Ao atuar como mediador, Supremo enfraquece sua missão de julgador

Tribuna da Internet | Enfim, uma boa notícia: Supremo parece estar  iniciando uma autocrítica

Charge do Duke (O Tempo)

Dora Kramer
Folha

Encontros como o que reuniu representantes dos três Poderes para tratar do uso abusivo de emendas parlamentares atendem aos ditames da civilidade e, por isso, parecem adequados. Convém, no entanto, observar o evento com olhar mais detido antes de aceitar – e, sobretudo de celebrar – a versão oficial de que o problema está objetivamente bem encaminhado.

Para início de conversa, há que se observar o desacerto institucional no fato de o Supremo Tribunal Federal atuar como mediador quando seu papel é o de julgador constitucional. Ao se sentar naquela mesa, o STF flexibilizou o que decidira por unanimidade.

TUDO É RELATIVO – Mas, vá lá, estamos no Brasil, onde a relativização de conceitos é vista como qualidade. Por aqui não pareceu estranho que os ministros assumissem o lugar de “poder moderador”, enquanto lhes cabia apenas aguardar o cumprimento da exigência de transparência posta na Constituição.

A fim de envernizar a coisa, saíram todos ressaltando a concordância em suspender a obscuridade das chamadas emendas Pix, que seguem impositivas, assim como permanece intocado o volume de recursos sob manejo do Congresso Nacional.

Não se recuou em relação ao poder crescentemente adquirido de 2015 para cá. Pareceu mais uma carta de intenções —daquelas que o Brasil assinava antigamente com o FMI para não cumprir— do que propriamente um compromisso sólido.

CONTORNAR VETO – Já vimos o Parlamento contornar o veto do Supremo ao orçamento secreto e não está fora de cogitação que vejamos de novo manobras semelhantes.

Ficou acertado que os procedimentos relativos às emendas de bancada e de comissões serão negociados entre o Legislativo e o Executivo. Ou seja, entre congressistas fortalecidos, e nada dispostos a abrir mão dessa força, e um governo enfraquecido e que nesses assuntos não conta sequer com o apoio de aliados.

Portanto, não há chance de melhorar enquanto persistir a dinâmica disfuncional do sistema.

Candidatura de Pablo Marçal depende de diversos pedidos de “impugnação”  

Ex-coach, influenciador e 'azarão': quem é Pablo Marçal, candidato à Prefeitura de São Paulo

Pablo Marçal está respondendo a vários processos eleitorais

Rafael Moraes Moura
O Globo

Uma ação que pode provocar um “efeito dominó” no PRTB e implodir a candidatura de Pablo Marçal à prefeitura de São Paulo está parada há 20 dias no gabinete da presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, sem previsão de quando o plenário da Corte Eleitoral vai julgá-la.

A ação, assinada por três ex-ministros do TSE – Sérgio Banhos, Carlos Eduardo Caputo Bastos e Carlos Horbach – é movida pela administradora de empresas Aldineia Fidelix, viúva de Levy Fidelix. O ex-marido dela, morto em 2021, disputou duas vezes a presidência da República e se notabilizou pela defesa do aerotrem e por declarações de cunho homofóbico.

ACORDO DESFEITO – Na ação, Aldineia alega que o atual presidente nacional do PRTB, Leonardo Avalanche, desrespeitou um acordo que havia sido acertado em fevereiro deste ano para pacificar o partido, como lhe conceder a vice-presidência nacional da agremiação, seis cargos na comissão executiva nacional e outros 20 cargos do diretório nacional, além de lhe garantir o comando político dos diretórios em cinco Estados – São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Roraima e Rio Grande do Norte.

Como na época o PRTB vivia uma guerra interna, com trocas de acusações e disputa de poder, o então presidente do TSE, Alexandre de Moraes, designou um interventor para a legenda, que teve a responsabilidade de convocar uma nova eleição para a definição de presidente, diretório nacional, comissão executiva e delegados do partido. O indicado para organizar o processo foi o ex-secretário-geral do TSE Luciano Fuck, próximo do ministro Gilmar Mendes.

Embora não seja mencionado na ação da viúva de Levy Fidelix, Marçal será diretamente afetado caso ela ganhe o processo, já que foi uma comissão provisória do PRTB em São Paulo alinhada a Avalanche que chancelou em agosto deste ano a candidatura do coach.

DIZ A VIÚVA – Aldineia alega que, pelo acordo entre eles, ela é quem deveria ter comandado o diretório do partido em São Paulo nesse período. Por isso, ela pede a anulação dos atos de Avalanche que desrespeitaram o acordo, o que implodiria a comissão provisória que validou a candidatura de Marçal.

Aliado de Marçal, Avalanche disputou o cargo de deputado federal por Goiás nas eleições de 2018 pelo Podemos – acabou em centésimo lugar, com apenas 173 votos. Conforme informou a Folha, Avalanche disse a um correligionário que mantém vínculos com integrantes da facção criminosa PCC, segundo áudio obtido pelo jornal.

Aldineia alega ao TSE que o acordo firmado com Avalanche, assinado à mão pelo pelo adversário, tem sido sistematicamente desrespeitado pelo dirigente partidário, acusado agir “ao arrepio do Estatuto partidário”, com “grave violação à democracia interna do partido, à soberania de suas convenções, à segurança jurídica, à boa-fé objetiva e à proteção à confiança legítima”.

DONO DO PARTIDO – “Não bastasse, o Sr. Leonardo Alves de Araújo não só está descumprindo o acordo como também tem deliberado sobre o processo eleitoral de 2024 como se fosse ‘dono’ do partido, fazendo acordos e indicando candidatos ao arrepio das normas estatutárias”, afirma.

A viúva de Levy Fidelix argumenta que o processo de escolha de candidatos em um partido político “é crucial para a representatividade e o fortalecimento democrático como um todo”, “seja sob a perspectiva interna do partido, seja à luz das candidaturas submetidas ao crivo dos eleitores”, o que exige um “rigoroso cumprimento das orientações estabelecidas na Convenção Nacional e no Estatuto”.

No último dia 2, no entanto, a relatora do caso, ministra Cármen Lúcia, negou o pedido de medida liminar, afirmando não ter identificado ter “havido incorporação do acordo à ata da convenção” do PRTB de fevereiro. Desde então, o caso segue parado no gabinete da presidente do TSE, sem que a ministra tenha solicitado parecer do Ministério Público Eleitoral ou encaminhado para o referendo dos colegas.

OUTROS CASOS – Desde o início do mês, o registro de candidatura do coach já foi alvo de três impugnações na Justiça Eleitoral, que alegam que ele não respeitou o estatuto do seu próprio partido, que exige no mínimo seis meses de filiação para poder confirmar um candidato em convenção partidária. No caso de Marçal, ele se filiou ao PRTB em 5 de abril deste ano – e teve o seu nome confirmado como o candidato à prefeitura de São Paulo em convenção realizada em 4 de agosto, ou seja, apenas quatro meses depois.

O registro também é contestado na Justiça Eleitoral pelo PSB, partido da deputada federal e também candidata à prefeitura Tabata Amaral – e por outros dois integrantes do próprio PRTB, o que expõe as fissuras internas da legenda com o coach: o secretário-geral do partido, Marcos André de Andrade; e uma empresária de Bragança Paulista, Lilian Costa Farias, também filiada à sigla de Marçal.

Já o PSB e o Ministério Público Eleitoral entraram com ações na Justiça Eleitoral para que Marçal seja investigado por abuso de poder econômico, tenha o registro cassado e seja declarado inelegível por pagar seguidores por divulgar corte de vídeos nas redes.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Caramba! Esse Marçal é um alvo ambulante. Está na mira de tanta gente que sua candidatura corre altos riscos. Quanto a seu partido, a legenda não tem ninguém que tenha votos e quer expulsar o único filiado que realmente tem. Não dá para entender essa gente. (C.N.)

