Tarifaço e interesses comerciais: o xadrez das negociações entre Brasil e EUA

EUA estuda tarifa zero para alimentos não produzidos no país

Pedro do Coutto

A poucas horas da entrada em vigor das novas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, o cenário internacional se vê imerso em um jogo geopolítico de interesses comerciais explícitos. Em meio à perplexidade causada pela taxação de 50% sobre produtos brasileiros, surge uma proposta inesperada do secretário de Comércio norte-americano, Howard Lutnick: a adoção de tarifa zero para produtos não fabricados nos EUA, como o café e o cacau.

A sugestão, apresentada em reunião com o vice-presidente Geraldo Alckmin, destaca a complexidade e a volatilidade das decisões comerciais da administração Trump. A proposta de Lutnick, revelada nesta semana, inclui uma exceção estratégica que beneficiaria diretamente o Brasil.

SINALIZAÇÃO – O país é responsável por cerca de um terço da produção mundial de café e tem no produto uma de suas principais fontes de exportação. A adoção de tarifa zero nesse contexto representaria não apenas um alívio econômico para os produtores brasileiros, mas também uma sinalização de que, mesmo diante de um tarifaço generalizado, os Estados Unidos ainda distinguem suas prioridades com base em critérios de interesse nacional.

O problema é o contraste gritante entre a proposta de taxação de 50% e a isenção total em itens específicos. Essa disparidade cria um ambiente de incerteza para exportadores brasileiros, que ainda não sabem exatamente quais produtos serão atingidos e quais escapariam da nova política. Além disso, a falta de transparência nas negociações causa desconfiança e desorganiza o planejamento do comércio exterior.

Lutnick sugeriu que “produtos que não são cultivados ou produzidos em território americano poderiam ser isentos das tarifas”, abrindo uma brecha para acordos bilaterais por produto, e não por setor ou por país. Essa abordagem fragmentada reforça a ideia de que os EUA estão conduzindo sua política comercial não com base em princípios consistentes, mas sim em táticas pontuais para preservar cadeias de abastecimento internas e responder a pressões do mercado doméstico.

SAÍDA DIPLOMÁTICA – Por sua vez, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que se encontra em missão oficial nos Estados Unidos, tenta articular uma saída diplomática que reduza os impactos do tarifaço para o Brasil. No entanto, até o momento, as conversas não renderam frutos concretos. A ausência de anúncios oficiais ou vazamentos positivos na imprensa é um indicativo de que as negociações estão estagnadas ou enfrentando forte resistência.

A situação também traz à tona um debate ainda mais amplo: o papel do Brasil na nova ordem comercial global. Enquanto os Estados Unidos endurecem seu protecionismo, o Brasil se vê obrigado a reposicionar sua estratégia externa. Uma das respostas em estudo, segundo fontes do governo, seria a intensificação do debate sobre a taxação das big techs — empresas como Google, Amazon e Meta, que operam amplamente no Brasil com baixa contribuição tributária.

A eventual taxação dessas empresas poderia servir tanto como contrapeso nas negociações com os EUA quanto como instrumento de justiça fiscal no ambiente digital. No entanto, essa discussão ainda é incipiente e dependerá de articulação política interna, além de resistência previsível das gigantes tecnológicas e de Washington.

UNILATERALISMO – O pano de fundo de toda essa movimentação é o avanço de uma política comercial norte-americana marcada por unilateralismo, sob o comando do presidente Donald Trump. A lógica do “America First” continua a guiar decisões, mesmo que em detrimento de parceiros históricos como o Brasil. E o mais grave: ao mesmo tempo em que pressiona com tarifas elevadas, o governo norte-americano oferece brechas seletivas, como a proposta de isenção para o café, que podem dividir setores e enfraquecer a coesão da frente comercial brasileira.

Enquanto isso, o agronegócio — setor vital da economia nacional — segue apreensivo. As decisões que forem tomadas nos próximos dias terão impacto direto sobre preços, empregos e previsibilidade do setor exportador. O café é apenas um exemplo entre muitos produtos cuja competitividade depende de margens já apertadas e de relações comerciais estáveis.

O momento exige mais do que habilidade técnica: requer diplomacia firme, leitura estratégica e articulação global. O Brasil precisa afirmar seus interesses sem ceder à lógica de exceções que só favorecem os mais fortes. Caso contrário, continuará refém de um jogo em que as regras mudam a cada rodada — e quase sempre em desfavor dos países do Sul global.

6 thoughts on “Tarifaço e interesses comerciais: o xadrez das negociações entre Brasil e EUA

  1. Tarifaço de Trump se transformou em golaço de Lula

    Ao adotar sua postura bélica, Lula não apenas não foi nocauteado como manteve-se aparentemente soberano.

    Lula, ainda que sem querer, saiu vencedor deste episódio. Não foi escorraçado, continuou afetando autoridade e, de quebra, levou menos tarifas que a maioria dos países.

    Para melhorar sua situação tem, lado oposto, um Bananinha rendendo glórias ao bufão imperador – “Muito obrigado, presidente Trump, jamais esqueceremos seu gesto. Deus abençoe a América” – e um bananão, o ex-mito, choramingando pelos cantos em solo brazuca.

    Esses caras são tão medíocres, que até me fazem elogiar o Lula.

    Fonte: O Antagonista, Opinião, 31.07.2025 Por Ricardo Kertzman

  2. Vamos ver o que diziam os idiotas da objetividade:

    1) Fulano foi para os EUA para vender “hamburgeres”;

    2) Trump não está nem a[ para os “bolsonaros”;

    3) Três dias para o “mito” ser preso;

    4) “Bananinha” sequer chega perto da Casa Branca;

    5) “Ainda temos Paris” ;

    6) O Brasil é um “país soberano”.

    Se algum poder extrapola suas atribuições, sempre há algum outro poder para que se julgue a extrapolação. E se este se recusa ? Chame-o de “Congresso Nacional” e tente uma solução externa. Ou agora rejeitam o comportamento de Snowden há pouco tempo ? Preferem um desenho ? Até o STF procurou Biden para pedir apoio !!!

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