
Nikolas pediu a demissão de trabalhadores
Mônica Bergamo
Folha
Deputados acionaram o Ministério Público do Trabalho (MPT) para que o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) seja investigado por promover uma cruzada contra pessoas que fizeram postagens sobre a morte do norte-americano Charles Kirk. Desde a semana passada, o parlamentar posta mensagens dirigidas a empregadores exigindo que os trabalhadores autores das publicações sejam demitidos. Em diversos casos, teve sucesso.
Segundo a representação, assinada por nove deputados do PSOL, “o constrangimento, a coação, a intimidação e a ameaça de demissão por motivos de convicção filosófica ou política, sejam os empregados de esquerda ou que simplesmente não compactuem com opiniões de direita ou de extrema-direita, configuram situações de evidente abuso de direito e assédio laboral, que não podem ser toleradas nem incentivadas, como ilicitamente vem fazendo” o parlamentar.
INVESTIGAÇÃO – Eles pedem também que seja aberta investigação contra o empresário Tallis Regence Coelho Gomes, que ajuda a divulgar a hashtag “DemitaExtremistas”. “Sob a desculpa de que estariam ‘perseguindo extremistas que apoiam a morte’, em referência às pessoas que se manifestaram nas redes sociais de forma crítica às opiniões do norte-americano Charlie Kirk, militante de extrema direita assassinado em 10/09 nos Estados Unidos, os denunciados têm levado à cabo uma verdadeira campanha de incentivo à perseguição de trabalhadores por suas convicções políticas, violando a liberdade de manifestação do pensamento (artigo 5º, IV, CF), liberdade de consciência (artigo 5º, VI, CF) e de convicção filosófica ou política (art. 5º, VIII)”, dizem os parlamentares.
“Trata-se de uma campanha orquestrada pela extrema direita, de perseguição e amedrontamento dos trabalhadores em razão de suas opiniões e convicções políticas não alinhadas às pautas da extrema direita”, seguem. Os parlamentares incluíram postagens de Nikolas para exemplificar o que consideram “ilícitos trabalhistas de abuso de direito e assédio laboral por motivos de convicção filosófica ou política”.
PERSEGUIÇÃO – Em dois deles, Nikolas pede a demissão de trabalhadores do Theatro Municipal de São Paulo e da Vogue Brasil. Em uma das postagens, ele afirma que vai entrar em contato com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), para pedir o desligamento de um funcionário do espaço cultural por uma publicação sobre Kirk.
Em outra postagem no X, o deputado pressiona a Vogue Brasil a demitir Zazá Pecego, stylist sênior da revista por uma publicação dela interpretada como uma comemoração ao assassinato de Kirk —o que a profissional nega. Como mostrou a Folha, Zazá de fato foi desligada da empresa na sexta (12). Para celebrar, Nikolas Ferreira postou uma imagem dele mesmo dizendo “Caçar e Demitir. Gostoso demais”.
Em outra postagem, o deputado comemora a demissão de um médico de uma clínica em Recife pelo mesmo motivo —e elogia a empresa. “Espetacular posicionamento.” “Muitas denúncias interessantes hoje. Nós vamos atrás de você”, celebrou o parlamentar em outra mensagem, indicando que seguiria publicando e expondo trabalhadores.
REPRESENTAÇÃO – A representação é assinada pelos deputados Guilherme Boulos, Erika Hilton, Célia Xakriabá, Henrique dos Santos Vieira Lima, Ivan Valente, Luciene Cavalcante da Silva, Talíria Petrone Soares, Tarcísio Motta de Carvalho e Paulo Lemos. Nela, eles pontuam ainda que “o poder diretivo do empregador não contempla a imposição de convicções políticas e ideológicas. Assim, ao firmarem contrato de trabalho, os trabalhadores tem a expectativa de que suas convicções filosóficas e políticas sejam respeitadas no âmbito de suas individualidades. Vale dizer que o empregador compra as horas de trabalho do empregado, mas não suas convicções filosóficas e políticas”.
Procurado pela coluna, o deputado afirma que a única resposta que tem para a representação dos psolistas é “mandar eles caçarem um lote para capinar”. Já Tallis afirmou se sentir orgulhoso de ter uma representação contra ele por “estar lutando contra o extremismo”.
“Reitero a minha posição de que aqueles que celebram a morte de pessoas inocentes não merecem emprego. Se ainda vivemos em uma democracia e o Estado de Direito existe, estou amparado pela lei no meu pleito.”
MAU PROCEDIMENTO – Em sua resposta, ele diz ainda que comemorar assassinatos se encaixa em mau procedimento e em ato lesivo da honra e da boa fama, o que são, em sua visão, suficientes para motivar a demissão por justa causa.
“Aristóteles dizia que a virtude está no equilíbrio dos extremos; o debate está sumindo no Brasil exatamente por atitudes como essas que eu e todo o empresariado sério brasileiro estamos lutando. Pergunto aos deputados do PSOL: Eles são a favor da celebração da morte de pessoas inocentes?, questiona.
Alô, amigos. Os comentários estavam bloqueados, mas consegui reabrir a postagem. Comentem, por favor.
CN