Promotor que recusa penduricalhos é considerado “inimigo” pela classe

Por que os penduricalhos do Judiciário não estão sendo, e nunca são, debatidos?” | ASMETRO-SI

Charge reproduzida do Arquivo Google

Luiz Vassallo e Ramiro Brites
Metrópoles

Mensagens de um grupo de WhatsApp formado por mais de 500 promotores e procuradores da ativa e aposentados do Ministério Público de São Paulo (MPSP) expõem a briga pelo pagamento de penduricalhos, a ciumeira com carros de luxo de desembargadores e a ira contra um colega que foi ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o pagamento de um benefício que turbinou os contracheques da carreira.

Nos diálogos obtidos pelo Metrópoles, membros do MPSP reclamam de estar em uma “classe social inferior” à dos magistrados e dizem que os penduricalhos — valores pagos além do salário como verbas indenizatórias — são uma “defesa contra o arrocho salarial”. “Eu só quero pagar minhas contas”, escreveu um deles.

EQUIPARAÇÃO JÁ – O grupo no WhatsApp leva o nome “Equiparação Já” e fomenta duas reivindicações centrais de promotores e procuradores. A primeira é equiparar seus vencimentos aos dos magistrados do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), o que consideram uma disparidade inconstitucional. A segunda está relacionada à equiparação entre os pagamentos a membros da ativa e os aposentados do MPSP.

Entre os integrantes do grupo há membro do Ministério Público paulista que recebeu R$ 67 mil líquidos somente em agosto deste ano e mais de R$ 100 mil em dezembro de 2024, de gratificação natalina e verbas indenizatórias.

Entre os membros do MPSP mais atuantes no grupo da “equiparação” salarial está o procurador Marcio Sergio Christino. No sábado (20/9), por exemplo, ele perguntou de forma irônica aos outros membros se eles já haviam passeado de Porsche naquele dia. Depois, reclamou do “desnível financeiro e social” dos representantes do Ministério Público em relação à magistratura.

VOU DE PORSCHE – “Você já passeou de Porsche hj? Parece que ficamos acostumados com o desnível financeiro e social que nos colocamos em relação à magis”, escreveu Christino, referindo-se à magistratura.

“Desembargador amigo está uma foto dele andando de Porsche pela Rodovia dos Bandeirantes com o teto solar aberto. Isto me lembrou do almoço onde eles (desembargadores) discutiam justamente isso. E lembravam que os três comensais haviam comprado o mesmo carro”, completou ele.

No dia seguinte, o procurador voltou ao grupo, lamentou a proximidade financeira dos membros do MPSP, que são os promotores e procuradores, com “funcionários” do órgão, como os analistas. E relembrou o caso dos Porsches.

AS DIFERENÇAS – “Vocês sabiam que percentualmente a diferença entre nós e os desembargadores é maior que a diferença entre nós e os analistas? Ou seja, estamos mais perto de sermos vistos financeiramente como funcionários do que como iguais”, disse.

“Isto confirma o que eu havia dito antes: agora estamos em uma classe social inferior. E isto não é eventual, é estrutural. Bom domingo, com ou sem Porsche”, acrescentou.

A conversa sobre os carros de luxo continuaram durante a semana e receberam o apoio de outra procuradora, Valéria Maiolini, que fez o relato de um juiz que acabava de comprar seu terceiro carro de colecionador, acumulando R$ 1 milhão em veículos caros, enquanto os membros do MPSP brigavam “para receber o mínimo”.

TERCEIRO CARRO – “Inacreditável o que estamos vivendo! Um conhecido meu juiz acabou de comprar o terceiro carro de colecionador! Mais de 1 milhão só em carros de colecionadores para ficar na garagem e sair só final de semana!”, exclamou a procuradora, que foi procurada por telefone e WhatsApp, mas não respondeu à reportagem.

Outro membro do MPSP chamado Leonardo — ele não quis se identificar ao ser contatado com a reportagem — disse que precisava dos auxílios e benefícios pagos além do salário para “pagar as contas”. “Eu nem quero um Porsche. Eu só quero pagar minhas contas”, pontuou.

O procurador Márcio Christino respondeu lembrando da mensagem que enviou sobre os Porsches e completou com outro comentário, dizendo que o vencimento dos membros do MPSP estava se equiparando ao salário pago no “magistério”. Em seguida, ele faz um trocadilho ao apelido “magis” dado à carreira dos “magistrados” para se referir aos professores.