São Paulo já elegeu um rinocerante,  mas não se deve brincar com eleição

Quais animais já concorreram a eleições? | Super

Em 1959, “Cacareco” teve 100 mil votos em São Paulo

Dora Kramer
Folha

É de se lembrar aos que porventura se entusiasmem pelo personagem encarnado na figura de Pablo Marçal (PRTB) na disputa pela Prefeitura de São Paulo: em 1959, a cidade “elegeu” para vereador, com 100 mil votos, “Cacareco,” rinoceronte fêmea residente no zoológico. A rebeldia daquele eleitorado de 65 anos atrás não provocou efeito prático algum. Apenas marcou a entrada do episódio na história dos protestos contra os políticos tradicionais.

E daí? Daí que os rebeldes se acreditaram engajados pela via do repúdio, mas jogaram no lixo a oportunidade de fazer uma boa escolha. São Paulo é a maior, mais rica, mais poderosa e mais complexa cidade da América do Sul.

MELHORES OPÇÕES – São Paulo merece e carece de melhores opções para governantes por parte de seus residentes, interessados que deveriam estar em manter esse lugar de destaque.

Paulistanos orgulham-se da posição que também é motivo de admiração no restante do país. O estado é a locomotiva-mestre do desenvolvimento, como se diz, e a cidade tem papel preponderante nessa pujança.

A capital paulista não deve ser governada na base da galhofa, da subversão de regras de legalidade e civilidade. Necessita ser levada a sério, com governantes e governados que se deem ao respeito.

SEM “CACARECOS” – Não pode ser objeto de piadas ou de escárnio, muito menos de disputas que obedeçam à dinâmica de brigas de foice no escuro, como os atritos entre o clã Bolsonaro e o histriônico Marçal. Caberia aos candidatos adversários, aos partidos, aos organizadores de debates, às campanhas, à Justiça Eleitoral e, sobretudo, ao eleitorado, dar um jeito de encontrar a melhor maneira de retomar o rumo adequado desse debate político.

Se não for assim, estaremos mal. Vamos nos arriscar, absolutamente todos, a aceitar a lógica da contestação vazia contida na preferência por um similar de “Cacareco” que só nos leva ao fundo do poço da negação da política.

Moraes acumula apurações em que é o maior afetado ao abrir inquéritos

DeFato.com - Politica

Moraes tanto fez que virou uma espécie de homem-bomba

José Marques
Folha

O inquérito aberto pelo ministro Alexandre de Moraes sobre o vazamento de mensagens trocadas entre seus auxiliares se soma a outras investigações conduzidas pelo ministro que tratam de assuntos relacionados a ele próprio, circunstância que o tornaria impedido ou suspeito para operar ou julgar.

Ao abrir mais recente inquérito, de ofício (sem provocação externa), Moraes atribuiu o vazamento e a publicação das comunicações informais feitas entre seu gabinete no STF (Supremo Tribunal Federal) e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a uma organização criminosa que teria o objetivo de desestabilizar instituições, fechar a corte e conseguir “o retorno da ditadura”.

ALEGAÇÃO FALSA – Essa menção a um suposto ataque às instituições tem servido como argumento para que o ministro acumule apurações sob o seu comando desde 2019, quando se originou o controverso inquérito do fim do mundo, que apura as fake news e múltiplos desdobramentos, que incluem até terrorismo e golpe de estado.

Quando foi aberto, o inquérito das fake news dizia que tinha como intenção “investigar a existência de notícias falsas, denunciações caluniosas, ameaças e roubos de publicação sem os devidos direitos autorais, infrações que podem configurar calúnia, difamação e injúria contra os membros da Suprema Corte e seus familiares”. Acabou servindo de motivação para diversas decisões do ministro.

Moraes agora associou o inquérito do vazamento ao das fake news. Assim, manteve-se como relator, até ser obrigado a desfazer o inquérito e transformar a “decisão” anterior em simples “petição”.

SEM RITOS – Essa nova investigação foi aberta após a Folha revelar que o gabinete do ministro no Supremo ordenou por mensagens e de forma não oficial a produção de relatórios pelo TSE para embasar decisões do próprio Moraes contra bolsonaristas no âmbito do Supremo. À época das mensagens, ele era o presidente do TSE.

Os assessores de Moraes, segundo é demonstrado pelas mensagens, sabiam do risco dessa informalidade. Um deles demonstrou em conversa gravada essa preocupação. “Formalmente, se alguém for questionar, vai ficar uma coisa muito descarada, digamos assim. Como um juiz instrutor do Supremo manda [um pedido] pra alguém lotado no TSE e esse alguém, sem mais nem menos, obedece e manda um relatório, entendeu? Ficaria chato.”

Assim, o ministro no STF ordenava de forma não oficial e ilegal a produção de relatórios pelo TSE para embasar decisões que ele já resolvera tomar, sem que houvesse queixa ou mesmo denúncia anônima. Procurado por meio da assessoria, Moraes não se manifestou. Seu ato mais recente foi desfazer o inquérito e pedir que seja aberto, ouvida a Procuradoria-Geral da República, conforme é o rito processual e regimental.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Em tradução simultânea, Moraes foi apanhado com batom na cueca e não adianta dizer à esposa que estava na igreja, numa missa de sétimo dia. Não adianta negar nem contratar o melhor advogado do mundo, porque a prova é irrefutável. No desespero, ele tentou um recuo, cancelando a abertura do inquérito. Mas era tarde demais e a marca do batom já tinha endurecido. Agora, o jogo virou. É Moraes quem está no banco dos réus, sob ataque de um escritório especializado em criminologia. Barroso pode dizer que não há razões para impedimento e suspeição, mas existem, e por de mais. Ao mesmo tempo, vai ruindo a acusação contra o idoso Roberto Mantovani, que está passando de agressor a vítima no processo do Aeroporto de Roma. Portanto, se você encontrar uma careca de meia idade na rua, abraçado a um poste, cantando “Meu Mundo Caiu”, não tenha dúvidas, é Alexandre de Moraes. (C.N.)

Pablo Marçal explica que o PRTB foi o partido que sobrou para ele

Pablo Marçal, candidato à Prefeitura de São Paulo, posa para foto com Leonardo Avalanche, presidente do PRTB

Pablo Marçal e Leonardo Avalanche, presidente do PRTB 

Bruno Boghossian
Folha

Pablo Marçal deve sua candidatura a um sujeito que se vangloria de suas conexões com o crime organizado. Leonardo Avalanche, presidente do PRTB, é um nome desconhecido, mas carrega uma bagagem pesada. Embarcou num avião com suspeitos de integrar o PCC e foi gravado dizendo que ajudou a libertar um chefe da quadrilha.

Avalanche não é uma peça qualquer nessa empreitada eleitoral. Ele tomou o controle do PRTB no início do ano e pavimentou o caminho para Marçal. O próprio ex-coach reconheceu que, sem o acordo com a sigla, não estaria na disputa. “Eu não escolhi o partido. Foi o único que teve para entrar”, disse, na GloboNews.

PRODUTO VALIOSO – O presidente da legenda ofereceu um produto valioso. Sufocou dissidências, trocou o comando da sigla e facilitou a aprovação da candidatura. Uma ex-dirigente disse ter sido ameaçada de morte para entregar o cargo que ocupava. O registro de Marçal na disputa foi chancelado por gente que, até a chegada de Avalanche, nem era filiada ao partido.

Marçal fez carreira com a venda de terrenos na Lua. Agora, ele quer convencer o eleitor de que, desta vez, foi feito de otário por outros malandros. O ex-coach afirmou desconhecer ligações de Avalanche com criminosos, disse nunca ter ouvido falar de outros nomes da sigla vinculados ao PCC e sugeriu que o presidente do partido se afastasse.

PEDIRÁ RETORNO – Mesmo que Avalanche topasse o conselho, o controle do partido permaneceria em suas mãos. O dirigente fez um investimento em São Paulo, com Marçal como principal ativo, e vai em busca de retorno. Seria ilusão acreditar que o presidente da sigla abriria mão de cargos e influência na prefeitura em caso de vitória.

Marçal descreveu as conexões de Avalanche e outros dirigentes como um constrangimento. Foi uma péssima declaração de inocência. O PCC tem um projeto de poder que depende do acesso às máquinas governamentais. Uma porta aberta na maior cidade do país seria muito mais grave do que um embaraço capaz de ferir a vaidade de um candidato.

Todos temos medo do superjuiz, menos aqueles que agem como seus puxa-sacos

Alexandre de Moraes e o golpe, Leite interrompe as férias e outras frases  da semana | GZH

Charge do Gilmar Fraga (Gaúcha/Zero Hora)

Luiz Felipe Pondé
Folha

A democracia brasileira não passa num teste básico da ciência política. O filósofo americano Francis Fukuyama dá a rota para este teste no colossal “As Origens da Ordem Política” (Rocco), seguido pelo segundo volume, “Ordem Política e Decadência Política”. Não é um teste complicado. E, ao mesmo tempo, ajuda a entender a razão de tanto intelectual orgânico estar babando de raiva desta Folha porque ela está cumprindo o seu papel de ser um veículo de imprensa e não “um armazém de secos e molhados” (Millôr Fernandes). Infelizmente, muitos colegas da mídia esqueceram que nossa função não é apoiar governo algum.

Trata-se do vazamento de mensagens do gabinete do superjuiz Alexandre de Moraes, de quem todos temos medo, a não ser aqueles que puxam o seu saco.

SAÚDE DO PAÍS – Não se trata de acusar ninguém —o mundo jurídico não é minha área, só corro riscos diante dos seus poderes sem limites. Trata-se de levar a frente uma questão e uma série de fatos que importam para a “saúde” do país — que vive na UTI, aliás.

O governo chegou mesmo a pensar em banir o WhatsApp, prova cabal da degeneração do governo do PT —Bolsonaro já havia degenerado antes. O X já é objeto de perseguição, agora o WhatsApp é o próximo da fila. E ainda se fala em “defesa da democracia”. Piada de mau gosto. Mas voltemos ao teste do Fukuyama. Voltaremos logo a esse tema da hora.

Evidentemente que uma democracia pode ir razoavelmente bem num dos tópicos, e mal noutro. Não existe mundo perfeito, mas existe a Dinamarca —o próprio Fukuyama usa essa “metáfora” para falar de uma democracia que vai melhor, normalmente, do que as outras.

SÃO TRÊS TÓPICOS – O primeiro é se o Estado é funcional. Um Estado funcional entrega serviços a partir dos impostos que arrecada. Deve entregar infraestrutura. Deve manter o equilíbrio fiscal. Deve entregar saúde e educação públicas de qualidade. Deve criar mecanismos para que a miséria não tome conta da população. Deve garantir segurança pública. Basta?

Você deve ter percebido que todos os exemplos são exemplos de política de Estado. Na verdade, o Estado brasileiro não existe como criador e gestor de políticas de Estado, só existe governo. E governo é sempre atravessado pelos interesses eleitoreiros quando não miseravelmente ideológicos. A existência de políticas de Estado garante um certo limite aos governos e suas baixarias estruturais. O Brasil está reprovado nesse tópico.

O segundo tópico é o que se chama Estado de Direito. Uma democracia é um regime jurídico. Todos devem ser iguais perante a lei — isso nunca é pleno, claro. Esse tópico resvala na discussão sobre o desvario do poder de alguns superjuízes no país.

MUITA INJUSTIÇA – Vemos facilmente que o Brasil é a terra do “para os amigos tudo, para os inimigos a lei”. Quem negar mente. Grande parte dos cidadãos do país sabe disso. Seja porque fazem parte dos amigos e mamam no governo, às vezes, ficando multimilionários em poucos anos, seja porque fazem parte dos não amigos —ou inimigos— e por isso restam-lhe as leis, os impostos e os abusos. Apesar dos discursos pomposos sobre o Brasil não ser terra de ninguém, ele é. Melhor, ele tem dono e esse dono não são os cidadãos. Portanto, o Brasil reprova neste tópico também.

O terceiro tópico é o que se chama em ciência política de “accountability” — responsabilidade. Em relação ao Estado e ao governo, em todos os seus poderes, não há accountability no Brasil. Esse tópico está diretamente relacionado aos famosos freios e contrapesos na democracia. Os poderosos no Brasil não sofrem nenhuma ação efetiva do mecanismo de freios e contrapesos.

Esse tópico é essencial porque ele significa justamente a possibilidade institucional de se impor limites aos poderes da República. Hoje não há qualquer mecanismo de “accountability” que possa “checar” o poder dos superjuízes. Tampouco, do Legislativo ou do Executivo, logo, o Brasil reprova neste terceiro tópico também. O “‘affair’ das mensagens” que agora vazaram —como a Lava Jato vazou— é um caso de busca de “accountability”. Não podem existir agentes públicos de poder sem limites.

Moraes proíbe que o ex-assessor Filipe Martins dê entrevista à Folha

Moraes revoga prisão preventiva de Filipe Martins, ex-assessor especial de Bolsonaro - Interativa

Filipe Martins ia ser entrevistado mas teve de recusar 

Fábio Serapião
Folha

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, proibiu o ex-assessor da Presidência Filipe Garcia Martins de dar entrevista à Folha. Martins, que trabalhou no governo de Jair Bolsonaro (PL), ficou seis meses preso sob a alegação de que poderia fugir do país. Ele é suspeito de ter participado de uma trama de golpe de Estado encabeçada por Bolsonaro, acusação que nega. Moraes revogou a prisão de Martins em 9 de agosto, mas impôs diversas medidas cautelares.

O pedido de entrevista, que teve a concordância da defesa do ex-assessor, foi feito pelo Painel ao ministro do STF em 18 de junho. Na sua justificativa para a negativa, datada de 22 de agosto, Moraes diz que a entrevista violaria uma das condições colocadas para a soltura de Martins, de não haver comunicação com os demais investigados na suposta trama golpista, como Bolsonaro, os ex-ministros Walter Braga Netto e Augusto Heleno e o ex-comandante da Marinha Almir Garnier.

DISSE MORAES – “No atual momento das investigações em virtude da proibição de comunicação com os demais investigados, a realização da entrevista jornalística com o investigado não é conveniente para a investigação criminal, a qual continua em andamento”, declarou.

O ministro também determinou que o ex-assessor especial para Assuntos Internacionais use tornozeleira eletrônica, se apresente semanalmente à Justiça de Ponta Grossa (PR) e não se ausente do país.

Moraes ordenou ainda o cancelamento de todos os passaportes de Martins, a suspensão de quaisquer documentos de porte de arma de fogo e a proibição do uso de redes sociais.

PROFUNDA INDIGNAÇÃO – Em nota, o advogado Ricardo Scheiffer Fernandes, que representa Martins, manifestou “profunda indignação pela decisão proferida”.

“O caso inteiro é flagrante injustiça, originada de um erro policial e judicial crasso, que culminou em uma prisão ilegítima desde o princípio. As medidas cautelares impostas não apenas carecem de fundamento, mas representam uma afronta à justiça, perpetuando um erro em cima de outro”, declarou. Procurado pelo Painel, Moraes não se manifestou.

Em setembro de 2018, a Folha sofreu outro episódio de censura em pedido de entrevista, quando o ministro do STF Luiz Fux proibiu a colunista Mônica Bergamo de entrevistar o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na época preso em Curitiba.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Moraes continua o mesmo déspota, que cria as próprias leis. Não existe nenhuma que baseie esse tipo de decisão de um ministro que não sabe reconhecer os próprios erros. É lamentável. (C.N.)

Criminosos ambientais fora de controle, com focos de incêndio disparando no país

Mais de 800 pessoas deixaram suas casas em São Paulo

Pedro do Coutto

É simplesmente impressionante a questão das queimadas que partem de criminosos ambientais que não conseguem ser reprimidos ou evitados pelos governos. O número de focos de incêndio registrados nos primeiros oito meses do ano é o maior desde 2010 e 75% acima do computado no mesmo período no ano passado.

