Jaguar, grande cartunista, morre aos 93 anos no Rio de Janeiro

Jaguar não poderia esquecer de pedir a última…

Carlos Newton

O cartunista Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, conhecido como “Jaguar”, morreu neste domingo, aos 93 anos, no Rio de Janeiro. A informação foi confirmada à Veja pela viúva do desenhista, Celia Regina Pierantoni.

Jaguar se destacou, em sua trajetória, por ser um dos fundadores do jornal satírico O Pasquim, em 1969. Com diversas críticas à ditadura militar, o cartunista chegou a ser preso pelo regime no início dos anos 1970.

Quando me convidou para escrever no Pasquim, que ele estava dirigindo na sede na Rua da Carioca, recolocou na porta do Redação o cartaz criado pelo humorista Apparicio Torelli, o Barão de Itararé, com os dizeres “ENTRE SEM BATER”, para que a Polícia não espancasse a gente ao nos visitar…

Charge de Jaguar com o título "O PIB SUBIU 0,3%" mostra um personagem meio coberto com um lençol. Ele é careca, tem o rosto rosa, os olhos esbugalhados e o nariz grande e arredondado. É possível ver só uma parte da sua cabeça e um dedo da mão direita, que levanta o pano para esconder a boca. No lençol está escrita a frase: "Isso nunca me aconteceu antes na vida!".

Charge do Jaguar, publicada na Folha

Para enlouquecer a cabeça do leitor, Jaguar editava uma página de Política Nacional assinada por Carlos Newton e uma outra, de Política Internacional, redigida por nosso grande amigo Newton Carlos, que morreu antes da gente e não avisou para ninguém. Era casado com a bela Eliane, neta do Dr. Vital Brazil.

10 thoughts on “Jaguar, grande cartunista, morre aos 93 anos no Rio de Janeiro

  1. GRANDE CARLOS NEWTON, FUI COLABORADOR DO PASQUIM. PODE PUBLICAR COMO MATÉRIA?

    A VIDA COMO FARSA: ENTRE O PODER E O MEME
    Por Johil Camdeab RECORDISTA DE MEMES DO BRASIL
    A Farsa em que Vivemos
    O Brasil de hoje é um palco. Nele, atores improvisam falas vazias, discursos cheios de efeitos especiais, como se todos nós estivéssemos dentro de um filme de ficção de terceira categoria. Os governantes se comportam como personagens que acreditam nos próprios papéis, sem perceber que, fora do script, a realidade é crua, dura e risível.
    A vida real, para eles, é apenas cenário. O povo, figurante. O poder, ilusão.
    Mas a plateia, que somos todos nós, não aplaude mais. Ri. E ri porque a verdade deixou de estar nos palanques, nos tribunais ou nos jornais oficiais. Ela está nas artes que nos restam: nas peças de teatro, nas charges, nas piadas, nas séries, nos livros — e, sobretudo, nos MEMES, este fenômeno que virou o espelho fiel do Brasil.
    Um Nascimento em Território de Rebeldia
    Não é por acaso que minha vida começa em 30 de agosto de 1948, em Euclides da Cunha — antigo Cumbe —, chão sagrado que já pertenceu ao município de Canudos, palco da Guerra do Fim do Mundo, onde Antônio Conselheiro ousou desafiar o poder central.

    Nasci, portanto, em território de insurreição. Um lugar onde o mito da resistência se inscreve na terra e no sangue. Talvez esteja aí a raiz da minha vocação: não aceitar passivamente as farsas públicas. Transformar indignação em MEMES.
    O Desenho como Arma
    Desde cedo, descobri no desenho uma ferramenta não apenas estética, mas política. O dom, aprimorado depois com cursos de Corel Draw e Photoshop, tornou-se instrumento de crítica e ironia.

    Há 22 anos, ilustro o noticiário político. Faço da mesa digital e da tela do computador não só instrumentos de arte, mas de provocação. Minhas ilustrações não pretendem convencer ninguém. Elas apenas cutucam para fazer cócegas no raciocínio de quem ainda insiste em pensar.
    Porque pensar, hoje, é um ato revolucionário.
    O Brasil dos Excelentíssimos
    Nestes anos, acompanhei o desfile de “Suas Excelências”. Autoridades que falam como se vivessem num planeta paralelo. Ministros, presidentes, deputados, senadores e juízes que acreditam ser donos de verdades inquestionáveis, repetindo discursos que apenas eles julgam plausíveis e convincentes.
    E o povo? Ora, o povo é tratado como idiota útil.
    Mas a ironia é que, enquanto eles falam sozinhos em seus palácios, a resposta já está pronta nas ruas e nas redes através dos MEMES.
    A Missão e o Despertar
    Agora, quando completo 77 anos, sinto que minha missão terrena entra em fase de encerramento e coroamento.
    O número não é casual: na simbologia espiritual, o 77 significa despertar, alinhamento com energias divinas, sabedoria e transformação. É como se a própria vida me dissesse: “Cumpriste teu papel. Agora é hora de entregar tua obra como legado.”
    O Livro Bíblia da Era dos Memes
    É nesse espírito que vou lançar no dia 7 de SETEMBRO, sem fins lucrativos, o e-book
    “A LEI DE XANDÃO E IMORAIS”.
    São 500 páginas, ilustradas com imagens coloridas, onde a crítica política se mistura à sátira e à indignação. Não é biografia autorizada, porque poder nenhum precisa autorizar a liberdade criativa. É antes um registro do nosso tempo, um arquivo de resistência.
    Que seja lido por todos os alfabetizados deste país. Que seja consultado, como uma Bíblia — não no sentido religioso, mas no etimológico já que Bíblia vem de Biblos, o Livro que se ergue acima dos demais por condensar um espírito de época.
    Se a vida pública brasileira é uma farsa, cabe a nós, cidadãos, fazer dela também uma sátira. Se o poder insiste em se vestir de fantasia, cabe à arte despir suas ilusões.

    O livro “A LEI DE XANDÃO E IMORAIS” não será apenas meu, mas de todos que se recusam a aceitar a política como teatro de horrores sem bilhete de volta.
    O Brasil precisa rir para não chorar. E, enquanto houver uma foto transformada em MEME, haverá resistência.

  2. Coqueiro Verde

    Em frente ao coqueiro verde
    Esperei uma eternidade
    Já fumei um cigarro e meio
    E Narinha não veio

    Como diz Leila Diniz
    O homem tem que ser durão
    Se ela não chegar agora
    Não precisa chegar

    Pois eu vou me embora
    Vou ler o meu Pasquim
    Se ela chega e não me vê
    Sai correndo atrás de mim

    Composição: Roberto Carlos / Erasmo Carlos

  3. Vocês eram corajosos. Me lembro da charge do Pasquim quando o Brasil ganhou a Copa do Mundo de 1.970.
    Era um pobre coitado, com a roupa em farrapos, sentado na calçada, com uma bandeirinha do Brasil nas mãos, dizendo:
    ” Obrigado meu Deus, eu não mereço tanta felicidade. “

  4. Carlos, li o Pasquim desde o primeiro número até acabar. Era um verdadeiro clarim da liberdade disfarçado de riso durante a ditadura. Acho aue nunca mais se conseguirá reunir uma equipe como aquela.

  5. Hai gobierno? Soy contra!
    O náufrago chegou a nado numa praia e perguntou a um banhista, Hai gobierno?
    Si, Fidel!
    O naufrago meteu o braço de volta ao oceano.
    Hehehe.
    Hoje um Pasquim que se dedicasse a satirizar o governo seria considerado antidemocrático e seus jornalistas presos.
    Parece praga de madrinha, os comunistas adoram perseguir, prender ou exterminar jornalistas contra. Vai daí que o ‘grosso’ deles se dedica a salamaleques ao governo.
    Daí digo eu, não faça dos cojones del gobierno um corrimão para o sucesso.
    Hehhehe

  6. O sempre bravo Millôr Fernandes é ainda autor da pergunta que não quer calar no fundo da alma dos tantos brasileiros que sempre foram maluquinhos pelo menino de Caratinga: “Afinal, se combatia a ditadura ou era investimento a longo prazo?”

  7. Jaguar, escolheu o nome do Pasquim, a partir do jornal Paschino, uma publicação panfletária de conteúdo difamatório da Itália.

    Jaguar com seus cartuns políticos e humorísticos conviver com gênios no Pasquim: Millôr, Ziraldo, Paulo Francis, Henfil, Ivan Lessa, Tarso de Castro, Sergio Cabral, Sergio Augusto (parou de escrever aos domingos no Estadão).

    Em 1969, os amigos citados aqui, todos do Pasquim foram presos pela Ditadura Militar, isolados num quartel do Exército em Deodoro. Menos Jaguar, que se escondeu na casa do comunicador Flávio Cavalcante.

    Paulo Francis, descobriu que Jaguar estava lá e mandou um recado. ” Se você não se entregar, nós não seremos soltos”. Jaguar sabia, que não era verdade. Francis pediu que usasse sua consciência. Então, Jaguar pediu um táxi e rumou para Deodoro. Antes passou num boteco na Vila Militar, bebeu uma dose de pinga e se entregou na guarita do quartel. Ficaram três meses presos em Deodoro. Feliz ente não foram torturados.

    No início da carreira, Jaguar mostrou seus cartuns para o jornalista Hélio Fernandes, da revista, O Cruzeiro, que os achou horrorosos. Disse Hélio: Sou irmão do maior cartunista do Brasil e isso aí é muito ruim. Mas, vou te apresentar ao Millôr. Millôr recebeu Jaguar, analisou os cartuns e gostou do conteúdo sarcástico, se tornando um dos maiores amigos do gênio.

    Jaguar aproveitou o período preso para ler Guerra e Paz, no entanto, não conseguiu passar da página 15, do livro Ulisses de James Joice.

    Como tudo acaba, o Pasquim acabou com o fim da Censura. Segundo Jaguar, a Ditadura impulsionou o Pasquim, concluindo que a Democracia é péssima para os semanários panfletários como o Pasquim, Opinião, Pif Paf.

    O mundo está ficando chato, com a partida dos geniais cartunistas.

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