A inócua ameaça de Eduardo Bolsonaro às eleições de 2026

A declaração do deputado repete um padrão: a política da ameaça

Marcelo Copelli
Revista Fórum

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) utilizou a rede social X (antigo Twitter) para lançar mais uma ameaça direta ao processo eleitoral brasileiro. Ao afirmar que “sem anistia, não haverá eleição em 2026”, ele condicionou a realização do pleito presidencial à aprovação de um projeto de lei que favorece seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, e os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

Não se trata de mera retórica. É mais um episódio de coação política, inserido na estratégia recorrente da extrema direita de testar os limites institucionais e corroer a confiança no regime democrático.

IMPUNIDADE – A anistia em debate busca apagar crimes que atingiram o núcleo da ordem constitucional: invasões violentas de prédios dos Três Poderes e tentativas explícitas de subverter o Estado de Direito. Na prática, equivale a institucionalizar a impunidade, desautorizar o Judiciário e premiar quem atentou contra a soberania popular.

Jair Bolsonaro já foi declarado inelegível até 2030 pelo Tribunal Superior Eleitoral, e uma anistia ampla não reverteria automaticamente essa condição. O que se vê é um esforço desesperado de setores bolsonaristas para forçar uma reabilitação política fora das regras legais.

A declaração de Eduardo Bolsonaro repete um padrão: a política da ameaça. Quando não é a defesa da anistia, é a evocação de “crises institucionais”, a sugestão de intervenção militar ou a deslegitimação das urnas eletrônicas.

AUTORITARISMO – Esse expediente não é apenas tático: é uma engrenagem autoritária que se alimenta da fabricação constante de inimigos e complôs imaginários. Trata-se de uma prática herdada de regimes fascistas, cujo método era corroer a credibilidade das instituições, intimidar opositores e manter mobilizada uma base radicalizada pelo medo.

Assim como no autoritarismo do século XX, a extrema direita atual reduz a política a uma lógica de guerra permanente contra inimigos, em que a derrota eleitoral é tratada como fraude e as regras só valem quando favorecem o próprio grupo. É a lógica da ameaça constante, que substitui o debate democrático pela imposição pela força ou pela intimidação.

O efeito dessa retórica é corrosivo. Ao insinuar que eleições podem ser suspensas, ainda que juridicamente inviável, Eduardo Bolsonaro contribui para semear desconfiança, reforçar teorias conspiratórias e preparar terreno para novos surtos de violência política.

TRAIÇÃO – Quando um parlamentar ameaça eleições, trai o sentido do mandato recebido: representar o povo dentro das regras constitucionais. Ao agir assim, pratica um atentado simbólico contra o regime democrático e confirma que seu campo político não busca disputar poder em igualdade de condições, mas sim capturar ou destruir instituições que não controla.

A democracia brasileira, embora jovem e marcada por crises, resistiu a ofensivas mais duras porque suas instituições se mantiveram firmes e a sociedade se recusou a abrir mão de conquistas fundamentais.

O desafio agora é não normalizar declarações que flertam com o golpismo. Liberdade de expressão não é salvo-conduto para corroer pilares constitucionais. Por isso, essa intimidação deve ser enfrentada com firmeza institucional e vigilância cívica.

ELEIÇÕES LIVRES – Em 2026, o Brasil terá novamente a oportunidade de reafirmar seu compromisso com eleições livres, transparentes e regulares. Para isso, é preciso rejeitar projetos que legalizem a impunidade e denunciar discursos que tentam sequestrar a soberania do voto.

A democracia não pode ser refém de ultimatos. Ela se fortalece quando resiste — e derrota — aqueles que pretendem transformá-la em moeda de barganha.

8 thoughts on “A inócua ameaça de Eduardo Bolsonaro às eleições de 2026

  1. Uma retórica de bravatas

    Bolsonaros introduziram dois elementos tóxicos na política

    De sua trincheira nos States, Bananinha ameaçou: “Sem anistia, não haverá eleição de 2026.”

    Falso, sem a anistia desejada pelos Bolsonaros, haverá eleição em 2026, e se porventura eles vierem a ser responsabilizados por suas palavras, dirão que tudo não passou de simples bravatas.

    Os Bolsonaros introduziram dois elementos tóxicos na política brasileira. Um é uma sorte de conflito intrafamiliar sem propósitos.

    Quem sabe por que Michela não gosta de Jair Renan e é detestada por Carluxo. Flávio Rachadinha diz que Bananinha é maluco, e Bananinha acha que Flávio é manso demais. Para quê? Para nada.

    O segundo ingrediente é a bravataria. O ex-mito combateu vacinas, disse que o medo da Covid era coisa de maricas, ameaçou com Apocalipses e em diversas ocasiões referiu-se ao “meu Exército”. Sempre para nada.

    Ainda no século passado, quando ele era apenas um mau capitão, Jair pulava de bravata em bravata, como a dos explosivos da adutora do Guandu, apresentada num desenho.

    As explosões dos Bolsonaros, como os planos da grei, ameaçam com o fim do mundo e, quando são chamados às falas, protegem-se, dizendo-se bravateiros. O melhor exemplo disso esteve no Plano Punhal Verde Amarelo.

    Enquanto era impresso no escurinho do Planalto pelo general Mário Fernandes, faria e aconteceria. Chamado a explicar-se, o general saiu de fininho, falando em simples reflexão.
    Quando Bananinha diz que “sem anistia não haverá eleição de 2026”, ecoa uma frase atribuída ao general Braga Netto, para quem não haveria eleição sem voto impresso.

    Houve eleição sem voto impresso, o ex-mito e Braga Netto foram derrotados, Barba está no Planalto e a dupla em prisões. O ex-mito numa cana domiciliar, e o general num quartel.

    O país ganhou uma serenidade institucional que lhe foi negada durante o mandato do ex-capitão.

    O estilo bravateiro é tóxico por ser de todo inútil. Serve para nada, além de dar alguns minutos de fama aos interessados.

    Os Bolsonaros não conseguiram impor uma agenda radical quando estavam no governo. Nada conseguirão agora que estão fora dele, obrigados a temer a caneta de Xande.

    É um estilo vencido – esse dos Bolsonaros -, como o dos chapéus e das polainas.

    O Bananinha sabe que se o Congresso aprovar algum tipo de anistia, ela não trará grande alívio ao ex-mito.

    Beneficiará primeiro os lambaris do 8 de Janeiro, condenados a penas extravagantes, como a de 14 anos para o bobalhão que sentou-se na cadeira de Xande. (Ela estava na rua, não no prédio do Supremo Tribunal Federal.)

    Fonte: O Globo, Opinião, 05/10/2025 07h50 Por Elio Gaspari

Deixe um comentário para Jose Perez Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *