Todas as calamidades aqui no Brasil têm raízes nas desigualdades sociais

Enchentes no Rio Grande do Sul: várias cidades inundam após temporais; fotos

Para os pobres, as calamides sempre significam perda total

Janio de Freitas
Poder360

O chão inundado tem mais prestígio e poder emotivo do que o seu oposto. Do interior baiano para cima, ano a ano, século a século, a seca reprisa a marcha dramática dos retirantes, os cadáveres do gado em pele e osso, a lavoura perdida, as mortes não contadas de crianças ainda no colo ou de pés arrastados no cansaço. A sede, a fome, as dores.  As secas não perdem em nada das inundações. No entanto, nem nos seus ataques mais furiosos emocionaram e moveram solidariedades como fazem as águas do sul.

As causas da diferença são aquelas, sim. As de sempre. As calamidades brasileiras, todas, têm raízes na dimensão absurda das desigualdades entre os níveis socioeconômicos. É prudente não esperar que os poderes públicos extraiam do desastre gaúcho as noções de sua responsabilidade não extraídas de outros acidentes ambientais.

OUTROS DESASTRES – Brumadinho, por exemplo, nem recebeu o socorro de um movimento semelhante ao atual, nem foi seguido de ações governamentais de prevenção pelo país afora. Um bom pedaço de Maceió está afundando, por causa da exploração subterrânea de uma mina de sal-gema.

Há enormes desastres em curso ou em risco no país todo. Se reflexões sobre esse problema nacional são infrutíferas, a inundação gaúcha encaminha olhar consequente para alguns desastres do mundo.

A perda repentina de todos os bens domésticos há de ser um abalo muito forte, emocional e racional. Poucos e pobres bens não mudam a reação: 2 ou 3 pratos de uma casa da pobreza valem tanto quanto um aparelho de jantar para a casa rica.

PERDAS TOTAIS – As vítimas gaúchas de perdas totais têm variadas possibilidades de reposição, ao menos parcial, dos bens perdidos nas águas.

Para a imensa maioria de famílias pobres na Faixa de Gaza, já dependentes de ajuda internacional antes da guerra, a perda causada pelas bombas norte-americanas lançadas por Israel é perda literal. E não há o que esperar.

A própria moradia deixa de existir. Com a cama, vão-se o teto e o chão. Os bens que restam, quando restam, são humanos. Na Ucrânia, os russos atacam mais prédios residenciais do que alvos militares, que nem são muitos. Guerra urbana à distância, por artilharia e drones, também leva as famílias à perda até da própria moradia.

SEM COMPARAÇÃO – Nos primeiros dias do desastre gaúcho, muitos falaram em “guerra contra a inundação”, em “destruições de guerra”.

Não há como comparar os sofrimentos dos vitimados em Gaza e Ucrânia com os do desastre ambiental.

Mas as vítimas daqui, mesmo que por uma semelhança ínfima, chamam a sensibilizar-se com as vítimas de lá. E, também aí, a sair da indiferença.

8 thoughts on “Todas as calamidades aqui no Brasil têm raízes nas desigualdades sociais

  1. Acho estranho essa turma da esquerda falar em desigualdade. Desde o fhc até a Dilma tá, foram quase 25 anos de governos esquerdista. Em 25 anos podemos mudar muita coisa e nesse período não fizeram nada. Depois da guerra o plano Marshall fez a recuperação dos países europeu. Aqui essa turma da esquerda só se preocupou com seu bolso

  2. Tudo se resume em termos da praticidade econômica. A atenção e preferência dos governos fora do período eleitoral se volta para os mecanismos geradores da riqueza. Se o Sul é produtivo, movendo a roda da arrecadação financeira, acumulando importância e fortalecendo a base do poder, e o norte e nordeste se mantém atrelados ao atraso coronelista, essa balança continuará pendendo para a desigualdade e injustiça social.
    Assim são os humanos, assim continuara sendo o mundo.

  3. Estado Pesado e Absolutista

    Desigualdade e Patrimonialismo

    Farinha Pouca Meu Pirão Primeiro

    Revolução Francesa Abrasileirada

  4. Não estou curioso pelas lágrimas não derramadas pelo seu Janio sobre o morticínio que os grandes carniceiros da humanidade fizeram.
    Stalin, Mao, Pol Pot, e Fidel mataram no atacado, aos milhões.
    Será que em busca da igualdade seria preciso matar milhões?
    Qual país igualitário está isento de alguma catástrofe?
    Menosprezar o intelecto alheio com essas narrativas só ecoa nos cérebros baldios e terceirizados.

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