Este foi o mês de 2024 com mais focos de incêndio para 16 estados. Em São Paulo, foram registrados 3.480 pontos no mês, um recorde para o estado desde que os dados começaram a ser medidos, há quase três décadas. Minas Gerais também enfrenta incêndios, sobretudo no entorno de Belo Horizonte. A Polícia Federal já abriu 31 inquéritos entre Amazônia e Pantanal, e dois em São Paulo.

FORA DA CURVA – Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, acertou quando declarou que esta “é uma verdadeira guerra contra o fogo e criminalidade”, acrescentando que existe uma situação atípica: “Você começa a ter em uma semana, praticamente em dois dias, vários municípios queimando ao mesmo tempo. Isso não faz parte da nossa curva de experiência nesses anos de trabalho com fogo”. Com a mobilização do governo, a PF, por meio da Superintendência Regional de São Paulo, irá investigar a temporada de fogo.

Em Brasília, a fumaça foi provocada, segundo o Corpo de Bombeiros do DF, pelas chamas de São Paulo, mas também do Pantanal e da Amazônia. O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, porém, diz que queimadas no entorno, na região de Cerrado, podem ter contribuído. Segundo ele, em São Paulo, há uma desconfiança de que houve uma organização, “pois os focos aconteceram praticamente no mesmo horário”.

ATENTADO – Trata-se de um verdadeiro e amplo atentado ao meio ambiente, promovendo um avanço no cenário de poluição, com características negativas atribuídas às ações criminosas. Prisões foram efetuadas, demonstrando que há um crime organizado atuando nessa faixa. O Ibama não tem conseguido evitar e agir contra os incêndios de forma rápida e segura, até mesmo porque as atividades são muito extensas e atingem grande número de comunidades.

Para se ter uma ideia do problema, o Ibama divulgou que as queimadas que estão sendo combatidas vão durar mais de dois meses. Uma calamidade que atinge terras férteis, agora incendiadas. Incrível o problema que se coloca nessa área da produção e ao mesmo tempo em um setor responsável pelo meio ambiente.

O luar encantado no interior inspirava a poesia em Guimarães Rosa

Frase da semana: “O homem nasceu para apren... | SuperPaulo Peres
Poemas & Canções 

O médico, diplomata, romancista, contista e poeta João Guimarães Rosa (1908-1967), nascido em Cordisburgo (MG), é um dos mais importantes escritores brasileiros de todos os tempos, sendo o romance Grande Sertão: Veredas, em que ele qualifica como uma “autobiografia irracional”, a sua obra mais conhecida. Entretanto, Guimarães Rosa também enveredou pelos veios poéticos, e os versos de “Luar” revelam todo o poder que a lua exerce na imaginação, na criação e na inspiração do poeta.

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LUAR
Guimarães Rosa

De brejo em brejo,
os sapos avisam:
–A lua surgiu!…

No alto da noite
as estrelinhas piscam,
puxando fios,
e dançam nos fios
cachos de poetas.

A lua madura
Rola, desprendida,
por entre os musgos
das nuvens brancas…
Quem a colheu,
quem a arrancou
do caule longo
da via-láctea?…

Desliza solta…

Se lhe estenderes
tuas mãos brancas,
ela cairá…

Bolsonaristas já negociam com Marçal para aderir à campanha e unir a direita

Marçal vira popstar na 25 de Março e posa com carteira de trabalho

Marçal começa a fazer sua campanha nas ruas da capital

Mônica Bergamo
Folha

A campanha de Pablo Marçal (PRTB) e lideranças bolsonaristas estabeleceram pontes nesta semana para tentar unificar a chamada direita em torno do ex-coach em São Paulo. Emissários como Filipe Sabará, responsável pelo plano de governo de Marçal, têm mantido diálogo intenso nesta semana com parlamentares e dirigentes políticos ligados a Jair Bolsonaro (PL).

A ideia é que grandes estrelas bolsonaristas comecem a declarar apoio a Marçal, saltando do barco do prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, para o do empresário. Com isso, criariam um movimento que poderia trazer a própria família de Jair Bolsonaro para a campanha —ou ao menos mantê-la distante da campanha de Nunes.

VENCER SOZINHO – Os argumentos dos que discutem a adesão a Marçal são diversos. O primeiro deles, o de que com o ex-coach a direita poderia assumir sozinha o comando de São Paulo —sem dever nada a políticos do centrão como Valdemar Costa Neto, ou do MDB, partido de Ricardo Nunes.

O outro é o de que Marçal não está interessado em disputar qualquer cargo para o Parlamento. O risco de ele atropelar Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que é candidato ao Senado em 2026, portanto, estaria afastado.

Restaria o risco de Marçal ser candidato a presidente em 2026. Mas ele tem repetido que não tentaria a vaga caso Bolsonaro seja candidato.

O CLÃ RECUA – A família Bolsonaro partiu para o ataque a Marçal na semana passada, mas recuou depois que seus perfis nas redes sociais foram inundados de críticas de seguidores bolsonaristas, que defendem que o ex-presidente apoie o empresário.

Foi a primeira vez que uma investida da família Bolsonaro contra um político de direita não teve resultado. Ao contrário de quando atacou Sergio Moro, Joyce Hasselmann e Alexandre Frota, por exemplo.

Nesta semana, como revelado pela coluna, Bolsonaro e seus filhos recuaram das críticas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É a decisão acertada. Do jeito que as coisas estão andando, Marçal acaba ganhando sozinho essa eleição, fato que desmoralizaria Bolsonaro e Lula, ao mesmo tempo, mostrando que o eleitorado está desistindo dos políticos tradicionais, como aconteceu na Argentina. Com Bolsonaro dando apoio a Marçal, a candidatura de Ricardo Nunes some no mapa, porque ele não ter carisma. (C.N.)

É comovente o esforço de Barroso para declarar que Moraes age dentro da lei

Quem é Roberto Barroso, novo presidente do STF

Ao defender Moraes, Barroso não explica nem justifica 

Carlos Newton

Foram decepcionantes as justificativas do presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, ao rejeitar o pedido para declarar o impedimento de Alexandre de Moraes na relatoria da investigação sobre o vazamento de mensagens de auxiliares do ministro no eixo STF/TSE.

É claro que não era possível haver argumentos jurídicos sólidos a favor de Moraes, mas a decisão de Barroso acabou surgindo como uma peça do chamado “jus embromandi”, que explica, mas não justifica, tirando toda a seriedade da discussão jurídica.

O impedimento de Moraes foi arguido pela defesa de Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do então presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

DIZ O CÓDIGO – Ao arquivar a queixa, Barroso, como presidente do Supremo opinou que não houve “clara demonstração” de qualquer causa que justifique o impedimento do ministro, previstas em lei, embora o advogado Eduardo Kuntz tenha citado expressamente os dois artigos, mostrando como os atos de Moraes se enquadravam neles.

Estabelece o Código de Processo Penal que o juiz não pode atuar no processo em que, entre outros pontos, ele próprio ou seu cônjuge ou parente até o terceiro grau for parte ou diretamente interessado no feito.

PIADA DO ANO – No caso, estão em questão as ordens de Moraes para preparação de relatórios sobre ilegalidades que não tinham sido motivo de queixa ou mesmo denúncia anônima. Ou seja, o ministro seria o centro das investigações que ele mesmo convocou, mas Barroso alega que ele não teria interesse nisso, uma tremenda Piada do Ano.

É lamentável esse comportamento do presidente do Supremo. Tira totalmente a seriedade da Justiça, mostrando que o corporativismo precisa ser combatido. O próprio Moraes sentiu a gravidade de seus erros e recuou no domingo, ao cancelar o inquérito que abrira e transformar a decisão em petição, para que a Procuradoria-Geral da República seja ouvida antes, como é a praxe.

Com isso, Moraes automaticamente assumiu que estava suspeito ou impedido. Devido a esse ato seu, o inquérito ficou cancelado e sem relator. Mas quando for reaberto, o relator voltará a ser ele, Moraes, e isso é um escárnio.

Assim, pode-se dizer que Barroso é igualzinho a Moraes, no tocante a descumprir leis ou ritos processuais e regimentais.

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P.S. –
O inquérito que Moraes abriu e suspendeu é da maior importância. Se for conduzido com um mínimo de seriedade, logo ficará claro que Moraes é um criminoso vulgar que tem de ser investigado como suspeito e depois, réu. Todos precisam ser iguais perante a lei, diz a mais democrática norma jurídica mundial. Mas parece que Moraes e Barroso não entenderam bem o que isso significa. (C.N.)

STF acha que deu ‘freio de arrumação’ na política, porém há controvérsias

Tribuna da Internet | Superpoderes do Supremo minam sua legitimidade, e está difícil controlá-los

Charge do Mariano (Charge Online)

 

William Waack
Estadão

Num país, como o Brasil, pouco “pensado” pelas elites, cabeças pensantes do STF ocuparam esse espaço. Dada a notória falta de lideranças políticas abrangentes, essas cabeças pensantes se colocam como “socorro” e “futuro” ao mesmo tempo. “Socorro”, pois entendem que seu auto atribuído poder de polícia e investigação “salvou” a democracia. Parte relevante dos integrantes do STF enxerga as elites empresariais e políticas brasileiras como cegas para o bem comum, avessas a princípios. Portanto, o STF as salva de si próprias, mesmo através de medidas excepcionais, como censura e perseguição de alvos bolsonaristas.

“Futuro” pois consideram que o STF pode “fazer história”, no sentido de encaminhar a sociedade brasileira rumo a consensos abrangentes e “modernos” (como o marco temporal). Assim também teria sido a “intermediação” do STF em suas mais recentes ações políticas, na questão das emendas e da desoneração de folhas de pagamento.

FREIO DE ARRUMAÇÃO – Considera-se no Supremo que a judicialização das duas questões foi um “freio de arrumação” necessário para coibir abusos fiscais (desoneração) e éticos legais (emendas Pix). E que está em boa medida obrigando Executivo e Legislativo a se acomodarem.

É o troco que a política recebe do STF, onde mais uma vez foi-se buscar “soluções” que o jogo político se mostra incapaz de encontrar. Ocorre que o problema de fundo é muito mais abrangente do que os mecanismos das emendas, ou das compensações para as desonerações.

Trata-se da relação “estrutural” entre Congresso e Planalto, que se alterou profundamente nos últimos 25 anos rumo a um semipresidencialismo de fato. Descrevendo-se ao STF como “refém” do parlamento, o Executivo queria reverter décadas de história. Situação agravada pelo fato de carecer de horizontes amplos e ser minoritário num Congresso forte.

EMPODERAMENTO – Essa estreiteza de projetos, agendas e posturas talvez seja, no fundo, o que mais facilitou a compreensão de “empoderamento” que o Congresso desenvolveu sobre si mesmo. Ele se vê como “a” instância da política, muito mais abrangente que o Executivo. E ele, o Congresso, é que se acha liberto da condição de “refém” do Planalto (não só via emendas).

É bastante óbvio que esse embate é político por definição. E ainda que integrantes do STF considerem que sua atuação política é com “p” maiúsculo, não é assim que são vistos pelas forças políticas e por enorme parcela do público – simplificando brutalmente, o Supremo é visto como parte do problema e não como a possível instância de solução

Daí a impressão no acordo entre os três poderes desta semana que um rato saiu da montanha. O desarranjo institucional e a estagnação política e econômica vem sendo “produzidas” há anos. O STF não é dissociado disso tudo. Ele é um retrato.

OAB pede que Supremo libere filmagens do aeroporto de Roma aos denunciados

STF mantém sigilo de vídeo de suposta agressão a Moraes em Roma

Imagem mostra filho de Moraes agredindo o idoso por trás

Deu no UOL

Sob artilharia pesada no caso das mensagens vazadas, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) agora poderá ter de reviver outro capítulo que o incomoda. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pediu nesta segunda-feira, 26, que todas as provas reunidas no inquérito sobre as hostilidades ao ministro no aeroporto de Roma, em julho de 2023, inclusive as imagens das câmeras de segurança do terminal, sejam compartilhadas com a defesa da família denunciada no caso.

A OAB afirma no documento que “compreende e reforça a importância das investigações e a necessidade de se preocupar com o valor e respeito às instituições democráticas”, mas critica o sigilo imposto às filmagens. “Não é compreensível que se negue ao investigado, por seu advogado devidamente habilitado nos autos, acesso às informações, constituindo manifestação em ofensa às prerrogativas da advocacia”, diz o ofício.

COISA DE DITADURA – O parecer foi produzido pela comissão nacional de defesa das prerrogativas dos advogados. Segundo o documento, as restrições impostas pelo STF são incompatíveis com a vigente ordem constitucional. Restrições às prerrogativas dos advogados não afetam somente a classe, mas toda a sociedade e o próprio equilíbrio necessário ao Estado Democrático de Direito”, segue a OAB.

O advogado Ralph Tórtima Stettinger Filho, que representa a família o empresário Roberto Mantovani, a mulher dele, Renata Munarão, e o genro do casal, Alex Zanatta, todos denunciados no caso, pediu auxílio da OAB depois que diversos pedidos para receber uma cópia das imagens foram negados.

O ministro Dias Toffoli é o relator do processo e alega que é preciso preservar a “intimidade dos envolvidos e de terceiros que aparecem nas filmagens”. Ele deixou a gravação disponível para os advogados assistirem, mas negou a extração de cópias, ou seja, os advogados puderam marcar um horário para ver as imagens no STF, mas não foram autorizados a levar consigo uma versão. A defesa, por sua vez, afirma que, sem a cópia, não é possível fazer uma perícia adequada no material.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Vale a pena ver de novo a justificativa de Toffoli para manter o sigilo das cenas: “É preciso preservar a intimidade dos envolvidos e de terceiros que aparecem nas filmagens”. Como se vê, a desfaçatez de Toffoli é realmente imensurável. (C.N.)

Barroso nega impedimento de Moraes (que o próprio ministro tinha admitido)

Barroso e Moraes não vão à sessão do Senado sobre ativismo judicial

Barroso fez um parecer do tipo “jus embromandi”

Lucas Mendes
da CNN

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, rejeitou nesta terça-feira (27) um pedido para declarar o impedimento de Alexandre de Moraes na relatoria da investigação sobre o vazamento de mensagens de auxiliares do magistrado. O pedido foi enviado a Barroso pela defesa de Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Conforme Barroso, não houve “clara demonstração” de qualquer causa que justifique o impedimento do ministro, previstas em lei. “Para além da deficiente instrução do pedido (que não veio instruído com qualquer elemento idôneo que comprove as alegações deduzidas), os fatos narrados na petição inicial não caracterizam, minimamente, as situações legais que impossibilitariam o exercício da jurisdição pela autoridade arguida”, afirmou Barroso, na decisão.

DIZ O CÓDIGO – Conforme o Código de Processo Penal, o juiz não pode atuar no processo em que, entre outros pontos, ele próprio ou seu cônjuge ou parente até o terceiro grau for parte ou diretamente interessado no feito. Barroso também citou a jurisprudência do STF de que pedidos do tipo devem demonstrar “de forma objetiva e específica as causas de impedimento”.

“Também de acordo com a jurisprudência desta Corte, a parte arguente deve demonstrar, de forma clara, objetiva e específica, o interesse direto no feito por parte do Ministro alegadamente impedido. Para essa finalidade, não são suficientes as alegações genéricas e subjetivas, destituídas de embasamento jurídico”.

Na ação, a defesa de Tagliaferro afirmou que a investigação do vazamento das mensagens apura fatos diretamente relacionados com a lisura de Moraes e que a permanência dele na relatoria é absolutamente inadequada. “O presente pedido se faz necessário tendo em vista que já foi proferida abusiva ordem de busca e apreensão e, sem freio, em nada impede que medidas de constrição cautelar irreversíveis sejam decretadas”, afirma o advogado Eduardo Kuntz.

MORAES RECUOU – A defesa questionou o fato de, no domingo (25), Moraes ter reclassificado o inquérito em petição, o que configura, disse o advogado, “uma chicana processual” para o ministro não ser retirado da relatoria. Com isso, o inquérito terá de ser reaberto, após ouvida a Procuradoria-Geral.

“O que demonstra que tal inquérito não poderia existir, o ministro é diretamente interessado no feito e, por conseguinte, é impedido para atuar no caderno investigatório/futura PET, em razão da inadmissível ausência de imparcialidade”, declarou o advogado.

Tagliaferro é ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED), que existiu durante a gestão de Moraes no TSE. Na semana passada, o ex-assessor do ministro prestou depoimento à Polícia Federal sobre as mensagens terem saído do celular dele. Ele negou ter vazado as mensagens que embasaram a reportagem do jornal Folha de S. Paulo sobre o uso do setor de combate à desinformação do TSE de forma não oficial pelo gabinete de Moraes.

CELULAR DESBLOQUEADO – Em depoimento à Polícia Federal (PF) na quinta-feira (23), Tagliaferro disse que seu aparelho celular ficou sob a responsabilidade da Polícia Civil de São Paulo durante seis ou sete dias, desbloqueado, sem a necessidade de senha para acesso ao conteúdo.

Isso porque, em maio de 2023, Tagliaferro chegou a ser preso após um flagrante por violência doméstica. Na ocasião, ele entregou o dispositivo a um compadre, identificado como Celso Luiz de Oliveira, já sem a senha de acesso, para garantir que pudesse ser utilizado “para alguma necessidade da esposa e das filhas, como pagar contas”.

Segundo narrou Tagliaferro, algumas horas depois, esse compadre teria sido procurado pela Polícia Civil de Franco da Rocha, que exigia a entrega do aparelho — o que foi prontamente atendido. Segundo depoimento do ex-assessor de Moraes, seu celular foi entregue por Celso ao delegado da Polícia Civil de São Paulo, José Luiz Antunes.

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NOTA DA REDAÇÃO DO CASO
Barroso, como sempre, deu mais uma bela ajuda a Moraes, agindo dentro do rito informal do Supremo, que manda passar paninho na cabeça de ministro que comete erros. No caso de Moraes, nada de novo, porque passar paninho na careca já é uma espécie de rotina. O fato é o seguinte: ao cancelar o inquérito e transformar a decisão em petição, Moraes automaticamente assumiu que está suspeito ou impedido. Como esse ato seu, o inquérito tipo Viúva Porcina, que era sem ter sido, como dizia o genial Dias Gomes, ficou sem relator, mas quando for reaberto o relator será ele, Moraes. Isso é um escárnio. Mostra que Barroso é igualzinho a Moraes, quando se trata de descumprir leis ou ritos processuais e regimentais. O corporativismo no Supremo chega a dar náuseas. Traga o balde grande, amigo Armando Gama, por favor… (C.N.)

Legislativo ganhou poder no Orçamento, mas o presidente é refém do Congresso?

Charge do Zé Dassilva: Orçamento secreto - NSC Total

Charge do Zé Dassilva (NSC Total)

Marcus André Melo
Folha

O que explica as mudanças recentes no padrão de relações Executivo-Legislativo?  Sim, o “equilíbrio de presidente forte” que vigeu até o governo Dilma está sob forte tensão. A mudança decorre de alterações tais como a impositividade do orçamento (PECs 86/2015 e 100/2019), a criação do fundo de campanha, as limitações às medidas provisórias (EC 32), e a centralização das casas legislativas pós-pandemia (fortalecendo lideranças congressuais em detrimento das partidárias).

E também fatores contextuais que levaram às alterações citadas: crises econômicas, escândalos, declínio da popularidade presidencial, situação fiscal crítica e redução do tamanho do partido do presidente e de sua base congressual, além do novo protagonismo do STF (ora em aliança —como no atual momento— ou em oposição ao executivo).

COALIZÃO – O estilo de gerenciamento da coalizão de governo —que gira em torno da distribuição do portfólio ministerial e das emendas orçamentárias— também importa e afeta a probabilidade do executivo aprovar sua agenda, inclusive para o orçamento. A má gerência é debilitante.

A grande mudança ocorreu no peso relativo dos ministérios e emendas. Sob Lula 3, a alocação de pastas ministeriais exibe padrão conhecido de desproporcionalidade dos governos petistas. E o presidente da Câmara continua a ser o protagonista, processo que teve início na hiperdelegação praticada por Bolsonaro, um weak strong man.

Ministérios e emendas são substitutos: mais ministérios implicam em menos emendas. Mas a inexistência de base formal sob Bolsonaro (ou base coesa sob Lula), levou à hipertrofia das emendas em processo comandado pelas lideranças congressuais.

EMENDAS RESOLVEM? – Como argumentou Lira: “a troca de ministérios por apoios não vai dar certo. As emendas resolvem isto sem ser necessário um ministério. Da forma que está, o parlamentar fica com o pires na mão e um ministro, que não recebe votos, é quem define a destinação de R$ 200 bi para municípios”.

O que é consistente com o que disse Eduardo Cunha: “Cargos não têm a mesma relevância que emendas. Elas entram direto nas bases dos deputados. Consolidam o prestígio e obtêm dividendos eleitorais”; ou o líder do União Brasil: “Na negociação de cargo participa a cúpula nacional. Mas 80% do Congresso, que é o baixo clero, quer saber da execução orçamentária. Quer saber de levar o posto de saúde, a pavimentação”.

É preciso não esquecer que o Executivo constitucionalmente forte foi produto de uma delegação de poderes em 1988, não alguma forma de usurpação. Como tal, pode ser alterada através de reformas na constituição. O dilema é que ator internalizará os incentivos nacionais e não paroquiais do sistema?

Ao votar, escolha entre Belzebu e Satanás, pois a política atravessa uma fase infernal

A velha política - Blog do Ari Cunha

Charge do Ivan Cabral (Sorriso Pensante)

Leandro Karnal
Estadão

Uma das descobertas infantis é a percepção de que há pessoas boas e ruins no mundo. É um conhecimento doloroso e marca o cruzamento de uma fronteira. A próxima revelação, dentro de todos nós, indica que há forças muito maléficas, para serem analisadas e contidas. Esse é o momento de uma segunda consciência. Sintetizando: descubro primeiro que há o mal no mundo e, depois, percebo que ele dialoga com minha mente e pode morar em mim. Antes da primeira descoberta, sou ingênuo; antes da segunda, sou um hipócrita.

O mal existe em graus variados entre colegas, familiares, desconhecidos e nas diversas facetas da minha alma. Nunca me espantou demais nossa potência para destruir, agredir, ter prazer na dor alheia, ser indiferente ao que não me interessa. Temos o egoísmo no nosso DNA, o amor depende muito de estímulos culturais e sociais. Terei lido Hobbes em excesso?

SEM PARAÍSO – Onde houver pessoas, há atritos, maldades, choques variados. Não tenho nenhuma nostalgia de um paraíso ou utopias no futuro. Mas…

Em que momento a política passou a concentrar tanta gente ruim? Minha querida leitora e meu estimado leitor: não parece que, de umas décadas para cá, com exceções, só o pior do humano começou a fazer carreira partidária? Veja: eu sei que há uma tia ou um cunhado de maus bofes em todas as famílias. Imagino que seja impossível pertencer a uma associação piedosa sem conviver com alguém do mal. É quase uma cota em festas, escritórios, famílias e condomínios: uma pessoa, ao menos, muito ruim. No entanto, na grande política profissional, com exceções, parece o contrário.

