Agora, falta saber quem financiou e também quem negligenciou

Folha de S.Paulo on X: "Esta é a charge de João Montanaro publicada na  #folha nesta segunda (4). Quer ver mais charges do jornal? Acesse  https://t.co/SYBMd9iSW2. #folha #fsp #folhadespaulo  https://t.co/2vnjjAY4Is" / X

Charge do João Montanaro (Folha)

Merval Pereira
O Globo

Eu soube, antes que tivesse acontecido, que a invasão da Praça dos Três Poderes em Brasília vinha sendo planejada. Só não sabia quando, nem de que forma. Todo mundo, aliás, sabia que algo era organizado pela oposição. As redes convocavam para “a festa da Selma”, mas ninguém tinha a dimensão do que ocorreria.

Foi assim: dias antes do 8 de Janeiro, eu estava no restaurante Nido, no Leblon, e encontrei o publicitário Washington Olivetto, que jantava noutra mesa. Conversávamos, quando nos abordou um senhor de cerca de 60 anos, sotaque do Centro-Oeste, que estava numa terceira mesa. Os dias eram tumultuados, preparava-se uma grande manifestação em Brasília de apoio a Bolsonaro, derrotado por Lula na recente eleição presidencial.

“ISSO VAI ACABAR” – O senhor nos reconheceu e puxou assunto. Criticou a imprensa, disse que a eleição havia sido roubada e, indignado, declarou: — Mas isso vai acabar logo, logo, vocês vão ver.

Depois, começou a dar detalhes sobre a manifestação do domingo, dizendo que ninguém aguentava mais a ditadura do Supremo Tribunal Federal e o roubo das urnas eletrônicas. Que ônibus de diversos lugares do país iam a Brasília para a manifestação. Parecia alterado, atribuímos os excessos verbais à bebida e não demos bola para o intruso.

Dias depois, vi pela televisão as cenas de barbárie, e logo me veio à mente a ameaça do fazendeiro que nos abordara naquela noite no Leblon. Depois, sempre que nos encontrávamos, Olivetto e eu nos gozávamos mutuamente. Estivéramos com um grande furo jornalístico nas mãos e não aproveitamos.

“PESSOAL DO AGRO” – Agora que as investigações sobre a tentativa de golpe estão atrás do “pessoal do agro”, me lembrei do episódio.

O tenente-coronel Mauro Cid, em sua delação premiada, disse que o general Braga Netto enviara dinheiro vivo dentro de caixas de vinho aos organizadores da marcha em Brasília. Era “o pessoal do agro” que financiava o golpe, segundo Cid.

Nosso interlocutor certamente foi um dos que financiaram a logística do golpe, provavelmente no pagamento dos ônibus de que nos falou naquela noite. Claro que “o pessoal do agro” é muito vago e não representa toda a classe. Mas que o dinheiro, ou parte significativa dele, veio de lá, isso veio, segundo as investigações, e minha experiência pessoal confirma.

MUITO DINHEIRO – Essa será a parte mais importante das investigações, pois desde o início sabia-se que não era possível manter aquelas centenas, milhares de pessoas acampadas em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília, e a outros quartéis por diversos estados do país, sem que por trás houvesse um esquema de financiamento graúdo. É preciso descobrir quem financiou.

É impressionante como oficiais de alta patente não tiveram condições políticas de impedir os tais acampamentos, onde vários crimes foram planejados e executados.

Claro que a falta de repressão enviava aos amotinados a mensagem de que estava tudo sob controle. Sobre isso, nenhum oficial com quem conversei nesses muitos meses depois do quebra-quebra de 8 de janeiro de 2023 soube me explicar por que não foi proibido o acampamento em frente ao Forte Apache, em Brasília.

CONVERSA FIADA – Uns oficiais falaram em preservar a liberdade de manifestação; outros, que a retirada à força poderia provocar uma convulsão. Mas jamais deixariam que acontecesse, nem naquele, nem em outros locais semelhantes, manifestações de apoio a Lula.

Acampamentos do MST em frente ao Forte Apache? Nunca! Seria uma afronta.

Nenhuma dessas manifestações deveria ser permitida. A impressão de que estavam sob a proteção do Exército e de que a leniência significava que, na hora H, o Exército apoiaria a ação dos acampados, que era claramente incentivada e alimentada. É preciso saber quem financiou, mas também quem negligenciou com objetivos políticos.

11 thoughts on “Agora, falta saber quem financiou e também quem negligenciou

  1. Falta governo ao Brasil

    É assustador: o real já desvalorizou 21,52% só em 2024.

