Brasil podia deslanchar, mas Lula põe empresários na defensiva, diz Bacha

Economista Edmar Bacha é entrevistado pelo Memória & Poder - Assembleia  Legislativa de Minas Gerais

Bacha votou em Lula, mas não quer fazer isso de novo

Cristiano Romero
Brazil Journal

Eleitor de Lula no pleito de 2022, o economista Edmar Bacha diz que o Brasil tem oportunidades “extraordinárias,” mas não as está aproveitando por falta de confiança de empresários e investidores na economia. E todo mundo sabe o que está gerando este clima: o próprio comportamento e as decisões do Presidente.

Como o senhor avalia a gestão do governo Lula?
Acho que o Haddad está conseguindo segurar as pontas. Basicamente, é disso que se trata, enfrentar o “fogo amigo” dentro do governo e o “fogo inimigo” no Congresso. Bolsonaro realmente deixou esse horrível legado. Outro dia vi o gráfico da proporção das emendas dos parlamentares no Orçamento Geral da União, com R$37,6 bilhões, metade do total previsto para investimento em 2024.

Foi boa ideia acabar com o teto de gastos?
Não foi bom acabar com o teto, mas, tendo visto todos os furos de que o teto foi vítima, era preciso conceber alguma coisa nova. O Haddad conseguiu, dentro das circunstâncias, conceber algo aceitável para Lula e o PT. A gente não pode esquecer que este é um governo do Lula e do PT. Dentro desse constrangimento, acho que ele fez o melhor possível. O governo tem diversas dimensões. A política externa, por exemplo, é um absurdo.

Por quê?
Porque é um absurdo que Celso Amorim, que é antiamericano radical desde sempre, esteja no comando da política externa. Estamos apoiando Vladimir Putin, Nicolás Maduro e Xi Jinping, e fazendo coisas unilaterais no Oriente Médio, quando deveríamos tentar fazer o meio de campo.

Que papel o Brasil poderia ter no conflito entre Israel e Palestina?
Temos condições internas para fazer o meio de campo no Oriente Médio porque essas questões estão razoavelmente pacificadas no Brasil. A lei antirracismo, por exemplo, foi proposta por Afonso Arinos e aprovada em 1951. Somos uma sociedade misturada e temos honra de sermos assim. Obviamente, há um problema terrível de distribuição de renda que a gente precisa enfrentar, mas que está sendo trabalhado. Lula faz um bom trabalho nessa área. Imagine ter a Nísia Trindade Lima no Ministério da Saúde. Isso é uma verdadeira prenda! Então, há coisas boas no governo.

O que o preocupa além da política externa?
Lula ainda tem na cabeça que o Estado deve forçar o investimento das empresas e usar seus instrumentos para fazer com que isso aconteça. Ele não tem mais as estatais na mão porque elas foram privatizadas.

Como o senhor avalia a política industrial lançada pelo governo?
A esta altura da partitura, aumentar a tarifa sobre importação, os requisitos de conteúdo local e a preferência para compras governamentais são decisões contrárias ao aumento da produtividade da economia. Está tudo errado na área econômica, com exceção da parte fiscal. A reforma tributária passou muito bem no Congresso, mas eu me pergunto: se o Lula estivesse realmente interessado e não tivesse delegado o assunto totalmente para o pobre do Bernard Appy [secretário especial da Reforma Tributária], que teve que resolver tudo com o Congresso sem nenhum poder político, teriam aparecido tantos jabutis quanto apareceram? E agora, há o risco de termos ainda mais jabutis na regulamentação.

O PIB cresceu 2,9% no ano passado, mas a taxa de investimento recuou 3%. Falta confiança aos empresários?
Não há confiança. O que me irrita no Lula é que o país poderia estar deslanchando se houvesse confiança. Há oportunidades extraordinárias, mas é preciso ficar na defensiva com o Lula o tempo todo. Sabe-se lá como ele vai intervir na economia. E uma economia que joga na defesa não vai para frente.

O senhor defende há muitos anos a abertura da economia como medida necessária para o aumento da produtividade. Vê alguma chance para essa agenda?
Os “Mercadantes” estão muito exultantes com o fato de que, agora, os EUA começaram a praticar a política industrial. Mas é uma política voltada para a sua luta contra a China. E, aí, o pessoal do governo do PT diz: “Se eles fazem, a gente pode fazer também”. O Alckmin fala: “Olha quanto eles [os americanos] estão gastando”. Quando o mundo estava se globalizando, o Brasil não se globalizou. Agora, o mundo está se desglobalizando.

Por que o Lula ganhou a eleição?
Porque, na última hora, muita gente, inclusive eu e os pais do Real, declarou voto nele. Foi isso, até mais do que os votos da Simone Tebet, que garantiu a vitória. Mas o Lula não entendeu isso até hoje.

O quê, exatamente?
Lula não entendeu que o mandato dele é muito restrito. Se o bolsonarismo for minimamente competente e apresentar um candidato razoável, por exemplo, o Tarcísio de Freitas [governador de São Paulo], o Lula vai ter que ralar para ser reeleito.

