Planos de saúde amargam crise agravada pelas “boas intenções” dos parlamentares

SOU+SUS: A saúde brasileira em charges - Planos de Saúde

Charge do Bier (Arquivo Google)

Hélio Schwartsman
Folha

Durante a pandemia, os planos de saúde se deram bem. Os gastos que tiveram com a Covid foram amplamente compensados pela forte redução da demanda por outros serviços. Pacientes atrasaram cirurgias eletivas e deixaram de procurar o médico, o que levou a uma diminuição momentânea nos novos diagnósticos de cânceres e outras doenças de alto custo.

É claro que não duraria para sempre. E não durou. A pandemia passou, a demanda reprimida explodiu, e a situação dos planos hoje é de crise. A maioria deles amarga prejuízo operacional, e vários já atrasam pagamentos a prestadores e reembolsos a clientes.

DUAS QUEIXAS – Planos obviamente não são santos. Há uma lista telefônica de táticas abusivas que eles usam sem pudor contra segurados. Mas há duas queixas dos administradores que procedem.

A primeira são as fraudes. Elas sempre existiram, mas, de uns anos para cá, foram profissionalizadas. Hoje há grupos especializados em extrair mais reembolsos, nem sempre devidos. A segunda é a generosidade de legisladores e reguladores, que estão sempre ampliando as coberturas e retirando restrições.

O Congresso derrubou o rol taxativo que fora reconhecido pela Justiça. Retiraram-se os limites para consultas com fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos etc.

PAGAR O PREÇO – Não há nada errado em ampliar coberturas, desde que se aceite pagar o preço por isso. Mas nem todos podem. As mensalidades sobem bem mais do que a inflação, e é crescente o número de jovens que, confiando na própria juventude, opta por não contratar um plano. Não é uma decisão irracional, já que podem contar com o SUS.

O problema é que isso cria uma seleção adversa. As pessoas com mais problemas de saúde fazem de tudo para manter seu plano, enquanto as mais saudáveis arriscam a sorte.

Isso faz com que a sinistralidade aumente, o que torna os planos ainda mais caros, num complicado círculo vicioso.

Mantidas essas premissas, não há como dar certo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Excelente análise de Hélio Schwartsman. Na prática, o direito constitucional à vida se divide entre os que têm plano de saúde e os que dependem do SUS, no qual um exame de sangue ou um simples raios-X pode demorar três meses nos postos de saúde, acredite se quiser. Apenas na emergência o atendimento anda mais rápido, porém a fila é grande, dá no mesmo. Acredito que um país somente seja democrático quando o serviço de assistência médica for igual para todos. Na educação, a mesma coisa. Quando não há oportunidades iguais para as crianças, a democracia não existe na prática. É só conversa fiada. (C.N.)

16 thoughts on “Planos de saúde amargam crise agravada pelas “boas intenções” dos parlamentares

  1. no qual um exame de sangue ou um simples raios-X pode demorar três meses nos postos de saúde

    Sr. Newton

    Três meses.?

    O Senhor está sendo bem otimista..

  2. Se nem a representação no congresso é justa pois a maioria de negros e mulheres não se encontra representada ali de forma proporcional esperar o que do “resto” não é mesmo?

  3. Estou chegando a triste conclusão que o Brasil não tem jeito. Falta vontade para mudar pois a mudança depende de todos mudarmos e muita gente não aceita mudar e também não aceita mudança alguma pois se beneficiam de alguma forma disso tudo que aí está .

  4. Podemos até ser um país mas nunca fomos uma nação. Já se perguntaram o que nos une? Num país continental como esse parece só haver diferenças . Fora a língua, o que nos une? Nem a seleção brasileira de futebol nos une mais minha gente.

  5. No país da farinha pouca meu pirão primeiro é cada um cuidando de si e dane-se o coletivo. Lei do cão ! Diferenças abissais dentre as várias regiões desse imenso país. Diferenças culturais e até morais. Nem as forças armadas estão prestando mais. Estão vendendo armas para criminosos. Traidores da pátria !

    • Inclusive os militares tem muita culpa por estarmos nessa situação. Ficaram 20 anos no poder e não educaram nosso povo nem fizeram as reformas estruturais que os políticos nunca farão. Poderiam ter feito na marra e entregado o país nos trilhos para seguir em frente em um regime verdadeiramente democrático. Agora não há e não haverá consenso nunca mais pois o congresso não passa de um aglomerado distorcido de representantes de si e de poucos grandes interesses escusos.

  6. Outra coisa que precisa mudar é a receita que contenha tratamento dependendo de duas ou mais caixas de “remédios” quando o paciente só tem dinheiro para comprar uma, fato esse que inviabilizará a receita, anulando-a. É necessário um projeto de lei concedendo ao cliente a permanência da validade da receita por determinado prazo, para que recuperado financeiramente compre posteriormente e para isso, ou esse registro será feito na própria receita que permanecerá válida ou no sistema da rede farmacêutica como espécie de Vale, à ser resgatado em qualquer tempo!
    PS. Tal medida evitará nova consulta e novo pagamento, se particular como também novo agendamento e cansativo deslocamento!
    Segue como sugestão à Anvisa, Ministério da Saúde, bem como aos nossos financeiramente despreocupados e atuantes parlamentares!
    Aguardamos, para ontem!

  7. O governo não sabe administrar nada e além de incompetência há MUITA corrupção. Mais fácil seria acabar com hospitais e escolas públicas distribuindo vauchers para à população ir a hospitais e escolas particulares que quisessem. Sairia mais barato porém alguns bilhões desviados por poucos não deixa isso acontecer . Remédios vencendo nos estoques , médicos que não aparecem , equipamentos de imagem estragando nas caixas impedem qualquer solução.

  8. O país desandou. Tudo é corrupção e pequenos grandes interesses. A luz do dia. Nada acontece. Emendas PIX sem fiscalização. Anulação de provas. Sessões remotas para apreciar PECs sem discussão nas comissões. Bandidos nos principais cargos de poder e juízes sendo perseguidos assim como procuradores. Está ruindo tudo por aqui.

  9. Crise? Meu plano da Amil que possui mais de 20 anos de contrato é reajustado anualmente sempre na faixa de 5% acima da inflação do período anterior…

  10. Os planos de saúde, virou o comércio da saúde mais lucrativo.
    Todos os empresários do ramo, estão riquíssimos.
    Se contar, em média, quantas vezes uma pessoa teve necessidade de recorrer um plano de saúde para uma consulta, uma pequena cirurgia ou exames, durante alguns anos e quanto pagaria por cada consulta num médico particular verificará que pagou caríssimo pelas consultas no plano de saúde .
    Há maneira do governo concorrer com os planos de saúde, com boas clínicas de preços razoáveis por cada consulta, exame e cirurgia, sem fim lucrativo, e apenas manter fundo de reserva. Isso ajudaria a quem não tem plano de saúde e aliviaria o SUS.

  11. É impossível criar um sistema de saúde e educação igual para todos, isso é um daqueles delírios que causam mais destruição do que qualquer melhora.

    Aliás as insanidades citadas no texto vem justamente dessa ideia idiota de criar um sistema de saúde “igual para todos”.

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