    Nesse ritmo galopante, a moeda nacional pode virar um papel praticamente sem valor em futuro não muito distante.

    E o preço do dólar americano continua disparado, com a cotação chegando ontem a R$ 6,26, no final do dia.

  2. Prezado Jornalista Carlos Newton :

    Com a minha contumaz admiração ao senhor, tomo a liberdade de perguntar :
    1 . Quem ainda lê ou leva a sério o senhor Merval Pereira ?
    2 . O que significa ” thoughts on “?
    Seguem meus votos de saúde e Bom Natal !

  3. Senhor Merval Pereira (O Globo) , com toda certeza parte dos recursos financeiros para manter a trama subversiva e golpista em frente aos quartéis , saíram dos cofres dos próprios quartéis das FFAAs. sitiados , permitido pelos seus respectivos comandantes e responsáveis , por via triangulação mascarando sua origem

  4. O HoMeM é um animal político, como definido inapelavelmente por Aristóteles, há séculos, esteja o animal aonde estiver, de calça ou de saia, de cueca ou de calcinha, à paisana ou fardado, de direita, de esquerda ou de centro, e é bom que seja assim, não tem nada de errado nisso, em sendo a Política a arte e ciência da administração de cidades, estados-membros e países, em sendo a democracia de verdade o poder e governo do povo para o povo. O problema é como permitir a participação de todos e todas, via partidarismo, golpes, ditaduras e estelionatos eleitorais, sem que isso contamine negativamente as instituições face ao aparelhamento partidário das mesmas, como soe acontecer via votos, golpes, ditaduras e estelionatos eleitorais, como tem sido imposto há 135 anos ao Brasil, à política nacional e ao conjunto da sociedade capturados pela república do militarismo e do partidarismo, politiqueiro$, e seus tentáculos velhaco$, capciosos, cheios de aleivosias, vendida a peso de ouro ao distinto público como democracia porém praticada como plutocracia putrefata com jeitão de cleptocracia e ares fétidos de bandidocracia, protagonizada e desfrutada pelos me$mo$ há 135 anos, operada em regime de guerra tribal, primitiva, permanente e insana por dinheiro, poder, vantagens e privilégios, sem limite#, à moda todo os bônus para ele$ e o resto que se dane com os ônus, fatos que tornam a disputa política absurdamente desigual, com as forças do dinheiro e das armas se impondo aos méritos das pessoas, a todos e todas, erga omnes, inclusive sobre a força dos melhores argumentos possível, lógicos, coerentes e meritórios, daí o nivelamento por baixo e o vale tudo, até golpes abaixo da linha da cintura, e às favas os méritos das pessoas, a ética, os escrúpulos e os remorsos. Portanto, sem colocarmos o pé no toco no sentido de exigirmos a mudança de verdade, prioritariamente, deste estado de coisa$ e coiso$, enganosos são e continuarão sendo os factoides, sofistas e manobrar diversionistas inventados pelos me$mo$, conservadora do sistema apodrecido. Daí a necessidade da Democracia Direta com Meritocracia, como propõe a Revolução Pacífica do Leão, há 35 anos na estrada da vida, com projeto próprio, novo e alternativo de política e de nação, pare que o dono da casa, o povo, ponha ordem na casa, porque, como se diz na roça, é o olho e a diligência do dono que engorda os seus porquinhos nas suas respectivas varas e nas suas lavouras como um todo. http://www.tribunadainternet.com.br/2024/12/18/o-diabo-vestiu-farda-de-novo-e-agora-precisa-se-civilizar/#respond , ,

  5. Ditadura é um dos regimes antidemocráticos, ou seja, governos regidos por uma pessoa ou entidade política onde não há participação popular, ou que essa participação ocorre de maneira muito restrita. Na ditadura, o poder está em apenas uma instância (ah, Brasil!), ao contrário do que acontece na democracia, onde o poder está em várias instâncias, como o legislativo, o executivo e o judiciário. Ditadura é uma forma de autoritarismo.

  6. continua…

    Sempre para achar legitimidade, as ditaduras se apoiam em teorias caudilhistas, que afirmam, muitas vezes, o destino divino do líder, que é encarado como um salvador, cuja missão é libertar seu povo, ou ser considerado o pai dos pobres e oprimidos etc.
    As ditaduras sempre se utilizam de força bruta e violação dos direitos legais e humanos para manterem-se no poder, sendo esta aplicada de forma sistematicamente repressiva e constante, impondo o medo e perseguição a seus opositores.
    Veja como o Brasil está! Coincidência.

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