O senhor vê riscos à democracia brasileira?
Com Trump, sim. Da vez que o Bolsonaro tentou, eu estava tranquilo porque, pensei, se ele quiser fazer alguma coisa, os americanos não deixam. No cenário externo, que riscos o senhor vê adiante? O maior é a eleição de Donald Trump. É complicada a situação. Os americanos se acostumaram a ter uma taxa de juros muito baixa por muito tempo. A dívida pública não importava muito porque qualquer crescimento do PIB compensava a elevação da dívida. Agora, com os juros a 5,5% ao ano, não mais. O mundo é muito sensível aos juros americanos. O problema do Trump é seu discurso super radical, dizendo, por exemplo, que quer classificar imigrantes como terroristas. É inacreditável!

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente entrevista, enviada pelo Mário Assis Causanilhas. O economista Edmar Bacha, da Academia Brasileira de Letras, é um dos melhores pensadores da direita. Defende teses que fazem sentido e merecem reflexão. (C.N.)

5 thoughts on “Brasil podia deslanchar, mas Lula põe empresários na defensiva, diz Bacha

  1. Quem sabe Lula, “deslanchando” um pouquinho do que gulosamente assenhrou-se, permitirá que os milhœes de desassemelhados possoam usufruir de suas então distribuidas “sobras”!

  2. Podem merecer reflexão, mas suas ideias parecem não ter dado certo no mundo todo. Aliás, ele poderia dizer qual o país que se industrializou abrindo totalmente sua economia.

  3. Xô negacionistas da Evolução da ordem natural das coisas. NO PLANETA TERRA, “ERGA OMNES”, PELO MENOS EM TESE, O PODER É POLÍTICO E A DEMOCRACIA TEM QUE SER DE FATO DO POVO, e é por aí que tem que passar as transformações evolutivas necessárias, em sendo a Política o carro-chefe do conjunto da população organizada em estado de direitos que, por ora, me parece o regime ideal do exercício do poder político, em sendo a democracia o poder e governo do povo para o povo, desde que levada a sério, ao pé da letra, alicerçada na boa-fé, na verdade, na honestidade, na empatia e na Justiça, sendo o nosso dever de casa, de microcósmico, evoluirmos neste sentido para que tenhamos o futuro mais alvissareiro possível em substituição aos caos em que sobrevivemos, desbundados e sem futuro, no mato e sem cachorro, no ar, sem escada e com a broxa na mão, no Brasil, p. ex., dominados há 134 anos pelo militarismo e o partidarismo, politiqueiro$, e seus tentáculos velhaco$, que perfazem e praticam uma espécie de plutocracia putrefata, com jeitão de cleptocracia e ares fétido de bandidocraica, em constante estado de guerra, tribal, primitiva, permanente e insana por dinheiro, poder, vantagens e privilégios, sem limite$, operada à moda todos os bônus para ele$ e o resto que se dane com os ônus. A MEU VER, GRAU DE CONSCIÊNCIA, boa-fé e conhecimento, no sentido do bem, da estabilidade, da sustentabilidade, da paz, do amor, do perdão, da conciliação, da união e da mobilização pela mega solução, via evolução, focada no sucesso pleno do bem comum do conjunto da população, a meu ver, é tudo de bom, é o que pode fazer a diferença no mundo em prol do sucesso da Humanidade, com o descortino dos novos horizontes que se fazem necessários há décadas, séculos e milênios. O meu consolo de ser visionário e revolucionário, carreira solo, isolado, boicotado, sabotado, cercado, cancelado e excluído pelos conservadores do sistema apodrecido, é que a produção das mentes mais brilhantes do meu país e do mundo, que perfazem a intelectualidade idealista, honesta, tipo de gente que acredito ser capaz de fazer a diferença no exercício do poder, confluem para o meu Sonho de mega solução, via evolução, para o meu país, o mundo e, sobretudo, para o bem da Humanidade no Planeta Vida, porque somos mais vidas, talvez todas as vidas do universo inteiro, comprimidas, escondidas e protegidas numa cápsula universal de sobrevivência, envolvida num grande mistério a ser desvendado pela evolução das sucessivas gerações humanas, cápsula essa que, em sã consciência, não podemos permitir, de jeito nenhum, que insanos mentais metidos a esperto$ a destruam. É neste contexto que, há cerca de 30 anos, depois 10 anos de estudos, luta no front e reflexão, que cheguei à conclusão da Revolução Pacífica do Leão, à minha mega solução, via evolução, com o megaprojeto próprio, novo e alternativo de política e de nação, a nova via política extraordinária, o novo caminho para o novo Brasil de verdade, confederativo, com Democracia Direta e Meritocracia, com Deus da Causa (seja Ele criacionista ou evolucionista), porque a libertação de uma nação é uma utopia inexequível, porque evoluir é preciso e, sobretudo, porque, em sã consciência, ninguém aguenta mais o continuísmo da mesmice da loucura que aí está no Brasil e no mundo, com prazo de validade vencido há muito tempo, sendo, pois, a RPL-PNBC-DD-ME o pontapé inicial das mudanças de verdade que se fazem necessárias há séculos, made in Brasil para o mundo, sérias, estruturais e profundas, no sentido do bem-estar do Planeta Vida e, por conseguinte, da Humanidade e, sobretudo, da própria vida. https://www.facebook.com/rodaviva/videos/959929475079377

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *