Interferência do STF na “regulamentação de leis” será sempre indevida e ineficiente

O ministro do STF Gilmar Mendes durante evento em Paris, França

Gilmar Mendes tenta justificar uma ação que é injustificável

Carlos Pereira
Estadão

Em conferência realizada em Paris, o ministro do STF Gilmar Mendes deixou clara a sua interpretação da relação entre a política e a justiça. Para ele “se a política voltou a ter autonomia, eu queria que fizessem justiça, foi graças ao STF (…) se a política deixou de ser judicializada e de ser crimininalizada, isso se deve ao STF”. Disse isso ao se referir ao freio colocado pela Suprema Corte sobre a Lava Jato.

É como se, para Gilmar, os atores políticos tivessem a capacidade de se autorregular sem a necessidade de interferências da justiça, mesmo diante de potenciais riscos de comportamentos desviantes e oportunistas por parte dos políticos, como apontados pelo último relatório da OCDE.

CRIMINALIZAÇÃO – A entrada da justiça regulando a política teria como efeito perverso a sua criminalização, o que seria mais custoso do que deixar que os políticos se auto equilibrassem.

No artigo “The Problem of Social Cost”, o economista Ronald Coase, laureado com o prêmio Nobel de economia em 1991, propõe de forma contra intuitiva o seguinte teorema para ressaltar a importância das instituições: se os direitos de propriedade sobre um determinado recurso disputado forem bem definidos e os custos de transação forem iguais a zero, a negociação entre os agentes privados tenderá a levar à alocação eficiente desse recurso.

Ou seja, não haveria a necessidade de intervenção da justiça para resolver externalidades negativas (corrupção) do mundo político, pois as negociações entre as partes já seriam economicamente e socialmente eficientes.

CONDIÇÕES IRREAIS – Entretanto, como lembra Coase, essas condições raramente são encontradas na realidade. Os custos de transação, especialmente no mundo político, não são baixos. Este é um ambiente de informação incompleta e assimétrica e, portanto, recheado de comportamentos oportunistas.

Além do mais, existe na política uma indefinição dos direitos de propriedade sobre o poder, o que gera incertezas e problemas de negociação não apenas no presente, mas também no futuro.

A “solução” de Coase, portanto, não é considerada viável nem por ele mesmo. Daí a sua genialidade.

REGULAR É PRECISO – Logo, ao contrário do que desejaria o ministro Gilmar, surge a necessidade da regulação. A sua ausência, como pretendia o governo Lula com o relaxamento da Lei das Estatais para Petrobras, também traria altos riscos de externalidades negativas socialmente e economicamente indesejáveis.

É importante destacar, entretanto, que, como em qualquer área, os resultados da regulação da justiça sobre a política raramente serão eficientes.

Não existe solução ótima para esse dilema inexorável.

3 thoughts on “Interferência do STF na “regulamentação de leis” será sempre indevida e ineficiente

  1. Se o legislativo fizesse o que deve fazer isso não aconteceria. Por isso é tão fácil acusar os tribunais superiores. Nós contribuintes pagamos e bem e os resultados legislativos são pífios!

  2. Se os políticos aprovarem uma lei que os beneficie ou à algum grupo com uma lei inconstitucional, e o STF for provocado, ele tem o dever de interferir.
    Os políticos não são santos em especial os desse Congresso atual.

    A Lei das Estatais foi uma lei para favorecer o mercado, seus acionistas e não ao país e o povo.
    As estatais de base estratégicas foram criadas para servir de suporte para o governo ter como regular o mercado e desenvolver o Brasil.

    Reitero, se Getúlio Vargas não criasse as indústrias de base estratégicas o Presidente Juscelino teria adiantado o Brasil em cinquenta anos em apenas cinco anos e a ditadura teria elevado o Brasil à nona economia do mundo, se não fosse a boa base encontrado dos governo anteriores.

    A iniciativa privada não tem compromisso com o social, seu compromisso é o lucro.
    É o governo que investe na economia, para gerar empregos e consumo, sem os quais não há progresso.
    Investimento não é gasto. Investimento dá retorno.

  3. Gilmar Mendes tenta justificar uma ação que é injustificável

    Duas obras malditas do Desgoverno Corrupto do Gângster Don FHCorleone..

    1 – A Emenda da Corrupção, ops, Reeleição

    2 – Sinistro do STF, Efeagace Mendes….

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