Cármen Lúcia cobra mais mulheres no STF e lança recado velado a Lula

Magistrada tem expectativa por mais mulheres na corte

Ana Gabriela Oliveira Lima
Folha

A ministra Cármen Lúcia, do STF (Supremo Tribunal Federal), afirmou na última quinta-feira (16) que tem sempre expectativa de que haja mais mulheres na corte. A fala se dá em contexto no qual o presidente Lula (PT) vai indicar um novo ministro para substituir Luís Roberto Barroso, cuja aposentadoria antecipada foi oficializada no Diário Oficial da União no último dia 15.

À Folha a ministra afirmou que haver mais mulheres seria importante para garantir que a visão colegiada no tribunal represente a sociedade brasileira. “Os espaços, não apenas de poder, mas os espaços de participação, de atuação de mulheres e de homens é que fazem com que as visões sejam colegiadas, no sentido mesmo de a sociedade brasileira estar toda representada. Nós somos 52% da população brasileira, quase 53% do eleitorado. Então é importante que em todos os lugares nós tenhamos mulheres. Temos mulheres muito competentes no direito. Grandes juízas, grandes procuradoras, advogadas públicas, muitas grandes professoras aqui mesmo, na USP”, afirmou.

HOMENAGEM – A fala se deu durante evento na Faculdade de Direito da USP, no centro de São Paulo, onde a ministra foi homenageada, deu uma palestra e participou de uma sessão de autógrafos de um de seus livros, “Princípio constitucional da solidariedade”.

Atualmente a ministra é a única mulher na composição da corte. Com o anúncio da aposentadoria antecipada de Barroso, aumenta a pressão para que o presidente Lula indique mais uma mulher para o Supremo e também leve em consideração o critério racial.

O petista escolheu apenas uma mulher, a própria Cármen, em 10 indicações que já pôde fazer para a corte ao longo de seus três mandatos. Fora ela, só duas outras mulheres compuseram o tribunal, Rosa Weber e Ellen Gracie, nomeadas por Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso, respectivamente. As três são brancas.

COTADOS – Como mostrou a Folha, os principais cotados para a vaga de Barroso são o ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Bruno Dantas, o advogado-geral da União, Jorge Messias, favorito ao cargo, e o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Cármen foi homenageada no evento com a medalha professor Dalmo Dallari, iniciativa da Anape (Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal), por sua trajetória jurídica.

Ao receber a medalha, ela fez a primeira manifestação que daria ao longo do evento, em tom discreto, em homenagem às mulheres. “Nós mulheres sabemos nos colocar e nos vestir”, afirmou ao colocar em si a medalha.

DIVERSIDADE – Cármen citou mulheres, negros e indígenas silenciados historicamente ao discorrer sobre os 37 anos da Constituição. Ela falou sobre a importância de pessoas diversas estarem juntas e trocarem experiências para construírem um Brasil efetivamente democrático.

A ministra também citou as mães como aquelas que são exemplo de solidariedade, princípio constitucional discutido em seu livro. “Não há solidariedade maior que Deus tenha deixado como exemplo que não a das mães”, afirmou.

Cármen lembrou o artigo 3º da Constituição, que cita como objetivo fundamental da República uma “sociedade livre, justa e solidária”, e disse que a solidariedade fica em risco quando predomina na sociedade a desconfiança.

REDES SOCIAIS – Ela focou a influência atual das redes sociais em dinâmicas políticas no Brasil, com fake news que colocam em descrédito o sistema de direito e podem levar à erosão democrática. “Trabalho com a ideia de que a democracia vive do princípio da confiança”, afirmou, associando cidadãos confiantes ao exercício da solidariedade.

Presente na cerimônia, Patricia Werner, procuradora do estado de São Paulo e diretora-presidente da Esnap, escola superior da Anape, reforçou a fala da ministra sobre a necessidade de mais mulheres no STF. Ela afirmou que é preciso sanar a falta de diversidade em cenário no qual há abundância de mulheres competentes para ocupar o cargo. Disse também que “inclusão e igualdade são um grande tema” para as procuradoras, também mobilizadas sobre a discussão a favor de uma mulher no STF.

Cármen Lúcia tem vocalizado discursos a favor das mulheres. Em mais de uma ocasião, ela citou o silenciamento praticado contra elas, seja em discurso, em 2024, durante sessão solene do 8 de Março, seja na ação penal que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos de prisão por liderar uma trama golpista. “Nós mulheres ficamos dois mil anos calados, nós queremos ter o direito de falar”, disse ela na ocasião, ao ceder tempo de fala ao ministro Flávio Dino.

4 thoughts on “Cármen Lúcia cobra mais mulheres no STF e lança recado velado a Lula

  1. Exagero na blindagem de ‘Frei Chico’, irmão de Barba

    A bancada governista na CPI do INSS exagerou na prestação de serviços ao Planalto quando derrubou por 19 votos contra 11 a convocação de José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão de Barba e vice-presidente do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos), uma das entidades investigadas pela comissão.

    Aos 83 anos, Frei Chico é um veterano sindicalista. Foi ele quem levou Barba para o movimento operário. Não precisava da blindagem que poderá transformá-lo em vidraça durante o ano vindouro.

    __________

    Retórica oca. No início de 2023, Barba informou:

    “Estejam certos de que vamos acabar, mais uma vez, com a vergonhosa fila do INSS, outra injustiça restabelecida nestes tempos de destruição.”

    Chegou-se ao final de 2025, a fila chegou a 2,6 milhões de vítimas e acabou o programa para acabar com ela.

    Fonte: O Globo, Opinião, 19/10/2025 03h31 Por Elio Gaspari

  2. Elite no crime

    Enquanto as forças da lei e da ordem não puserem na cadeia um diretor de grande empresa ou banco de porte médio, o andar de cima do país continuará flertando e operando com o crime organizado.

    Fonte: O Globo, Opinião, 19/10/2025 03h31 Por Elio Gaspari

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