O que já se sabe sobre a delação de Cid e como ela incriminaria Jair Bolsonaro

Charge do Thiago Aguiar Rodrigues

Gabriel de Sousa
Estadão

A delação premiada do ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, pode tornar a situação jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro, seu ex-chefe, ainda mais conturbada. Já foi revelado que Cid deu informações importantes para a Polícia Federal nos casos em que Bolsonaro é uma figura central nas investigações: a venda ilegal das joias sauditas, a fraude nos cartões de vacina no sistema do Ministério da Saúde e a tentativa de golpe de Estado após a divulgação dos resultados das eleições do ano passado.

Como ajudante de ordens, Mauro Cid teve acesso livre ao Palácio do Planalto, estando ao lado do Bolsonaro em entrevistas, lives, reuniões e até mesmo em salas de cirurgias, sendo o braço direito e secretário particular de Bolsonaro nos quatro anos do governo passado. As suas memórias e os acessos que teve tornam sua delação um problema para o ex-chefe do Executivo.

FALA VACINAÇÃO – Mauro Cid foi preso no dia 3 de maio, em uma operação da PF que investiga a inserção de dados falsos de vacinação da covid-19. Após ter o seu pedido de delação premiada homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, Cid foi liberado de um quartel onde estava detido no dia 9 de setembro.

Segundo informações do portal UOL, Cid admitiu a sua participação no esquema de fraudes dos cartões de vacina de covid-19 no sistema do Ministério da Saúde e implicou Bolsonaro como o mandante. O portal diz que o ex-chefe do Executivo pediu que os cartões dele e da sua filha, Laura, de 13 anos, fossem manipulados.

Segundo o tenente-coronel, os documentos fraudados foram impressos e entregues ao ex-presidente para que ele usasse quando “achasse conveniente”.

VIAGEM AOS EUA – Os dados falsos de Bolsonaro e de Laura teriam sido inseridos no sistema do Ministério da Saúde por servidores da Prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no dia 21 de dezembro de 2022, nove dias antes do ex-chefe do Executivo viajar para os Estados Unidos às vésperas da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Naquela época, as leis americanas exigiam que os viajantes comprovassem a imunização contra a covid-19.

A declaração de Cid confirmou hipóteses já trabalhadas pela PF. Segundo os investigadores, Bolsonaro e os seus aliados tinham “plena ciência” das falsificações. O objetivo seria obter “vantagem indevida” em situações que necessitassem comprovação de vacina contra a covid no Brasil e nos Estados Unidos.

Em um depoimento para a PF no dia 16 de maio, Bolsonaro negou que ele e a filha teriam sido vacinados contra a covid-19. O ex-presidente também afirmou que não determinou e não tinha conhecimento das fraudes, o que agora é confrontado pela delação premiada do ex-ajudante de ordens.

VENDA DE JOIAS – Cinco dias depois de sair da prisão, foi revelado que Cid disse aos investigadores que entregou nas mãos do ex-presidente uma parte do dinheiro proveniente do esquema ilegal de venda de joias no exterior. O tenente-coronel admitiu à PF que participou ativamente da venda de dois relógios, um da marca Rolex e outro da Patek Phillipe.

O dinheiro da comercialização ilegal teria sido depositado na conta do seu pai, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid. Bolsonaro, então, teria recebido em mãos US$ 68 mil de forma parcelada, com um repasse nos Estados Unidos e outro no Brasil.

Essas joias foram recebidas por Bolsonaro por conta do seu cargo de presidente da República e, por isso, deveriam ser incorporados ao acervo da União. Porém, as peças foram omitidas dos órgãos públicos, incorporadas ao estoque pessoal do ex-chefe do Executivo e negociadas para fins de enriquecimento ilícito, segundo as investigações. Cid disse que achava que a venda poderia ser imoral, mas não acreditava em uma ilegalidade das vendas.

FURO DO ESTADÃO – As tentativas de vender as joias só foram paralisadas após o Estadão revelar, em março, que auxiliares de Bolsonaro tentaram entrar ilegalmente no Brasil com um kit composto por colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes entregues pelo governo saudita para o então presidente e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Na delação, Cid também teria dito que a ideia de vender as joias de forma ilegal surgiu como uma forma de “bancar as despesas” processuais de Bolsonaro. “O presidente estava preocupado com a vida financeira. Ele já havia sido condenado a pagar várias multas”, disse o tenente-coronel à PF.

GOLPE DE ESTADO – Outra informação cedida por Cid à PF durante a delação premiada foi a de que Bolsonaro teria se reunido com a cúpula das Forças Armadas, após o segundo turno das eleições presidenciais, para discutir a possibilidade de uma intervenção militar para reverter o resultado que elegeu Lula para a Presidência.

Segundo o tenente-coronel, apenas o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, aderiu à proposta golpista. Bolsonaro viu a sua pretensão de permanecer no Palácio do Planalto se esvaziar após ouvir de um oficial do Exército que, em caso de um golpe, ele também acabaria sendo retirado da Presidência.

O Estadão apurou que a reunião a que se referiu Mauro Cid ocorreu sob uma atmosfera ‘pesada’. No encontro, Bolsonaro revelada a sua ousada ‘estratégia’ para tentar impedir a chegada do petista ao Planalto.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG Ao ler João 8:32 (“e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”), entende-se que Jesus destaca a verdade e a consequência para quem a conhece. No caso de Bolsonaro, ao que parece a verdade só libertará Mauro Cid, o que significa condenar Bolsonaro em algum ponto da curva. (C.N.)

2 thoughts on “O que já se sabe sobre a delação de Cid e como ela incriminaria Jair Bolsonaro

  1. Sr. Newton

    Por falar em ponto da curva

    O Amor venceu e a Bandidocracia, ops, errei, a “democracia” foi salva, como disse o Super-Vilão Lex-Luthor….

    Com certeza vão sair várias malas com milhões, dinheiro vivinho da silva.

    E o Ladrão “comandando” de novo a tal da corrupção….

    E alguém achava que seria diferente…

    Logo mais aparece um novo “Bob Jeffis” dizendo que está recebendo pouco nas malas e “abre” o bocão para a Rede Esgoto de Depravação & Drogas & Dólares na Cueca…

    Filho de Lira negocia publicidade com a Caixa, agora sob controle do centrão

    Lira Filho representa veículos de mídia que participam de campanhas do banco; empresas e presidente da Câmara não comentam

    https://www1.folha.uol.com.br/poder/2023/10/filho-de-lira-negocia-publicidade-com-a-caixa-agora-sob-controle-do-centrao.shtml

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