Paulo Peres
Poemas & Canções
O dramaturgo, ensaísta, contista e poeta paulista Manuel Antônio Álvares de Azevedo (1831-1852), no poema “Tristeza”, antes de morrer aos 20 anos, fez um último pedido para que escrevessem uma frase em sua sepultura.
TRISTEZA
Álvares de Azevedo
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poento caminheiro;
Como as horas de um longo pesadelo,
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como um desterro de minha alma errante,
Onde fogo insensato a consumia…
Só levo um saudade – é um desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade – é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas…
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz – e escrevam nela:
Foi poeta, sonhou e amou a vida
É da vida…
Dê bom dia à vida, Maria
Saúde a felicidade, Tereza
É da vida alegria e tristeza
Eu me dou á mulher que amo
Sempre rio de piada bem contada
Adoro qualquer petisco – até de siri!
Se acompanhado de cerveja gelada
É parte do viver a busca do prazer
Mas cabe com o bom senso evitar
Excessos, que males possam trazer
Grandeza, sentimento e profundidade nos versos do jovem Álvares de Azevedo:
‘Só levo uma saudade… De ti, ó minha mãe!’
Morte e Vida Severina – João de Melo
— O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias