Lula e Trump na ONU: o choque entre multilateralismo e nacionalismo

Dois modos de entender o papel da liderança em tempos de crise

Pedro do Coutto

Na Assembleia-Geral da ONU, os discursos de Lula e Donald Trump expuseram com clareza não apenas duas visões distintas de mundo, mas também dois modos de entender o papel da liderança em tempos de crise.

Lula subiu ao púlpito reafirmando que “o Brasil está de volta” à cena internacional, numa postura que mistura firmeza e esperança. Para ele, a desigualdade social, a fome e as mudanças climáticas não são pautas opcionais ou discursos de ocasião, mas desafios centrais da humanidade. Sua fala destacou a necessidade de ação imediata e concreta, cobrando dos países ricos o cumprimento de compromissos de financiamento climático e a responsabilidade de enfrentar coletivamente os problemas que atravessam fronteiras.

PROPOSTA – Mais do que cobrar, Lula também propôs: apontou para a urgência de reformas nas instituições multilaterais, em especial no Conselho de Segurança, para que não sejam reféns de uma geopolítica que ainda reflete os interesses de um mundo pós-Segunda Guerra. Seu tom foi, assim, o de quem reivindica não apenas respeito, mas espaço de protagonismo para países emergentes, em nome de uma governança global mais justa.

Trump, em contraste, apresentou um discurso que reforçou seu estilo inconfundível: direto, confrontador e centrado na ideia de soberania absoluta. Para ele, a ONU perdeu relevância justamente por se prender a declarações retóricas sem resultados práticos. Ao afirmar que não abrirá mão de colocar os Estados Unidos acima de qualquer instância multilateral, Trump voltou a criticar políticas ambientais que considera nocivas à economia e ironizou consensos internacionais sobre mudanças climáticas, retratando-os como exageros ou mesmo armadilhas para conter a produção e a competitividade americanas.

Também destacou a questão migratória, descrevendo-a como uma ameaça à identidade cultural e à segurança, numa narrativa que ecoa junto a plateias domésticas temerosas de perder espaço no mundo globalizado. O presidente americano fez do púlpito da ONU um palco para reafirmar sua crítica ao “globalismo”, buscando transformar um espaço de diálogo em vitrine de sua política de confrontação e autodeterminação.

DISPUTA – Esse contraste revela mais do que estilos diferentes: aponta para a disputa de projetos de poder no século XXI. De um lado, Lula fala em interdependência, solidariedade e reformas institucionais como caminhos para enfrentar problemas globais que nenhum país, por mais rico que seja, conseguirá resolver sozinho. De outro, Trump defende que cada nação deve cuidar de si, que instituições globais tendem a se perder em burocracias e que a busca por consensos acaba diluindo responsabilidades em prejuízo da soberania.

Essa dicotomia reflete um dilema contemporâneo: apostar no multilateralismo como saída para crises planetárias ou reforçar o nacionalismo como escudo diante das incertezas. No fim, o que se viu na ONU foi um retrato vivo das tensões do nosso tempo.

LIDERANÇA – Lula procurou encarnar uma liderança capaz de articular os interesses do Sul Global e dar voz a países historicamente marginalizados, enquanto Trump reafirmou o peso dos Estados Unidos como potência que não aceita dividir poder nem abrir mão de sua autonomia.

O futuro, no entanto, não dependerá apenas dos discursos, mas de ações concretas: se as palavras de Lula se transformarão em políticas de cooperação e financiamento internacional; se as promessas de Trump resultarão em estratégias sustentáveis ou apenas em mais isolamento.

Em um mundo pressionado por crises climáticas, conflitos armados e desigualdades crescentes, a escolha entre cooperação ou confronto terá consequências decisivas. O palco da ONU serviu, mais uma vez, como espelho das escolhas que definirão a próxima década.

14 thoughts on “Lula e Trump na ONU: o choque entre multilateralismo e nacionalismo

  1. O “progressista” Lula
    – é um sujeito bipolar, pra não dizer sem rumo:
    – sem ideologia;
    – sem projeto de país;
    – sobrevive da extração da mais valia absolutíssima;
    – Mantem seu sultanato estatal oligárquico inútil, extorquindo a Sociedade com impostos aviltantes;
    – Não sabe que não se pode gastar mais do que recebe;
    – Só tem uma causa inútil e inócua: o anti-imperialismo;
    – Democrata que ama ditaduras, notadamente as que assassinam mulheres por não usarem o véu e grupos totalitários, como o Huthis, que crucificam homossexuais;
    – Até ontem era socialista, agora clama pelo livre mercado;
    – Anteontem era ferrenho opositor à globalização, agora defende a mesma como o nome de multilateralismo;
    – Não tem a menor noção da realidade, está na Era da Pedra Lascada, vendo a Quarta Revolução Tecnológica passando arriada inertemente, insistindo que devamos eternamente exportar bananinha;
    – É a expressão da decadência mora, civilizacional e temporal.

    Um cabra pra fazer loa a esta múmia pândega ou é um completo jumento ou canalha!

  2. Quem está interpretando o mundo sob a ótica direita/esquerda ou do maniqueismo binarista reducionista lulobolsanarista, está mais perdido que bêbado em tiroteio!

  3. Parafrasenao a treloucada Rainha da filosofia, Marilena Chauí, que deveria escrever em papel higiênico pra ter alguma utilidade:

    “A Organização Petista brasileira é a Organização da covardia, é a Organização da mediocridade, é a Organização do egoísmo, é a Organização do racismo. Ela é uma Organização terrorista. Porque o terrorista não é apenas aquele que põe bomba, o terrorista é aquele que espalha o pânico. E a Organização Petista brasileira, do ponto de vista político, é uma Organização que espalha o pânico. Ela é uma Organização que odeia os pobres, que odeia os direitos dos pobres, que odeia os direitos sociais, que odeia a cultura, que odeia tudo que não seja ela mesma.”

  4. Com três palavras-chave Barba faz discursos

    Barba destampou a falar ultimamente de “multilateralismo’ como se soubesse exatamente do que se trata.

    Assim como todo seu blá-blá-blá sobre “soberania” e “democracia”.

    Puro ilusionismo.

  5. É a “química” da malandragem!!! Assim como um maluco conhece o outro mesmo vendo pela primeira vez, um malandro conhece o outro a distância. Dois canalhas sem escrúpulos e senis se encontraram então é claro que iria rolar uma “química boa”. O Trump pode ajudar o “nine” com menores tarifas e clima menos hostil o que lhe dará popularidade (espelhos) e em troca levará os minerais raros e tudo o mais (pau Brasil). É só isso!

  6. Pois é, o pessoal anda perdidinho. Alguns usam a semântica prolixa repetida exaustivamente e cansativamente.

    Não sabem se elogiam Trump ou Milei, dois com políticas econômicas absolutamente antagônicas (Talvez parecidos no desprezo e negação na questão do meio ambiente e da ciência ou na pauta aparente de costumes, além da tendência autocrática).

    O ideal é não termos deficit fiscal, com serviços públicos excelentes, segurança, investimentos, melhores empregos, proteção ao meio ambiente, melhor educação, menos desigualdades.

    E como se faz isso? Eis a questão. Melhores serviços públicos exigem grana. E a grana vem de onde? Não há mágica. Todos queremos essas coisas. É a velha historia, o que fazer a gente sabe. O problema é o como fazer para atingir os objetivos.

    • “Se” as máfias abrirem mão ✋ do dinheiro público,talvez sobra dinheiro para aplicar nos políticas públicas…

      PS: A lei do Gerson impera,( levar vantagem em tudo),cerrto..

      O que falta,é vergonha na cara.

      Bem diz o barriga verde,Sr. Schossland.
      Máfia Kisarianos.

  7. O discurso de Lula na ONU foi elogiado até pelo Trump, que marcou uma reunião com Lula na semana que vem.
    É preciso que os dois conversem sem intermediários, apenas os tradutores.

    Marco Rubio, o Secretário de Estado, odeia o Brasil. É ele o mensageiro das notícias falsas sobre o Brasil, que sopra no ouvido de Trump. Vai ficar mal na foto com Trump, quando a verdade vier a tona e ela sempre vem, pode demorar, mas, chega um dia.

    O presidente Macron da França, pegou Lula pelo braço, sorridente e feliz.
    Zelensk, o presidente da Ucrânia, conversou com Lula por uma hora e saiu muito satisfeito
    Independente das preferências partidárias e ideológicas, o representante do Brasil na ONU deve ser aplaudido, quando vai bem e é reconhecido pelos chefes de Estado. Lula, Dilma, Temer, FHC, Bolsonaro, Sarney, Figueiredo, Geisel, todos, enfim, representam o Brasil.

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