“MAGISTÉRIO” – “E pior, não há mudança de perspectiva à vista, estamos nos tornando igual a Magis… Magistério”, respondeu o procurador.

Procurado pela reportagem, Márcio Christino disse, inicialmente, que não lembrava das mensagens e acusou suposta adulteração das conversas. Depois, disse se tratar de consequências de uma “disputa eleitoral”, já que ele é candidato ao Conselho Superior do Ministério Público, que terá eleições em dezembro (veja abaixo o posicionamento dele).

Um dos administradores do grupo, o procurador Luiz Faggioni disse que dirige um carro popular. O comentário seria uma ironia com os desembargadores e não expressaria o desejo dele de andar de Porsche.

DINHEIRO ATRASADO – “A gente tem um monte de dinheiro atrasado que a gente nunca recebeu. E é uma gozação porque a magistratura está recebendo”, explicou Faggioni ao Metrópoles. “A gente tem um salário que para a sociedade brasileira é excelente, mas a gente estava brincando com essa disparidade entre duas carreiras que teoricamente, pela Constituição, têm que ganhar o mesmo valor”, acrescentou.

Tanto Christino quanto Faggioni receberam mais de R$ 100 mil em dezembro e, nos últimos nove meses, tiveram média salarial de mais de R$ 70 mil.

Um membro do MPSP que acionou o STF recentemente contra um auxílio recebido pelos promotores foi alvo de xingamentos de outros integrantes do grupo.

RIDICULARIZADO – O alvo é aposentado e, segundo membros do Ministério Público que aparecem na conversa, não faz parte do grupo de WhatsApp. Nas mensagens, ele é chamado pelos colegas de “idealista”, “mesquinho”, “ingênuo”, entre outros adjetivos.

“Uma burrice, sem tamanho. Uma ação pequena, de uma pessoa mesquinha, com visão estreita”, escreveu Leonardo sobre a ação do colega.

Ele foi respondido por Valéria, que alega que São Paulo é o único estado prejudicado com a ação movida contra o penduricalho.

“Síndrome de vira lata mesmo! Querer nivelar por baixo quando todos já receberam suas verbas, menos SP, muito pouco pago, Piauí e RS! Só SP será prejudicado com auto!”, escreveu.

INIMIGO DA CLASSE – Marcio Christino também criticou a ação no grupo: “Tal ação é de antemão um insucesso, não servirá para nada, exceto nos expor”, argumentou. “Certo está o Leonardo, a luta é pelo orçamento que beneficiará a todos.”

Luiz Faggioni, o administrador do grupo, também entrou no coro e disse que o autor da ação era “inimigo da classe”. Valéria então voltou à discussão questionando se o colega havia aberto mão de outros privilégios.

“Alguém sabe dizer se o colega abriu mão do auxílio moradia quando foi pago: Porque quem não concordou abriu mão de receber! E ele?”, perguntou a procuradora. “Está militando para destruir direitos importantíssimos”, respondeu Faggioni.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Importantíssima matéria enviada por Duarte Bertolini. Mostra o que o dinheiro faz com a cabeça das pessoas que ocupam postos de destaque. Ministros, desembargadores, juízes, promotores, advogados da União, defensores públicos e procuradores  já se transformaram em cidadãos especiais, que não têm a menor preocupação nem solidariedade com relação ao sofrimento dos outros brasileiros que não passaram em concursos. (C.N.)

7 thoughts on “Promotor que recusa penduricalhos é considerado “inimigo” pela classe

  1. Sr. Newton

    O andar de cima está se lixando para o preto, verde, amarelo, branco, azul anil , pobre favelado, donas de casa velhos aposentados do andar de baixo

    Lula diz que missão é garantir café, almoço e jantar para brasileiros

    da Folha Online

    No seu dicurso de posse no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a missão de sua vida é acabar com a fome no país. “Enquanto houver um irmão brasileiro, ou uma irmã brasileira sofrendo com a fome, teremos motivos de sobra para nos cobrir de vergonha”.

    Segundo ele, a sua missão será cumprida se ao final de seu mandato todo brasileiro tiver pelo menos três refeições por dia.

    “Defini entre as prioridades de meu governo o programa de segurança alimentar, que leva o nome de Fome Zero. Se ao final de meu mandato todos os brasileiros tiverem a possibilidade de tomar café da manhã, almoçar e jantar, terei cumprido a missão da minha vida.”

