Federal, Enrique Ricardo Lewandowski, carioca do Rio de Janeiro e que fez carreira em São Paulo, aposenta-se em maio por completar 75 anos.
Deixará saudades e fará muita falta, por ser considerado pelos advogados petistas do Grupo Prerrogativas como um “juiz garantista”, que ao lado dos ministros Gilmar Mendes e Toffoli, transformou a Segunda Turma do STF numa verdadeira trincheira em defesa dos interesses de Lula e do PT, surpreendendo algumas vezes com decisões contraditórias e outras inovadoras e amparadas por sólida jurisprudência. Aos inconformados, cabem os recursos e o “jus sperneandi”.
VELHOS AMIGOS – É fato notório que entre Lewandowski e o presidente Lula há uma amizade sólida e desinteressada e não é verdade que o ministro deva o seu sucesso profissional à intervenção do então sindicalista Lula e muito menos ao PT.
Formado em faculdades particulares, Lewandowski, ocupou o cargo de secretário de governo e de assuntos jurídicos na Prefeitura de São Bernardo do Campo entre 1984 e 1988, na gestão de Aron Galante (PMDB).
Em 1988 e até 90, foi diretor-presidente da Emplasa, Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano, nomeado pelo então governador Orestes Quércia, também do PMDB, o qual, em seguida, o escolheu para ocupar uma vaga no Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, em 1990, por meio do quinto constitucional da classe dos advogados. Tinha apenas 43 anos.
GRAÇAS AO PMDB – Em 1997, foi promovido a desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, ficando assim bem claro que sua trajetória profissional bem sucedida foi alavancada graças ao MDB e não ao PT.
Nesse contexto, Lula presidente viu em Lewandowski, membro de uma família próxima à primeira-dama Marisa Letícia, um advogado e jurista à altura para ocupar a vaga de ministro do STF deixada com a aposentadoria do mais do que conceituado jurista e professor Eros Grau.
De todos os petistas, juristas e puxa-sacos que não deixam Lula em paz, em busca de cargos e compensações, o único que mereceria louvores e recompensas, sem dúvida, é Lewandowski. Em todos os julgamentos, seja do mensalão, petrolão, impeachment de Dilma, prisão e libertação de Lula, em síntese, em todas as suas manifestações e votos, Lewandowski foi coerente, enfrentando vaias, humilhações e achincalhes por não enxergar Lula como um transgressor de leis e de deveres constitucionais, o que foi realçado pelo editor-apresentador do Jornal Nacional, William Bonner: “O senhor nada mais deve à Justiça”.
NOVA REALIDADE – E quem disse que Lula devia à Justiça? Ora, o próprio Jornal Nacional e a Organização Globo, por centenas de horas entre 2015 e 2021, sem ter que por tudo isso estar respondendo a qualquer processo indenizatório.
A propósito da trajetória de Enrique Ricardo Lewandowski, que está cotado para ganhar um ministério no governo Lula, é preciso lembrar o ensinamento do genial pensador ucraniano/polonês Stanislaw Jerzy Lec (1909/1966), conterrâneo do pai do festejado ministro Ricardo Lewandowski: “Todos somos iguais perante lei, mas não perante os encarregados de fazê-la cumprir”.
Por fim, no currículo do ministro Ricardo Lewandowski, estranhamente, não há nenhuma linha informando que, ao mesmo tempo que exercia o importante cargo bem remunerado de presidente da Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano, também desempenhou a função de principal assessor do grupo Pró-Constituinte da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, encarregado de elaborar o anteprojeto da Constituição Estadual.
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P.S. 1 – Como as Constituições de 67 e 88 proíbem a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto quando houver compatibilidade de horários e nas hipóteses expressamente previstas no próprio texto, a Assembleia paulista deveria informar os horários em que essas reuniões sucessivas foram realizadas e o valor das remunerações disponibilizadas ao então assessor jurídico Lewandowski.
P.S. 2 – Em havendo concomitância de horários e dupla remuneração, qualquer valor recebido pelo ínclito ministro Lewandowski deverá ser devolvido ao erário estadual, com juros e correção monetária. Certamente foi para evitar esse ressarcimento que o honrado, competente e admirado ministro Lewandowski se esqueceu de incluir no seu currículo o exercício de tão elevada assessoria jurídica. (C.N.)