Começo lá fora. Os EUA possuem mais de 330 milhões de habitantes em um enorme território. Nas universidades estadunidenses, iniciaram-se várias revoluções administrativas e tecnológicas extraordinárias. É um país de ideias, de ação, de empreendedores e administradores de primeira linha. De repente, para a presidência, concorrem duas hipóteses com problemas estruturais. Entre milhões, são as melhores? O que houve? Para onde foram os bons, os hábeis, os mais jovens, os com empatia, os com sanidade e com equilíbrio mínimo?

E POR AQUI? – Volto ao meu Brasil com céu de anil. Terra vasta e generosa, com homens e mulheres de enorme talento. Da pessoa que administra um lar mais humilde e faz peripécias de orçamento até quem cuida de uma grande empresa: há talentos peculiares por aqui. Os desastres das cheias no Rio Grande do Sul revelaram heróis e, claro, canalhas. Crises sempre têm sua cota de velhacos. Posso afirmar: também houve muita gente corajosa, com generosidade sem fim! Nossa habilidade no convívio social é louvada no mundo todo. A alegria brasileira é alvo de debates acadêmicos.

Com tantas tragédias e desníveis sociais, somos um povo que ainda sorri, ajuda, trabalha e… canta! Chegamos à hora da eleição, mas as opções são, quase sempre, entre Lúcifer e Satanás! De novo! Por vezes, ainda existe a aliança de Belzebu com Mefistófeles para vencer o “Coisa Ruim” do outro espectro político. Briga de demônios, com projetos velhos, desequilíbrios pessoais, contestações estruturais de ética e falta de quase tudo que os qualificaria para o cargo.

Não aguento mais votar contra alguém, escolher um candidato que eu acho ruim, porque o outro é pior. Neste século, não vi debate de ideias e de projetos. Vejo acusações biográficas sobre quem seria o esgoto mais podre e qual aliado é o mais defeituoso. Estamos em campanha municipal. Percorro o Brasil e reconheço que já topei com bons projetos locais, especialmente em educação. Posso dizer com conhecimento do território brasílico: são exceções e quase sempre em lugares menores.

HÁ EXCEÇÕES – Sou historiador profissional. Não crio a fantasia de que, no passado, os políticos eram honestos e produtivos e, de repente, ficaram ruins. Estudei corrupção na Colônia, no Império e na República. Sempre houve ladravazes, palavra que meu pai (político e advogado) adorava usar. Ladravaz (todos podem incorporar a palavra ao seu vocabulário) é um grande ladrão, um aumentativo de gatuno (outro termo bom é ladroaço). Havia e há larápios.

Tenho anseio por ética política. No momento, penso na competência mesmo, na capacidade administrativa, que inclui e excede o básico campo da honestidade. Aplicando a determinação constitucional do Artigo 37, contida no acróstico LIMPE (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência), pense comigo: qual é o governante recente que cumpre tais itens constitucionais de forma razoável?

Ser honesto tornou-se tema forte pela escassez, porém esse é atributo jurídico para fazer alguém não terminar mandato na cadeia. Eu enfatizo a eficiência, fruto da experiência e da inteligência. Parece que a política tem atraído pouca gente adepta do E do LIMPE. Para onde foram as pessoas que acreditam na distinção entre bens públicos e privados? Onde se escondem os hábeis administradores? O que houve para que fôssemos invadidos por um exército uniforme de gente tosca, com baixa visão estratégica e moralidade duvidosa?

Alguém me disse uma vez: não se iluda, você está cadastrado em uma zona eleitoral, mas isso nunca será uma palavra neutra. Há espaço para esperança de algo realmente bom? Com a palavra – nós, as pessoas que elegem. Teremos escolhas de verdade?

Marçal bagunça o coreto dos debates, a campanha e a direita em São Paulo

Candidato Pablo Marçal (PRTB) em entrevista a jornalistas na porta do teatro Faap.

Marçal, um bolsonarista que ameaça a família Bolsonaro

Eliane Cantanhêde
Estadão

Estrategistas do pós-Bolsonaro já têm um cronograma político prontinho para São Paulo. Pablo Marçal vai definhar naturalmente, Ricardo Nunes e Guilherme Boulos irão para o segundo turno, Nunes será reeleito e o caminho estará livre para o “grande salto”: a metamorfose do governador Tarcísio Gomes de Freitas para “Tarcísio, o tucano”. Tudo muito bom, tudo muito bem, mas falta combinar com os “russos” – e com as pesquisas.

A primeira fase desse cronograma, ou estratégia, já sofreu um solavanco com Marçal disparando para o segundo lugar no Datafolha, empatado tecnicamente com Boulos, em primeiro, e com Nunes, que deslizou para o terceiro. Logo, a eleição paulistana, em vez de replicar o todos contra o prefeito, como seria natural, se transforma em todos contra Marçal, alvo direto de bolsonaristas, petistas e do centro, todos aturdidos com o ex-coach e sem saber como reagir. Sempre é melhor prevenir do que remediar. Tarde demais.

TODO AO CONTRÁRIO – Marçal não é apenas anti-política, mas uma síntese de tudo o que não se espera de pai, filho, marido, namorado, vizinho, sócio, amigo ou colega. Imaginem de um prefeito, justamente o da principal e mais rica capital do País, que projetou alguns dos políticos mais influentes da história, inclusive candidatos à Presidência da República.

Reportagens do Estadão nos apresentam um Marçal ficha-suja, com patrimônio estonteante e filiado a um partido, o PRTB, recheado de alvos da polícia por ligações com o PCC. Não bastasse, Marçal também avacalha os debates e a campanha com Fake News e difamação.

Ao apostar que Marçal vai “definhar” (ou torcer para isso), os articuladores da estratégia da direita em São Paulo descartam uma cassação da chapa pela Justiça Eleitoral, até porque, se isso já foi possível, deixou de ser diante da disparada dele nas pesquisas. A solução, portanto, está na política, mais precisamente na própria direita.

GUERRA ABERTA – O comando bolsonarista e a própria família do ex-presidente, a começar do deputado Eduardo, eleito por São Paulo, já estão em guerra aberta contra Marçal e há muito otimismo, ou esperança, de que o tempo de TV de Nunes seja devastador para Marçal e os demais. O prefeito terá 55 comerciais por dia na TV aberta, enquanto o candidato do PRTB terá… zero.

Jair Bolsonaro deu corda para o ex-coach, sem perceber que estava dando corda para se enforcar na eleição paulistana, ou melhor, enforcar o seu candidato preferencial.

Assim, foi uma aliança de conveniência que se transformou num problema para os dois lados: Bolsonaro foi útil para a candidatura Marçal deslanchar, Marçal ajudou a manter o nome de Bolsonaro à tona na campanha, mas é hora de se desgarrarem, porque um só atrapalha o outro.

FORÇA DA DIREITA – Apesar de mostrar o quanto Marçal (21%) ameaça Nunes (19%), a soma dos dois confirma a força da direita na capital e os riscos de Boulos no segundo turno. A tendência é que, independentemente das cúpulas partidárias, os eleitorados de ambos se unam contra Boulos e PT, enquanto os de Tábata Amaral e de Datena se dividam entre esquerda e direita.

Aliás, um detalhe: há tantos anos Datena é tido como um potencial fenômeno eleitoral, mas ele não está dando pro gasto e é outra “vítima” de Marçal. Logo, logo, larga a campanha e deixa o moribundo PSDB na mão.

Diante da perplexidade geral, setores da esquerda, inclusive do PT, já se perguntam se não seria melhor para Boulos disputar contra a aventura Pablo Marçal do que contra a caneta de Nunes. Memória muito curta, porque foi assim que o “inadmissível”, “absurdo” Jair Bolsonaro chegou à Presidência. Depois dessa, só nos falta um tipo como Pablo Marçal na Prefeitura de São Paulo.