    Para Lula, acabar com a fome é uma missão tão importante quanto os planos de meta desenvolvimentistas da era Juscelino Kubitschek (1956-1961).

    “É por isso que eu proclamo: vamos acabar com a fome em meu país. Transformemos o combate à fome em uma grande causa nacional, como a criação da Petrobras. Essa é uma causa que pode e deve ser de todos. Deve ser um instrumento para defender o que é mais sagrado: a dignidade humana

    https://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u44218.shtml

  2. Tarcísio e líderes da direita se veem como reféns eleitorais do ex-mito

    Parecia impossível, mas o clã Bolsonaro conseguiu estilhaçar a coalizão de forças da direita. Ironia da história: fez isso com o apoio de Laranjão, a referência contemporânea da ultradireita.

    Os partidos que em 2018 se uniram no antipetismo agora enfrentam uma crise de identidade derivada da aliança com o grupo extremista abrigado no Partido Liberal, cujo funcionamento há três anos tem sido semelhante ao de uma central de organização do golpe de Estado.

    O problema da direita verde-amarela é a autodependência infligida do grupo de novos ativistas políticos conhecido genericamente como “bolsonarismo”.

    O comportamento hesitante de Tarcísio sobre eventual candidatura presidencial reflete a confusão e insegurança em torno da identidade e dos valores dessas forças políticas.

    Tarcísio se vê como refém eleitoral do clã bolsonaro.

    O bolsonarismo é mera fração (entre 11% e 15%) da direita verde-amarela, mostram as pesquisas mais recentes da Quaest, Ideia e MDA, entre outras.

    Elas desenham a eleição de 2026 com tendência ao centro, porque os eleitores, aparentemente, se cansaram do radicalismo.

    Fonte: Revista Veja, Brasil, 3 out 2025, 06h00 Por José Casado

  3. Não incluiria procuradores e advogados públicos.

    Defensorias têm barganha política via Ação Civil Pública e avançam no corporativismo em detrimento da população, mas isso não é realidade em todos os Estados.

    Só juízes e promotores na estrutura atual usam e abusam do poder contra o interesse público e apenas protegem os próprios interesses da categoria.

    Têm as chaves de todos os cofres e de todas as cadeias.

    Estão literalmente acima das Leis.

    Vitaliciedade é uma aberração.

    Só se fala em Reforma Administrativa contra trabalhadores: engenheiros, médicos, enfermeiros, professores, contadores, administradores, assessores, fiscais.

    Tudo para oprimir e aumentar a corrupção via precariedade do emprego no Estado.

    Mas juízes e promotores são o extremo oposto.

    Um mar sem fim de oceanos de regalias.

    Sem comparação no mundo atual.

  4. O que mais me entristece ao ver uma discussão dessas alimentada pela ganância dentro de um grupo extremamente privilegiado (às nossas custas, não esqueçamos) é que apesar de termos o Judiciário disparadamente mais caro do mundo a nossa justiça é tão lenta e de modo geral desigual que o povo já deixou de confiar nela faz tempo.

  5. Com raríssimas exceções, pensamos em sempre levar vantagem.

    Quando eu ouço muita gente comentando que usa esses aparelhos piratas que pegam tudo, me sinto um trouxa por fazer a coisa certinha.

    E isso se repete em sonegações de impostos, através de artifícios ilegais diversos.

    E o pior é ouvir a indignação desse pessoal sobre a corrupção.

  6. Promotor de Justiça que recusa meter a mão no suado dinheiro dos pagadores de tributos nesta Terra de Santa Cruz merece nosso reconhecimento público, apenas por se posicionar de forma correta e decente. Já os URUBUS TOGADOS que foram aboletados pela GANGUE do “L” (PT+PSol+CV+CNBB+PCC+CUT+MTST+ativistas LGBTQQICAPF2K+ + MST + presbítero LANÇALEITE + TUDO O QUE NÃO PRESTA) no STF, PGR, STJ, … merecem nosso desprezo e algo mais…

  7. Senhor Carlos Newton , explica-nos tamanha contradição dos ” mais de 500 promotores e procuradores da ativa e aposentados do Ministério Público de São Paulo (MPSP) , que reclamam dos pagamentos de penduricalhos dados aos magistrados Brasil afora por considera-los uma disparidade inconstitucional , mas estão brigando para entrarem , participarem e usufruírem dessas ” festas e danças ” alegremente e o povo Brasileiro que se dane .

Deixe um comentário para Panorama Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *