Ao atacar Israel, Lula abriu guerra também contra o eleitor evangélico

Lula monta força-tarefa para aproximação com evangélicos - 20/07/2023 -  Poder - Folha

Lula até se esforça, mas os evangélicos não o suportam

Bruno Soller
Estadão

“Quem acrescenta coisas à verdade está a diminuí-la” é um ensinamento judaico escrito no Talmude, que cabe muito bem à irresponsável fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro da cúpula da União Africana, na Etiópia, em que comparou as ações de guerra promovidas por Israel contra o grupo terrorista Hamas ao holocausto sofrido pelo povo judeu, um dos episódios mais abomináveis da história da humanidade, que culminou na morte de 6 milhões de pessoas.

Não bastassem os efeitos diplomáticos, que vão na contramão da posição histórica do Itamaraty, Lula não só convidou para o ringue a pequena, porém influente comunidade judaica brasileira, mas também uma grande parcela de um público, que o governo buscava se aproximar e que é repelido pela desastrosa declaração: o evangélico.

LIGAÇÕES PRÓXIMAS – Qualquer pessoa que fizer uma breve incursão em uma comunidade brasileira e olhar com atenção para os altares das mais diversas Igrejas evangélicas, com absoluta certeza, enxergará em boa parte delas uma bandeira de Israel.

A associação dos evangélicos com a Terra Prometida é grande e tem raízes teológicas profundas. Muitas Igrejas, principalmente as neopentecostais, seguem boa parte dos rituais do Antigo Testamento da Bíblia Cristã, que é basicamente a Torá Judaica.

Jesus Cristo era judeu e a diferença básica entre o cristianismo e o judaísmo é que aqueles que creem em Jesus, o enxergam como o Messias, o legítimo filho de Deus. Para os judeus, Jesus foi um importante profeta, mas não o Salvador. Para os cristãos existe um Novo Testamento a partir de Cristo e é aí que se diferenciam as religiões.

A MESMA ORIGEM – A pregação de todo o Antigo Testamento, entretanto, é a mesma e os profetas que antecederam Jesus são também cultuados pelos cristãos. Uma das mais importantes seitas evangélicas brasileiras, a Igreja Universal do Reino de Deus, tem como sua catedral uma réplica perfeita, instaurada no centro da capital paulista, do Templo de Salomão.

 O bispo Edir Macedo, líder da IURD, foi o responsável por construir essa casa de orações que remete a Salomão, filho de Davi, o Rei de Israel, considerado um dos homens mais sábios e justos de toda a história bíblica.

O próprio bispo apareceu em público, na inauguração do Templo, utilizando-se do quipá, um chapéu diminuto, utilizado pelos judeus, que simboliza o temor a Deus sobre a cabeça, e do talit, o xale das orações.

LIGAÇÕES PRÓXIMAS – Essa relação entre evangélicos e Israel ultrapassa as fronteiras brasileiras. Nos Estados Unidos houve uma verdadeira comoção por parte dos líderes cristãos quando Donald Trump anunciou a mudança da embaixada americana para Jerusalém.

Uma pesquisa da Pew Research mostrou que 82% dos WASPs, sigla para caracterizar os protestantes brancos, acreditam que Deus cedeu Israel ao povo judaico, número superior ao dos próprios judeus. Não à toa, esse público foi considerado a base mais fiel eleitoral de Trump na sua tentativa de reeleição.

A ascensão do protestantismo é a grande mudança de perfil sociológico que o Brasil experimentou nos últimos 35 anos. Em 1989, quando da primeira eleição para presidente da República após a ditadura militar, eram apenas 9% os brasileiros que se diziam evangélicos. Hoje, mais de 1/3 da população brasileira se declara desta fé.

FRENTE PARLAMENTAR – A proliferação evangélica é visível e sentida, seja na quantidade de novas Igrejas que surgem, seja na própria disseminação de conteúdo religioso nos meios de comunicação. O Congresso Nacional, por exemplo, tem, hoje, 132 deputados federais e 14 senadores que compõem a Frente Parlamentar Evangélica.

Sabedor de sua dificuldade com o público evangélico, depois do bolsonarismo ter chegado ao poder, Lula emitiu durante o segundo turno das eleições presidenciais uma carta aos evangélicos. Nela, reforçava o respeito à liberdade de culto e desmentia a ideia de que perseguiria e fecharia templos religiosos.

Para Lula, resta se redimir. Se quiser ainda dialogar com essa importante fatia do eleitorado brasileiro, o presidente precisará antes de mais nada assumir seu erro, se mostrar falho, para a partir daí ter a possibilidade de reconquistá-los.

8 thoughts on “Ao atacar Israel, Lula abriu guerra também contra o eleitor evangélico

  1. O eleitor evangélico segue as orientações dos pastores e estes, em sua imensa maioria estão fechados com a extrema direita bolsonarista.

    Quando a fé ( Religião ) e a Política se juntam, podem crer que o resultado é a guerra civil.
    A noite de São Bartolomeu e a Inquisição, são exemplos da história.

    Os evangélicos estão sendo enganados, pelos falsos profetas, travestidos de políticos partidários.

    Nesse sentido, não se perdeu nada. Já estava perdido.

  2. Os evanjegues, junto com os milicos e PMs, são o núcleo duro e impenetrável do bolsonarismo. Chega de paz e amor com aqueles que nas próximas eleições vão te esfaquear pelas costas. Podia aproveitar o embalo e acabar com a imunidade tributária dessas entidades religiosas.

  3. Nas redes sociais, os pastores estão orientando os fiéis a cerrarem fileiras a favor de Israel.
    O ponto aqui, não é o povo judeu nem o povo palestino.
    Os assassinos de pessoas tanto de palestinos como judeus são:
    Grupo Hamas e o governo de Beijamim Netaniyau.

    Como pode alguém apoiar, quem sequestra e mata: Hamas?

    Quem ingenuamente, apoia um governo ( Netaniyau) que já matou 30 mil pessoas, deixou 60 mil feridos. Está confinando 1 milhão de pessoas palestinas no Sul da Faixa de Gaza, área similar ao bairro de Jacarepaguá no Rio. Um governo que bombardeia hospitais. Um governo que já matou mais jornalistas nessa guerra do que em outras neste século?

    Não devemos apoiar guerra nenhuma, todas são injustificáveis.

    Me admira, que cristãos não tenham apreendido as lições de Jesus: Solidariedade para os irmãos que sofrem.

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