Relator defende que o Congresso possa suspender decisões do STF

Independência e harmonia entre os Poderes

Charge do Nani (nanihumor.com)

Basília Rodrigues
CNN Brasil

O deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP), relator da PEC que permite ao Congresso suspender decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), apresentou parecer favorável à admissibilidade da proposta. O texto deve ser avaliado nesta terça-feira (27) pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.

No relatório, o parlamentar avalia que a PEC é constitucional e aponta a possibilidade do Congresso rever julgamentos do STF como exemplo de “controle recíproco entre os poderes”.

QUORUM DE 2/3 – Entre outros pontos, a proposta permite que os parlamentares suspendam decisões do Supremo se houver adesão de 2/3 do Parlamento. O STF só teria a oportunidade de derrubar a decisão do Congresso se houvesse voto favorável de 4/5 dos ministros da corte. A mesma PEC também estabelece limites às decisões monocráticas e obriga os ministros a levarem os casos à plenário mais rapidamente.

Luiz Philipe diz que o texto da PEC ainda pode ser aperfeiçoado pelo Congresso, mas que, do ponto de vista técnico, deve receber sinal verde da CCJ da Câmara.

“Examinando seu conteúdo, vemos que não há qualquer atentado à forma federativa de Estado; ao voto direto, universal e periódico; e aos direitos e garantias individuais. Também entendemos que a proposição não atenta, nem tende a abolir a separação dos poderes”, afirmou.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Com isso, o Congresso se fortalece e diminui os poderes do Supremo, que já estão mais do que exacerbados. E assim reequilibra-se a balança institucional. (C.N.)

Três Poderes demonstram ao Brasil o que é promiscuidade democrática

Tribuna da Internet | Reequilibrar os três Poderes é necessário, mas sempre  provoca crises institucionais

Charge do Luscar (Arquivo Google)

Rodrigo Constantino
Gazeta do Povo

A imagem circulou sem parar pelas redes sociais. Não é para menos: ela simboliza o Brasil com perfeição. A velha imprensa tratou com a maior naturalidade: os líderes dos Três Poderes reunidos, num almoço no STF, para “debater” as tais emendas impositivas. A primeira pergunta que um jornalista sério teria de fazer diante da cena: o que os ministros supremos faziam ali? Orçamento não é assunto do Legislativo?

Montesquieu não chegou ao Brasil ainda. Em que pese ao grau de soberba do presidente do STF, que se considera um iluminado que precisa “empurrar a história”, o triste fato é que nunca o Iluminismo de boa estirpe nos deu o ar de sua graça. O conceito de República é desconhecido em nosso país, onde a promiscuidade impera, numa total confusão entre público e privado.

INDEPENDÊNCIA – A necessária divisão entre os Poderes não existe de fato. Bolsonaro era atacado pela mídia por gerar “atrito” com o STF, mas o povo vai descobrir, uma vez mais, o alto custo da “harmonia”: é a total morte da independência. Quando a cúpula toda se junta, o povo leva a mão imediatamente ao bolso e diz adeus às liberdades. É o “acordão” que sempre significa mais fardo no lombo do trabalhador, tratado como gado pelo sistema podre.

O conceito de República é desconhecido em nosso país, onde a promiscuidade impera, numa total confusão entre público e privado. O jurista André Marsiglia resumiu bem: “A função mais importante de um Poder é fiscalizar os demais, é o que chamamos sistema de freios e contrapesos. Em meio às acusações da Vaza Toga contra o judiciário, no lugar do Legislativo exercer seu papel fiscalizador, harmoniza-se para negociar emendas. O resto não importa”. Perfeito.

E o timing do encontro também diz muito: foi para mostrar união num momento em que o Senado deveria estar votando urgentemente o impeachment de Moraes.

BLINDAGEM – Os monstros do pântano se protegem. O sistema carcomido se blinda. Na democracia de gabinete, só não há espaço para o povo. Uma semana da reportagem da Folha com as trocas criminosas de mensagens dos auxiliares de Alexandre de Moraes e nada acontece. Na verdade, acontece sim: o CNJ arquiva denúncias contra quem queria sequestrar jornalista asilado nos Estados Unidos para agradar o chefe, a “bruxa” sem noção que não liga para as consequências. As bruxas supremas estão soltas…

Para adicionar insulto à injúria, o STF receberá uma comitiva de “influenciadores” em projeto que busca, supostamente, aproximar a corte da sociedade. Um dos influenciadores já próximos é Felipe Neto. Outro convidado será Átila Lamarino, aquele que defendeu o autoritarismo chinês na pandemia.

É o STF convocando seu “gabinete do ódio”, sua “milícia digital”. Senti falta, confesso, de Alexandre Frota na lista, para pautar as degolas promovidas por Moraes…

LONGE DO POVO -Marsiglia, novamente, rebateu o absurdo: “O STF não tem que se aproximar da sociedade, tem que se aproximar da Constituição. O desejo de ser apoiado pelo povo é político, descabido a uma Corte. No entanto, diz muito do momento nosso maior tribunal se sentir desconectado a ponto de precisar de ajuda para ser compreendido”.

Claro que com essa patota o STF vai apenas se afastar ainda mais do povo. Mas quem precisa do povo quando se tem a mídia e o poder?

O STF virou uma corte política, um puxadinho tucanopetista que persegue ilegalmente seus adversários e críticos. Nada disso combina com uma República, com uma democracia. É puro suco de Brasil, e o Brasil, infelizmente, não é um país sério. É o país da promiscuidade. Uma promiscuidade “democrática”, claro. O Brasil voltou e a democracia foi salva!

(Artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)

Após ataques de Israel ao Líbano, tensão no Oriente Médio chega ao limite

Homem observa ataque israelense na vila libanesa de Qsair

Pedro do Coutto

Novamente a tensão é sentida no Oriente Médio, quando dezenas de aviões de israelenses sobrevoaram o sul do Líbano, destruindo milhares de lançadores de mísseis do Hezbollah no que foi chamado de ataque preventivo. O ataque do domingo foi baseado, segundo autoridades israelenses, em informações de que o Hezbollah estava prestes a disparar milhares de mísseis no norte de Israel, bem como drones em um importante centro de inteligência ao norte de Tel Aviv, em retaliação à morte de seu comandante no último mês.

Israel declarou estado de emergência e fechou seu principal aeroporto por várias horas, com várias companhias aéreas estrangeiras cancelando voos. O Hezbollah respondeu disparando mais de 200 projéteis, de acordo com Israel, embora autoridades tenham dito que danos muito limitados foram causados.

RETALIAÇÃO – Se o Hezbollah tivesse executado com sucesso um ataque a alvos no centro de Israel, a retaliação poderia causar uma guerra mais ampla na região.”Nossa esperança é que os eventos da noite passada não se transformem em uma escalada que leve a uma guerra regional”, disse o Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, a repórteres na noite de domingo durante uma visita ao Canadá.

Ontem, Israel reabriu seu aeroporto e aliviou algumas  restrições, o que significa que não aguarda outro ataque tão breve. O porta-voz militar de Israel disse que não houve danos a nenhuma base militar israelense. As negociações no Cairo visando estabelecer um cessar-fogo em Gaza entre Israel e a milícia palestina Hamas começaram conforme planejado no domingo.

NOVAS CONDIÇÕES – Porém, depois que uma delegação do Hamas deixou o Egito na noite de domingo, Osama Hamdan, um porta-voz e líder do grupo, disse que Israel “estabeleceu novas condições para um cessar-fogo” e “ainda está procrastinando”, de acordo com uma declaração publicada na conta do grupo no Telegram. Em uma crítica à administração do presidente Joe Biden, ele disse que está “plantando falsas esperanças ao falar sobre um acordo iminente para fins eleitorais”.

As negociações devem continuar em “níveis mais baixos” nos próximos dias em um esforço para preencher as lacunas entre as partes. A tensão no Oriente Médio parece não ter fim e se arrasta desde 1948, gerando várias guerras ao longo dos últimos anos. Um cenário sem diálogos e que parece estar longe de um desfecho de entendimento.